Fanfic: Presos nos lençois | Tema: Erotismo

- Vai começar, senhor Bonner? - Recuperei minhas forças, sorri forçadamente e encarei sem medo aquele que há horas atrás estava prestes a me comer. Filho da mãe! - Porque acho que já posso ir embora.

- Você sabe bem que não vai ir embora agora.

Bufei e bati com meus braços nas laterais do meu corpo. Estar numa corda bamba contínua estava começando a me chatear profundamente... E tudo bem que eu havia acabado de beijar um homem na frente dele, mas isso não era motivo para William Bonner - tão vadio quanto eu - me chamar de vagabunda nas entrelinhas.

- Quem você pensa que é? Não é porque é dono disso aqui tudo - acenei com as mãos para aquela enorme sala no melhor estilo William Bonner de ser: completa, simples, direta e incrivelmente incrível - que pode ofender as pessoas ao seu redor, William.

- Ofender as pessoas ao meu redor? - O tom de sua voz saiu tão irônico que fez meu estômago virar. - Eu sinto muito Fátima, mas você não é nenhuma "pessoa ao meu redor" - ele fez aspas com as mãos. - Você é a mulher que eu estava beijando enlouquecidamente e que eu ia comer se não fosse o interfone tocar e o tal Tino aparecer . E eu sinto muito mesmo, mas não tem como não ofender uma mulher que quase transa com o seu chefe em uma hora e nem cinco minutos depois é beijada por outro, provavelmente um que já lhe comeu. Não ofendi ninguém.

Coloquei as mãos na minha barriga e comecei a massageá-la. Aquela conversa estava embrulhando o meu estômago e a pior parte é que não eram mentiras o que ele estava falando. Querendo ou não ele estava certo.

- Tudo bem, mas não fui eu quem beijei ele. Você não tem o direito de me ofender. William Bonner, pelo amor de Deus, você nunca ficou com mais de uma mulher em uma mesma noite? E não adianta querer mentir que não, porque pra vagabunda eu sirvo, mas pra burra não.

- Olha só, a comida vai esfriar e se formos colocar em uma balança o mais vagabundo daqui, iremos até o fim do expediente. Além do que temos apenas uma hora de almoço.

- Não vou almoçar com você.

Ele bufou, respirou fundo calmamente e eu pude ver o quão irritado ele estava. Ainda que fosse William Bonner, eu parecia fazer tremer suas bases. Veio até mim com pouco mais de quatro passos e segurou meu braço com força, quase me machucando. Ele não parecia nem um pouco amigável.

- Eu pedi comida para dois, trouxe você até aqui e se não quiser que eu cometa algo muito errado, sente e coma comigo. Eu já não estava bem e depois de ver você beijando - tenho total certeza de que ele se esforçou para não torcer o nariz fazendo uma expressão de nojo - por outro, fiquei muito pior. Se você tem qualquer pouco sentimento por mim, mesmo que uma leve admiração, fique e almoce comigo.

Assim que ele me soltou, perdi as forças nas minhas pernas. Deus do céu, o que não faltam em mim são sentimentos por esse homem, mas isso ele jamais saberia. Sustentou o olhar sobre mim e rapidamente baixou os olhos, fitando o chão. Colocou as mãos na cintura e caminhou até sua mesa. Olhou para mim novamente e eu vi que estava na hora de chegar perto e oferecer ombro amigo, antes que fosse tarde.

Me aproximei e coloquei minhas mãos em seus ombros, fazendo-o se arrepiar. Por mais que a camisa que ele vestia fosse de um tecido vistoso, ele demonstrava suas sensações bem diante dos olhos dos outros - por mais seguro de si que ele fosse.

- O que você quer, Fátima?

- Depende muito do que você quer. - Me afastei e fiquei de frente para ele, que se encostou na mesa e ficou na minha altura. Olhos nos olhos. - Eu já chupei você, você já me viu nua e quase me comeu. Tudo bem que eu tenha sido beijada por um outro homem na sua frente minutos depois de sair do seu colo, mas isso não é motivo suficiente pra me tratar tão mal. Quer companhia? Tudo bem, eu fico. Mas não em silêncio.

