Fanfic: The Heartbreaker

            Pérola terminou seu café em um único gole. Seu rosto começava a ficar menos vermelho e quente. Efeito de um desconhecido que resolvera tirar um tempo para atormentá-la àquela hora da manhã. Era só o que me faltava! Ela pensou enquanto lembrava da cena do rapaz lambendo os dedos quase eroticamente. Ela arrumou os seus longos cabelos atrás da orelha, guardou o folheto com diversas atrações turísticas da cidade e foi em direção à vinícola que escolhera visitar.

      Ela pegou um ônibus e não demorou muito até que avistasse os vinhedos. Um senhor bem arrumado foi em sua direção quando ela adentrou os portões da propriedade.
– Posso ajudá-la?

– Pode sim, obrigada. Estou querendo visitar a vinícola, é possível?

– Só um instante.

        O homem de terno pegou o telefone e falou com o responsável pelas visitações.
– Sinto muito, mas estamos lotados hoje. Quem sabe se você fizer uma reserva... – disse o homem lamentando.

– Tudo bem. Não sei onde estava com a cabeça! Lógico! Deveria ter feito uma reserva de horário. Mesmo assim, obrigada. – Pérola se despediu e se puniu mentalmente por ter sido ingênua sobre o tour.      

Tendo que reorganizar seus planos, ela avaliou a distância e percebeu que fazer o caminho de volta a pé era uma boa escolha. A região era linda e valeria a pena. Colocando os fones de ouvido, ela apertou play em seu celular, Malika Ayane começou a cantar a melodia tranquila em italiano enquanto a jovem andava e apreciava a bela paisagem dos vinhedos. Muito adequado. Ela pensou e sorriu ao ouvir as primeiras palavras da música e admirava cada detalhe daquela cidade com forte presença de famílias italianas.

Enquanto fazia o caminho de volta ela pode ver diversos casarões antigos extremamente conservados. Cada um deles possuía alguma atração gastronômica para os turistas e ela fez uma nota mental que deveria voltar com mais calma e visitá-los.
         Algumas músicas depois, Pérola avistou a universidade e teve a ideia de dar uma passada na biblioteca para pegar um livro. Faltava uma semana para o início do ano letivo e isso daria a ela – uma leitora compulsiva – tempo suficiente para ler um bom livro como passatempo.

Passando pelas portas de vidro da entrada, ela se dirigiu para o interior da bela e gigantesca biblioteca que era referência no estado. Diferentemente do que as poucas pessoas que estavam ali faziam, Pérola não fez uma busca no sistema da biblioteca, ela  gostava de se perder entre os diversos corredores lotados de livros. Era muito mais divertido deste modo para ela e deixava a experiência de procura mais gostosa.
         Após um tempo ela parou no corredor de literatura inglesa e ficou boquiaberta com o acervo.

– Ok, só vou demorar um século para escolher. – murmurou para si.

         Passando os dedos entre os diversos exemplares ela se decidiu por A Tempestade, de William Shakespeare, um de seus escritores favoritos. A última obra do famoso poeta inglês era também uma de suas favoritas. Para ela, a peça continha tudo que um livro deveria conter, mágica, intriga, vingança e demais elementos que formavam o mundo criado pelo autor.

          Seu lado racional ficava encantado com as questões de alteridade do livro à respeito da relação entre europeus colonizadores e nativos, juntamente com as ideias e visões do novo mundo da época de Shakespeare; enquanto seu lado sensível suspirava pela troca de palavras românticas entre os personagens. “Nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos.” Ela pensou citando um personagem da obra que segurava.
          Pérola então seguiu de volta para seu apartamento com um sorriso no rosto por ter uma companhia para seus dias solitários no seu novo lar.

                                                          ...

               Era meio dia quando Daniel abriu os olhos, ainda cansado e de ressaca. Ele jogou as pernas para fora da cama e esfregou seus olhos verdes brilhantes, então tirou as roupas e foi até o banheiro. Enquanto abria o chuveiro lembrou do seu sonho com a menina que atraíra sua atenção pela manhã e se surpreendeu quando uma onda de excitação passou pelo seu corpo com a lembrança. Os pelos dos seus braços e peito se arrepiaram e ele sorriu sarcasticamente ao lembrar a reação da pobre menina. Virgem, provavelmente. O pensamento logo se esvaiu de sua mente.

Daniel não era tão bom com meninas inocentes, não que fosse um mau amante, isso estava longe da realidade, mas, por não ter a paciência de lidar com todo o sentimentalismo do momento. Uma vez sendo o primeiro na vida de uma mulher, você estará ligado a ela, de alguma forma, para sempre. Foi uma das primeiras lições que ele aprendera quando decidiu seguir esse estilo de vida.

       Depois de um banho demorado, ele seguiu pelo seu luxuoso apartamento com uma toalha na cintura até a sala. Abriu seu email e percebeu que havia um convite para uma festa da Universidade vizinha. Seus olhos correram até o nome da remetente e preferiu não responder, mas deixou a data reservada caso decidisse passar para conferir.
          Ele fechou seu notebook ele decidiu almoçar e só então percebeu que estava começando a se atrasar para uma reunião com sua orientadora no Instituto de Música. Jogando uma pizza no micro-ondas, ele correu para se arrumar e partir para seu compromisso.

...

            Pérola se atirou no sofá da sua diminuta sala, abriu seu notebook e desembrulhou um sanduiche gigantesco de frango que havia comprado no caminho. Um email do DA do curso de nutrição chamou sua atenção. Era um convite para uma festa de boas vindas aos novos alunos, tanto da graduação, quanto pós-graduação. Enquanto lia o convite ela fora tomada por ansiedade e dúvida. Não sabia se era uma boa ideia ir sozinha a uma festa onde não conhecia ninguém, por outro lado, poderia ser uma boa oportunidade de conhecer o pessoal do curso e fazer amizades.

Ela decidiu por fim responder agradecendo o convite e que daria uma passada na festa para conhecer os demais alunos. Para sua surpresa, a resposta ao seu email chegou rapidamente. Era de uma aluna chamada Daniella que parecia muito simpática e tagarela, já que fez diversas perguntas sobre Pérola, entre elas, se ela não queria se juntar as demais meninas naquela noite em um bar. Analisando por um instante, ela confirmou presença. Então voltou sua atenção para o enorme lanche em suas mãos e esperou que tudo continuasse a dar certo na sua estadia na nova cidade.