Fanfics Brasil - Cachoeira A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Cachoeira

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Na manhã seguinte, ao me levantar, encontrei
uma mochila parcialmente cheia ao lado da
minha porta, com um bilhete do Sr. Kamal. Ele
dizia que eu devia pegar roupas suficientes para
três ou quatro dias e incluir meu maiô.
O maiô, pendurado para secar durante a noite,
estava seco. Joguei-o na bolsa, incluí uma toalha
por segurança, empilhei o restante das minhas
coisas em cima de tudo e desci a escada.
O Sr. Kamal e Poncho já estavam no Jeep quando
entrei. Assim que afivelei o cinto de segurança, o
Sr. Kamal me entregou uma barra de cereais e
uma garrafinha de suco como café da manhã e
saiu a toda velocidade.
- Por que a pressa? - perguntei.
- Poncho acrescentou um desvio à nossa viagem e
quer parar em um lugar no caminho - respondeu
ele. - O plano é deixar vocês dois lá por alguns
dias e então voltar para buscá-los. Depois disso,
seguiremos para Hampi.
- Que tipo de desvio?
- Poncho prefere ele mesmo explicar.
Pela expressão em seu rosto, eu sabia que, por
mais que eu tentasse persuadi-lo, o Sr. Kamal
não daria mais nenhum detalhe. Decidi deixar de
lado minha curiosidade sobre o futuro e me
concentrar, em vez disso, no passado.
- Como estamos começando uma longa viagem,
Sr. Kamal, por que não me fala mais sobre o
senhor? Como foi o início de sua vida?
- Muito bem. Deixe-me ver. Eu nasci 22 anos
antes de Poncho, em junho de 1635. Era filho único
de uma família militar da casta xátria. Portanto,
para mim foi natural ser treinado para ingressar
na vida militar.
- Casta xátria?
- A Índia tem quatro castas, ou varnas,
semelhantes a diferentes classes sociais: os
brâmanes são professores, sacerdotes e eruditos;
os xátrias são governadores e protetores; os
vaixás são fazendeiros e comerciantes; e os
sudras são artesãos e criados. Também existem
níveis diferentes em cada casta. Pessoas de
castas diferentes nunca se misturavam. Viviam
sempre dentro de seu próprio grupo. Embora
oficialmente extinto nos últimos 50 anos, o
sistema de castas ainda é praticado em várias
partes do país.
- Sua mulher era da mesma casta que o senhor?
- Era mais fácil para que eu continuasse meu
papel como soldado aposentado altamente
favorecido pelo rei, então a resposta é sim.
- Mas foi um casamento arranjado? Quer dizer, o
senhor a amava, não é?
- Os pais dela arranjaram tudo, mas fomos felizes
juntos pelo tempo que nos foi destinado.
Fitei a estrada à nossa frente por um momento e
então olhei para Poncho, que cochilava no banco de
trás.
- Sr. Kamal, eu o aborreço fazendo tantas
perguntas? Não se sinta na obrigação de
responder todas elas, principalmente se forem
pessoais ou dolorosas demais para o senhor.
- Eu não me importo, Srta. Anahi. Gosto de
conversar com a senhorita.
Ele sorriu para mim e mudou de faixa.
- Que bom! Então me fale um pouco sobre sua
carreira militar. O senhor deve ter lutado em
algumas batalhas bem interessantes.
Ele assentiu.
- Iniciei o treinamento ainda muito jovem. Devia
ter uns 4 anos. Não frequentávamos a escola.
Como futuros militares, nossa juventude era toda
dedicada à formação militar e todos os nossos
estudos versavam sobre a arte da guerra. Havia
dezenas, talvez até mesmo uma centena de
diferentes reinos na índia naquela época. Eu tive
sorte de viver em um dos mais poderosos, sob o
comando de um bom rei.
- Que tipos de arma o senhor usava?
- Fui treinado para usar várias armas, mas a
primeira habilidade que nos ensinavam era o
combate corpo a corpo. Você já viu filmes de
artes marciais?
