Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

A boca de Dulce secou.

Não podia ser ele! Devia estar ficando louca se imaginava que este homem era seu salvador. Aquele homem era um mercenário, enviado por seu pai para resgatá-la. E este homem à sua frente era algum tipo de... realeza?

— Por que ele o chamou de Majestade? Certamente, este termo é reservado para rei Hamra, o reinante de Al-Jirad.

Dulce engoliu em seco quando ele rodeou a mesa, as pernas longas e poderosas, antes de se apoiar contra a mesma, cruzando os braços sobre o peito largo, enquanto a estudava com olhos inescrutáveis. O rosto dele era construído de muitos ângulos duros para que fosse considerado convencionalmente bonito. E, com uma barba preta despontando, ele parecia... perigoso.

— Então, quem é você?— perguntou ela, erguendo o queixo em desafio.— Por que é tão impossível obter respostas para minhas perguntas?

— Você é impaciente, princesa. Eu não sabia desse traço em particular. Mas então, suponho que passou por uma situação difícil, e podemos desculpar seu comportamento por esta vez. Dormiu bem?

Ela estava impaciente, mas ele podia desculpá-la por esta vez? Quem ele pensava que era?

— Espera que eu responda suas perguntas, enquanto você escolhe não responder a minha?

Ele sorriu então, e por um momento, pareceu quase humano. Quase. Antes que a expressão voltasse a se tornar séria e implacável.

— Touché.— Ele inclinou a cabeça de leve.— Eu sou sheik Christopher Uckermann, mas é claro que você pode me chamar de Uckermann.

— E eu sou princesa Dulce Saviñón da família real Peshwah de Jemeya, e você pode se dirigir a mim como princesa Dulce.

Desta vez, ele riu, um som profundo e rico que soava bem demais para um homem que ela queria desgostar do fundo de sua alma.

— Onde está meu pai?— demandou Dulce, interrompendo a risada dele.— Por que ele não está aqui para me receber? Prometeram-me que ele saberia que eu estava segura, mas, em vez disso, eu me descubro em Al-Jirad, e não no meu caminho para Jemeya.

Ele abriu os braços.

— Algum problema com sua suíte? Você não está confortável aqui? Falta-lhe alguma coisa?

— Eu fui assegurada de que meu pai saberia que eu estava segura.

— E ele sabe, princesa Dulce. Como soube desde que eu a resgatei do acampamento, ontem à noite. E falei com seu pai novamente, depois que você estava segura, entre as paredes deste palácio. Ele pediu para eu informá-la que está radiante.

Ela exalou o ar que nem percebera que estava prendendo. Pelo menos, alguma coisa fazia sentido. Radiante era a exata palavra que seu pai usaria.

— Então, ele ainda está em Jemeya, esperando que eu volte para casa.— Aquilo ainda não explicava por que seu pai tinha enviado seu guarda-roupa inteiro para lá.

— Não, ele não está em Jemeya, mas aqui em Al-Jirad, no Palácio Azul, cuidando de alguns negócios. Estará aqui amanhã.

Dulce piscou. O Palácio Azul era o palácio cerimonial de Al-Jirad, e a moradia do reinado. Seu pai devia ter negócios com o rei. Mas então, ela lembrou-se das bandeiras pretas. E claro que ele estaria em Al-Jirad num momento como aquele.

— Aconteceu alguma coisa com rainha Petra? Há bandeiras pretas por toda parte.

Ele franziu o cenho, atraindo a atenção dela para os longos cílios pretos emoldurando olhos escuros.

— Na verdade, aconteceu.

— Oh, que triste— murmurou ela.— Então, eu não irei embora ainda.

— Não, princesa, você não irá.

— Nesse caso, eu terei de esperá-lo aqui.

Ele sorriu novamente. Após estudá-la por um momento, acrescentou:

— Tenho a impressão de que você não está acostumada a esperar, princesa.

Dulce não gostou do tom dele, nem das palavras que lhe diziam que ele estava fazendo uma lista de seus defeitos. Como se ela se importasse o que ele pensasse ao seu respeito. Endireitou a coluna.

-Talvez seja porque não tenho feito nada ultimamente. Passei horas no deserto, esperando para fugir. Mas posso esperar mais uma noite.

Ele assentiu, o sorriso se ampliando.

— Excelente. Tenho certeza que você irá ficar entretida em seu tempo aqui.

Dulce sentiu que estava sendo dispensada, e percebeu que ela estava “entretendo” ali, pois ele parecia mais do que divertido. Mas também percebeu que, por mais que aquele homem a irritasse, não poderia sair de lá sem ao menos agradecê-lo por lhe oferecer um porto seguro.

— Obrigada, sheik Christopher, por sua hospitalidade. Peço desculpas se pareci impaciente, mas naturalmente, fiquei frustrada quando ninguém parecia disposto ou capaz de responder minhas questões.

— Perfeitamente compreensível, princesa. Você passou por um período difícil.

Dulce assentiu e deu um sorriso, aliviada que não pusera os dois países deles em algum tipo de crise diplomática. Afinal de contas, proteção estava lhe sendo oferecida ali, num país vizinho. Santuário. Ela não deveria abusar dessa cortesia.

— Então, eu não desperdiçarei mais seu tempo, sheik Christopher. Esperarei em minha suíte até que meu pai chegue.

Ele pegou-lhe a mão, e ela experimentou uma espécie de reconhecimento, de ter sua mão segurada daquela forma antes... uma mão que pertencia a um homem que corria com passos longos e poderosos...

Impossível!

— Diga-me uma coisa— murmurou ela, perturbada o bastante para se lembrar de outra pergunta que não tinha sido respondida.— Por que meu pai enviou todos os meus pertences para cá, quando ficarei em Al-Jirad por tão pouco tempo? Certamente, ele saberia que uma única mala cheia seria suficiente? Por que você acha que ele fez isso?

Ele deu de ombros, a mão de Aisha ainda na sua.

— Talvez ele tenha achado que você precisaria de seus pertences, depois.

— Depois? Depois do quê?

— Depois que nós nos casarmos, é claro.