Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 34 – Sozinho.

Dulce...

-- Any, tem certeza que está melhor?

Eu perguntava preocupada, vendo que Anahi não estava bem.

-- Não se preocupa, linda. – Ela respondeu, sem ânimo. – Só preciso ir pra casa, dormir um pouco. Bebi demais.

-- Eu vim de carro, te deixo em casa.

Anahi não protestou, como sempre fazia, dizendo achar perigoso demais que eu dirigisse sozinha pela cidade. Pelo contrário, foi calada durante todo percurso. Quis acreditar que era o efeito negativo do álcool, mas alguma coisa dentro de mim se apertava. Contorcia. A garganta estava fechada. O ar escasso. O peito apertado. Uma sensação que não cabia em palavras.

 Sem explicação.

-- Passou uma rua, Dul. – Ela disse, tirando-me de meus devaneios.

Estava tão perdida em meus próprios pensamentos que nem vi o caminho passar.

-- Desculpa! – Eu pedi, enquanto voltava com o carro. – Me distraí.

Estacionei em frente seu prédio. Ela ficou me olhando, sem nada dizer. Enquanto a olhava, ali, constrangida, buscando palavras. Conclui que, quando não se sabe ou não se tem o que dizer, o silêncio se torna constrangedor. 
Devora. Assusta.

-- Bom, fica bem. – Eu disse, sem graça. Quebrando o silêncio.

Ela sorriu. Também sem graça.

Eu, sem entender, sentia que uma cratera rachava e se abria entre nós. Criando um abismo. Separando. Distanciando.

-- Amanhã não dá, mas na sexta ou no sábado eu te ligo.  – Ela disse, beijando minha testa e saindo logo depois.

Acenou um tchau e entrou no prédio. Fiquei ali, parada, olhando enquanto ela se afastava. Ficando cada vez mais longe, longe... Longe. Inalcançável. Sexta, eu esperei, mas ela não ligou. Sábado, quando eu já havia perdido as esperanças.

O celular tocou.

-- Dul?

-- Oi, Any.

A voz saiu presa. Emocionada.

-- Tava dormindo?  – Ela perguntou.

-- Não. Eu estava esperando você ligar. – Confessei.

-- Bom, queria te ver. Sei que está meio tarde, mas...

-- Também quero te ver. – A interrompi, empolgada. – No mesmo lugar de sempre?

-- Não, Dul. Hoje eu queria que fosse na cabana. Na praia. Tem jeito?

-- Claro. – Respondi rapidamente. – Me dá só alguns minutos para eu ajeitar algumas coisinhas por lá e ...

-- Não, Dul. – Ela interrompeu-me – Não se preocupa! Não quero te dar trabalho e...

-- E... ?

-- Nós precisamos conversar.

-- Ah... – Exclamei, sem saber o que dizer.

-- Daqui meia hora, tudo bem pra você?

-- Tudo. Você sabe chegar? – Quis saber, preocupada.

-- Sei. Só não sei passar por aquele caminho, na mata...

-- Te espero onde a gente estacionou o carro aquele dia, lembra?

-- Lembro sim. – Ela respondeu e suspirou. Fundo. Puxou o ar e completou: – Até mais tarde então, Dul. Beijo.

-- Beijo.

Deixei o celular escorregar da orelha, sem ânimo nenhum. Tomei um banho rápido e me arrumei. Dirigindo e sentindo aquela velha e conhecida sensação inexplicável. Misturada com medo. Apreensão. Tensão. Agonia.

Cheguei dez minutos mais cedo que o combinado. Desci do carro e fiquei ali, andando de um lado pro outro. Esperando. Olhei no relógio e vi que cinco minutos haviam se passado. Caminhei de volta até o carro e me encostei, olhando o céu. Nem sinal de estrelas. Observei mais um pouco e me dei conta que nem a lua estava visível. Só as nuvens negras cobriam o céu.

Dez minutos...

Fiquei admirando os coqueiros que, com as rajadas de vento, dançavam em compasso.

Quinze minutos...

Entrei no carro e liguei o som, tentando me distrair.

`` Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Vinte minutos...

Suspirei, exausta. Sentindo a melodia da música se espalhar por todo meu corpo.

Trinta minutos...

Fechei meus olhos, recostando a cabeça no banco e repetindo com a música:

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Quarenta...

Cinqüenta minutos se passaram e nada de Anahi aparecer. Tentei o celular. Caixa Postal. Liguei na sua casa, mas não atendeu. Comecei a ficar preocupada.

`` E se tiver acontecido alguma coisa no caminho? ``

Liguei novamente em sua casa e, na mensagem da caixa postal, consegui o número da casa de sua mãe. Respirei fundo e, no ápice do desespero, disquei...

-- Alô.

-- A Anahi está?

-- Sim. – Apertei os olhos com força. Lamentando. – Quem gostaria?

Desliguei. Deixei o carro no mesmo lugar e segui para a cabana. Carlos, o motorista e amigo fiel, arrumara tudo, como eu havia pedido. Em vão. Olhei para o vinho e as duas taças que repousavam na mesa e sorri, melancolicamente. Peguei a garrafa, liguei o som. Escolhi a música. Apanhei as duas taças e sentei-me na porta da cabana, com os pés na areia. Enchi as duas. Levantei as taças e brindei com a solidão. Oferecendo aquele momento à melancolia.

-- Um brinde ao sofrimento. Aos desencontros. Um brinde à solidão!

Abri o peito.

Escancarei a dor.

Cantei alto, deixando que o vento espalhasse o tom amargurado de minha voz.

Por que?

`` Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora? ``

Sozinho – Caetano Veloso

http://www.youtube.com/watch?v=bOvQMP5Ev4g