Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde
Capítulo 68 – Por Enquanto.
Dulce...
Maldita e infeliz idéia a minha quando, depois de um mês trancafiada, eu resolvi sair de casa. Nunca que eu imaginaria que Anahi e suas amigas estariam naquele mesmo bar. Aquele que fora palco de tantos e tantos encontros. Ver Anahi me deixou destroçada. Mais ainda quando ela, após me olhar com desprezo e dizer que eu não sei – e não mereço – amar, deixou claro que não me queria por perto. Que ela não me queria mais por perto, eu já sabia. Mas, entre saber pelos outros e ouvir da boca da mulher que você ama, tem uma diferença muito grande.
Gritante, na verdade.
Eu olhava a minha volta e não acreditava que aquela era mesmo a minha vida. Eu estava sozinha na mesa, tomando uma cerveja e observando o movimento da mesa à minha frente. Anahi estava sentada,ao lado de Maite e Angelique, e parecia feliz. Como em todas as vezes, eu a olhava hipnotizada.
Seu sorriso estava ácido, mas igualmente belo, mas eles se exibiam para outra pessoa. Seu olhar continuava felino, porém, os olhos vivos, brilhavam em outra direção. Anahi estava ali, tão ou mais linda do que antes e tão ou mais inacessível do que nunca. Não conseguia me desprender. Não conseguia me libertar e seguir em frente. Meu coração continuava preso.
Minha atenção ainda era toda dela. As outras pessoas não existiam.
Não tinham cor. Amanda ainda tentou estabelecer um diálogo. Aliás, depois de tanto tempo, ela havia sido a única.
Mas, eu não consegui.
Meus olhos estavam fixos nela.
Na outra mesa, na mesa que até ontem eu estava.
Estava ali com elas.
Até ontem eu tinha tudo.
"Até ontem tudo estava aqui
Casa, sol, felicidade e nós
Mas aconteceu e eu nem percebi
Quando tudo se perdeu de mim
Quadros, móveis a televisão, nossas fotos, seu amor por mim
Devem estar aqui n`outra dimensão,
As coisas somem sem explicação"
Nem beber eu conseguia mais.
Eu estava oca.
Seca.
Vazia.
Acho que agora eu sei o que é perder tudo. Eu não tinha nada. Perdi até a vontade de lutar. Paguei a conta e saí. Me encostei na parede do lado de fora do bar e fiquei ali tentando encontrar o fio invisível. Tentando encontrar o fio da vida que eu havia perdido. Me encolhi ao ouvir vozes tão conhecidas, mas que, agora, pareciam soar tão estranhas e distantes.
-- Tá fumando, Any?
-- Ah, Angel. Só de vez em quando. Ajuda a acalmar os nervos.
-- E a ferrar os pulmões.
Sorri.
Maite sempre condenando os fumantes. Senti saudade do nosso tempo, da nossa cumplicidade.
-- Achei legal que seu irmão veio, Any.
-- Só faltou minha mãe, Mai. Queria tanto que ela participasse dessa minha conquista. Depois que meu pai faleceu, nós ficamos muito apegadas. Eu sinto falta do apoio e do carinho dela.
Fechei os olhos.
Culpada.
Se não fosse por mim, Anahi ainda tinha o apoio e a presença da mãe. Levantei cuidadosamente e sai pelas ruas, amargando mais uma culpa. Avistei o táxi e o parei. Passei o endereço com a certeza de que devolveria – pelo menos – essa alegria à Anahi. Parei na porta.
Desci.
Andei de um lado para o outro.
Suspirei.
Devido ao avançar das horas, fiquei receosa em entrar. Lembrei de Anahi reclamando da ausência da mãe. Respirei fundo e toquei o interfone. Não tive coragem de dizer meu nome. Dona Marichelo saiu no portão e me olhou, aparentemente, sem entender.
-- Boa noite, dona Marichelo. Desculpa incomodar a senhora essa hora, mas é que...