Droga! Que homem bem... bem Homem.

- Fátima, fique. Desculpe, é que tudo está dando errado hoje. Vamos comer e se eu estiver lhe tratando mal, me jogue um pouco da sua comida na minha cara. Eu só preciso da sua companhia hoje. - Com ênfase no sua.

Sorri, damos as mãos e então fomos comer. Ele puxou uma cadeira e colocou na beira de sua mesa, enquanto sentou na sua - tão bonita e tão dele. Entregou à mim a minha porção e pegou a sua, sorrindo ao ver a aparência do alimento.

Era tão simples e tão bom estar com ele assim, num clima descontraído...

- Coma e fique à vontade. E, por favor, não fique constrangida ou envergonhada caso não se dê bem com os "pauzinhos". - E então riu, claramente ironizando a última frase, a qual se dirigia a minha habilidade com os "pauzinhos".

- Também sou adepta à comida chinesa.

Pegamos os tais "pauzinhos" e começamos a saborear aquilo tudo, explícitamente engajados em comer aquilo tudo de uma vez só - se possível.

- Então me diga - ele tomou a iniciativa de não ficar quieto e fazer daquele almoço o pior de nossas vidas - quem era aquele homem?

Respirei fundo, terminei de mastigar a comida que estava na minha boca e lambi meus beiços, vendo-o morder seus lábios. Sorri, limpei minha boca com o guardanapo e tomei um pouco da água que estava gentilmente servida em uma taça para mim. Assim que larguei a taça na mesa, depositei meus olhos nela e não fui corajosa o bastante para encarar o homem à minha frente.

- Ele é um conhecido meu.

- Conhecido, Fátima? Por favor, não precisa mentir tanto...

- Conhecido, sim. Nos conhecemos em alguma festa há anos atrás e desde então, sempre que nos encontrávamos dávamos um jeito de transar. Ele sempre foi como eu, por isso que nunca tentamos um relacionamento sério.

- Como você como?

Eu ri e o encarei. Ele estava com os cotovelos apoiados na mesa e a cabeça descansava entre suas mãos. O sorriso aberto em seus lábios demonstrava toda a curiosidade que sentia.

- De sair com várias pessoas numa mesma noite e transar com várias pessoas numa mesma semana. Nós não nos prendemos a ninguém.

O sorriso desapareceu de seus lábios e eu tomei a água que estava na minha frente de uma vez só - quase engolindo em seco. Parecia que o fato de eu não me prender a ninguém havia o decepcionado. Mas ele era o William Bonner e eu era apenas uma Fátima qualquer.

Ele desviou os olhos de mim e passeou com eles pela sala inteira, até parar na comida à sua frente.

- Você não se prende a ninguém? - Ele perguntou sem olhar pra mim.

Se o ninguém for você eu me prendo, sim.

- A única pessoa a quem eu estou presa é o Michael, meu melhor amigo e colega de apartamento. Ainda não encontrei um grande amor que me faça abandonar a vida de festas e agitos noturnos pra viver uma vida de mulher casada e mãe de família.

- Seu coração é livre, mocinha?

- Livre sou eu. Meu coração tem dono. - O encarei ao falar a última frase e sorri, tentando indicar alguma coisa. Não que eu fosse completamente apaixonada ou coisa parecida, mas eu sentia algum sentimento forte por ele. Ao vê-lo sorrir, me dei conta da burrada que havia feito. - E o dono é o Michael. Sem contar o meu pai, ele é o único homem que pode estar aqui dentro.

- Ah! - Ele revirou os olhos e voltou a comer. - Pois o meu coração é. E quer saber do que mais, espero que continue sempre assim. Dizem por aí que se apaixonar é uma droga.

Eu sorri envergonhada e baixei a cabeça, encarando aquela comida que parecia não ter fim. Não estava mais com fome, muito pelo contrário. Meu estômago estava dando voltas e voltas dentro de mim e eu não podia fazer nada além de sorrir, comer e falar que estava tudo ótimo. As horas pareciam não passar e eu sentia como se estivesse me afastando daquele homem à minha frente cada vez mais, por mais que estivéssemos mais íntimos à medida que os segundos passavam naquele dia.