Fanfic: Presos nos lençois | Tema: Erotismo

Debruçada na janela do meu quarto, poucos minutos depois de me acordar, não pude conter meu riso sarcástico. "Eu havia transado com dois numa só noite!?", e então ri.

Sempre que saía para beber e dançar, acabava me excedendo e ficava com três ou quatro... Mas transar, e com dois na mesma noite? Isso nunca.

Observei a paisagem que estava a mostra enquanto o vento batia em meu rosto. Olhei para trás e vi minha cama bagunçada. De fato, eu havia me remexido muito até ter meus orgasmos noturnos com dois homens diferentes!

Estava quase voltando a me lembrar de como a noite havia sido deliciosa, quando ouvi barulho de panelas caídas vindo da cozinha. Antes de temer qualquer coisa, lembrei que não morava sozinha.

 - Ah! Olá Fátima... - cumprimentou Michael assim que me viu chegar.

Eu dividia o apartamento com ele desde que me mudei. Éramos amigos desde a época da faculdade e ela era o único homem que nunca me causara nenhum mal e nem, se quer, demonstrara desejo por meu corpo. Ele, apesar de muito bonito, nunca conseguira um papel em filme algum, seu maior sonho.

- Está atrapalhado? - perguntei ao vê-lo todo estabanado, com duas tampas na mão e as panelas quicando no chão.

- Um pouco. Teremos visita!

- Oba! - ironizei uma felicidade momentânea. - Quem vem?

- Amigas...

- Então sinto em lhe informar que não ficarei em casa hoje, domingo. Amanhã tenho que trabalhar muito cedo, então vou curtir minha carta de alforria! Não me espere pra jantar...

- Mal chegou e já vai sair?

Seu rosto era coberto por sarcasmo. Ele sabia que eu havia chegado tarde, porque "curti" a minha noite como não deveria. Então, não perdeu a oportunidade de rir da minha cara.

- Continue assim Michael e chegará longe!

Voltei para o meu quarto e reuni forças pra poder arrumar a cama. Troquei de roupa - porque ainda vestia minha camisola de seda creme e meu robe transparente - e arrumei minha bolsa. Não via a hora de sair novamente!

Vesti minha melhor roupa: uma blusa de renda branca, uma calça jeans marcando minhas pernas definidas e joguei um cardigã por cima, pra disfarçar as imperfeições acima da cintura - ainda que pequenas.

Com argolas em prata gigantes nas orelhas, um sapato de salto alto preto e o cabelo preso em um rabo-de-cavalo, saí do quarto com minha bolsa no braço como se estivesse indo me encontrar com meu marido. Ainda que nunca tivesse pensado em casamento, de fato.

- Aonde você vai?

- Vou no shopping... Como alguma coisa por lá!

- Ótimo! Está levando o celular?

Sem falar nada, mostrei meu aparelho a Michel e sorri simpática para ele.

- Promete que cuida da casa e limpa tudo depois?

- Prometo.

- Promete que vai tomar cuidado?

- Prometo.

Estava quase saindo, quando lembrei-me de um detalhe.

-Ah! Promete que usa camisinha?

Michael correu e pegou a primeira almofada pra atirar em mim, porém fui mais rápida e cruzei a porta antes de ser atingida.

Eu estava confiante; era como se sentisse que alguma coisa maravilhosa estava por vir.

Assim que desci do elevador, alarguei meu sorriso ao ver Renato, o porteiro do prédio.

- Bom dia, dona Fátima! Saindo logo cedo...

- Pois é, seu Renato! Temos sempre que experimentar novos ares, o senhor não acha?

- Claro! Principalmente depois de um sábado corrido!

- Exatamente!

Pus meus óculos escuros nos olhos e saí do prédio. Pisei na calçada com um pé direito e comecei a andar, quase sem rumo. Era como se alguma coisa fosse acontecer.

Eu morava no centro da cidade - que era um inferno, por sinal - e a rua do meu prédio era, sem dúvida, uma das mais badaladas. Como eu precisava de contatos, modelos e inspirações quase para sobreviver, aquele era o lugar perfeito.

Caminhei lentamente, confiante, até dobrar a esquina. Assim que dobrei, fui atacada violentamente e me senti tão desequilibrada, a ponto de cair no chão com as pernas abertas e apoiada sobre as mãos.

- Mas o que é isso? - perguntei assustada, ao ver que havia sido derrubada.

- M-me desculpe... Não tive a intenção! - foi quando nossos olhares se cruzaram.

Ele era lindo, porém já o conhecia há um tempo. Lindo e incrivelmente perturbado. Lindo, incrivelmente perturbado e detestável. Completamente detestável.

Seus olhos castanhos e seu cabelo grisalho, seus olhos quase fechados e sua boca delineada. "Meu Deus, onde fui parar?", pensava eu.

De todos os homens que eu sentia atração, ele era o único que me fazia sentir pior. Eu sentia como se tivesse caído de pernas abertas de propósito.

- Você? - perguntei, quase me insinuando para ele, mesmo que sem querer.

- Então Fátima, há quanto tempo não nos víamos! - ele se levantou e ajeitou o terno preto e a camisa social branca que estava escondida, além da gravata rosa que chamava atenção para seu peito. - Nunca mais esbarrei em você!

Ele estendeu a mão para mim e me ajudou a me recompor. Assim como ele, estiquei meu cardigã e minha calça, assim como meus sapatos e meu cabelo desalinhado.

- Até tinha me esquecido de como você era William Bonner...

- Digo o mesmo!

William havia trabalhado comigo por três meses. Três longos meses... Eu, na época, era jornalista e ele era dono de uma empresa fabricante de roupas. Sempre bem arrumado, dava até pra adivinhar.

Apesar de não ter gostado de trabalhar com ele, me apaixonei pela fabricação de roupas e me aprofundei no assunto. Virei crítica de moda, até acabar virando estilista e trabalhar na empresa dele.

Nós não nos dávamos bem, mas era como se sentíssemos choques elétricos ao nos tocarmos. Eu o reconheceria de longe, somente pelo olhar!

- Você quer ajuda? - disse, estendendo a mão pra mim.

- Não, obrigada...

Arrumei meus óculos no rosto, dei um sorriso amarelo para William e quase passei por ele, porém fui impedida por uma mão forte que pressionou meu braço.

- Senti saudade de trabalhar com você! - e então me encarou.

Por mais que minhas pernas estivessem bambas, eu não podia ceder. Se ele não fosse tão insuportável e se eu não o desprezasse tanto, poderíamos até nos dar bem.

- William - e me soltei - é uma verdadeira pena você ser quem é e como é. Caso contrário, até poderíamos nos dar bem.

Ele sorriu, pois deve ter achado graça da situação. Eu o encarei tanto, que estava a ponto de comê-lo com os olhos. "Não, Fátima. Você não pode. Resista. É ele: William Bonner!". Dei forças à mim mesma, sorri para ele de volta e continuei meu caminho.

Sem olhar pra trás, ri enquanto percebi que ele admirava meu corpo escondido através das roupas.

- Olhe pra frente, Bonner! Pra frente... - e, rindo, dobrei mais uma esquina.