Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 40 – Trancado.

Anahi...

Um mês.

Foi o tempo que demorei para saber da viagem de Dulce. Enquanto aplicava uma atividade, passeando pela sala e monitorando as ações dos alunos, pude ouvir a conversa de Maite e Beatriz, uma outra aluna, elas combinavam uma saída para o final de semana que se aproximava. Beatriz pediu para que Maite convidasse Dulce, mas ela acabou contando que Dulce não estava mais no Brasil. Tentei desviar a atenção da conversa, mas não consegui. Uma sensação estranha e dolorosa se apossou do meu peito. Prendi a respiração e sufoquei as lágrimas, nós havíamos tido uma despedida, mas não imaginei que Dulce viajaria. Ainda mais para fora do Brasil. Tão longe. Tão longe de mim. Por mais que eu não quisesse demonstrar ou admitir, a notícia me abalou. E muito. Lembrei de cada momento. 
Das juras silenciosas. Dos beijos cálidos. Lembrar do que nunca se esqueceu.

Lembrar era o que eu mais estava fazendo.
Durante cada dia e noite. 
Desde o dia em que ela se foi e deixou uma rosa em seu lugar.

Rosa esta que perfumou minhas mãos, mas murchou no contato tímido com uma lágrima. Vi cada pétala abrir em sorrisos. Acompanhei outras se desfazendo e lágrimas. Era assim que eu me sentia. Desfazendo em lágrimas. Presa em lembranças idealizando o futuro. Reinventando o passado. Mas deixando presente, alguém que se foi. Naquele dia, depois de terminar a aula, não voltei para casa e nem segui para o escritório. Trilhei um caminho que aprendi a conhecer desde o estacionamento, passando pela trilha na mata, até chegar na praia. Tudo ali lembrava e cheirava Dulce. Seus olhos doces envolvendo os meus. Meus olhos turvos desaguando no seu.

Dulce quebrou e atravessou fronteiras. 
Enfrentou tsunamis e vendavais de uma Anahi limitada.
Provocou encontros.Levantou conflitos.

E, como todos nós sabemos, duas placas tectônicas ao se chocarem, causam terremoto.

Eu tremi.

Tremi quando seus lábios encontraram os meus.

Tremi quando suas mãos trilharam as curvas de meu corpo.

Tremi quando minhas lágrimas caíram em suas mãos.

Não só tremi, como desabei.

Fraca demais para suportar o impacto.

Covarde demais para enfrentar o tremor.

Desabei em angústia e arrependimento. A destruição estava em mim. Do lado de dentro. Uma destruição intensa e silenciosa onde ninguém sabia a dimensão da devastação sofrida. Caminhei até a cabana. Passei a ponta dos meus dedos pela porta trancada. Doeu ao pensar que eu tinha a chave. Procurei outra saída, mas já era tarde. Não tinha janelas. Forcei a porta mais uma vez, numa tentativa desesperada de abrir.

Trancada.

Como tudo em mim.

Desabei.

Agora, trilhando o mesmo caminho que trilhávamos juntas. Subíamos pelas pedras. Sorrindo. Em meio às peças de roupas que se espalhavam e ficavam pela areia. Subi pelas pedras chorando em meio às pedrinhas que sobraram pelo caminho solitárias. Sentei no alto. Onde nos abraçávamos e observávamos a paisagem. Abracei meu joelho e observei imagens turvas e sem cor. Os sussurros de prazer foram substituídos pelos meus gritos de angústia.

Eu gritava como se pudesse ser ouvida.

Como se pudesse e fosse capaz de me entender.

Repetia para o vento e para mim mesma:

`` Por quê? Se foi eu quem escolhi assim, por que tanto sofrimento? Por que essa vontade de rasgar o pedaço dela no meu peito? ``

Depois de um mar inteiro de lágrimas, me permiti recordar de olhos fechados, eu recordava e sorria. Por segundos, eu esquecia o gosto amargo de palavras não ditas. Atitudes não tomadas. Promessas não cumpridas. Abri os olhos assustada. Querendo não querer. Querendo não estar ali. Sem ela. Sem uma parte de mim. O desespero vem.
Vem acompanhado de incredulidade e angústia. Desci das pedras e corri. Corri mais uma vez em direção a porta da cabana eu precisava acreditar que ela estava aberta que ela estava ali. Me esperando.

Com um beijo pronto.
De braços abertos.

Trancada.

E eu?

Como eu tranco essa dor?

Em que porta? Em que rua? Com que cor?

Porta.

Eu tranco.

Trancado – Ana Carolina

http://www.youtube.com/watch?v=fAAAeLzopoM

`` Eu tranco a porta 
pra todas as mentiras
E a verdade também, está lá fora
Agora, a porta está trancada.

A porta fechada
me lembra você a toda hora
A hora me lembra o tempo que se perdeu
Perder é não ter a bússola
É não ter aquilo que era seu
E o que você quer?
Orientação?

Eu tranco a porta pra todos os gritos 
E o silêncio também está lá fora
Agora a porta está trancada.``