Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 42 – Eu que não amo você.

Anahi...

Os dias passavam iguais. Mornos demais.

E eu continuava.
Negava
Repelia lembranças.

Afastando pensamentos.

Negando ao coração.

Repetindo como um mantra.

‘’ Eu que não amo você... Eu que não amo você. ‘’

Num dia desses, depois de ter terminado o trabalho, com os braços apoiados na mesa, segurando a cabeça – que parecia pesar toneladas – peguei-me pensando, mais uma vez, se o que eu fiz fora, realmente, o certo a se fazer. Havia uma contradição dentro de mim. Guerra declarada.

Coração x razão..
Covardia x coragem

É como se eu estivesse de malas prontas, mas sem nada na bagagem eu não conseguia simplesmente aceitar e seguir em frente.

Estava presa.

Ainda me sentia naufragando. Afogando em mar revolto com uma bola de ferro amarrada nas pernas e só de pensar que a tendência era afundar, afundar, afundar e afundar lentamente, eu tentava convencer o coração de que a razão tinha razão.

E eu pensava... 

`` Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe! ``

Racionalizava.
Decidia.

Mas era só até alguma lembrança invadir de novo meu peito. Aí então, eu emocionava. 
Suspirava.
Me perdia.

Caminhei até o bar – que havia instalado recentemente por ali – e coloquei uma dose de conhaque. Era assim agora. Doses fortes e que desciam rasgando a garganta.

Rasgando o que estava preso. 

Fazendo-me engolir o que eu tanto queria falar.

Alcancei um cigarro e fui até a janela fumar.

Ironicamente, eu não fumava. 
Não gostava de beber
E nem de amar.

Observei o céu escuro. Nuvens pesadas faziam jus ao inverno congelante. Eu já nem sabia mais dizer qual inverno era pior. Acho que era o de dentro. Senti uma rajada de vento alcançar meu rosto. Frio. Confirmei o que eu já sabia.

Eu não sabia lidar com o inverno.

Não com esse inverno que anda congelando meu peito. Trincando os lábios e ressecando sorrisos. Olhei para o cigarro que queimava em minhas mãos e repeti, cuspindo as palavras para que o vento levasse e transformasse nas gotas de chuvas que já começavam a cair.

 ‘’ Eu que não amo você... ‘’

Eu que não Amo Você - Engenheiros do Hawaii

http://www.youtube.com/watch?v=FCSidFLVGjo

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Senti saudade, vontade de voltar
Fazer a coisa certa: aqui é o meu lugar
Mas, sabe como é difícil encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair
O certo é que eu dancei sem querer dançar
Agora já nem sei qual é o meu lugar
Dia e noite sem parar procurei sem encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar