Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde
Capítulo 35 – Sublime Renúncia.
Anahi...
Saí de casa com a intenção de encontrar Dulce e dizer-lhe tudo. Tudo que estava me atormentando. Tirando o sono. Mas não consegui. Não fui forte e nem corajosa o suficiente para ir até aquela cabana e despejar todo o turbilhão de pensamentos e decisões que atormentavam minha mente. Com a desculpa de buscar Mateus, fugi e me abriguei na casa de minha mãe. Conversei, me distrai e recebi o carinho que só minha mãe sabia dar, mas, ainda assim, não consegui ficar em paz. O lugar não era, exatamente, o problema. A confusão estava em mim. Dentro de mim. E me seguiria aonde quer que eu fosse. Mamãe estava empolgada com a visita de meu irmão, que a cada mês tornava-se mais freqüente. Fazia planos e pedia sugestões para o dia seguinte. Eu tentava ao máximo mostrar interesse, mas estava difícil. Só conseguia pensar em Dulce.
Olhava o relógio de cinco em cinco minutos. Aflita. Angustiada. Sabia que Dulce estava me esperando. Não queria enganar ou faze-la sofrer. Eu já estava sofrendo o suficiente, só por imaginar.
-- Tem algum compromisso, Anahi? – Mamãe perguntou, tirando-me de meus devaneios.
-- Não, mãe. Por quê?
-- Não para de olhar para o relógio, filha. Parece ansiosa.
-- É que minha cabeça não para de doer. – Eu respondi, fugindo de seu olhar. – Estou esperando dar a hora de tomar outro remédio.
-- Vai deitar então, filha. Deita que melhora.
-- É... acho que vou sim. Vou dormir agarradinha com o Mateus. Ele é meu remédio.
Mamãe sorriu, concordando. Ajeitou algumas coisas na sala e levantou-se, acompanhando-me até o quarto.
-- Eu também já vou dormir. Já tá tarde e amanhã seu irmão chega cedo. Tenho que preparar um café da manhã reforçado.
Sorri, achando graça nos cuidados exagerados dela. Deu-me um beijo, desejou boa noite e sumiu pelo corredor. Deitei na cama, mas não consegui dormir. A noite inteira virando e revirando na cama. Imaginando. Pensando. Me culpando. Sem conseguir dormir, alcancei meu celular ao lado do criado e vi que ainda estava desligado. O fiz na tentativa de fugir de Dulce e desligar-me do mundo.
Liguei. Tinha várias ligações e mensagens dela. Senti meu peito apertado. Como se uma mão invisível o esmagasse. Relembrei de todos os nossos beijos e momentos. O seu jeito carinhoso e apaixonado. Seus olhos e cuidados. Esperei o dia amanhecer e saí com a certeza de que precisava dar uma explicação para Dulce. Cheguei até o local combinado na noite anterior e avistei o carro dela.
Caminhei pelo caminho da mata, com a certeza de que precisava chegar até ela. Corri pela areia e não demorei muito a achá-la. Dulce dormia na porta da cabana. Deitada na areia. Toquei seu ombro e ela acordou lentamente. Linda. Olhando-me completamente perdida.
-- O que você tá fazendo aqui, Anahi? – Ela perguntou-me com raiva.
-- Eu... Não consegui vir ontem, Dul. Desculpa!
Ela ficou me olhando. Sem falar nada. Eu me aproximei, tocando seu rosto. Acariciando. Ela fechou os olhos. Sentindo. Ia beija-la. Mas ela abriu os olhos. E eu vi o grito mudo que saía deles. Seus olhos estavam amedrontados. Molhados. Recuei. A conversa com Luísa voltou em flashes dolorosos. Confundindo. Esclarecendo. Atormentando.
-- Você ainda quer conversar? – Ela perguntou-me, quebrando o silêncio.
Balancei a cabeça. Afirmando. Pelo abismo enorme que tinha entre nós. Eu soube. Ela também sabia.
-- Não dá mais, Dul. Eu não consigo... Não dá.
Eu disse. Sem conseguir encara-la. Sem saber o que dizer. Depois de alguns segundos de silêncio, ela perguntou:
-- Eu... não entendo. Você disse que ia se ajeitar. Ia terminar com ele. Por quê? É pela minha idade, Any? Eu...
-- Não, Dul. – A interrompi. A voz estava trêmula. Dolorosa. – Não é pela sua idade.
-- É por que então? Me explica. Eu não consigo entender. Me explica!
Ela segurou meu braço. Forte. Sem parecer acreditar no que eu estava dizendo.
-- Eu só não estou preparada pra perder tudo o que eu construí até hoje.
Eu respondi aflita. Com o coração disparado. Sem pensar.
-- Any, você não vai perder. – Ela argumentou, também aflita.
Levantei do chão. Nervosa.
-- Como não, Dulce? E minha família, meus amigos, meu filho, meu trabalho? Eu vou perder tudo! Tudo!
-- A gente reconstrói, Any. – Ela também se levantou. Me alcançou. Desesperou. Pediu: – Fica comigo! Eu te amo!
