Fanfics Brasil - Capítulo 75 Codinome Beija-Flor (Portiñon)

Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde


Capítulo: Capítulo 75

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Capítulo 75 – Dia Branco.


 


Dulce...


 


 


Saí do hospital e fui para casa com Anahi. Fisicamente, eu estava bem. Só sobraram as dores causadas pelos vários socos e tapas e pela posição desconfortável pela qual permaneci por horas. Agora, emocionalmente eu não queria demonstrar, mas estava triste. Na verdade, eu estava arrasada. Depois de tanto sofrimento, ver meu pai saindo algemado, não trouxe a paz que eu esperava. Apesar dos (a) pesares todos, eles são – ou eram, não sei – minha família. Antes de voltar pra casa, pedi para que Anahi passasse na casa da serra. Ela estacionou o carro e eu fiquei ali, parada olhando, só olhando por longos e saudosos minutos. Dei a volta na casa e caminhei até o jardim. Sentei no mesmo balanço de anos atrás, fechei os olhos. Eu ainda podia sentir o cheiro da minha infância, aquele cheiro gostoso de alegria, pés descalços, cabelo ao vento. Eu sentava no balanço e ficava por horas tentando ir mais alto e mais alto. Quando eu pensava que havia chegado no limite, eles apareciam. Minha mãe de um lado e meu pai de outro. Sorrindo.
Eles me empurravam e empurravam. E eu percebia que eu podia ir cada vez mais alto. O vai e vem do balanço fazia com que meu coração se acelerasse. Meus pés cada vez mais longe do chão. Vez ou outra, eu olhava para baixo e sentia o frio congelar minha barriga. Nos olhos, o medo explícito. Mas eles não podiam ver.
E isso, de alguma forma, me fazia ter coragem de ir mais alto e mais alto. Talvez, por saber que eles estavam ali me empurrando. E, se preciso fosse, me segurando e trazendo de volta para o chão em segurança. Agora, anos depois, eu me sentava novamente no balanço. Eu tomava impulso e balançava, balançava com o mesmo medo explícito nos olhos. Indo e voltando. Os pés cada vez mais distantes do chão, o coração acelerado. Indo e voltando. Alto.


Olhei para trás e não vi ninguém. Mas, a sensação ficou. Agora, com a certeza de que, se eles estivessem ali, não estariam sorrindo e nem me protegendo. As mãos do meu pai não me empurraram no balanço. Tentaram me empurrar do barranco. O chão ao lado de minha mãe não era firme, era escorregadio.


E eu cai.


Cai.


Tentei me levantar.


E consegui.


Olhei em volta,


Eu ainda conseguia voar, mas me sentia com as duas asas quebradas.


Desprotegida.

Desci do balanço e contei os passos, agora não mais com as pegadas de criança. Mas, com o mesmo medo de solidão de uma. Ajoelhei na areia fofa e comecei a cavar. Eu nunca esqueceria da localização daquele meu tesouro. Logo senti minha mão toca-lo, meus olhos brilharam. Tirei aquele pequeno baú da areia e o limpei cuidadosamente. Fechei os olhos e o trouxe até meu peito.



-- Dul, não acredito que é verdade! Você tem mesmo um baú escondido?


-- Claro que eu tenho, Mai. E eu quero te guardar nele também!


-- Como assim me guardar nele, Dul? – Ela me perguntou, assustada. – Você não tem nenhum cadáver dentro dele, tem?


-- Tenho, Mai. O próximo vai ser o seu. Só que antes. – Parei no meio do caminho, fazendo mistério. – Antes eu preciso quebrar seus ossos.


Sai correndo atrás dela fazendo cócegas. Maite gritava, ria e se contorcia desesperada. Caímos na grama. Exaustas. Ela se virou, olhando-me e sorrindo.


-- Idiota!


Gargalhei. Com muito custo, arrastei Maite até a areia, alguns metros à frente. Contei os passos e comecei a cavar. Ela ficou me olhando espantada, como se, realmente, não acreditasse naquilo. Tirei o baú e o abri.


-- Não acredito que você deixa as chaves dentro do cadeado, Dul. Isso é coisa de amador.


-- Só você sabe desse meu tesouro, Mai. E agora eu vou ter que te matar por isso.

Sorrimos.
Maite quis ver o que, de tão importante, eu guardava à sete palmos. Retirei um porta retrato, já amarelado e empoeirado.


-- Lindo, Dul! O olhar de vocês. O por do sol. O sorriso está idêntico.


-- É. Eu lembro de cada segundo desse dia. Eles ficaram comigo o dia todo. Foi a primeira vez que eu consegui andar de bicicleta sem as rodinhas.


-- Olha sua banguelinha aqui, que fofa! Sua mãe estava com cara de orgulhosa. E seu pai tá o típico pai babão.


-- Acho que essa é a última lembrança que eu tenho desses sorrisos. Nunca mais os vi sorrirem assim. Tão espontaneamente!


--  Quando a gente cresce, Dul. A vida costuma dificultar a espontaneidade desses sorrisos.


-- Por isso eu guardei essa foto. Eu lembro que ela ficava na sala de jantar, quando minha mãe mandou reformar a casa, a primeira coisa que eu fiz foi pegar e guardar.


-- E pra ninguém descobrir, você resolver enterrar a foto, né?! – Ela ironizou, divertida. – Desde criança, você já era terrível, Dul.


Sorri.

-- Olha. – Tirei do bolso uma foto e lhe mostrei. – Eu também quero guardar o seu sorriso.


A foto eternizava um de nossos – vários – momentos juntas. Maite e eu sorríamos tanto. Eu lembro que a foto foi tirada em uma tarde cinzenta, nós estávamos comendo brigadeiro. A sujeira nos rostos tão expressivos denunciava a guerra de chocolate. Angelique, a fotógrafa, era a única intacta. Não por muito tempo. A outra foto mostrava nós três, sujas de chocolate. Sorrindo, sorrindo e eternizando um momento que estaria guardado não só nas lembranças. Agora ele seria parte do meu tesouro. Maite olhava as fotos com os olhos marejados. O polegar acariciava cuidadosamente.


-- Eu nunca vou me esquecer desse dia. – Ela comentou, com a voz embargada. –  Eu ri de dar dor na barriga.


-- Não, Mai. A dor na barriga foi pelo excesso de brigadeiro. Nem tenta disfarçar.


Ela gargalhou e pulou em cima de mim, me envolvendo em um abraço apertado. Guardamos e enterramos juntas o baú. Ao fechar, ela sussurrou no meu ouvido que nossa amizade seria eterna. Hoje, eu me arrependo por não ter guardado esse momento no baú da eternidade.


 


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Deixei que Dulce se despedisse da casa. Entendi que ela precisava daquele momento pra se desprender e aceitar a realidade. Enquanto esperava no carro, aproveitei para ligar para Maite e Angelique.


-- Any – Maite atendeu, afobada. – Eu estava tentando te ligar sem parar. Como ela está?

-- Oi, Mai. É que agora que eu liguei o celular. – Suspirei, chateada, lembrando da expressão triste de Dulce. – Está bem, na medida do possível.


-- Ela tá aí com você?


-- Não. Ela entrou na casa. Me disse que ia resgatar um tesouro.


-- O baú. – Ela comentou baixinho.

-- O que?


Maite não respondeu. Ouvi um soluço e um choro contínuo crescendo do outro lado da linha.


-- Any, agora sou eu. A Mai tá se sentindo culpada por ter sido tão injusta com a Dul.


-- Angel, diz pra ela se acalmar. Mais tarde vocês vão lá pra casa e conversam com ela. Vocês, mais do que ninguém, sabem que a Dul vai entender. A situação toda exige compreensão.


-- Quando ela mais precisou, nós falhamos, Any.


-- Todos nós falhamos com ela, Angel. Dulce foi quem mais sofreu nessa história toda. Mas nós podemos mostrar que o amor que sentimos, ainda é maior que as falhas. Esse é o mecanismo da vida. Superar os erros com acertos maiores.


-- Filosofou, dona Any.


Ela brincou, ainda emocionada. Sorrimos.


-- Agora, a senhorita trate de se acalmar e acalmar o amor da sua vida... – Angelique ficou muda. Aposto que estava prendendo a respiração. Sorri ao imaginar. –  Assim que chegar em casa, eu ligo pra vocês, tá?


-- O... ok.


Antes de desligar, a chamei novamente:


-- Angel?


-- Oi?


-- Pode voltar a respirar agora.


Ela bufou. Eu ri. Angelique estava, visivelmente, apaixonada. Engraçado pensar que o amor se manifestou depois de tantos anos de convivência..


É.


O amor e seus mistérios.


Indecifráveis.


Inexplicáveis.


Infinitos.


Mistérios de amor.


Mistérios de amar.


Amor.


-- Eu não seria nada sem você, meu amor.


Conclui, antes de avistar Dulce se aproximando do carro.


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Olhei tudo ao meu redor uma última vez antes de sair, decidi levar o baú. Eu precisava tanto de boas lembranças que não fazia sentido nenhum deixar uma, das poucas, enterrada. Anahi desceu do carro e veio ao meu encontro. Me abraçou forte. E ela foi certeira..

Porque “ hoje eu queria um abraço daqueles que te sufoca de tão apertado e te protege de tudo. ”


E ela me deu. Me abraçou e me apertou em seus braços. Sussurrou baixinho, com a voz embargada:


-- Tive tanto medo de te perder, meu amor.


Eu segurei seu rosto, olhei em seus olhos e sorri. Beijei seus lábios carinhosamente, e respondi:


-- "Aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante - coisa ou pessoa - na sua vida, isso não se perde." Eu não vou te deixar nunca, Any.


