Fanfics Brasil - Penúltimo Capitulo Codinome Beija-Flor (Portiñon)

Fanfic: Codinome Beija-Flor (Portiñon) | Tema: Rebelde


Capítulo: Penúltimo Capitulo

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Capítulo 80 – O que é, o que é?


 


Dulce...


 


-- Any? Até agora, amor? Que demora!

-- Já to quase pronta! – Ela gritou do banheiro – Mais cinco minutinhos, amor.


Sentei no sofá e esperei pacientemente. Deixei que meu olhar se perdesse e a mente relembrasse todos os dias que se passaram. Depois que voltei para a faculdade, me tornei parte essencial do grupo de teatro ou o grupo de teatro se tornou uma parte essencial de mim. Era no palco que eu me libertava, era encenando que eu ia conhecendo minhas outras – tantas – faces, era ali, diante de olhos brilhantes e atentos refletida pela pouca luz do espetáculo que eu ia interpretando papéis e desvendando a vida.
Pouco a pouco.


Cena a cena.


Dia desses, eu descobri que a vida.


“ A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. ”


Falando na vida. A minha estava melhor do que nunca. Depois de muita dor e sofrimento aos poucos, eu ia construindo meu castelo novamente.


Pedra por pedra.


Havia me mudado de vez para a casa de Anahi e nós estávamos mais unidas e apaixonadas do que nunca.
Mateus era nosso mais novo e profundo elo. Nós, definitivamente, havíamos formado uma família. Sorrindo, me lembrei do dia em que...

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-- Eu quero me casar com você.


-- O que? – Ela perguntou-me, assustada. – Como assim?


-- Assim, com todas as letras. Eu quero me casar com você, Dulce.


-- Mas você tem certeza disso?


Sorri.


Não era por medo ou por se esquivar do compromisso que Dulce estava tão insegura. Era por nervosismo, surpresa, emoção. Logo depois daquele dia em que pensei que a perderia, nós havíamos conversado sobre o – possível – casamento..


Eu fugi.
Me esquivei.


Apesar de todo amor que eu nutria, ainda tinha medo de que o peso do compromisso fosse maior que a força dos ombros dela.


Me enganei.


Dulce esperou, pacientemente, até o dia em que percebi que o nosso amor não era um fardo.  Pelo contrário, nosso amor é uma dádiva. Eu olhava para seus olhos. O silêncio emoldurando cada traço perfeito de seu rosto. Seus olhos. O brilho dos seus olhos me respondiam sem precisar de palavras. O pedido ecoando entre taças e talheres. Era só mais uma comemoração de mais um ano de namoro.


Especial como sempre.

Marcante como nunca.


Segurei suas mãos entre as minhas e sorri. Nos lábios, a melodia das palavras.


-- De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Nos olhos, lágrimas de quem esperou muito pra dizer.


No rosto, a felicidade explícita de quem sempre esperou por isso.


De quem sempre esperou.


Por ela.


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Eu não acreditava no que estava ouvindo. Olhava para Anahi e não conseguia enxergar seu rosto direito.
As lágrimas embaçavam, desfocavam, multiplicavam. Toquei seu rosto com cuidado. Meus dedos trêmulos e frios percorrendo toda a extensão de sua face. Ela beijava minhas mãos e sorria, deixando que as lágrimas salgadas desaguassem em sua boca de mel. Eu sorria também, embevecida, encantada. No ar, nossas mãos se encontraram e se entrelaçaram cúmplices. Os olhos estabeleceram aquela nossa conexão perfeita. Anahi estava exposta, total e completamente exposta para mim. Eu via nos seus olhos o reflexo dos meus. Sem controlar as palavras que escaparam tímidas e roucas, eu disse:


--“ Me veja nos seus olhos. Na minha cara lavada. Me venha sem saber se sou fogo ou se sou água. Pois tudo o que ofereço é meu calor, meu endereço. 
A vida do teu filho desde o fim, até o começo. – 
Ela sorriu, reconhecendo as palavras. Nos reconhecendo na letra. – Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça. E quando me quiser, que seja de qualquer maneira...