-- Eu não posso... Eu não posso.
Respondi, enquanto andava de um lado pro outro. Perdida.
-- Pelo amor de Deus, não me deixa. Eu não consigo ficar sem você. Não me deixa.
Ela segurava meu braço. Pedindo, implorando. Eu me afastava. Fugia. Quebrando. Dilacerando.
-- Não faz isso comigo. Eu não posso, Dulce.
-- Pode sim. A gente enfrenta tudo. Juntas. – Ela se aproximou novamente. Falando baixinho, desesperada.
Tentando me convencer. Tentando se convencer.
-- Nãão! – Gritei. – Eu não quero perder tudo. Não quero.
-- Mas você disse que me amava, Any. – Ela respondeu aos prantos. Levando-me aos prantos também. – E quando a gente ama, enfrenta tudo.
-- Não! Amor não é suficiente, Dul. – Eu dizia em meio às lágrimas. Desesperada. – Entende isso!
Afastei-me. Ela se jogou. Caindo na areia. Aos meus pés. Segurando. Impedindo que eu me afastasse.
-- Por que, Any? Por quê?
Ela perguntava sem parar. Repetindo. Chorando. Eu estava desesperada. Não imaginava que seria tão doloroso. Nossas lágrimas se misturavam com a chuva que começava a cair. O céu havia se fechado e eu nem percebi. Meu peito se fechou. Minha alma escureceu. Um raio cortou o céu. O clarão me cegou.
-- Você não tem nada pra me oferecer, Dul. – Eu disse, esforçando-me pra que as palavras saíssem e soassem verdadeiras. – Eu tenho tudo com o Alfonso, casa, carro, família.
-- Eu... vou estudar, vou me formar. Eu te dou tudo isso também, Any. Por favor. Não acredito que você tá me deixando por dinheiro.
-- Não é só dinheiro, Dulce. Você nunca vai poder me dar uma família normal. – Eu gritava. Expressando toda minha dor – Não quero que os outros me olhem com repulsa. Com nojo.
Mágoa. Dor. Chuva.
Seu olhar estava chuvoso. Escuro.
A chuva aumentou.
Raios cortavam o céu.
Trovões anunciavam a tempestade que estava próxima.
Dulce se levantou. Não havia mais medo em seu olhar. Havia ódio. E eu não estava preparada para enfrenta-lo. Não com tanto amor pulsando no meu peito. A tempestade já havia chegado. Estava ali. No chorar dos olhos. No pulsar dilacerado do peito. Na devastação da alma.
-- Nojo. Sabe o que é nojo? – Ela chegou bem perto de mim. Segurando meus braços com força. Olhando em meus olhos. Controlando a respiração alterada. – Nojo é o que eu tô sentindo agora por você.
-- Me solta, Dulce.
Eu pedia desesperada. Sentindo as gotas de chuva arderem na pele. Sentindo as sílabas de ódio rasgarem o peito.
-- Você é uma covarde. – Ela aumentava a força das mãos em meu braço. Apertando com a unha. Machucando. Seus olhos faiscavam. As palavras saíam apertadas: – Egoísta e interesseira.
Eu não conseguia dizer nada. Parecia estar fora de órbita. Via a boca de Dulce mexendo, mas não entendia suas palavras. Eu estava anestesiada. Padecendo em uma dor que eu mesma causei. O mar de lágrimas me envolveu. Afogou-me. A boca de Dulce mergulhou na minha. Trazendo-me à tona novamente.
Senti seus lábios e correspondi prontamente. Tentei envolver seu corpo com meus braços, mas ela não deixou. Aquele beijo era a salvação para o naufrágio. A calmaria em meio à tempestade.
Mas ele não durou.
Dulce soltou-me com ódio. E, antes de se afastar, disse:
-- Eu vou matar cada pedaço desse amor que sinto por você.
Matando-me aos poucos.. No similar de cada sílaba. No entendimento das palavras.
No efeito da frase.
Aí sim, a chuva caiu. Forte. Devastadora. Dentro e fora de mim. Levando tudo.
Menos a dor.
Saí dali transtornada. Praguejando o momento em que me apaixonei. Fraquejei. Eu estava colhendo o que plantei. A decisão foi minha. Era só aceitar. Mas por que doía tanto? Tanto... Tanto. Antes de voltar para casa, andei sem rumo por toda a cidade. Tentando me acalmar. Precisava recuperar a razão para voltar. Minha vida estava me esperando.
A vida que eu escolhi.
Voltei para a casa de minha mãe e encontrei todos na sala. Conversando. Relembrando histórias. Sorrindo. Inventei uma desculpa qualquer pela roupa molhada e pelo sumiço. Segui para o banheiro e tomei um banho. Deixando ali, no escorrer da água, toda dor que ainda sentia. Sufoquei a dor. Anulei a alma. Vesti a máscara de indiferença que me acompanhou por tanto tempo. A Anahi estava de volta. A conversa na sala rendeu por horas e horas. Meu corpo reclamava de cansaço. Minha mente pedia abrigo.
