Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 32 – Maior Abandonado

Dulce...

-- Quem tá falando, Dul? – Maite perguntava-me sem parar, cutucando meu braço.

Eu tentava ignorar aquele ser incômodo, mas ela puxava minha blusa. Cutucando. Insistindo. Tapei a boca do telefone e o afastei, respondendo irritada:

-- Dá pra parar de cutucar, Maite?!

-- Quem é? – Sussurrou gritado. Me virei e ela cutucou novamente. Olhei com raiva, ela sorriu, sem graça. – Custa responder?

-- É a Any, porra.

Ela franziu a testa e estreitou os olhos, analisando-me silenciosamente. Desviei meu olhar e voltei a atenção para o telefone, prosseguindo a conversa:

-- Oi, Any... Pode falar.

-- Tá ocupada, Dul?

-- Não, era só... é... Bom, o que você quer mesmo?

-- Eu queria... – Ela pareceu titubear por alguns segundos. – Precisava muito te ver...

-- Ah, acabou a comemoração? – Perguntei, sem deixar de impor um tom irônico na voz.

-- Não faz isso, Dul. – Ela pediu suavemente. – Eu preciso te falar uma coisa.

-- Olha, Anahi. Eu não tô afim de me chatear, tá legal? – Me irritei, pensando nas mil possibilidades contidas naquela frase. Com o coração apertado e fingindo uma naturalidade não existente, completei: – Não me faz perder a viagem, pode falar pelo telefone mesmo.

-- Dul, por favor, pelo telefone não dá.

Anahi fez uma voz tão... tão doce que não consegui resistir. Combinamos de nos encontrar no lugar de sempre. Desliguei o telefone. Olhei para o lado e desejei poder desligar e colocar Maite no silencioso.

-- Dulce, cara.. Não acredito! – Ela andava de um lado pro outro. Passando a mão no cabelo. – Dez minutos atrás, você tava aqui, chorando e reclamando das atitudes dela. Bastou ligar e você vai correndo? Fácil assim?

-- Ela quer conversar comigo, Mai...

-- E daí? – Perguntou irritada – Foda-se se ela quer conversar contigo. Quando ela tava lá, dando pro marido dela, não quis conversa contigo, né?

Ela disse e logo se calou, parecendo se arrepender logo depois.

Controlei a angustia que apertou meu peito. Só de pensar e imaginar ele tocando, acariciando o corpo de Anahi, minha garganta secou. Os olhos se encheram. Uma lágrima escorreu no transbordar dos olhos. No chorar do peito. Na dor da alma. Maite falou, aparentemente, sem pensar, mas fez com que o turbilhão de pensamentos e imagens, que eu havia conseguido acalmar na noite passada, voltassem com força.

-- Desculpa, Dul. Falei sem pensar. – Ela abraçou-me ternamente. Enxugando as lágrimas que, agora, caíam incessantemente. – Mas, o que falei não deixa de ser verdade. As desculpas foram só pela maneira com que disse.

-- Eu não queria que ele tocasse nela, Mai. Não queria. – Eu repetia desesperada. Sem conseguir controlar as lágrimas. – Eu tô perdida. E agora, o que eu faço?!

-- Primeiro, você vai parar de chorar. – Ela segurava meu rosto, falando devagar e carinhosamente. – Vai ficar desidratada desse jeito, Dul. Nem a Maria do Bairro chorou tanto.

Em meio às lágrimas, consegui sorrir. Maite era, indescritivelmente, única.

-- Segundo: você vai lá e fala pra ela que, enquanto ela estiver com o marido, nada de ficar com você.

-- Mas eu quero...

-- Dul, você não quer nada. – Ela interrompeu-me. – Cala a boca e faz o que eu tô mandando.

-- Eu vou tentar, tá?! Eu só preciso...

-- Não, Dul. – Interrompeu-me novamente. – Você vai fazer. Não vai? –

Completou, ameaçadora.
Assenti, balançando a cabeça.

-- Promete, Dulce Maria. – Exigiu, mandona.

-- Prometo. – Concordei enfadada. Suspirando.

-- Promete o que, infeliz?

-- Prometo que vou exigir uma atitude dela. 

Meia hora depois, eu quem estava andando de um lado pro outro, naquele mesmo quarto de motel, esperando Anahi. Já tinha ensaiado várias frases e estava pronta para dizê-las, quando ela entrou.  Eu já estava começando a ficar irritada com meu coração. Qual a necessidade de acelerar desse jeito? Quase tive um infarto.
Esqueci das falas e frases feitas, quando Anahi se jogou em meus braços. Procurando minha boca com urgência.
Correspondi com a mesma necessidade. 
Logo nossas roupas foram tiradas e jogadas em um canto qualquer do quarto.
Os corpos se procuraram. As bocas, línguas e mãos acharam e trilharam o caminho do desejo.
Eu estava de olhos fechados, recuperando o fôlego, tentando acalmar meu corpo que pedia mais. 

-- Eu não consegui. – Anahi disse, de repente, fazendo-me abrir os olhos e encarar os seus, interrogativa. – Ontem, eu...

Ela interrompeu sua fala e abaixou o olhar, aparentemente envergonhada. 
Passei meus braços ao redor de seu corpo e a trouxe para junto de mim. Beijei sua testa e a olhei, incentivando-a a continuar.

-- Não consegui sentir prazer com ele. – Ela disse baixinho. Sem me encarar. – Só consegui gozar quando pensei em você.

Senti meu coração acelerar novamente. Uma alegria incontida brotou no meu peito. Manifestando-se em beijos e carícias apaixonadas.

-- Eu te amo, Any.

Eu dizia enquanto beijava cada canto de seu corpo. Deleitando-me com o seu gosto e o prazer estampado em seu olhar. Prazer que só eu era capaz de dar.

-- Você é perfeita, Dul. 

Ela dizia enquanto me abraçava, apertando-me junto ao seu corpo.
E ali, sem mais importância, esquecidas entre o aperto do abraço e o calor dos corpos, ficavam a mágoa e a insegurança. A promessa que fiz à Maite, morreu na boca quente de Anahi. No gosto do beijo. Na mistura da saliva.

-- Fica comigo pra sempre, Any.

Eu respondia, feliz. Extasiada.
Implorando.
Desejando.
Pedindo.

`` Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam

Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam ``

 

Maior abandonado – Cazuza

http://www.youtube.com/watch?v=hh4HWgPfdvw