Fanfic: As Escolhas

  - Eu tô adorando ficar com a vovó, papai - Helena falou no telefone - a gente brincou o dia todo.

  Pablo sorriu. Era bom saber que a Helena estava longe de todo aquele turbilhão pelo qual ele estava passando. Ter aparecido na casa da Eduarda ontem tinha sido a coisa mais absurda que ele já tinha feito na vida. Quebrar as coisas do apartamento dela também tinha sido uma loucura sem tamanho.

  - Eu fico feliz que você esteja se divertindo, meu amor - Pablo suspirou, pelo menos alguém estava feliz nessa bagunça - agora você pode passar pra sua vó, por favor?

  Pablo tinha combinado com a mãe dele pra buscar a Helena no aeroporto no sábado, só faltava saber o horário que ela deveria chegar lá.

  - O avião vai chegar na hora do almoço, filho - A mãe de Pablo falou em um espanhol carregado com sotaque argentino - Você tem que estar no aeroporto o mais cedo possível amanhã, porque a Mercedes vai pegar o avião de volta meia hora depois de chegar aí.

  Mercedes era uma prima de Pablo. Toda vez que a Helena ia visitar a vó na Argentina, Mercedes ia acompanhando a menina no avião.

  - Tudo bem, mãe, eu vou chegar cedo. Manda um beijo pra Helena pra mim, sim? Eu tenho que desligar.

 - Espera, Pablo, eu preciso te fazer uma pergunta antes.

  Pablo enrugou a testa e ficou em silêncio, esperando que Ester lhe perguntasse o que ela queria perguntar.

  - Quem é Eduarda? - Ester soltou um risinho sugestivo pelo telefone - A Helena não para de falar nela.

  Pablo suspirou. Será que nunca deixariam ele esquecer dela? Será que toda hora alguém tinha que aparecer pra cutucar a ferida?

  - Não é ninguém, mãe - Pablo se jogou na cama e fechou os olhos - ela é só uma... cliente.

   Pablo achou que aquele era um adjetivo bom pra Eduarda. Era uma meia verdade? Era. Mas ele simplesmente não podia contar quem Eduarda era na verdade, não quando ele não tinha feito isso há 4 anos atrás.

  Pablo tinha decidido contar o mínimo possível sobre a mãe de Helena pra Ester, simplesmete porque ele estava ferido e tudo que Pablo não queria era reviver a história do "ela preferiu a universidade a nós", mas a verdade é que, agora, as coisas faziam mais sentido.

  Eduarda não era só uma jovenzinha tentando um lugar no mundo dos negócios. Pelo contrário, ela tinha um sobrenome que já lhe garantia, desde sempre, esse lugar.

  Não justificava o fato de ela ter simplesmente ido embora, mas o explicava. E uma explicação já era um consolo.

  - Uma cliente, Pablo? Uma cliente que trabalha num restaurante?

  Droga, Helena, você tinha que entregar tudo?

  - Ela não trabalha num restaurante, mamãe. Ela é filha da dona do restaurante.

  - E então? - Ester parecia uma criança prestes a ganhar um brinquedo.

  - E então o que, mamãe?

  - Ela é bonita?

  Linda. Perfeita. Deslumbrante.

  - Eu não reparei nisso - Pablo torceu pra que sua voz saísse convincente.

 Ester deu uma risada alta. Ele tinha que aprender a mentir melhor.

  - Nossa, ela é bonita assim?

  Bonita. Inteligente. Engraçada.

  - Mãe...

  - Pablo, escuta, já se passaram quatros anos. Já tá na hora de você seguir em frente e da Helena ter uma nova mãe.

 Ou, Pablo pensou, a mãe verdadeira.

 - A Helena não precisa de uma mãe. Eu consegui cuidar dela sozinho esse tempo todo e vou continuar conseguindo.

 - Talvez ela não precise, - Ester suspirou - mas ela merece e você também.

 Pablo sempre pensou que poderia cuidar da Helena sozinho para sempre. Pensou que esse era o melhor jeito de mostrar pra Eduarda, onde quer que ela estivesse, o quanto ela tinha sido patética por deixar eles dois. Mas ele nunca tinha pensando nisso: em merecimento. Helena era uma menina ótima, mas era também um tanto solitária e tímida. Talvez a mãe dele tivesse razão. Talvez a palavra certa não fosse capacidade, mas sim merecimento.

 - Mãe, eu realmente preciso desligar agora.

 - Você deveria dar um chance pra essa Eduarda, Pablo.

 Então, Ester desligou o telefone e Pablo ficou sozinho com a imensa vontade de largar tudo e ir correndo atrás da Duda.