Fanfic: As Escolhas

  Ela estava correndo atrás de uma menina. Uma menina que parecia estar perdida e procurando por alguém.
  Ela não conseguia ver o rosto da menina, nem sequer sabia por que tinha de alcançá-la, mas mesmo assim continuava correndo. Correndo como se sua vida dependesse daquilo.
  - Mamãe! - a menina começou a gritar desesperadamente
  Então ela entendia. Era a filha dela, a filha que ela tinha abandonado convardemente anos atrás.
  Ela começou a correr mais rápido. Era a filhinha dela, tinha que alcançá-la de qualquer maneira. Mas à medida que Eduarda corria a menina ia se afastando mais e mais.
  - Não! Volte, linda! - Estava cansada de correr, mas mesmo assim não desistia - A mamãe está aqui. Eu nunca mais vou te deixar
  A menina parecia não escutar e se distanciava cada vez mais, até sumir completamente do seu campo de visão  

  E era justamente ai que Eduarda acordava. Suada e cansada como se estivesse realmente correndo e não dormindo em seu quarto.
  Já tinham se passado quatro anos desde que ela tinha deixado a menina com o Pablo. Eduarda tinha se formado, em primeiro lugar da turma, tinha conseguido um bom emprego em uma multinacional que tinha indústrias na Argentina, tinha conseguido tudo o que ela sempre quis.
  No início, foi dificil pro seu pai aceitar que ela não voltaria pra casa e não trabalharia nas industrias Maceoli logo depois do fim da universidade. Mas depois, ele viu que seria uma oportunidade ótima de a filha trabalhar em uma empresa tão grande quanto era a dele próprio. A mãe de Eduarda foi bem mais fácil de convencer, apesar de Eduarda saber perfeitamente que para a mãe aquela distância era bem mais dificil do que era para o seu pai.
  Três anos. Tanta coisa mudou. E aqueles pesadelos continuavam a assombrar Eduarda todas as noites, desde daquele dia.
  Olhou o relógio. 2h e 15min da manhã. Precisava dormir. Amanhã, logo cedo, ela tinha que pegar um avião e ir pro Brasil. Tinha conseguido um mês de férias na empresa e iria passá-lo em casa, com seus pais.
  Era a primeira vez que voltava pra casa desde aquilo. Tinha medo que sua mãe ou seu pai percebesse alguma coisa, percebesse que havia um vazio dentro dela. Afinal, como ela iria explicar tudo o que tinha acontecido?
Diria: "Nada, não, mãe. Eu só engravidei e abandonei minha filha, mas tirando, essa canalhice, ainda sou a mesma de sempre."
Era terrível, mas era a verdade, no final das contas
  Se levantou da cama e foi em direção ao closet. Sabia como poderia voltar a dormir.
   Subiu em uma pequena escada que tinha ali e alcançou um caixa rosinha que estava na prateleira mais alta do closet. Eduarda tirou um par de sapatinhos de bebê de dentro da caixa. Eles eram pretos e muito lustradinhos, pareciam sapatinhos de boneca. Eram tão pequenininhos que cabiam na palma da sua mão.
  Os sapatos tinham sido a primeira coisa que Pablo tinha comprado pro bebê, logo depois que eles tinham descoberto que iriam ter uma menininha. Aliás, tinha sido Pablo quem tinha comprado todo o enxoval do bebê.
  Afinal, Eduarda passou toda a gravidez pensando em o que iria fazer depois que a menina nascesse ou no que iria dizer pro seu pai quando ele soubesse. Ela não era exatamente uma jovenzinha quando ficou grávida, tinha 20 anos, mas mesmo assim seria taxada de irresponsável por toda a família.
  Desceu as escadas com os sapatinhos na mão e voltou a se deitar na sua cama.
  Onde será que sua filha estava agora? Como será que ela estava?
Com certeza, ela estaria bem - abraçou fortemente os sapatinhos - ela sabia que Pablo estava sendo um ótimo pai. Ele já o era antes mesmo da menina nascer. Pablo tinha acompanhado Eduarda em todas as consultas, tinha estado com ela na hora do parto e, se não tinha apoiado ela na sua decisão de ir embora, tinha pelo menos respeitado a escolha de Eduarda.
  Talvez a menina estivesse vivendo até melhor do que estaria caso Eduarda tivesse ficado e agido como mãe dela. Talvez sua decisão não tivesse sido tão egoista quanto ela imaginava.
  Riu secamente.
  Óbvio que ela tinha sido egoista. Mais do que egoista, ela tinha sido um monstro.
  Não por ter abandonado uma filha recém nascida, não por ter deixado um homem simplesmente perfeito com toda a responsabilidade, - responsabilidade que era dela também- mas sim por não conseguir se arrepender do que tinha feito. Eduarda sabia que, se  tivesse a chance de voltar no tempo, ela ainda deixaria a menina.
  Mesmo com toda a dor que ela sentia por ter feito aquilo, mesmo com toda a angústia e mesmo quando ela se sentia um lixo. Sabia que tinha feito o melhor.
  Talvez a menina tivesse uma nova mãe. Pablo era um homem bonito, inteligente, gentil...
  Qualquer mulher poderia se apaixonar por ele - Eduarda sabia que até ela mesma teria começado a amar Pablo se os dois tivessem tido um pouco mais de tempo juntos ou se ela tivesse se entregado um pouco mais. Provavelmente ele devia ter se casado, provavelmente ele e sua filha nem pensassem nela.
  Se ao menos Eduarda soubesse o nome da menina ou soubesse como ela estava...
  Olhou o relógio de novo, já estava quase na hora de ela ir pro aeroporto. Se levantou e pôs os sapatinhos dentro da sua mala.
Era melhor ela enxugar aquelas lágrimas e melhorar aquela cara, caso ela quisesse mesmo que ninguém notasse a grande porcaria de mulher que ela tinha se tornado.