Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde

Capítulo 44 – O Avesso dos Ponteiros.

Anahi...

Um ano.

Um ano e meio.

Dois anos se passaram.

Dois anos que eu passei apreensiva e `` desligada `` do meu interior.

Preferi não enxergar que aquele amor no meu peito só aumentava, fazendo que o pouco que eu tinha, se tornasse pouco demais. Alfonso e eu já não éramos mais amantes. Só amigos.

Raras, eram as vezes que ainda fazíamos amor.

O acordo era mútuo e silencioso, mantínhamos a nossa família unida por Mateus. E ele cresceu e amadureceu tão rápido. Meu homenzinho já sabia e conseguia perceber que a mãe dele, de uns anos para cá, passou a economizar sorrisos. Eu estava mais séria e profissional do que nunca. Anahi demais. Any de menos.

Any.

Era impossível pensar no apelido e não lembrar de Dulce. O nome dela nunca saiu da minha boca. Eu gostava de ficar repetindo mentalmente, mas nunca tive coragem de verbalizá-lo. Cheguei a ligar algumas vezes, mas, como já previa, ela nunca atendeu. Soube de algumas notícias por Maite, mas nada de muito relevante. E foi assim, se fazendo longe e inatingível, que Dulce foi se tornando uma lembrança.

Ora doce demais. Ora, igualmente, amarga.

E o tempo foi passando.

Curando algumas feridas. Abrindo outras.

Mudando o destino. Fazendo e refazendo vidas.

Desviando rotas.

Inclusive, a minha.

Em um dia qualquer, decidi mudar a rota da minha vida. Controle sobre a vida profissional, eu ainda tinha. Com os três anos de advocacia completos, eu já estava pronta para tentar a promotoria.

E foi o que eu fiz.

Foquei nos estudos.

Enquanto minha mente se mantinha ocupada, o coração entrava em dormência, esquecendo da dor que o assolava todos os dias com o apoio de Alfonso e Mateus, que não deixavam de dar forças e incentivar, eu me dediquei totalmente. Eu precisava de um desafio maior. E a promotoria, era um grande, imenso, desafio.

 -- Mamãe, chega de estudar por hoje. – Mateus interrompeu-me ao tirar os livros da mesa, substituindo-os por um prato. – Trouxe um sanduíche pra senhora.

-- Meu filho, mas você fez isso tudo sozinho?

-- Mãe, já tenho nove anos. Sei fazer várias coisas sozinho.

Eu o olhei, admirada. Mateus estava lindo. Grande. Seu sorriso estava tão parecido com o meu. Os cabelos tão lisos e claros. Meu filho. Meu tudo.

-- Acho engraçado quando a senhora me olha e fica sorrindo toda boba, mamãe.

Sorri, puxando-o para um abraço. Enquanto o cobria de beijos, respondi, sincera..

-- É que a mamãe fica boba de ver o tanto que você cresceu.

-- Mamãe, falando em crescer, hoje é dia de ir no parque.

-- Ai, filho. – Retruquei incomodada – Outra vez essa história?

-- É que eu nunca esqueço daquele dia, mãe. Queria tanto brincar com a Dul outra vez.

-- Mateus, já passou tanto tempo, filho. Esquece essa história. Logo, logo você arruma outra amiguinha pra brincar, tá bom? E da sua idade.

-- Eu tenho muitas amiguinhas da minha idade, mãe. Mas nenhuma é legal que nem a Dul.

-- Filho, não vou entrar nesse assunto de novo, ok? A mamãe já te explicou.

-- Mas quando ela volta de viagem, mãe? Tá demorando muito. E você não é amiga dela? Liga pra ela e pergunta.

-- Depois a gente conversa direito sobre esse assunto, agora a mamãe vai comer o sanduíche que você fez e voltar a estudar o concurso já é semana que vem, lembra?

Ele deu-me um beijo e saiu dali cabisbaixo, como sempre ficava, sempre que esse assunto vinha à tona. Mateus gostou tanto de Dulce, que até hoje esperava e cobrava outro dia juntos. Meus argumentos já haviam acabado.
Sempre que ele tocava no nome dela, sentia meu peito se apertando e o ar fugindo dos pulmões. Espantei todo e qualquer pensamento que envolvia Dulce e voltei aos estudos.

A semana seguinte chegou e a apreensão também era o dia de fazer a prova. Fui acordada com café da manhã na cama e muitos beijos. Alfonso fez uma massagem relaxante. Mateus cuidou de encher a banheira para o banho. Olhei em volta e me vi cercada de tanto carinho, foi impossível não agradecer pela família linda. Depois de tanto mimo e cuidado, sai de casa em direção ao local de prova. Cheguei com antecedência. Enquanto observava o vai e vem de pessoas, ali, vendo o tempo passar como no avesso de um ponteiro, eu decidi: faria o melhor. Daria o melhor de mim.

Faria do tempo um aliado.

Aprendizagem.

Nesses anos, aprendi que não se pode ter tudo.

A vida é feita de sacrifícios.

Sorri. Cheia de certeza.

Olhei mais uma vez para o relógio e o ponteiro parou. Bati algumas vezes no vidro, mas ele não funcionou. Só então eu percebi, o relógio havia parado. Parou exatamente na minha hora. Essa promotoria seria minha.

E eu lutaria com todas as forças por ela.

 `` O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim... ``

O Avesso dos Ponteiros – Ana Carolina.

 http://www.youtube.com/watch?v=PcxaqWFELY0