Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Ele sempre soubera que ela era superficial, pensou Christopher enquanto andava em direção à sua suíte, cansado de uma noite dando desculpas, tentando explicar que a nova rainha infelizmente estava indisposta.

Ela não estava indisposta. O que ele quisera dizer às pessoas era que Dulce era uma princesa mimada que queria tudo de seu próprio jeito. Bem, ele também nunca quisera esse casamento. Estava melhor sem ela. Ficaria bem. Abriu o botão em seu colarinho, subitamente se sentindo sufocado.

Mas... ora... talvez não Al-Jirad.

Ele teria de conversar com Hamzah, descobrir como a súbita ausência da rainha mudaria as coisas. Não se lembrava de ter lido nada sobre isso no Livro Sagrado de Al-Jirad, mas Hamzah conheceria as legalidades do assunto. Todavia, o pai de Dulce, sem dúvida, a convenceria a mudar de ideia. Prometera isso a Christopher esta noite, quando eles haviam trocado algumas palavras mais cedo.

Christopher suspirou. E o que mais o enfurecia era que, apenas por um dia, por algumas horas, tinha realmente acreditado que aquele casamento podia dar certo.

Acreditara que o casamento deles pudesse ir além do reino do dever, e se tomar uma união inteiramente prazerosa.

Tolo!

Estivera cego por sexo, pura e simplesmente. Tão fascinado pelos deleites do corpo feminino doce e responsivo que esquecera que com quem estava lidando: uma princesa superficial, que queria um conto de fadas, com um final feliz. Quando ela ia perceber que aquilo era vida real, não as páginas de algum livro infantil?

Christopher pausou ao chegar à porta da suíte de Dulce, imaginando se ela já havia removido seus pertences de lá e partido. Nada o surpreenderia.

Ele abriu a porta. Estava escuro e silencioso do lado de dentro, a única iluminação vindo do corredor. Não havia sinal de Dulce. Christopher atravessou o quarto e abriu a porta do closet. Vazio. Ela fora embora, levando tudo consigo.

Ele cerrou os dentes. Claramente, ela não considerava seu retomo para Jemeya como algo temporário. Claramente, não desejava estar ali. Talvez ele devesse desistir e deixá-la ir. Livrar-se de Dulce lhe faria bem. Teria de perguntar a Hamzah se essa era uma opção que poderia ser tolerada.

Estava em seu caminho para fora do quarto quando ouviu um ruído, como papéis soltos movendo-se ao vento, e virou-se na direção do som. Abriu uma cortina, deixou a luz entrar e encontrou-os de imediato. Havia alguns papéis soltos sobre a mesa, sob um mata-borrão. Christopher franziu o cenho, lembrando-se de uma carta que Dulce estivera escrevendo na noite que eles haviam se casado, quando ele fora procurá-la, lembrando como os dedos dela tinham tentado esconder as páginas. A criada que empacotara as coisas de Dulce esta noite não havia feito um trabalho completo.

Christopher pegou os papéis, pretendendo jogá-los no lixo, quando a letra bonita chamou-lhe a atenção. Estudou a letra perfeita, notou as palavras “tola” e “ingênua”, e curiosidade o venceu, levando-o a ler a carta.

Dulce criticava a si mesma no papel, chamando-se de tola por desejar que pudesse escolher seu marido, por ter sempre pensado que um dia se casaria por amor, com um homem bom, que a amaria por quem ela realmente era.

Um nó se formou em seu estômago. Ele sabia que não deveria ler, mas não conseguiu parar. E sentiu-se mal, sabendo que não era o homem que ela desejara, e sabendo que Dulce se sentia fracassada, porque as circunstâncias da vida haviam conspirado contra ela, quando ele tinha ciência de que ela não deveria estar culpando as circunstâncias. Porque ele era o único culpado. Era o homem que destruíra os sonhos dela.

E Christopher ainda não tinha certeza por que se importava.

Quando dever se misturara com desejo? Talvez quando tivesse percebido que Dulce era quem alegara ser... uma inocente.