Fanfic: As Escolhas

Ela não podia acreditar que tinha encontrado a filha.

Eduarda tomou outro gole de chá. Era de madrugada e ela não conseguia dormir, porque sua mente não se desligou nem por um segundo de Helena.

A menina era mesmo igualzinha a ela. O único de Helena que não era de Eduarda eram os olhos. Aqueles olhos quase cinzas de Pablo estavam perfeitamente copiados na menina.

Pablo...

Ele tinha olhado com tanto ódio pra Eduarda, tinha dito tantas coisas ruins...

Mas ela não podia se queixar. Ele estava certo.

Eduarda tinha agido como uma verdadeira vagabunda há 4 anos. Tinha abandonado uma filha e o homem que ela mais amou na vida. Porque agora ela sabia que tinha amado Pablo. Sabia pelo modo como seu coração tinha batido mais forte quando ela escutou a voz dele. Sabia pelo jeito como ela queria ver ele de novo. 

Eduarda se lembrou de um trecho que tinha lido em  Frankenstein. "Pois eu os amava, por assim dizer, de um modo meio doloroso e decepcionado" dizia o trecho.

Ela tinha amado Pablo exatamente do mesmo jeito doloroso e decepcionado que Frankenstein amava no livro.

A visão de Eduarda começou a ficar embaçada e logo ela começou a chorar compulsivamente.

Ela devia ter ficado com os dois, pensou, se ela tivesse encarado as coisas, ela provavelmente teria a família perfeita agora. Seriam ela, Helena e Pablo. Juntos.

- Duda? - Soledad parecia sonolenta - O que você tá fazendo a essa hora sozinha na cozinha?

Eduarda tentou disfarçar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

- Nada, mãe - suspirou, ela precisava aprender a mentir melhor - eu só tive um pouco de insônia e resolvi tomar um pouco de chá de camomila

Soledad foi até os armários e pegou uma xícara pra ela

- Posso tomar um pouco de chá com você, cariño? - Soledad sentou na cadeira em frente à filha

Eduarda assentiu com a cabeça enquanto via a mãe encher sua xícara de chá.

- Lembra de quando aquele menino te chamou pra sair quando você era do primeiro ano, cariño? - Soledad olhou pra filha - Como era o nome dele mesmo?

- Matheus - Eduarda não estava entendendo onde a mãe queria chegar com aquilo

- Isso, Matheus - Soledad  deu um riso maternal - Você não foi no encontro, se lembra? Você ficou com tanto medo do que o seu pai iria pensar quando soubesse que ele era o pior aluno da sala e que já tinha repetido um ano, que deixou o menino plantado.

- E ele nunca mais falou comigo - Eduarda riu de levinho enquanto brincava com a sua xícara de chá - e eu duvido que ele tenha falado com outra garota depois disso

- Bom, também não é pra menos, cariño - Soledad tomou um pouco de chá - o fato é que agora você está com o mesmo olhar de quando você deu um bolo no pobre Matheus

Ótimo, a mãe dela tinha percebido tudo.

- Esse olhar de cachorrinho  que foi abandonado - Soledad continuou - depois de morder o dono.

- Mãe, eu só estou cansada, ok? Eu tenho trabalhado muito e...

- Eu sempre me preocupei muito com você, sabia Duda? Você nunca decepciona ninguém, nunca sai da trilha. Sempre é a mais inteligente, a mais dedicada, a mais responsável, a mulher perfeita

- E desde quando isso é motivo de preocupação, Soledad DiLordes? - Eduarda riu

- Sabe por que essas pessoas parecem tão boas, Duda? Por que elas estão sempre deixando de fazer o que elas querem pra fazer o que os outros querem que elas façam -  Soledad se levantou - por detrás de todos os sorrisos, elas são pessoas infelizes.

- Mãe, eu estou bem - tentou sorrir - só estou cansada, mesmo.

- Eu acredito, cariño. Guarda a louça pra mim? - Soledad apontou pras xícaras e pro bule que estavam em cima da mesa.

- Claro, mãe. Boa Noite

- E eu quero que você saiba que seu pai realmente teria odiado o Matheus, - Soledad sorriu - mas você teria sido muito feliz se tivesse dado uma chance pro rapaz.

Eduarda observou a mãe sair da cozinha. Soledad estava certa. Em cada mínima palavra que ela tinha dito.

Eduarda já tinha perdido muito por causa da sua estupidez. Talvez ter reencontrado a filha  tenha sido uma segunda chance do destino e dessa vez ela não ia jogar a felicidade dela no lixo.

Pablo e Helena estavam no Brasil, então era no Brasil onde Eduarda iria ficar.

Eduarda lavou e guardou rápidamente a louça do chá, depois subiu correndo em direção ao seu quarto.
Precisava enviar urgentemente um e mail para a empresa em que trabalhava na Argentina.  Tinha de pedir demissão