Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Christopher já tinha nadado vinte voltas quando notou Bahir na ponta da piscina, e amaldiçoou sua decisão de não retornar aos seus estudos.

— Você acordou cedo— observou seu amigo, sentando-se na beira da piscina e consultando seu relógio. Não são nem 6h. A lua de mel já acabou?

Christopher olhou para seu amigo, enquanto fazia uma rápida mudança de planos. As dez chegadas extras na piscina poderiam esperar. Saiu da água, pretendendo pegar sua toalha e continuar andando. Não estava no humor de falar com ninguém naquela manhã.

— Hmm— exclamou Bahir atrás dele.— Talvez a lua de mel nem tenha começado.

— Eu não disse nada— protestou Zoltan enquanto se abaixava para pegar sua toalha.

— Amigo, você não precisava. Está escrito em sua linguagem corporal. O que houve? Como a princesa foi capaz de rejeitar o lendário charme de Uckermann? Embora, admitidamente, deve ser cansativo aguentar tanta seriedade.

Christopher encarou seu amigo.

— Não há nada a dizer.

Bahir sorriu.

— Contanto que não seja porque ela joga em outro time.— Ele assobiou.— Isso seria um desperdício cruel.

A vontade de rir lutou contra a vontade de gemer. Christopher não queria ninguém especulando sobre a sexualidade de sua esposa. Além disso, se Bahir soubesse em que time ela especulara abertamente que todos eles pertenciam, não acharia tanta graça naquilo.

— Ela diz que é porque não me conhece.

— O quê?

Ele deu de ombros.

— Ela diz que não vai dormir com nenhum homem que não conhece. Aparentemente, isso inclui o próprio marido.

— Mas ela precisa fazer isso. Não foi o que você falou?

— Sim. De acordo com os termos do pacto, ela não tem escolha.

— Você lhe disse isso?

Christopher pensou na discussão que tivera com Dulce, e como esta se tornara amarga no final.

— Sob as circunstâncias, não creio que tivesse adiantado alguma coisa.

— Mas ela tem de dormir com você mais cedo ou mais tarde, certo? A princesa sabe que precisa lhe dar herdeiros.

— Verdade.

— Então, não conte a ninguém, por enquanto— disse Bahir.— Eu não contarei, se você não contar.

Christopher meneou a cabeça.

— Isso não vai resolver. Eu tenho de jurar sobre o livro de Al-Jirad que nós estamos casados em todos os sentidos da palavra.

— Minta.

Ele balançou a cabeça.

— Esta não é uma maneira honrável de começar meu reinado.— Ele passara, horas na noite anterior tentando encontrar um jeito de contornar o requerimento, até finalmente concluir que mentir não daria certo, mesmo se decidisse agir de forma tão desonrosa. Ademais, Dulce saberia a verdade, e poderia humilhar o reino a qualquer momento que escolhesse.

Seu amigo assentiu.

— Verdade. Entretanto, eu entendo o ponto de vista da princesa.

— O que isso significa?

— Bem, foi tudo muito de repente.

— Foi de repente para todo mundo. E não é como se ela tivesse escolha.

— Então talvez a questão seja essa. Ela quer sentir que tem escolha.

Christopher olhou para cima.

— Do que você está falando? Por que isso importaria?

— Ela é mulher.— Bahir deu de ombros.— Elas pensam de modo diferente. Especialmente princesas de Jemeya.

Christopher o estudou.

— O que aconteceu entre você e a irmã de Dulce?

Foi a vez de Bahir parecer desconfortável.

— Isso é história. Não importa. Você tem de se preocupar com como sua princesa se sente agora. Ela é uma princesa num reinado deserto, que provavelmente esperava encontrar seu príncipe. Ela quer romance. Em vez disso, é forçada a um casamento com você, e intimada a fazer bebês. Francamente, quem poderia culpá-la? Nada pessoal, mas que mulher não ficaria desapontada?

— Muito obrigado por essa conclusão sábia da situação.

Bahir tornou-se sorridente de novo.

— Foi um prazer. Então, o que você vai fazer?

Christopher bufou.

— Eu não tenho tempo para nada. Há muito que fazer antes da coroação.

— Bem, é melhor você tomar alguma atitude, ou não haverá coroação, e Mustafa estaria no seu direito de vir roubar sua linda noiva... e então, ele não deixará uma janela aberta para que você a resgate.

— Eu tenho pensado sobre isso— disse Christopher.— O que Mustafa estava esperando? Se ele tivesse dormido com ela, teria sido o fim de tudo.

— Talvez ele estivesse esperando estar casado?— sugeriu Bahir.

Christopher meneou a cabeça. Tal atitude não combinava com o Mustafa que ele conhecia.

— Mais provável que ele estivesse tão seguro que ninguém os encontraria que pensou que não houvesse pressa; podia usar o tempo para torturá-la, dizendo-lhe, em detalhes sórdidos, o que pretendia fazer com ela.

— Então, foi sorte que nós a achamos a tempo.

Foi?, perguntou-se Christopher, enquanto voltava a entrar no palácio. Dulce certamente não pensava assim. Ele ainda estava refletindo sobre as palavras de Bahir.

“Ela quer sentir que tem escolha”.

“Ela quer romance ”.

Como ele poderia fazer isso? Qual era o sentido de tentar? O palácio era repleto de criadas e lacaios, e o sempre presente Hamzah, aparecendo quando era necessário, e muitas vezes quando não era. Como ele iria proporcionar romance a Dulce e estudar os textos necessários para completar as formalidades requeridas antes da coroação?

Impossível.

Então, lembrou-se de umas férias que sua família havia tirado quando ele era criança, férias compartilhadas com seu tio, o rei da época, e sua família. Num lugar não longe do Palácio Azul. Um lindo lugar na praia, na frente de um mar azul-safira. Eles tinham dormido em tendas, ouvindo o barulho das ondas, pescado, nadado e cavalgado ao longo da areia.

Talvez pudesse levá-la para lá, onde Dulce podia relaxar e esquecer tudo sobre dever e obrigação por um tempo. Então, talvez, apenas talvez, passar a tolerá-lo o bastante para que eles pudessem consumar o casamento.

Christopher esperava que sim.