-- Quem é você? – Ela perguntou, me interrompendo – Não estou lembrada do seu rosto.
-- Acho que a senhora nunca me viu, mas sabe quem eu sou.
-- Qual é seu nome, menina?
-- Dulce.
Ela parou o olhar, observando-me com atenção. Os segundos que se seguiram foram de tensão como eu já imaginaria que fosse. A expressão no rosto dela mudou. Ficou mais dura.
-- Eu sei o que a senhora deve estar pensando, mas eu juro que não vou demorar.
-- Não tenho nada pra falar com você menina.
Ela respondeu, fechando o portão. Coloquei a mão na frente e impedi que ele fosse – de todo – fechado.
-- É muito importante o que eu tenho a dizer, Dona Marichelo. Por favor, me escuta.
Ela permaneceu em silêncio. Eu prossegui.
-- Eu sei que eu não tenho direito nenhum de vir aqui na casa da senhora, essa hora da noite, e pedir para explicar o inexplicável, mas... Eu preciso.
Eu estava angustiada, sentia o peito apertado. Era se como minha vida – ou o restante dela – dependesse da compreensão daquela mulher que se mantinha parada e em silêncio à minha frente. Ficamos nos encarando por longos segundos. Ainda em silêncio, ela abriu novamente o portão e me deu passagem. Me acompanhou até a sala e pediu para que eu sentasse. O silêncio, antes constrangedor, me dava a certeza de que ela estava ali, pronta para me ouvir.
-- Eu sei que foi e deve estar sendo muito difícil pra senhora aceitar o término do casamento da sua filha e a relação dela comigo. Eu sei, porque eu presenciei a reação da minha mãe. – Comentei, ainda lembrando de cada palavra. – Eu só queria que a senhora lembrasse que tem uma filha maravilhosa.
-- Não precisa me lembrar disso.
-- Desculpa Dona Marichelo, mas precisa sim. Eu imagino que seja complicado pra senhora ver que sua filha saiu de um casamento “ normal ”, estável e feliz para se relacionar com uma outra mulher, mas ela não mudou em nada. Ela continua sendo sua filha, aquela que a senhora amou durante todos esses anos. A mulher forte, honesta, inteligente e batalhadora.
-- O que você quer dizendo todas essas coisas, menina. Eu não tenho tempo para...
-- Eu quero dizer que a senhora está perdendo tempo, Dona Marichelo. Não agora, ao me ouvir, mas ao deixar de estar presente na vida de sua filha. A senhora sabe que ela passou no concurso?
Ela não respondeu.
-- Pois é. Agora a senhora tem uma filha promotora. E ela está lá, reclamando da sua ausência. – Eu olhava para ela e via os traços de Anahi tão fortes e evidentes. Elas estavam unidas não só no laço sanguíneo, mas nos traços, nas marcas e rugas de cada história. – Ela sente muito a sua falta, Dona Marichelo. A senhora é a pessoa mais importante na vida dela.
-- Ela ela te disse isso? – Ela questionou, com a voz embargada.
-- E precisa dizer, Dona Marichelo? A senhora é a mãe dela. A mãe. – Frisei a palavra com toda a força que ela carregava. – Quem dera eu recebesse todo esse carinho da minha mãe.
Eu deixei escapar. Com mágoa.
-- Você fala como se sua mãe não te amasse, menina.
Me surpreendi com o comentário e com a perspicácia dela. Abaixei o olhar para minhas mãos – que se entrelaçavam nervosas – e sorri.
Um sorriso triste.
Ferido.
-- Ela não ama, dona Marichelo. E nem é porque descobriu minha orientação sexual. Minha mãe ama o luxo, o status, a nobreza.
-- Isso não existe, menina. Ela é sua mãe. De alguma forma, ela te ama.
-- Minha mãe não queria ter filhos. – Eu disse, tentando não transparecer a dor. – Eu fui um plano para não deixar o casamento acabar.