Não conseguia mais participar e nem manter a atenção na conversa distraída. Era só lembrar. Relembrar. O desespero voltava.
Com força total.
Não agüentei.
Saí de lá com lágrimas nos olhos. Sufocada. Segui até a varanda. Longe de tudo e todos. Me encostei na parede e chorei. Chorei... Chorei como há muito não chorava. Deixando que meu corpo todo se convulsionasse em soluços desesperados. Apertava e puxava os cabelos. Sem acreditar. Sem controlar. Eu esfregava o peito. Querendo arrancar a dor...
Dor...
Dor...
Ainda estava chorando quando senti alguém tocando meu braço e perguntando, baixinho:
-- Ei, mana. Tá tudo bem?
Era Murilo, meu irmão mais velho.
Certamente, ele havia percebido quando saí da sala. Não consegui falar nada. Só o abracei. Forte. Relembrando nossa infância, quando ele me envolvia em seus braços e dizia que me protegeria para sempre. Ele acariciava meus cabelos. Sussurrando baixinho que tudo ficaria bem. Diferentemente daquela época, eu já não tinha tanta certeza assim.
-- Quer conversar, mana? – Ele perguntou, após ter me acalmado um pouco.
Eu não respondi. Só balancei a cabeça, negando. Ele sorriu, beijando-me na testa e disse:
-- Quando quiser, é só me procurar. Estarei aqui sempre.
Devolvi o sorriso, em um gesto claro de agradecimento. Ele voltou para dentro de casa. Eu fiquei ali, sozinha. Olhando a vista. Sentindo o vento frio tocar as lágrimas, espalhando-as por meu rosto. Espalhando a tristeza. A lamentação. Sequei as lágrimas quando ouvi algumas vozes se aproximando. Pelo ritmo dos passos, já sabia quem era. Me virei e encontrei os olhos questionadores de mamãe. Ela estava apoiada na porta, olhando-me atentamente.
-- Deu saudade do pai. – Eu disse, tentando explicar e forjar um motivo explicável para os olhos e nariz vermelhos.
Ela se aproximou, abraçando-me com força. Compartilhando da mesma dor.
A dor de quem perdeu um amor.
Por renúncia ou destino.
Mas ainda assim, uma perda.
Irreparável.
Dolorosa.
Perda de amor.
`` Hoje meus dias são de tristeza e solidão,
Trago em minha alma uma profunda conformação,
Renunciei meu grande amor um dia.
Nos braços dela em que tão triste eu dizia.
Beijando os lábios do meu amor com frenesi.
Não chores por favor porque preciso partir.
Esse foi o meu ultimo beijo, satisfiz o meu desejo,
O pior foi te perder.
Resignemos, oh querida.
Não lamentemos a vida, nosso destino é sofrer.
Com os olhos chorosos e o coração em pedaços,
Ainda encontro forças para suportar esta sublime renúncia. ``
Sublime Renúncia – Interpretado por João Neto e Frederico
Autor(a): lunaticas
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Capítulo 36 – Devaneio. Dulce... Em pedaços. Era como eu me definiria naquele momento. Da cabana, eu observava Anahi se afastar, levando consigo, nos passos firmes e nas palavras duras, a minha vontade de viver. Eu sei. Pode soar como exagero, mas o ápice do desespero não permite razão. Ali, sozinha naquela praia, e ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 65
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flavianaperroni Postado em 16/08/2015 - 04:40:47
Amei de verdade a fic,perfeita demais *-*
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claricenevanna Postado em 06/12/2013 - 01:17:47
Andei meio sumida daqui, mas não esqueci essa web que adoro de paixão. O final foi lindo, toda web foi linda, cara. Me emocionei muito com o amor puro delas. Parabéns! Uma história inteligente, instigante e marcada de muito amor. Estarei acompanhando na nova web.
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angelr Postado em 05/12/2013 - 00:48:19
Adorei a fic perfeita romantica e muito fofa amei foi bom ler *_*
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annecristine Postado em 05/12/2013 - 00:31:28
Crlh vc escreve muito! Amei o final da fc. Elas sao lindas o Matheus super fofo! Rs.. Parabens ameii.. ^_^
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annecristine Postado em 04/12/2013 - 18:12:31
Aiii q lindo! Amei o penúltimo cap. Foi perfeito! Pena q vai acabar.. :/ Parabéns!
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Valesca Postado em 02/12/2013 - 23:49:59
A sua web é maravilhosa, parabéns! ps.: posta mais
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lunaticas Postado em 02/12/2013 - 22:50:48
Acabei de postar dani_portinon haushuahsauu
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dani_portinon Postado em 02/12/2013 - 22:48:15
Vai postar o próximo capitulo que hrs ? *-*
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dani_portinon Postado em 29/11/2013 - 23:07:22
Posta mais, estou amando a web ><
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annecristine Postado em 29/11/2013 - 01:58:05
Ai q fdp nojento o pai da Dul.. Pena delaas.. :/ Tomara q a Dulce fique boa logo..