- Se o senhor se refere aos de Jet Li e de Jackie
Chan, sim.
- Lutadores com habilidade no combate corpo a
corpo eram muito procurados. Ainda jovem,
avancei rapidamente na hierarquia por causa de
minha habilidade nessa área. Ninguém conseguia
me derrotar. Bem, quase ninguém. Poncho me
vencia de vez em quando.
Olhei para ele, surpresa.
- Sr. Kamal! Está me dizendo que é um mestre de
caratê?
- Algo no gênero. - Ele sorriu. - Nunca fui tão bom
quanto os mestres renomados que vinham nos
treinar, mas aprendi bastante. Gosto de lutar,
mas minha maior habilidade é com a espada.
- Eu sempre quis aprender caratê.
- Nessa época, não a chamávamos de caratê. A
arte marcial que usávamos durante a guerra era
menos visualmente estimulante. A ênfase estava
em superar seu oponente o mais rápido possível,
o que com frequência significava matar ou aplicar
um golpe que deixaria a pessoa inconsciente por
tempo suficiente para você escapar. Não era tão
estruturada como se vê hoje.
- Entendi. Então o senhor e Poncho foram ambos
treinados em artes marciais.
Ele sorriu.
- Sim e ele era muito competente. Como futuro
rei, estudou ciências, artes e filosofia, assim
como muitas outras áreas do conhecimento
chamadas de "As 64 artes". Ele também foi
treinado em todos os tipos de combate, inclusive
artes marciais.
- Hum... interessante.
- A mãe de Poncho também era bem versada nas
artes marciais. Ela aprendera na Ásia e insistiu
para que os filhos fossem capazes de se proteger.
Trouxeram especialistas de fora e nosso reino
rapidamente ficou célebre por lutar nessa
modalidade.
Por um minuto, me perdi na imagem de Poncho
praticando artes marciais. Lutando sem a camisa.
A pele bronzeada. Os músculos retesados. Sacudi
a cabeça e me repreendi. Pare com isso, garota!
- Ahn... - Pigarreei. - O que o senhor estava
dizendo mesmo?
- Carros de guerra... - prosseguiu o Sr. Kamal,
sem perceber minha breve desatenção. - A maior
parte dos soldados era da infantaria e foi aí que
comecei. Recebi treinamento no uso da espada,
da lança, da maça, assim como de muitas outras
armas, antes de passar para os carros de guerra.
Aos 25 anos, eu estava no comando do exército
do rei. Aos 35, minha função era treinar outros
soldados, inclusive Poncho, e fui chamado para ser o
conselheiro militar especial e estrategista de
guerra do rei, particularmente no uso de
elefantes de batalha.
- É difícil imaginar elefantes na guerra. Eles
parecem tão dóceis - refleti.
- Os elefantes eram assustadores na batalha -
explicou o Sr. Kamal. - Eram fortemente
encouraçados e carregavam uma estrutura
fechada nas costas para proteger os arqueiros. Às
vezes prendíamos longas adagas mergulhadas
em veneno a suas presas, o que era bastante
eficaz no ataque direto. Imagine enfrentar um
exército com 20 mil elefantes encouraçados. Não
creio que hoje exista na índia esse número de
elefantes.
Eu quase podia sentir o chão sob os meus pés
tremendo enquanto visualizava os elefantes
prontos para a batalha atacando um exército.
- Que terrível para o senhor ter que participar de
todo esse derramamento de sangue e de tanta
destruição. E pensar que essa foi a sua vida. A
guerra é uma coisa horrível.
O Sr. Kamal deu de ombros.
- A guerra naquela época era diferente do que é
hoje. Seguíamos um código de guerreiros,
semelhante ao código da cavalaria da Europa.
Tínhamos quatro regras. Regra número um: devese
lutar com alguém que use armadura
semelhante. Não lutávamos com um homem que
não tivesse o mesmo tipo de equipamento de
proteção. É um conceito semelhante ao de não
usar uma arma contra um homem desarmado.
