Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Ela olhou para Christopher e imaginou se deveria perguntar para ele antes, então decidiu que não importava.

— Vocês vão ficar e comer conosco, não vão?

Os adultos pareceram incertos, claramente não esperando o convite.

— Nós não queríamos atrapalhar.

— Vocês não estão atrapalhando.— Dulce esperou que Christopher pensasse o mesmo.

— Por favor, mamãe— pediu Cala, puxando a túnica da mãe.— Podemos ficar?

— É claro— disse Christopher com firmeza, como se nunca tivesse havido qualquer dúvida.— Vocês devem ficar.

Eles se sentaram em almofadas ao redor de uma fogueira, comendo carneiro com iogurte e menta, com arroz e quiabo, e bebendo chá com mel, sob um céu repleto de estrelas. Depois, com o cheiro fragrante de cachimbo de sisha vindo do acampamento dos cozinheiros, o pai de Cala produziu uma flauta atroante do bolso de sua túnica e tocou mais daquela música que Dulce ouvira logo que eles haviam chegado.

Cala se aninhou junto à princesa, enquanto a música fazia mágica no céu noturno, até que a criança estivesse no colo dela.

— Cala— censurou a mãe.

— Ela está bem— Dulce assegurou-a.

A garotinha fitou-a com grandes olhos escuros.

— Você é uma princesa de verdade?

Aisha sorriu.

— Sim, eu sou.

— Onde está sua coroa?

Ela riu.

— Eu não uso coroa todos os dias.

— Oh.— A menina pareceu desapontada.— Princesa é o seu nome?

— Não. Princesa é o meu trabalho, como chamar alguém de “doutor” ou “professor”. Meu nome é Dulce.

Dulce.

Deusa... Significa Deusa...

Christopher refletiu sobre o nome dela pela primeira vez. Não era de se admirar que ela parecesse uma deusa, pensou.

E lá estava ela, sua preciosa princesa, aninhando uma criança, e parecendo tão mãe quanto a própria mãe da garotinha.

Esta mulher seria mãe de seus filhos.

Dentro de alguns anos, ela estaria sentada lá, aninhando seus filhos. Produtos de sua semente.

E a imagem em sua mente foi tão poderosa que alguma coisa indescritível cresceu em seu interior, e ele desejou que aquilo fosse verdade.

Dulce. Sentada lá com quase estranhos, dando-se a pessoas que possuíam pouco mais do que roupas do corpo, e que a tinham presenteado provavelmente com sua posse mais valiosa. Doando-se ao povo dele.

Talvez ela não fosse uma princesa tão mimada. Talvez houvesse mais em Dulce, afinal de contas.

— Obrigada— disse ela, depois que a família tinha ido embora, e eles caminhavam ao longo da praia sob uma lua crescente. Isso parecera a coisa mais natural do mundo para fazer. A noite estava fresca e convidativa, e Christopher sabia que Dulce ainda não estava pronta para dormir com ele, mas não estava com pressa de retomar aos seus estudos.

— Pelo que você está me agradecendo?

— Por muitas coisas— replicou ela.— Por enviar Ahab para cuidar das crianças, para começar. Por arranjar transporte necessário para o hospital para a operação que Katif precisa, se não pela operação em si. E por não se importar que a família compartilhou a nossa refeição.

— Cuidado, princesa— avisou ele, erguendo uma mão. — Quase dá para esquecer que você me odeia.

— Então você tem algumas qualidades. Eu não leria muita coisa nisso— disse ela, mas ele notou que faltava convicção às palavras. Também notou que Dulce não insistiu que o odiava. Christopher deu um suspiro contente. Tinha sido certo sair do palácio, onde tudo era tão rígido e formal, onde cada movimento era governado por protocolo. Onde era impossível fazer qualquer coisa sem ser observado.

Christopher entrelaçou os dedos nos dela enquanto eles caminhavam.

— Você foi boa com aquela criança— comentou ele, notando... gostando... que ela não recolheu a mão da sua.— Suspeito que arranjou uma fã.

— Cala é uma graça de criança.

— Você foi igualmente boa com a família dela, fazendo-os se sentirem especiais. Se puder ser assim com todo mundo, será uma excelente sheika. Será uma rainha muito amada.

Dulce parou e liberou a mão.

— Se eu soubesse que esta caminhada iria lhe dar outra oportunidade de me relembrar da natureza desse casamento, de meu dever iminente em sua cama, eu nunca teria concordado em vir.

Zoltan amaldiçoou seus esforços desajeitados de elogiá-la.

— Sinto muito, princesa. Eu não quis dizer...

Dulce piscou, sua irritação dando lugar à surpresa.

Ele sentia muito e estava se desculpando? Este Christopher à sua frente era o sheik bárbaro?

Mas então, ele não era tão bárbaro, ela teve de admitir. Do contrário, não teria enviado alguém para ver a criança doente. Por que providenciaria um helicóptero, e requereria uma cirurgia, se ele fosse um monstro?

— Não, eu é que peço desculpas— murmurou ela.— Eu não precisava ter respondido daquele jeito. Reagi de forma exagerada.— Porque sou eu quem não consegue parar de pensar sobre meu dever...

Havia uma atmosfera romântica na noite. Logo seria hora de dormir, e lá estava ela, na praia com um homem que vinha carregado de eletricidade.

— O que você fazia antes?— Dulce mudou de assunto, antes que ele percebesse por que ela estava tão nervosa, e recomeçou a andar.— Antes de tudo isso acontecer. Sempre viveu em Al-Jirad? Eu fui a alguns eventos no Palácio Azul, mas não me recordo de ter visto você em algum deles.

— Não, você não teria me visto— replicou ele, andando ao seu lado.— Eu fui embora quando ficou claro que não havia lugar para mim aqui.

— Por causa de Mustafa?

— Em parte. Meu pai sempre ficou do lado dele. Eu tinha 12 anos quando minha mãe morreu, e não pareceu haver motivo para ficar. Mustafa e eu nos odiávamos, e todos sabiam disso. Pela paz da família, meu pai me enviou para um colégio interno na Inglaterra.