Fanfics Brasil - Infância Shadows and Death

Fanfic: Shadows and Death | Tema: Espíritos, Amor, Drama, Loucura.


Capítulo: Infância

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"Eu tinha sete anos. O relógio marcava seis da tarde. Eu estava sentada no mesmo balanço de sempre, parada, o olhar perdido, admirando o nada... Na verdade, eu estava olhando pra ele. Ele, que tinha cabelo loiro e um pouco encaracolado. Ele, dos olhos indecifráveis e do tom de voz mudo. Ele, que ninguém mais podia ver.


Enquanto estava distraída, podia ouvir gritos. Mas continuei ali, observando-o, parada. Desejando ouvir sua voz. De repente, ele abre a boca, pronto pra dizer algo, mas não diz. Ele aponta para a janela do meu quarto. Meu e da minha irmã. E ao olhar pra cima, lá estavam eles. Minha irmã, minha mãe e meu pai. Mas o que estava acontecendo? Eu não conseguia entender. Minha mãe sorria, mas não era o sorriso que ela costumava ter. Sorria e amarrava a boca da minha irmã com alguma coisa que de longe eu não podia ver. E meu pai... A espancava. Dando socos, tapas, e chicotadas. Mas ela não podia mais gritar. 


Levantei do balanço e corri até o quarto na adrenalina. E então, os vi de perto. Aqueles olhos não pertenciam a eles. E estavam longe de pertecencer. A pupila estava dilatada num tom branco, meio puchado pro cinza, e as pálpebras estavam inchadas.


Minha mãe continuava sorrindo, e o rosto da minha irmã estava manchado de lágrimas e sangue. Os olhos dela estavam quase se fechando... E então eles se aproximaram.


Primeiramente, meu pai acariciou meu rosto, e em seguida, levantou um canivete. Então eu soltei o grito que estava me sufocando por dentro sem que eu soubesse.


O grito afastou eles de mim, e eu não pude entender o porquê. Sai correndo o mais rápido que pude, descendo as escadas com toda minha velocidade, mas eu estava com medo e minhas pernas tremendo, então não pude evitar, tropecei e rolei a escada inteira. Quando finalmente senti meu corpo no chão, estava com muita dor, como se algo tivesse perfurado minhas costas, braços e pernas. Levanto os olhos e vejo as pantufas azuis de minha mãe. E agora, seus olhos e seu sorriso pareciam pertencer a ela mesma.


- Calma, filha. Está tudo bem. Venha comigo.


Eu fui ingênua e a segui. Ela me levou até o balanço de volta. O menino já não estava mais ali, o céu já começara a ficar escuro e dava pra ver a lua. Então de repente senti algo, ou melhor, alguém segurar minhas duas mãos atrás das minhas costas, e amarrá-las. Senti também uma pancada nas costas, e assim, cai no chão. 


Não lembro de nada depois disso, só que comecei a rezar. Muito. Eu rezei, e naquele instante, a dor parou. Eu me senti no céu, e por isso pensei que tivesse morrido. Mas não, eu não morri. Pelo contrário, eu matei meus pais. E quando eu morrer, irei para o inferno, onde é o meu lugar. É isso o que as pessoas tem me dito por todos esses anos. E é nisso que eu aprendi a acreditar, por um bem maior.


Desde então, passo todos os dias da minha vida trancada num reformatório, onde só existem pessoas loucas, assim como eu. E como castigo de Deus, se é que ele existe, passo dia e noite vendo espíritos, sombras, vultos, demônios e tudo que se possa imaginar. Mas eu não tenho medo deles. Quando criança, até tinha, confesso. Mas aprendi a me defender e a me acostumar com as presenças. Aprendi a lutar contra eles. Aprendi que sou muito mais poderosa do que um dia imaginei ser. Aprendi e aceitei o fato de que vim nesse mundo para ser isso: Um monstro. Uma amaldiçoada. Uma assassina. 


Não tenho amigos, não tenho famíllia. Não tenho ninguém próximo a mim. Até mesmo os assassinos daqui tem medo de mim. Porque eles não são como eu. Eu sou a pior criatura que existe. E é por isso que estou aqui, pagando pelo crime que cometi. E quando completar dezoito anos, provavelmente me eletrocutarão numa cadeira de choque. E eu irei pra um lugar ainda pior, pois é exatamente o que eu mereço."


Entrego para minha psiquiatra o mesmo texto por escrito que toda semana sou obrigada a entregar a anos, para provar que tenho consciência do monstro e da assassina que sou, e poder assim, diminuir meus remédios de auto-controle e não precisar viver dopada. Pelo menos não o tempo todo. Depois de várias sessões que tive quando criança, dizendo que vejo espíritos, acreditando que não matei meus pais, tentando me convencer, foram essas todas as coisas que ela concluiu sobre mim, e que sou obrigada a concordar. Mas não concordo, talvez em partes. Eu sou mesmo errada pelo que fiz, - ou não fiz, pelo que me lembro - mas não sou pior do que todos os psicopatas que habitam esse lugar. São histórias terríveis, de gente que assassinou mais de dez pessoas, tem consciência e ainda ri disso. Se matei meus pais, não me lembro. E convivo com a culpa de possivelmente ter feito isso todos os dias. Mas, eles não eram mais meus pais. Eram demônios. Sei disso porque hoje em dia convivo com vários ao meu redor. Eu era uma criança, não tinha como exorcizá-los ou algo assim. Nunca cresci com religião, nunca fui batizada em uma igreja. Eu acreditava em Deus, mas meus pais não. E foi por isso que eu não fui possuída, assim como eles.



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Autor(a): anniecresta

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