Ele ergueu outro dedo.
- Regra número dois: se seu inimigo não puder
mais lutar, a batalha acabou. Se você desarmar
seu oponente e deixá-lo indefeso, deve cessar a
luta. Não se pode liquidá-lo. Regra número três:
soldados não matam mulheres, crianças, idosos
ou enfermos, e não machucamos aqueles que se
entregam. E regra número quatro: não
destruímos jardins, templos e outros lugares de
culto.
- Parecem regras muito razoáveis - comentei.
- Nosso rei seguia a Kshatriadharma, ou Lei dos
Reis, o que significa que só podíamos lutar em
batalhas que fossem consideradas justas, ou
legítimas, e que tivessem a aprovação do povo.
Ficamos em silêncio por um tempo. O Sr. Kamal
parecia envolto em pensamentos sobre o seu
passado e eu tentava entender a época em que
ele viveu. Quando tornou a trocar de faixa, fiquei
impressionada com a facilidade com que dirigia
em meio ao trânsito pesado ao mesmo tempo
que parecia tão pensativo. As ruas estavam
cheias e os motoristas passavam zunindo em
velocidades assustadoras, mas isso
aparentemente não abalava o Sr. Kamal.
Algum tempo depois, ele se virou para mim e
disse:
- Eu a deixei triste, Srta. Anahi. Peço desculpas.
Não queria aborrecê-la.
- Só estou triste pelo fato de o senhor ter
enfrentado tanta guerra em sua vida e ter
perdido tantas outras coisas.
O Sr. Kamal me olhou e sorriu.
- Não fique triste. Lembre-se de que essa foi
apenas uma pequena parte da minha vida. Pude
ver e vivenciar mais coisas do que normalmente
seria possível a qualquer homem. Vi o mundo
mudar século após século. Testemunhei
acontecimentos horríveis, assim como muitos
outros maravilhosos. Além disso, lembre-se de
que, ainda que eu fosse um militar, não vivíamos
o tempo todo em guerra. Nosso reino era grande
e respeitável. Embora treinássemos para a
guerra, só nos envolvemos em conflitos armados
umas poucas vezes.
- Às vezes esqueço há quanto tempo o senhor e
Poncho estão vivos. Não estou dizendo com isso que
o senhor seja velho...
O Sr. Kamal deu uma risadinha.
Depois de nossa conversa, resolvi pegar um livro
sobre Hanuman. Era fascinante ler as histórias do
deus macaco. Fiquei tão imersa em meu estudo
que me surpreendi quando o Sr. Kamal parou.
Fizemos uma refeição rápida, durante a qual o Sr.
Kamal me encorajou a experimentar alguns tipos
diferentes de curry. Descobri que não era muito
fã desse prato, e ele ria quando eu fazia caretas
com as variedades muito picantes. Gostei mesmo
foi do pão naan.
Quando nos acomodamos de volta no carro,
peguei uma cópia da profecia de Durga e
comecei a ler. Serpentes. Isso não é nada
animador. Que tipo de proteção ou bênção Durga
nos daria?
- Sr. Kamal, existe um templo de Durga perto das
ruínas de Hampi?
- Existem templos em homenagem a Durga em
quase toda cidade da Índia. Ela é uma deusa
muito popular. Encontrei um templo perto de
Hampi que iremos visitar. Se tivermos sorte,
encontraremos lá nossa próxima pista para o
quebra-cabeça.
- E tem alguma idéia do que possam ser os
"perigos deslumbrantes"?
- Não. Lamento, Srta. Anahi, mas nada me
ocorre. Também tenho pensado nisso. "Lúgubres
fantasmas frustram seu caminho." Não encontrei
nenhuma referência sobre isso, o que me faz
pensar que talvez tenhamos que interpretá-lo
literalmente. Pode ser que haja algum tipo de
espírito que tentará deter vocês.
Engoli em seco.
- E o que me diz das... serpentes?
- Existem muitas serpentes perigosas na índia: a
naja, o píton, cobras aquáticas, víboras, cobrasreais
e até algumas voadoras.