Ela me olhou profundamente e se calou.
-- Eu admiro muito seu marido, Dona Marichelo. Pelas histórias que Anahi me contou, ele foi um grande homem.
Ela sorriu, visivelmente saudosa.
-- E um excelente pai. Anahi tem os olhos dele.
Mais uma vez eu lamentei.
-- Infelizmente nem isso eu tenho. – Ela me olhou, sem entender. Eu expliquei. – Essa lembrança boa. Os seus olhos brilham.
Ela balançou a cabeça, concordando.
-- Aproveita isso, Dona Marichelo. Multiplique essas lembranças boas, porque a vida é curta demais. Demonstra para Anahi o quanto a senhora a ama. Dê a ela o carinho de mãe que eu tenho certeza que ela sempre teve.
-- Eu nunca imaginei que ouviria isso de você, menina.
-- Eu só quero que ela seja feliz. Eu amo. – Parei, sem conseguir completar a frase. – Desculpa. A senhora já me recebeu aqui e me escutou, não quero abusar da sua compreensão.
-- Sabe, menina durante esse tempo em que eu fiquei sem vê-la, sem ter notícias, eu cheguei a me questionar se essa revolta toda valia mesmo a pena. Nós sempre fomos muito unidas. Anahi é minha princesinha, sempre foi. – Sorri. Anahi tinha mesmo o porte de uma princesa. – Naquele dia, quando ela veio dizer que tinha terminado com Alfonso e estava namorando uma mulher, meu mundo desabou. Eu pensei na vergonha que seria quando os nossos amigos e conhecidos soubessem. Eu pensei na vergonha que o pai dela sentiria, se estivesse vivo.
Permaneci em silêncio, vendo as lágrimas se multiplicando e transbordando.
-- A verdade é que Anahi foi minha sustentação durante todos esses anos. Sem ela, não sei se conseguiria suportar a dor da perda. Eu depositei tantos sonhos e expectativas que não percebi que estava sufocando minha filha. Anahi sempre teve responsabilidades demais, cobranças demais. Eu projetei minha vida na dela. Fiz minha filha se acostumar com a sombra dos meus desejos.
-- Eu tenho certeza de que a senhora deu apoio suficiente para Anahi chegar até aqui. Sua filha é maravilhosa, Dona Marichelo.
Ela agradeceu e sorriu, concordando logo em seguida.
-- Por que... Por que você não está lá com ela, Dulce?
Abaixei a cabeça. Não queria que ela visse o rastro de dor que ainda pairava sob o meu olhar. Fitei o chão e deixei que minha voz saísse fraca. Cansada.
-- Nós não estamos mais juntas, Dona Marichelo.
-- E por que você está aqui, me dizendo todas essas coisas?
Percebi, pelo seu tom de voz, surpresa. Dei de ombros, sem saber – e nem poder – explicar todas as razões, motivos e porquês de estar ali. Eu simplesmente estava.
De coração aberto.
Expondo meu amor e minha vida para aquela mulher que, minutos atrás, parecia tão... Tão assustadora.
Ela sorriu.
E eu, diante daquele sorriso aberto, não tive como não sorrir de volta. Abracei Dona Marichelo e recebi um afago carinhoso. Um afago que tocou lá no fundo.
No fundo da ferida.
Naquela ferida aberta há tantos anos.
Ausência de mãe de pai.
De família.
Me despedi com a certeza de que, presente em suas lágrimas de emoção, estaria uma nova descoberta. A descoberta de que orientação sexual não altera caráter. E que, o caráter, sim, é fundamental. Dona Marichelo entrou e eu respirei o ar puro de quem alcança seu objetivo. Olhei para o lugar que deixei o táxi esperando e não o vi. Não vi o táxi, mas vi um carro preto, aquele mesmo carro preto.
Gelei.
As portas se abriram e dois seguranças saíram, me alcançando pelo braço. Abriram as portas e me empurraram para dentro do carro. Meus olhos se encontraram novamente com os dele. A frieza estampada em pupilas e gestos. O calafrio se espalhou.