Toquei sua mão com cuidado, acariciei seu rosto e prossegui:


--  Enquanto me tiver que eu seja a última e a primeira. E quando eu te encontrar, meu grande amor, me reconheça. ”

-- Eu te amo.


Ela respondeu, a voz embargada, doce, os olhos fechados, a respiração descompassada.


-- Eu te amo!


Respondi. A voz rouca, emocionada. O coração acelerado, os lábios se encontraram.


Molhados.


Pulsantes.


Desejosos.


Os corpos se procuraram e entregaram trôpegos, sedentos, quentes. Anahi embaixo eu em cima. Anahi dentro de mim.


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Dulce nua.


Intensa.


Nossos corpos unidos.

Grudados.


Suados.


Transbordando amor.


Os gemidos ecoavam cálidos.


Os lábios se esmagavam trêmulos.


Os olhos dela presos nos meus.

As minhas mãos e unhas marcando seu corpo.


E a urgência marcando o tempo.


E o tempo parando no pulsar do peito.


No embalar de corpos.


No entrelaçar de almas.


As almas se perdendo no clarão da noite.

A noite clareando.


E refletindo.


O amor.

Pela luz da lua.


A lua.


A lua iluminando os corpos.


E celebrando a mágica.


A mágica do prazer e do amor.


A mágica do prazer de quem sente amor.


O prazer da mágica de quem ama.


O amor e o prazer.

Mágicas.


De quem ama.


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-- Pronto, amor. Tô pronta!


Anahi chamou minha atenção, entrando na sala. Pronta e, maravilhosamente, linda como sempre. Sem que eu pudesse controlar, meus olhos percorreram cada traço, cada centímetro de seu corpo. Ela se aproximou sorrindo e encabulada. Sentou-se em meu colo e, após beijar meus lábios carinhosamente, perguntou:

-- Que foi, amor? Tá tão misteriosa e distraída

Enlacei sua cintura, rocei meu nariz em seu pescoço, senti seu cheiro gostoso, olhei pra ela e sorri pegando sua mão e respondendo em seguida:


-- Estava me lembrando do dia em que a gente se casou.


O sorriso dela ofuscou tudo ao meu redor. Anahi tinha um brilho encantador. Ela uniu nossas mãos entrelaçando os dedos. Parou e ficou por longos segundos observando as duas alianças.


Douradas.


Brilhantes.


Dentro delas, nossos nomes. Um coração e o símbolo do infinito. Que seja eterno enquanto dure. Que dure para sempre. Anahi aproximou seu rosto do meu.


-- Tá linda demais, meu amor. – Eu disse, enquanto apertava seu corpo contra o meu. Rocei a boca no seu pescoço. O nariz. – Cheirosa! – Minhas mãos passearam pelas costas. Apertei sua bunda. – Gostosa!


Anahi suspirou e beijou minha boca com fervor. Mas, pra não perder o costume, o celular tocou. Sem desgrudar da boca de Anahi, estiquei a mão e, apalpando as coisas sobre a mesinha, achei o celular sem muita vontade, olhei no visor .


-- Ai, meu Deus! É a Angel.


Anahi riu e deitou sua cabeça em meu ombro. Atendi receosa.


-- Oi, An...


-- Cachoooorra... Sacana! F @$@¨#@ &¨$#&¨$&..


Afastei o telefone do ouvido. Anahi me olhou assustada, segurando o riso.


-- Calma, Angel. Que foi que aconteceu?


-- Você ainda perguuunta? A Maite tá me deixando loouca com esse atraso infeliz de vocês.

-- Nós já estamos chegando, Angel. Calma!


-- É. Diz isso pra sua amiga, Dulce Maria. – Ela retrucou, irritada.


-- Afinal, qual é o motivo do nervosismo mesmo? – Perguntei, achando graça. – Diz pra ela que a peça não começa sem a atriz principal.

-- Esse é o motivo né, Dul?! Nós combinamos de...


-- De?


-- De comemorar depois.


Gargalhei.


-- Comemorar o que? Vocês nem sabem se minha peça vai ser um sucesso.

-- Dul, não sei se você lembra, provavelmente não, mas hoje nós completamos três meses de namoro.


Sorri. Mais uma vez, voltei no tempo...


Angelique entrou no quarto de repente, tirando o livro da minha mão e o atirando longe.


-- Dul, preciso da sua ajuda.


Assustada, a olhei sem entender.


-- É sério, Dul. Preciso muito de você.


Sentei na cama. Bati a mão ao meu lado, indicando para ela sentar também.


-- Não. Não quero sentar. Obrigada!


Ela andava de um lado pro outro. Passando a mão nos cabelos, jogando-os para trás, indo e voltando pelo quarto chutando e tropeçando no ar.


-- Angel, você tá me irritando. 

-- Eu tô apaixonada, Dul. Tô louca, maluca pela Maite. – Ela falou, afobada. – Não sei o que fazer.


Sorri.


-- Calma, Angel. Vem cá, amiga. Senta aqui.


Ela, ainda relutante, caminhou até a cama e se sentou. Segurei sua mão.


-- A primeira coisa que você tem que fazer, é contar pra ela o que você sente.


-- Ai, Dul. Eu tenho medo, cara. Ela tem namorado e é hétero.

-- Angel, você, mais do que ninguém, sabe o quanto a Mai é intensa. Tenho certeza que ela não estaria ficando com você, se não tivesse intenção de terminar com o Dado.

-- Dul, são anos e anos de namoro, cara. Você acha que ela vai terminar com ele por minha causa?


-- Tá mais do que na cara que vocês duas se gostam, amiga.


-- Gostar só não basta, Dul. Tem a família dela, os amigos.


Fiz careta. Pensei comigo: "Esse papo de novo não"


-- Ai, meu Deus. – Ela disse, assustada.


-- Que foi, maluca?


-- Eu tô me sentindo tão você, Dul. Claro que eu sou mais bonita, mas tá tudo tão igual, né?! Ai que desespero!


Eu ri. Angelique era uma figura.


-- Não tem nada igual, Angel. Os pais da Mai são muito tranqüilos.


-- É. Isso eu sei! Mas você acha que eles não vão surtar?


-- Eles gostam tanto de você, Angel.


-- Gostam de mim, porque eu sou a amiga da filha deles. E isso é normal.  Quero ver o que vão achar se eu for a namorada dela.


Ela estava tão desesperada que comia – e estragava – a unha sem nem perceber.


-- Para de sofrer por antecedência, sua idiota!


Eu olhava pra ela e, realmente, via muito de mim. Mas eu não queria que a minha história se repetisse. Não com todos os obstáculos. Suspirei, me dando por vencida.


-- Olha, Angel. Eu vou te contar uma coisa, mas só porque eu tô vendo que você tá, realmente, apaixonada.


-- Aaaai, me conta! – Ela deu um gritinho e bateu palma.


Não pude deixar de pensar que a convivência entre elas estava mais que excessiva. Esse gritinho afinado que entra, perfura e rasga o tímpano é a marca registrada da Maite.


-- A Mai também está apaixonada por você.

Ela calou e empalideceu.


" Pronto. Agora a doida vai bater as botas. "


-- O que... Co-Como?


Ela gaguejou perdidamente engraçada.


-- Ela confessou e a Any me contou.


-- Sua imbecil! – Me deu um tapinha no ombro. – Ia demorar mais quanto tempo pra me contar?


-- Ela pediu segredo, Angel. – Tentei justificar


-- Nós somos amigas, cretina! 

-- Pára de me bater e vai atrás dela, cara. Tá perdendo tempo.


E ela, sem esperar mais um minuto, foi.


Foi como quem obedece um chamado urgente e desesperador. O chamado de quem ama. Naquele momento, Angelique estava dominada pela urgência do amor. Acelerando o carro, ela chegou rapidamente na casa de Maite.  Encontrou a outra deitada na cama, distraída e com os fones de ouvido. De primeiro, Angelique não percebeu os fones e a falta de atenção da outra. Aliás, Angelique não conseguiu perceber nada. No exato momento em que abriu a porta do quarto e viu Maite deitada, com os cabelos negros esparramados na cama, os olhos fechados, as pernas dobradas. Angelique esqueceu de tudo, só esqueceu de calar o pulsar descompassado de seu peito. Sem controlar as pernas e passos, ela se aproximou. Maite, como que prevendo a presença da outra, abriu os olhos. Neles, o brilho inegável.

Inconfundível.


O famoso brilho que ofusca e conecta.

O amor.


Angelique ajoelhou-se no chão.

Maite esqueceu toda e qualquer razão.


Não se sabe de quem partiu a iniciativa do beijo.

Foi Maite quem puxou Angelique para junto de si na cama.

Mas foi Angelique quem se declarou primeiro.


A voz presa.

O “ eu te amo ” abafado pelo misturar de lábios e línguas.


Maite abriu os olhos.

Angelique parou de respirar.


O tempo eternizou traços e gestos.


Maite sorriu.

Angelique suspirou.


A reciprocidade exalando no deslizar suave das mãos, na pele que arrepia e no corpo que se encaixa. Nos corpos que se encaixam. Foi assim, em uma tarde qualquer de verão, que a história de Maite e Angelique começou e se consolidou. Dias depois, Maite já não estava mais namorando o namorado.
Em uma reuniãozinha informal ela apresentava a namorada, uma velha conhecida da família. Angelique, bem recebida, estava disposta a enfrentar o mundo e assim o fez e jurou que eternamente o fará por Maite. E foi assim, em uma noite qualquer de verão, que o namoro de Maite e Angelique começou oficialmente.



-- Dulceee? – Angelique gritou do outro lado da linha. 


-- Hum...


-- Pensei que tivesse desligado. Ficou muda!


-- Ah, é que eu tava me lembrando aqui de umas coisas. Mas então, diz pra apressadinha da sua namorada que nós já estamos indo!

-- É que é muito tesão, Dul.

-- Me poupa, Angelique!



Ainda sorrindo, desliguei o telefone. Enquanto eu me distrai, nem percebi que Anahi havia se levantado e fechado as janelas de casa. Agora sim, estávamos prontas para partir.


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Enquanto Dulce falava ao telefone, resolvi adiantar e fechar as janelas. Enquanto fechava a da sala, parei diante do nosso retrato tão bem posicionado. Dulce, Mateus e Eu. Peguei aquele porta retrato nas mãos e não contive o sorriso orgulhoso. Nós formávamos um triângulo de vértices iguais.

Me lembrei de quando aquela foto foi tirada.



-- Dul, tem certeza que você quer mesmo ir?


-- Tenho, Any. Eu preciso disso! Preciso entrar naquele tribunal e olhar nos olhos dele pela ultima vez.


-- Não acho que ver seu pai sendo condenado vai te trazer algum sentimento bom, amor.

-- Eu nem quero ficar pra ver o julgamento, Any. Só quero ver. Olhar pra ele.


Concordei e segurei forte em sua mão. Descemos do carro. Dulce tinha a mão gelada e trêmula. A porta de entrada significava o passado recente se aproximando. Mas ela não titubeou, continuou com passos largos, firmes e decididos. E logo ali, alguns passos à frente estava ele. Seu pai. Dulce ficou longos e torturantes minutos o observando. Ele estava com a aparência mal cuidada, barba por fazer, cabelos grandes. O terno estava desbotado mas o sorriso. Aquele mesmo sorriso cínico e impiedoso permanecia intacto. Ele não a viu. Dulce deixou cair uma última lágrima e saiu. A porta batendo atrás de nós, foi um sinal de que aquele capítulo doloroso estava encerrado. Seu pai foi condenado a longos e longos anos de prisão. Dulce não quis saber por quantos anos, talvez tenha sido melhor assim. Beijei seus lábios e a abracei forte.
Dulce correspondeu.


Sorriu.


E sugeriu:


-- Agora, amor. Nós vamos pegar nosso filho e ir direto pro parque. Tô louca pra comer algodão doce e rodar sem parar na roda gigante.


Eu acatei. Completa e apaixonadamente rendida. O entardecer naquele dia estava completo. Assim como eu.


O sol se despedia lento.


Colorido.

A noite chegava preguiçosa.


Clara.


Meus olhos brilhavam felizes.


Meu peito pulsava rápido.


Mateus e Dulce se divertiam cúmplices e eu via a cena se repetir. A cena que preencheu meu coração anos atrás, agora se repetia e se repetia como se fosse a primeira vez. Mantendo o mesmo encantamento, a mesma magia única das repetições inesquecíveis. Os dois estavam suados, cansados e sujos de cachorro quente. Eu estava lambrecada de algodão doce. Os três com sorrisos que refletiam e exalavam luz.


Luz.


Os flashes das fotos pareciam não existir diante do nosso brilho. E ali, naquele porta retrato tão bem posicionado na sala de jantar, estava mais um – dos vários – momentos felizes e inesquecíveis que passei com minha família. Um dos muitos que eu sei que ainda virão.


-- Vamos, amor?


Dulce me abraçou, tirando-me de minhas divagações.


Sorri e concordei. Segurei a mão que ela me estendia e saí, deixando uma sensação deliciosa de que, quando voltasse, tudo estaria do mesmo jeito. Do nosso jeito.


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Chegamos na faculdade, o local estava cheio. Todos aguardavam a apresentação do grupo de teatro. Eu, a atriz principal e a escritora da peça, fui abordada com euforia. Deixei que Anahi se encaminhasse e sentasse na primeira fila, onde fora reservado os assentos para minha família.


Conversava distraidamente com os outros integrantes da peça, quando a vi. Seu sorriso me trouxe o conforto que eu sempre sonhei. Sua presença, seu caminhar lento, seus braços abertos. Caminhei até ela e me joguei. Ela acariciou meus cabelos e disse, suavemente.

-- Eu disse que vinha, filha.

Deixei que as lágrimas caíssem intensas. Fechei os olhos e me aconcheguei nos seus braços.


“ Tudo que você pensa e sofre dentro de um abraço se dissolve. ”


Tinha resolvido passar em casa pela última vez. Apenas para pegar algumas roupas e objetos pessoais. Imaginava que não teria ninguém como de costume entrei em casa. As paredes e móveis estavam intactos. Mas eu sentia como se tivessem sido modificados. Aquele lugar havia deixado de ser minha referência. A minha casa havia se tornado o lugar onde passei alguns – dos piores – dias da minha vida. Passei pela sala e, cabisbaixa, alcancei a escada. Um soluço fez com que eu estancasse.

Parei intrigada olhando ao redor, tentando descobrir de quem e de onde vinha o choro. Desci as escadas e passei novamente pela sala.
Avistei a porta do escritório aberta. Minha mãe, sentada no chão e de costas para a porta, segurava algumas fotos e chorava incansavelmente, seu soluço de dor ecoou dentro de mim. Dei mais alguns passos e me fiz presente. Ao abrir a porta, me deixei ser percebida. Ela virou-se assustada e, olhando em meus olhos, permaneceu assim em prantos e susto. Em lágrimas sentidas de quem sempre foi dormente. Desci meu olhar para as fotos que estavam em suas mãos e senti meu peito ser comprimido por uma mão invisível. Fotos minhas quando criança, fotos dela, fotos nossa. Do tempo em que seus braços era meu abrigo. Esbocei um sorriso, um sorriso carregado de dor e mágoa. Um sorriso sentido. Ela devolveu, sorriu como quem tem a alma ferida, sorriu como quem perde uma parte preciosa de si. Era exatamente assim que eu me sentia. Sem uma parte essencial de mim.


-- Eu... Se eu pudesse voltar atrás.


As lágrimas brotavam e escorriam sem cessar. Seus olhos tinham uma coloração vermelha. Seu rosto inchado nada se assemelhava à mulher forte e impassível que eu sempre vi. Pela primeira vez, depois de muitos anos, eu voltava a ver - e acreditar - que minha mãe tem sentimentos.


-- O tempo nunca volta.


Eu respondi, também tomada pelas lágrimas e pela dor..


 -- Me perdoa, filha! Me perdoa!