Nada animador mesmo.
- O que quer dizer com "voadoras"?
- Bem, tecnicamente elas não voam de verdade.
Apenas planam de uma árvore para outra, como
o esquilo-voador.
Afundei no assento e franzi o cenho.
- Que bela variedade de répteis venenosos vocês
têm aqui!
O Sr. Kamal riu.
- É, temos mesmo. Algo com que aprendemos a
conviver. Mas, neste caso, parece que a cobra ou
as cobras serão úteis.
Tornei a ler o verso: Se serpentes encontrarem o
fruto proibido e a fome da Índia satisfizerem... a
fim de não ver todo o seu povo perecer.
- O senhor acha que de alguma forma o que
fizermos pode afetar toda a Índia?
- Não tenho certeza. Espero que não. Apesar de
meus séculos de estudos, sei muito pouco sobre
essa maldição do Amuleto de Damon. Sei que ela
tem grande poder, mas de que maneira poderia
afetar o país, isso eu ainda não compreendi.
Eu estava com uma leve dor de cabeça, por isso
recostei-me no banco e fechei os olhos. E depois
só me lembro de o Sr. Kamal me cutucar para
que eu acordasse.
- Chegamos, Srta. Anahi.
Esfreguei os olhos sonolentos.
- Onde?
- Estamos no lugar em que Poncho queria parar.
- Sr. Kamal, estamos no meio do nada, cercados
pela selva.
- Eu sei. Não tenha medo. Você estará segura.
Poncho irá protegê-la.
O Sr. Kamal pegou minha bolsa e se dirigiu à
minha porta para abri-la.
Saltei do carro e olhei para ele.
- Vou ter que dormir na selva de novo, não é?
Tem certeza de que não posso ir com o senhor
enquanto Poncho resolve a vida dele?
- Lamento, Srta. Anahi, mas desta vez ele vai
precisar da senhorita. É algo que não pode fazer
sem sua ajuda.
- Legal - resmunguei. - E o senhor naturalmente
não pode me dizer do que se trata.
- Não cabe a mim dizer. Essa é uma história para
ele partilhar.
- E quando o senhor vai voltar para nos buscar?
- Vou até a cidade fazer compras. Depois
encontro vocês aqui em três ou quatro dias.
Talvez eu tenha que esperá-los. Pode ser que ele
não encontre o que está procurando nas
primeiras noites.
Suspirei e lancei um olhar zangado para Poncho.
- Mais selva. Muito bem, vamos logo com isso. Por
favor, vá na frente.
O Sr. Kamal me entregou um frasco de repelente
com filtro solar, colocou mais algunas coisas na
minha mochila e me ajudou a colocá-la nos
ombros. Soltei um suspiro profundo enquanto o
via se afastar no Jeep. Então me virei para seguir
Poncho mata adentro.
- Poncho, por que sempre preciso segui-lo para o
meio da mata? Que tal da próxima vez você me
seguir até um belo spa ou quem sabe uma praia?
O que me diz?
Ele fungou e continuou andando.
- Está certo. Mas você me deve uma depois desta.
Caminhamos pelo restante da tarde.
Mais tarde, comecei a ouvir um estrondo à nossa
frente, mas não conseguia identificar o que era.
Quanto mais andávamos, mais alto ele se
tornava. Atravessamos um bosque e chegamos a
uma pequena clareira. Finalmente vi a fonte
daquele som. Era uma linda cachoeira.
Uma série de pedras cinzentas se espalhava
como degraus por um morro alto. A água
espumava e fluía sobre cada pedra, então
despencava e se abria como um leque, caindo em
um amplo lago turquesa lá embaixo. Árvores e
pequenos arbustos com diminutas flores
vermelhas cercavam o lago. Era uma visão
encantadora.
Quando me aproximei de um dos arbustos,
percebi que ele parecia se mover. Dei mais um
passo e centenas de borboletas alçaram voo.
Havia duas variedades: uma era marrom com
listras cor de creme e a outra de um preto
amarronzado com listras e pintas azuis. Eu ri e
rodopiei em meio a uma nuvem de borboletas.
Quando elas tornaram a pousar, várias
descansaram em meus braços e em minha blusa.
Subi em uma pedra que se debruçava sobre a
queda-dagua e examinei uma borboleta
empoleirada no meu dedo. Quando ela voou,
fiquei parada observando a água rolar morro
abaixo. Então ouvi uma voz às minhas costas.
- É lindo, não é? É o meu lugar preferido no
mundo todo.
- É. Nunca vi nada assim.
Poncho veio até mim e passou uma borboleta do
meu braço para o seu dedo.
- Elas são chamadas de borboletas corvos e as
outras são tigres azuis. As tigres azuis são mais
brilhantes e mais fáceis de avistar, então vivem
misturadas às borboletas corvos para se
camuflar.
- Que interessante.
- E as borboletas corvos não são comestíveis. Na
verdade, são venenosas, por isso outras
borboletas tentam imitá-las para enganar os
predadores.
Ele me pegou pela mão e me conduziu por uma
trilha ao lado da cachoeira.
- Vamos acampar aqui. Sente-se. Tenho uma
coisa para lhe falar.
Encontrei um lugar plano e pousei a mochila.
Peguei uma garrafa de água e me acomodei,
encostada em uma pedra.
- Muito bem, pode falar.
Poncho começou a andar de um lado para outro
enquanto falava.
- Estamos aqui porque preciso encontrar meu
irmão.
Engasguei com a água.
- Seu irmão? Achei que estivesse morto. Você não
falou nada sobre ele, exceto que foi amaldiçoado
com você. Quer dizer que ele está vivo? Aqui?
- Para ser sincero, não sei se ainda está vivo.
Presumo que sim, porque eu estou. O Sr. Kamal
acredita que ele se esconde aqui, nesta selva.
Ele se virou e olhou a cachoeira, e então se
sentou ao meu lado, esticando as pernas
compridas e pegando a minha mão. Ficou
brincando com os meus dedos enquanto falava.
- Creio que ainda esteja vivo. É o que sinto. Meu
plano é dar uma busca na área em círculos cada
vez mais amplos. No fim, um de nós vai detectar
o cheiro do outro. Se ele não aparecer ou se eu
não conseguir captar seu cheiro em alguns dias,
vamos voltar, encontrar o Sr. Kamal e continuar
nossa jornada.
- E o que eu vou poder fazer?
- Esperar aqui. Tenho esperanças de que, se ele
não me ouvir, a sua presença possa convencê-lo.
Também espero que...
- Espera que...?
Ele sacudiu a cabeça.
- Não é importante agora. - Ele apertou a minha
mão, distraído, e se pôs de pé. - Vou ajudá-la a
montar acampamento antes de dar início à minha
busca.
Poncho foi procurar madeira para a fogueira
enquanto eu desenrolava uma pequena barraca
para duas pessoas, fácil de montar, presa à parte
externa da mochila. Obrigada, Sr. Kamal! Abri o
zíper da bolsa da barraca e a estendi em um
trecho de chão plano. Depois de alguns minutos,
Poncho veio me ajudar. Ele já tinha acendido a
fogueira e reunido uma pilha de lenha para
mantê-la acesa.
- Você foi rápido - murmurei, com despeito,
enquanto esticava o tecido da barraca com um
gancho.
Sua cabeça surgiu do outro lado e ele sorriu.
- Recebi um treinamento intensivo sobre como
viver ao ar livre.
- Não me diga.
Ele riu.
- Annie, existem muitas coisas que você sabe fazer
e eu não. Como armar esta barraca,
aparentemente.
Eu sorri.
- Puxe o tecido sobre o gancho na estaca.
Terminamos rapidamente e ele bateu as mãos,
limpando-as.
- Não tínhamos barracas como esta há 300 anos.
Usávamos apenas estacas de madeira.
Ele veio até mim, puxou minha trança e beijou
minha testa.
- Mantenha o fogo aceso. Ele afasta os animais
selvagens. Vou circular a área algumas vezes,
mas volto antes de anoitecer.
Poncho partiu para a selva novamente como tigre.
Puxei a trança, fiquei pensando nele por um
minuto e sorri.
Enquanto esperava que ele voltasse, examinei a
mochila para ver o que o Sr. Kamal providenciara
para o nosso jantar. Ah, ele se superou
novamente - frango e arroz desidratados por
congelamento e flan de chocolate de sobremesa.
Despejei um pouco de água da minha garrafa em
uma panelinha e a assentei em uma pedra plana
que eu empurrara até o meio das brasas. Quando
a água borbulhou, usei uma camiseta como
pegador e transferi a água quente para a
embalagem da comida. Esperei vários minutos
até que ela se reconstituísse e então saboreei
minha refeição. Com certeza estava mais gostosa
que o peru de tofu que Sarah prepara no Dia de
Ação de Graças.
O céu começou a escurecer e achei que ficaria
mais segura dentro da barraca, então entrei e
dobrei minha colcha para usá-la como
travesseiro.
Poncho voltou logo depois e o ouvi colocar mais
lenha na fogueira.
- Nenhum sinal dele - disse.
Então voltou à forma de tigre e se acomodou na
abertura da barraca.
Abri o zíper da barraca e perguntei se ele se
importaria se eu usasse suas costas novamente
como travesseiro. Ele se esticou como resposta.
Eu me aproximei, deitei a cabeça em seu pelo
macio e me enrolei com a colcha. Seu peito
ecoava ritmicamente em um ronronar profundo, o
que me ajudou a adormecer.
Poncho não estava lá quando acordei. Só voltou na
hora do almoço, quando eu estava escovando
meu cabelo.
- Aqui, Annie. Trouxe uma coisa para você - disse
ele, despretensioso, e me estendeu três mangas.
- Obrigada. Posso perguntar onde as conseguiu?
- Com macacos.
Interrompi o movimento da escova.
- Com macacos? Como assim?
- Bem, os macacos não gostam de tigres porque
os tigres comem os macacos. Assim, quando um
tigre se aproxima, eles sobem nas árvores e o
atacam com frutas ou fezes. Para minha sorte,
hoje atiraram frutas.
Engoli em seco.
- Você já... comeu um macaco?
Poncho sorriu para mim.
- Bem, um tigre precisa comer.
Tirei um elástico da mochila para prender a
trança.
- Eca. Isso é nojento.
Ele riu.
- Eu não comi nenhum macaco, Annie. Só estou
brincando com você. Os macacos são repulsivos.
Têm gosto de bola de tênis e cheiro de chulé. -
Ele fez uma pausa. - Agora, um belo e suculento
cervo, isso, sim, é delicioso.
Ele estalou os lábios com exagero.
- Não preciso ouvir sobre suas caçadas.
- Ah, não? Eu gosto muito de caçar.
Poncho imobilizou-se. Quase imperceptivelmente, ele
baixou o corpo devagar, até ficar agachado,
equilibrando-se na ponta dos pés. Então pousou a
mão na grama à sua frente e começou a se
aproximar de mim, se arrastando. Ele estava me
rastreando, me caçando. Seus olhos se fixaram
nos meus. Ele se preparava para saltar. Seus
lábios estavam repuxados em um sorriso largo
que deixava à mostra os dentes brancos e
brilhantes. Ele parecia... selvagem.
Então ele falou, com uma voz sedosa e hipnótica:
- Quando você está à espreita de uma presa, tem
que ficar imóvel e se esconder, permanecendo
assim por muito tempo. Se você falhar, a presa
escapa.
Ele cobriu a distância que nos separava num
piscar de olhos.
Embora eu o observasse atentamente, me
assustei com a rapidez com que podia se mover.
Uma veia começou a latejar em meu pescoço,
que era onde seus lábios agora pairavam, como
se ele estivesse buscando minha jugular.
Ele jogou meu cabelo para trás e se dirigiu à
minha orelha, sussurrando:
- E você fica... com fome.
Suas palavras soaram abafadas. Seu hálito
quente fazia cócegas na minha orelha e disparou
um arrepio por todo o meu corpo.
Virei ligeiramente a cabeça para olhar para ele.
Seus olhos haviam mudado. Estavam mais azuis
do que o normal e estudavam o meu rosto. Sua
mão permanecia no meu cabelo e os olhos se
dirigiram à minha boca. De repente, tive a
impressão de que era essa a sensação que um
cervo experimentava.
Poncho estava me deixando nervosa. Pisquei e
engoli em seco. Seus olhos voltaram aos meus.
Deve ter percebido minha apreensão, pois sua
expressão mudou. Ele soltou meu cabelo e
relaxou a postura.
- Desculpe se a assustei, Anahi. Não vai mais
acontecer.
Quando ele recuou um passo, eu voltei a respirar.
- Não quero ouvir mais nada sobre caçadas -
declarei, trêmula. - Isso me assusta. O mínimo
que você pode fazer é não me falar nada a
respeito. Principalmente quando tenho que ficar
com você aqui ao ar livre, está bem?
Ele riu.
- Anahi, todos nós temos algumas tendências
animais. Eu adorava caçar, mesmo quando era
jovem.
Estremeci.
- Ótimo. Mas guarde suas tendências animais
para si mesmo.
Ele se inclinou na minha direção outra vez e
puxou um fio do meu cabelo.
- Ora, Annie, você parece gostar de algumas de
minhas tendências animais.
Ele começou a emitir um ronco no peito e percebi
que ele estava ronronando.
- Pare com isso! - reclamei.
Ele riu, foi até a mochila e apanhou uma das
frutas.
- Então, você quer essas mangas ou não? Vou
lavar para você.
- Bem, considerando que você as carregou na
boca essa distância toda só para mim e levandose
em conta a origem das frutas... sinceramente,
não.
Seus ombros murcharam.
- Não está desidratada - disse ele.
- Está bem. Vou experimentar.
Ele lavou uma das frutas, descascou-a com uma
faca apanhada na mochila e a fatiou para mim.
Nós nos sentamos lado a lado e saboreamos a
manga. Era suculenta e deliciosa, mas eu não
daria a ele a satisfação de saber que eu estava
gostando tanto.
- Poncho?
Lambi o sumo dos dedos e peguei outro pedaço.
- Diga.
- É seguro nadar perto da cachoeira?
- Claro. Este lugar era muito especial para mim.
Eu sempre vinha aqui para fugir às pressões da
vida no palácio e poder ficar sozinho e pensar.
Ele olhou para mim.
- Na verdade, você é a primeira pessoa a quem
mostrei este lugar, sem contar minha família e o
Sr. Kamal, é claro.
Olhei para a linda queda-d’água e comecei a falar
baixinho:
- Existem muitas cachoeiras no Oregon. Acho que
conheci quase todas. Minha família costumava
fazer piqueniques à margem delas. Lembro-me
de uma vez em que fiquei observando uma delas
bem de perto com meu pai enquanto a nuvem de
borrifos ia aos poucos nos encharcando.
- Alguma delas se parecia com esta?
Sorri.
- Não. Esta é única. Na verdade, minha época
favorita para admirá-las era o inverno.
- Nunca vi uma queda-d’água no inverno.
- É lindo. A água congela quando cai pelas
montanhas íngremes. As pedras lisas em torno
das cataratas se tornam escorregadias com o
gelo e, à medida que mais água flui sobre elas,
pingentes de gelo começam a crescer. As pontas
congeladas aos poucos se avolumam e se
alongam ao se arrastarem morro abaixo,
avançando até tocarem a água abaixo, formando
cordas longas, grossas e retorcidas. A água que
ainda corre flui gotejando sobre os pingentes de
gelo e recobrindo-os de camadas brilhantes. No
Oregon, as colinas em torno das cachoeiras são
exuberantes, cobertas por árvores perenes, e às
vezes ficam com o cume coberto de neve.
Ele não fez comentários.
- Poncho?
Virei-me para ver se ele ainda estava prestando
atenção e o surpreendi me estudando
atentamente.
Um sorriso lento e preguiçoso iluminou o seu
rosto.
- Parece muito bonito.
Corei e desviei o olhar.
Ele pigarreou deliberadamente.
- Parece incrível, mas frio. A água aqui não
congela. - Ele pegou minha mão e entrelaçou
nossos dedos. - Anahi, lamento que seus pais
tenham partido.
- Eu também. Obrigada por dividir sua cachoeira
comigo. Meus pais teriam adorado este lugar. -
Sorri para ele e então fiz um movimento com a
cabeça na direção da selva. - Se você não se
importa, eu gostaria de um pouco de privacidade
para vestir meu maiô.
Ele se pôs de pé e fez uma mesura dramática.
- Que nunca se diga que o príncipe Alagan Dhiren
Rajaram negou o pedido de uma linda dama.
Ele lavou as mãos pegajosas no lago,
transformou-se em tigre e desapareceu selva
adentro.
Dei algum tempo para que Poncho se afastasse,
vesti o maiô e mergulhei na água.
Era cristalina e rapidamente refrescou minha pele
quente e suada. Estava deliciosa. Depois de
nadar e explorar o lago, fui até a cachoeira e
encontrei uma pedra para me sentar sob os
borrifos. Deixei a água cair sobre meu corpo em
jatos gelados. Depois, corri para o lado
ensolarado da pedra e dobrei as pernas, tirandoas
da água.
Sentia-me uma sereia inspecionando seus
pacíficos domínios. Tudo era tranquilo e
agradável. Com a água azul, as árvores verdes e
as borboletas voejando aqui e ali, parecia uma
cena saída de Sonho de uma noite de verão. Eu
podia até imaginar as fadas voando de flor em
flor.
De repente, Poncho surgiu galopando do meio da
selva e deu um salto no ar. Os mais de 200 quilos
de seu corpo branco de tigre aterrissaram
ruidosamente no meio do lago, propagando
ondas que vieram bater na minha pedra.
- Ué - falei quando ele emergiu -, pensei que os
tigres detestassem a água.
Ele veio até onde eu estava e ficou nadando em
círculos, me mostrando que os tigres sabiam
nadar. Mergulhando a cabeçorra sob a quedad‘
água, ele passou por trás dela e veio até a
minha pedra. Erguendo-se atrás de mim, sacudiu
violentamente o pêlo, feito um cachorro. A água
espirrou em todas as direções, inclusive em mim.
- Ei, eu estava me secando!
Deslizei de volta para a água e nadei para o
centro do lago. Ele também tornou a mergulhar e
ficou dando voltas em torno de mim enquanto eu
jogava água nele, rindo. Depois submergiu e ficou
muito tempo debaixo da água. Por fim, emergiu,
pulou em cima de uma pedra e saltou no ar,
caindo de barriga na água, bem ao meu lado.
Brincamos até ficarmos cansados. Então nadei de
volta à cachoeira e fiquei parada sob a torrente
com os braços erguidos, deixando a água cair à
minha volta.
Até que ouvi um estrondo e um baque vindos de
cima. Algumas pedras despencaram com uma
pancada na água ao meu lado. Quando eu saía
apressada da cachoeira, uma pedra me atingiu
na parte posterior da cabeça. Minhas pálpebras
tremularam e se fecharam enquanto meu corpo
desabava na água fria.



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Autor(a): ju10linha

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- Anahi! Anahi! Abra os olhos!Alguém me sacudia. Com força. Tudo o que euqueria era resvalar de volta ao sono negro edespreocupado, mas a voz soava desesperada,insistente.- Anahi, me escute! Abra os olhos, por favor!Tentei abrir os olhos, mas doía. A luz do solpiorava o doloroso latejar na minha cabeça. Quedor horrível! Minha mente come&cce ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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