E dessa vez, eu não temi somente pela vida de Anahi. Eu temi pela minha. A escuridão da noite misturando-se com os olhares turvos. Eu já não via nenhum resquício de parentesco. O laço havia sido rompido.
-- Você quebrou o acordo, Dulce.
O acordo havia sido quebrado.
As regras mudaram.
Inverteram-se.
Tudo estava diferente.
A noite quente e estrelada, deu espaço ao vento frio e mórbido. Mudaram as estações.
-- Você quebrou o acordo e agora vai pagar por isso.
Mesmo com medo, eu estava pronta. Observei, calada, meu pai ordenar para que fôssemos deixados em casa.
‘’ Nem desistir, nem tentar agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa’’
Agüentei, quieta, ele segurar meu braço e empurrar, me trancando em meu próprio quarto. As janelas estavam fechadas, lacradas, trancadas. Acompanhei, lentamente, a porta se fechar. Foi então que eu percebi. Eu estava de volta.
‘’ Já morei em tanta casa
Que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais. ‘’
Estava de volta em casa. Com a diferença que agora eu era uma prisioneira. Prisioneira não só de mim, mas das circunstâncias. Deitei na cama e fitei o teto.
“ Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer? ”
Pais e filhos.
Pais que prendem os filhos.
Filhos que são reféns dos pais.
Pais que não são pais.
Filhos que não são filhos.
Pais e filhos.
“ E aí, então, estamos bem. ”
Quem diria que mudariam as estações tão cedo. Ali, mais uma vez sozinha, eu senti que enfrentaria um logo e tenebroso inverno.
Cassia Eller- Por Enquanto
http://www.youtube.com/watch?v=12O8lmiykng
Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Ta tudo assim tão diferente
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa
Autor(a): lunaticas
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Gente gostaria de indicar duas Webs muito boas da minha amiga. Quem ainda não leu eu super indico. http://fanfics.com.br/fanfic/26090/um-doce-amor-fanfic-lesbica-amor/6 Essa é Portiñon muito engraçada http://fanfics.com.br/fanfic/28337/um-amor-improvavel-portinon-adaptada/2 Capítulo 69 – Como vai você. ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 65
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flavianaperroni Postado em 16/08/2015 - 04:40:47
Amei de verdade a fic,perfeita demais *-*
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claricenevanna Postado em 06/12/2013 - 01:17:47
Andei meio sumida daqui, mas não esqueci essa web que adoro de paixão. O final foi lindo, toda web foi linda, cara. Me emocionei muito com o amor puro delas. Parabéns! Uma história inteligente, instigante e marcada de muito amor. Estarei acompanhando na nova web.
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angelr Postado em 05/12/2013 - 00:48:19
Adorei a fic perfeita romantica e muito fofa amei foi bom ler *_*
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annecristine Postado em 05/12/2013 - 00:31:28
Crlh vc escreve muito! Amei o final da fc. Elas sao lindas o Matheus super fofo! Rs.. Parabens ameii.. ^_^
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annecristine Postado em 04/12/2013 - 18:12:31
Aiii q lindo! Amei o penúltimo cap. Foi perfeito! Pena q vai acabar.. :/ Parabéns!
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Valesca Postado em 02/12/2013 - 23:49:59
A sua web é maravilhosa, parabéns! ps.: posta mais
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lunaticas Postado em 02/12/2013 - 22:50:48
Acabei de postar dani_portinon haushuahsauu
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dani_portinon Postado em 02/12/2013 - 22:48:15
Vai postar o próximo capitulo que hrs ? *-*
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dani_portinon Postado em 29/11/2013 - 23:07:22
Posta mais, estou amando a web ><
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annecristine Postado em 29/11/2013 - 01:58:05
Ai q fdp nojento o pai da Dul.. Pena delaas.. :/ Tomara q a Dulce fique boa logo..