Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 25 – Fato Consumado - Do avesso.

Anahi...

O que dizer ou como definir o que senti quando Dulce confessou-me estar apaixonada, ainda é um mistério para mim. Só conseguia pensar e me culpar por ter deixado essa história ir longe demais. Dulce ainda é uma menina. Uma adolescente que ama e se entrega facilmente. Mas eu não. 
Já construí parte de minha história e tenho idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil assim. Pedi um tempo, justamente para organizar meus pensamentos e – tentar – acalmar o turbilhão de emoções que afloravam na presença dela.

Uma. 
Duas. 
Três semanas se passaram e, não vou negar, sentia falta de Dulce.

Seu jeito irreverente e divertido. As frases e piadinhas irônicas que sempre deixava escapar.
Seu olhar. A forma com que me tocava. Seu corpo. O jeito lânguido e preguiçoso com que me abraçava depois do sexo. Com o celular na mão e o número dela apontado na tela, eu me perdia na dúvida entre ligar ou não. Eu não liguei, mas o celular tocou...

Alfonso.

-- Amor? – Ele disse entusiasmado.

-- Oi, amor.

-- Consegui resolver o problema do atraso nas entregas e já voltei pra casa.

-- Hum... E pelo tom de voz, tem planos pra hoje.

-- Muito bem, amor... Sempre perspicaz. – Ele riu. Eu lembrei-me de Dulce, era ela quem gostava de me chamar de perspicaz. Fiquei séria. `` Será que tudo que falarem agora, eu vou me lembrar dela? Vou acabar enlouquecendo. `` – Amor?

-- Oi. Estou aqui.

-- Pensei que tivesse caído a ligação. Não me respondeu mais.

-- Desculpa. Me distrai.. – Ajeitei-me na cadeira e completei com a voz sedutora: – Quais eram os planos pra hoje mesmo?

-- Quero te levar num barzinho que inaugurou semana passada. Música ao vivo e gente animada. 

-- Combinado então. Agora vou desligar para adiantar o trabalho. Ainda tenho que passar no salão e dar uma retocada no visual. 

-- Amor, fica bem gostosa pra mim que eu quero estender a noite. – Ele pediu animado. `` Animado até demais. `` – Beijo e até mais tarde.

Desliguei com a certeza de que teria que me animar de alguma forma.
Sempre viajando nos finais de semana, eram raras as sextas-feiras que meu marido passava em casa. Minha vontade era inventar uma dor de cabeça qualquer e dormir pelo resto da noite, mas não seria justo negar seu pedido. Trabalhei pelo resto da tarde. Sai mais cedo e percebi, pelo sorriso feliz e animado, que minhas funcionárias gostavam quando eu resolvia acabar o expediente antes do horário.
Me permiti relaxar um pouco. Há tempos não passeava despreocupadamente pelo shopping, sem preocupar com horários e compromissos.  Aproveitei e comprei uma roupa nova. Passei no salão e arrumei o visual. Cheguei em casa e não havia ninguém, só um recado pregado na geladeira:

Amor,

Os dois homens da sua vida foram tomar sorvete. Tem gente que vai dormir na casa da vovó hoje, temos que adular.

Beijos. Te amamos!

Sorri. Se Mateus descobrisse que iríamos sair, não aceitaria dormir de jeito nenhum. Alfonso sempre gostou de levá-lo, mesmo quando era pequeno e ele acabou acostumando-se. 
Estava no banho quando eles chegaram. Mateus veio dar-me um beijo e, empolgado com a idéia de passar a noite brincando com os primos, que estavam na casa de mamãe, foi arrumar sua mochila, sem ao menos questionar o motivo de nossa saída.

-- Amor, tô indo tomar banho no outro banheiro, porque se eu entrar aí, vou te pegar e não te deixo sair mais.

Alfonso gritou de algum cômodo da casa. Arrancando-me um sorriso divertido.
Duas horas depois, eu saia do quarto. Atrasada, mas pronta. Cheguei na sala e Alfonso cochilava com o controle da TV na mão. Sorri.

-- Poncho. – Toquei seu braço levemente. – Acorda, amor.

Ele abriu os olhos e levantou, assustado. Reclamando, enquanto pegava as pecinhas do controle que haviam se espalhado, após o mesmo ter sido deixado cair.

-- Você demorou demais, Anahi. Deu tempo de levar o Mateus na sua mãe, dormir e... – Quando pegou a ultima peça e virou-se em minha direção, parou de reclamar. Fiz uma expressão divertida e ele exclamou: – Nossa!

Caminhei em sua direção e passei meus braços ao redor de seus ombros. Ele enlaçou-me pela cintura, apenas me olhando. Aproximei minha boca de sua orelha e sussurrei:

-- Valeu a pena esperar?

Ele apertou-me e trouxe para mais junto de seu corpo. Antes de beijar-me com urgência, respondeu sem exitar:

-- Ô, se valeu. Tá uma delícia nesse vestidinho. 