Segurei forte em sua mão e entramos novamente no carro. Durante o caminho, olhando a paisagem passando rápida e desconfigurada pela janela, eu conclui que:


" Já não quero ser grande, forte, inatingível.
Quero ser, por hora, de um tamanho que eu ainda me reconheça, que ainda saiba me encontrar no passado ou um dia no futuro.
Quero ser humana, quero ser carne e osso, quero sentir, quero tocar... Quero poder ser isso que sou na medida qualquer do tempo, estar sempre pronta a me recompor das tempestades; Não devo estar tão errada...
Há tanta água no oceano que se deixa evaporar pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva."


 


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O silêncio durante o trajeto de volta não era constrangedor, pelo contrário.
O silêncio trazia a paz. Vez ou outra Dulce buscava minha mão e entrelaçava seus dedos. Nos olhávamos com amor, nos olhávamos com a certeza de que superamos mais um obstáculo. O nosso amor superou mais um obstáculo. O fato de estarmos ali, juntas era a prova de que o amor, pode sim, superar todo e qualquer obstáculo. A vida está sempre indo e vindo e provando que ela é feita de momentos. Um dia aqui. O outro ali. Feliz de quem aproveita e faz a vida valer a pena. Até porque  "a vida não é apagável, pensei. Nem volta atrás. Ainda não construíram a máquina do tempo."


E o tempo não volta.

Esse instante já passou.


Assim como os outros que virão, também passarão.


E assim a vida vai passando.


Até que um dia.


" Um dia você vai encontrar alguém que te lembre todos os dias que a vida é feita para ser vivida. Alguém que é perfeito de tão imperfeito. Alguém que não desista de você por mais que você tente afastá-lo. Naquele dia que você não estiver procurando por ninguém, naquele dia que você não ia sair de casa e acabou colocando a primeira roupa que viu pela frente. "


Essa é a magia da vida.


O inevitável encontro do inesperado.


O inesperado encontro do inevitável.


Olhei pelo vidro e vi que a chuva ameaçava cair, mas o sol permanecia. Dulce também olhou e, assim como eu, também percebeu.


-- Engraçado, o dia está uma fusão de cinza com ensolarado.


-- Hoje o dia está branco, Dul.


-- É. Depois de muito tempo, o dia volta a estar branco.


Sorrimos. Numa sincronia e cumplicidade mútua. Dulce aconchegou-se junto ao meu ombro e cantou a canção que, por coincidência – ou não –, soava baixinho no som do carro e descrevia, exatamente, o momento que vivíamos. No som das palavras, o peso de uma promessa real. Dulce e eu alternávamos o refrão. Mas, juntas, cantávamos em um só ritmo, de uma só canção, em uma só direção. A direção do horizonte. Seguindo a estrada e aproveitando o dia branco, nós prometemos, mais uma vez, enfrentar o que der e vier juntas. Num dia cinza ou num dia branco.


 


Dia Branco – Interpretado por Asa de Águia.


http://www.youtube.com/watch?v=-woBNj0nhFQ


 


Se você vier
Pro que der e vier
comigo
Eu te prometo sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair


Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Um pedaço de qualquer lugar

Nesse dia branco
Se branco ele for


Esse tanto,
Esse tão grande amor


Se você quiser e vier

Pro que der e vier
Comigo


Se branco ele for
Esse tanto,
esse tonto,
Esse tanto,

esse tão grande amor, grande amor

Se você quiser e vier

Pro que der e vier
Comigo 



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Autor(a): lunaticas

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 65



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  • flavianaperroni Postado em 16/08/2015 - 04:40:47

    Amei de verdade a fic,perfeita demais *-*

  • claricenevanna Postado em 06/12/2013 - 01:17:47

    Andei meio sumida daqui, mas não esqueci essa web que adoro de paixão. O final foi lindo, toda web foi linda, cara. Me emocionei muito com o amor puro delas. Parabéns! Uma história inteligente, instigante e marcada de muito amor. Estarei acompanhando na nova web.

  • angelr Postado em 05/12/2013 - 00:48:19

    Adorei a fic perfeita romantica e muito fofa amei foi bom ler *_*

  • annecristine Postado em 05/12/2013 - 00:31:28

    Crlh vc escreve muito! Amei o final da fc. Elas sao lindas o Matheus super fofo! Rs.. Parabens ameii.. ^_^

  • annecristine Postado em 04/12/2013 - 18:12:31

    Aiii q lindo! Amei o penúltimo cap. Foi perfeito! Pena q vai acabar.. :/ Parabéns!

  • Valesca Postado em 02/12/2013 - 23:49:59

    A sua web é maravilhosa, parabéns! ps.: posta mais

  • lunaticas Postado em 02/12/2013 - 22:50:48

    Acabei de postar dani_portinon haushuahsauu

  • dani_portinon Postado em 02/12/2013 - 22:48:15

    Vai postar o próximo capitulo que hrs ? *-*

  • dani_portinon Postado em 29/11/2013 - 23:07:22

    Posta mais, estou amando a web ><

  • annecristine Postado em 29/11/2013 - 01:58:05

    Ai q fdp nojento o pai da Dul.. Pena delaas.. :/ Tomara q a Dulce fique boa logo..


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