Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Ele dormiu mal naquela noite. Mas como poderia ser diferente, quando passara a noite inteira a menos de três metros de Dulce? Ouvira-a se virando, ouvira suspiros abafados e socos no travesseiro, e registrara o momento exato em que a respiração dela se acalmara, indicando que ela havia adormecido.

Quando Christopher se levantou cedo, tentou não pensar muito em como ela ficava bonita dormindo, com os cabelos espalhados sobre o travesseiro, ou quão fácil seria subir na cama com Dulce, e acabar com aquilo agora. Exceto que ela o odiaria, e ele não queria isso. Se ela pudesse gostar dele, pelo menos um pouquinho, tudo seria mais fácil.

Mas Christopher deu uma olhada para a mesa sob as palmeiras, esperando-o que ele continuasse seus estudos, e hesitou. Havia muita tensão em seu corpo, para que se sentasse e absorvesse alguma informação. Tensão que necessitava extravasar, a fim de clarear a mente para pensar. Olhou para o oceano, calmo e convidativo, mas nadar envolveria voltar para a tenda para trocar de roupa. Ademais, a ideia de nadar o fez pensar em Dulce, deliciosa naquele maiô colorido, e precisava tirá-la de sua cabeça, se quisesse decidir o que fazer.

Já estava muito tentado a lhe dar o tempo que ela precisava antes de compartilhar a sua cama. Mas isso significava deixar a porta aberta para Mustafa, e como ele poderia fazer uma coisa dessas com Al-Jirad? Como poderia se esquivar de seu dever?

Todavia, por um prêmio como Dulce, quase valeria a pena desistir do trono.

Christopher meneou a cabeça, querendo clareá-la. Ouviu o relincho de cavalos e virou a cabeça.

Perfeito.

Christopher não estava em lugar algum à vista quando Dulce se levantou, sua cabeça latejando. Não podia se lembrar de uma noite pior. Mas então, não tivera muita experiência em compartilhar uma tenda com um homem que a deixava louca de paixão num minuto, e fuzilando de raiva no minuto seguinte. E no meio desses extremos, ela sentia uma estranha tristeza por as coisas terem dado tão erradas. Mas não ficaria pensando em como se sentia traída porque eles não tinham feito amor da noite anterior, ou em como seu corpo se recusara a relaxar pela maior parte da noite.

Maite levou seu chá, e essa era a distração que ela precisava. Era melhor se preocupar com algo importante, como notícias de Marina.

— Há alguma novidade sobre minha irmã, esta manhã?— perguntou ela.

— Nenhuma notícia, senhora.

Pela primeira vez, Dulce se sentiu irritada pela não chegada de sua irmã. Claro, Marina podia ser teimosa e rebelde, e abominar convenções, mas por que não ir ao casamento da irmã, e agora à coroação? Certamente, ela iria pela irmã, pelo menos.

— O amo está cavalgando, princesa— continuou Maite, interrompendo seus pensamentos.— Gostaria que um cavalo fosse preparado para você?

Dulce quase disse não. Mas então, pensou em cavalgar ao longo da praia, o vento nos seus cabelos, sentindo-se livre como não se sentiria mais no futuro, e a idéia era tão atraente que ela concordou.

— Para que lado sheik Christopher foi?— perguntou, quando o cavalo foi trazido para ela, minutos depois. Quando o cavalariço apontou numa direção da praia, Dulce virou seu cavalo para a outra.

Tinha valido a pena visitar o resto dos povos tribais, pensou Christopher ao pegar uma rota circular de volta para o acampamento. Conversar com eles clareara seu caminho, e lhe mostrara o que era necessário. Al-Jirad progredira em muitas áreas sob o reinado de rei Hamra, mas ainda havia avanços a serem feitos em educação e saúde, especialmente para aqueles itinerários.

Deveria agradecer à Dulce por quebrar o gelo e colocá-lo em contato com eles. Do contrário, ele não teria pensado em visitá-los.

Também estava claro que não deveria confiar o futuro de seu povo a alguém como Mustafa, que não se importava com ninguém além de si mesmo.

Estranho, pensou, quão rapidamente passara a pensar nas pessoas de Al-Jirad como seu povo. Aceitara o papel por dever, e porque a alternativa era uma perspectiva muito feia para ser entretida. Aceitara a possibilidade de ser rei, o tempo inteiro lamentando a perda de um negócio que construíra desde o princípio, a maior e melhor companhia de aviões executivos do mundo. Estivera a poucos meses de alcançar tal meta, quando percebera que não poderia fazer as duas coisas. Onde estava seu ressentimento agora? Sua raiva? Em vez disso, sentia-se orgulhoso por ser capaz de seguir os passos de seu tio amado. Honraria a memória do rei Hamra, sendo um bom rei.

A coroação precisava proceder.

O que significava que ele não poderia esperar que Dulce decidisse. Eles teriam de consumar o casamento antes da coroação, de modo que ele precisava voltar ao acampamento e explicar, novamente, que ela não tinha escolha. Esperava muito que Dulce entendesse.

Aquilo era um dever, pura e simplesmente, afinal de contas.

Exceto que pensar sobre isso o excitava. Então talvez não fosse apenas dever...

Christopher a avistou quando rodeou o promontório, provavelmente a cem metros de distância. Parou por um momento, observando-a galopar ao longo da praia, os cabelos esvoaçando, a bainha da túnica levantando no vento, e pensou que a palavra “deusa” ainda era fraca para descrevê-la.

No momento que ela o viu, ele ergueu uma mão num cumprimento, mas Dulce virou o cavalo e galopou na direção oposta.

Então ela ainda estava zangada sobre a noite anterior, pensou ele enquanto começava a segui-la. Não era algo inesperado, tampouco um bom começo, quando Dulce provavelmente ficaria zangada com o que ele precisava lhe dizer.

Seu garanhão galopou ao longo da praia. Ela montava bem, e começara antes, mas o cavalo de Christopher era muito mais veloz, e ele logo estava galopando ao seu lado na areia.