Depois de retocar o batom e demorar mais alguns minutos, para impaciência de Alfonso, saímos de casa. O tal bar nem ficava muito longe, chegamos rápido. Entramos e não vimos nenhuma mesa disponível.

-- Amor, você não fez reserva? – Perguntei incrédula, enquanto o observava aflito, procurando alguma mesa vazia.
-- Reserva, Anahi? Reserva é coisa de velho. – Ele respondeu indignado. Eu sorri sem acreditar naquelas palavras. – Aqui você chega e senta, se não tiver mesa, espera.

Só não esperamos muito tempo, porque um casal de amigos, percebendo que estávamos sem mesa, acabou nos convidando para sentar na deles. Na verdade, eles eram amigos só do Alfonso. Trabalhavam na mesma empresa. 
Suspirei só de imaginar quão longa a noite seria. Geralmente, quando pessoas que trabalham na mesma empresa se encontram, o assunto sempre pende para o trabalho. Mesmo em um ambiente informal e de descontração. Com Alfonso e o casal de amigos, não era diferente. 
Com a diferença que, não havia uma esposa entediada e desinteressada do outro lado, para interagir comigo, sorrindo e fingindo estar contente por ouvir aquele papo sobre negócios. A esposa de Rogério, o amigo, também trabalhava na empresa. Aliás, foram lá que eles se conheceram. 
Bom, o fato é que a noite seria ainda mais longa para mim. Só quando desviei minha atenção do assunto da mesa e reparei no ambiente, percebi que a música já havia começado.
Em um pequeno palco, num cantinho do bar, havia uma dupla cantando.

``  Eu quero ver você mandar na razão.
Pra mim não é qualquer notícia que abala o coração... `` 

`` Adoro essa música. ``

Pensei enquanto acompanhava a letra. Percorri meus olhos pelo ambiente e parei em uma mesa de adolescentes. Duas conhecidas. Maite e Dulce.
`` Não pode ser. Coincidência demais. Com tantos bares nessa cidade, Meu Deus. ``
Continuei observando, sem conseguir desviar os olhos. Dulce parecia se divertir bastante. Principalmente, quando uma garota loira, que estava sentada do outro lado da mesa, levantou e sentou em uma de suas pernas, servindo em sua boca, em um copinho – o que parecia ser – uma bebida. Virei o rosto rapidamente. Até tentei sorrir quando Alfonso chamou minha atenção, mas não consegui. 
Pedi licença e fui ao banheiro.

`` Era assim então que ela dizia estar apaixonada por mim? `` – Pensei e me condenei logo depois.
`` Que direito eu tenho de cobrar e questionar isso? Dulce não tem compromisso nenhum comigo. Pode fazer o que bem entender. Aliás, só eu tenho compromisso e não é com ela. E não sei por que estou aqui, com essa sensação horrível. ``
Já ia saindo de lá quando senti alguém passando por mim e puxando meu braço.
Reconheci seu cheiro.

-- Any. – Ela disse sorrindo, como se estivesse feliz em me ver. Não sorri de volta. Apenas encarei seus olhos brilhantes. – Eu vi você passando e quis falar um oi. Eu... estava com saudade.

-- É mesmo, Dulce? Não parece. – Ela olhava-me sem entender. Como se não soubesse do que eu estava falando. Mas eu expliquei. – Com aquela loira no seu colo, impossível sentir saudade.

Ela sorriu mais ainda e aquilo me irritou. Tentei sair do banheiro, mas ela me impediu novamente. Parando em minha frente e obstruindo a passagem.

-- Any, você tá com ciúme? – Ela perguntou com uma fagulha no olhar. Aquela pergunta ecoou forte em minha cabeça. Ciúme. Só então eu percebi o que estava fazendo.

Eu estava tendo uma crise de ciúmes.

-- Me poupe, Dulce. – Respondi sem paciência. – E dá licença da minha frente, por favor.

-- Não dou! – Ela continuava no mesmo lugar. Sem se mexer. 

-- Dulce, eu não quero ter que gritar, hein?!

-- E nem vai conseguir.

Ela disse e logo me puxou pelo braço, encostando-me na parede do banheiro.
Colou seu corpo no meu e me beijou com vontade. Intensidade.
Antes de fechar os olhos e me entregar àquele beijo, só deu tempo de escutar o refrão da música. Mais nada. 

`` Eu quero é viver em paz.
Por favor me beija a boca
Que louca, que louca! ``

Nos beijamos até escutarmos a porta se abrindo. Separei-me de Dulce e com um olhar de repreensão, me afastei. Voltando para a mesa. Indignada. Confusa. Excitada.
Querendo abafar o som daquelas palavras, da música que eu adorava, mas já não adoro tanto assim..

`` Se toda hora é hora de dar decisão, eu falo agora
No fundo eu julgo o mundo um fato consumado
E vou-me embora
Não quero mais, de mais a mais
Me aprofundar nessa história
Arreio os meus anseios
Perco o veio e vivo de memória.. ``

Fato Consumado – Djavan

http://www.youtube.com/watch?v=nvURvFBKN0Y