Eu já não agüentava mais. Havia prometido que não derramaria mais nenhuma lágrima. Mas, vê-la ali, fraca, vulnerável me fez fraquejar. Alguma coisa dentro de mim repetia para perdoar. Mas a mágoa me impedia e ela repetia.


-- Eu te amo, filha. Você é meu bem mais precioso! Me perdoa! Me perdoa!


Olhei mais uma vez para nosso abraço na foto. Ela me segurava com tanto cuidado e proteção. Fechei os olhos com raiva.

“ O tempo parou, feito fotografia
Amarelou tudo que não se movia
O tempo passou, claro que passaria
Como passam as vontades que voltam no outro dia


Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só porque não consigo odiar ninguém ”


-- Eu não consigo odiar ninguém. – Repeti, agora em voz alta. – Droga! Eu não consigo odiar ninguém.


Caminhei a passos largos até ela, puxei seus braços com força e a levantei.


-- Eu vou te perdoar, mas você vai ter que se comportar, mãe. Eu juro que...


Me calei sendo presa e rodeada por seus braços. Aqueles velhos braços me voltavam a segurar com cuidado e proteção.


-- Eu te amo, filha.


Ela segurava meu rosto e sorria. Feliz.


-- Dul, “ Um sorriso e um abraço sinceros falam melhor que mil vezes “obrigado”. Terás sempre o meu sorriso, e receba agora o meu abraço. ”


E mais uma vez ela me abraçou forte sem cansar de pedir e repetir o quanto necessitava do meu perdão. Como o tempo que volta a abrir depois de uma tempestade duradoura, nós voltamos a dividir mais que amenidades, voltamos a sorrir. Sentamos no sofá e, entre uma foto e outra, dividimos segredos. Revivemos os acontecimentos. Passado e presente. Presente e passado.
Se encontrando para determinar o futuro. Destruímos as barreiras da mágoa. Reconstruímos a cumplicidade do amor.


“ O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho. ”


Foi , naquele dia de primavera, que minha mãe voltou a fazer parte da minha vida.


-- Filha? – Ela me chamou, fazendo-me voltar do tempo. – Acho que já estão à sua espera.


Sorri.


Dei um beijo em seu rosto, apontei a direção de onde ficavam as cadeiras para minha família e saí. Fiquei observando minha mãe se afastar. Mateus a encontrou no meio do caminho, olhou para trás, como quem pede permissão. Balancei a cabeça. Ele segurou sua mão e apontou para as cadeiras mais à frente. Eu, atrás deles, observava emocionada. Outro nó se desatava. Mais um laço se fortificava.


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Assisti – encantada – a todo o espetáculo Dulce estava linda. Eu estava orgulhosa, aliás, todos nós estávamos. Havíamos levado toda a família para assistir. Minha mãe, a mãe dela, Maite, Angelique, Mateus, Alfonso e a namorada e vários outros amigos de Dulce que também estavam ali. Havia combinado com os outros atores que faria uma surpresa. Na verdade, eu faria uma participação especial. Sem nada dizer, levantei-me e saí.


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Subi no palco com o coração aos pulos. Não me cansava de olhar para a primeira fila e sorrir. As pessoas mais importantes da minha vida estavam ali. Essa peça, especialmente, era muito importante pra mim. Eu iria interpretar a menina Dulce. Uma menina valente que gostava de divagar e filosofar sobre a vida, uma menina que aprendeu não só discutindo, mas vivendo a vida. Os trechos, escritos por mim, não tiveram que ser – totalmente – inventados. Muita coisa da menina Dulce era real. Durante toda a peça, eu não conseguia parar de olhar para Anahi. Seu rosto era meu guia, suas expressões encantadas é que me faziam continuar e continuar sem querer parar. Encerramos a peça.
Deixei que todos os outros personagens saíssem. Havia chegado a hora. Depois do fim, havia o começo novamente. A peça já havia sido encerrada, mas a parte principal seria agora. O recomeço. A outra face do fim. Tomei a frente e comecei a declamar baseando-me na história da menina Dulce agora, não mais menina e sim, uma mulher. Declamei interpretando o que eu fui a vida inteira. Um misto de menina e mulher. Dulce.


“ Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. 
E você aprende que amar não significa apoiar-se. 
E que companhia nem sempre significa segurança. 
Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… 
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. 
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. 
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.

Olhei para Maite e Angelique, que estavam abraçadas. Sorri, apontando para elas.

E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. 

Estava pronta para começar a outra parte, quando uma voz mais que conhecida, entrou por trás do palco, segurando o microfone.


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Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa… por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos


Dulce estava surpresa e emocionada. Olhei para ela e continuei também emocionada com a voz embargada.


Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. 
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
 Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. 
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.


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Eu já não continha as lágrimas de emoção. Olhei pra minha mãe. Seus olhos estavam molhados, seu sorriso estava direcionado. Continuei dizendo para ela...


Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens… Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. 
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém…
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. 
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! 
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar. ”


Segurei forte a mão de Anahi. As alianças refletindo o brilho da nossa felicidade. Finalmente, nós estávamos juntas e completas. Olhei para ela, beijei seu rosto com carinho, olhei para cada um que estava ali e prossegui:


Então, não tenha medo de tentar.


As tentativas geram erros, mas também geram acertos.

A vida é uma eterna tentativa.


E talvez, nosso maior e melhor acerto é vivê-la.

Assim, com todos os percalços e obstáculos.

Não queira apenas sobreviver.


Viva.

Como quem não entende, mas sabe que apesar de tudo, ela é passageira.

Viva.


Para ser feliz.

Viva.


Para ser você.

Viva.


Os aplausos foram dados de pé, os gritos ecoaram e tocaram dentro de mim. Um alguém como eu, que já viveu e sobreviveu tantas vezes pode falar com clareza e propriedade:


 


Gonzaguinha - O que é, O que é?


http://www.youtube.com/watch?v=ykv9mqOC8pE



É a vida, é bonita
E é bonita...


Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...


Ela é maravilha
Ou é sofrimento?

Ela é alegria
Ou lamento?


Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...


Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo

É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor


.....

É a vida, é bonita
E é bonita...


 


Continua...


 



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Autor(a): lunaticas

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Capitulo 81 – Monte Castelo Anahi...   Saí do palco de mãos dadas com Dulce. Antes que voltássemos para junto dos outros, a puxei e encostei em um cantinho qualquer. -- Você me mata de orgulho, amor. Ela sorriu e me beijou. Juntei nossos corpos e comprimi o dela contra a parede. -- Você foi perfeita, Any. Adorei a surpresa. ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 65



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  • flavianaperroni Postado em 16/08/2015 - 04:40:47

    Amei de verdade a fic,perfeita demais *-*

  • claricenevanna Postado em 06/12/2013 - 01:17:47

    Andei meio sumida daqui, mas não esqueci essa web que adoro de paixão. O final foi lindo, toda web foi linda, cara. Me emocionei muito com o amor puro delas. Parabéns! Uma história inteligente, instigante e marcada de muito amor. Estarei acompanhando na nova web.

  • angelr Postado em 05/12/2013 - 00:48:19

    Adorei a fic perfeita romantica e muito fofa amei foi bom ler *_*

  • annecristine Postado em 05/12/2013 - 00:31:28

    Crlh vc escreve muito! Amei o final da fc. Elas sao lindas o Matheus super fofo! Rs.. Parabens ameii.. ^_^

  • annecristine Postado em 04/12/2013 - 18:12:31

    Aiii q lindo! Amei o penúltimo cap. Foi perfeito! Pena q vai acabar.. :/ Parabéns!

  • Valesca Postado em 02/12/2013 - 23:49:59

    A sua web é maravilhosa, parabéns! ps.: posta mais

  • lunaticas Postado em 02/12/2013 - 22:50:48

    Acabei de postar dani_portinon haushuahsauu

  • dani_portinon Postado em 02/12/2013 - 22:48:15

    Vai postar o próximo capitulo que hrs ? *-*

  • dani_portinon Postado em 29/11/2013 - 23:07:22

    Posta mais, estou amando a web ><

  • annecristine Postado em 29/11/2013 - 01:58:05

    Ai q fdp nojento o pai da Dul.. Pena delaas.. :/ Tomara q a Dulce fique boa logo..


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