Fanfics Brasil - O Sonho da Anahi A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: O Sonho da Anahi

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julyanniaya: acho que nao vai demora muito nao



Tive outros sonhos perturbadores. Sozinha e
perdida, eu corria na escuridão. Não conseguia
encontrar Poncho e alguma coisa maligna me
perseguia. Eu precisava fugir. Dedos estranhos e
ávidos tentavam puxar minha roupa e meus
cabelos. Eles arranhavam minha pele e tentavam
me arrastar e me tirar do caminho. Eu sabia que,
se conseguissem, iriam me capturar e me
destruir.
Dobrei uma esquina, entrei em um salão e vi um
homem sombrio e de aspecto malévolo, vestido
com uma luxuosa túnica ametista. Ele se debruçava
sobre um sujeito amarrado a uma grande
mesa. De um canto escuro, vi quando ele ergueu
no ar uma faca curva e afiada, entoando baixinho
um cântico em uma língua que eu não
compreendia.
De alguma forma eu sabia que tinha que salvar o
prisioneiro. Lancei-me contra o homem com a
faca e puxei seu braço, tentando arrancá-la dele.
Minha mão começou a queimar, brilhando
vermelha, e centelhas crepitaram.
- Não, Anahi! Pare!
Olhei para a mesa e arquejei. Era Poncho! Seu corpo
estava dilacerado e ensanguentado, e as mãos
encontravam-se presas acima da cabeça.
- Annie... saia daqui! Estou fazendo isso para que
ele não possa encontrá-la.
- Não! Não vou deixar você fazer isso, Poncho.
Transforme-se em tigre. Fuja!
Ele sacudiu a cabeça freneticamente e disse em
voz alta:
- Durga! Eu aceito! Faça-o agora!
- O quê? O que você precisa que Durga faça? -
perguntei.
O homem recomeçou a entoar o cântico, dessa
vez em voz alta, e, apesar de meus fracos
esforços para detê-lo, ergueu a lâmina e a cravou
no coração de Poncho. Eu gritei. Meu coração batia
no mesmo ritmo dilacerado do dele. A cada
batimento, sua força diminuía, até que falhou e
finalmente parou.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto. Senti uma dor
terrível e lancinante. Eu via o sangue de Poncho
escorrer pela mesa e empoçar no piso de
ladrilhos. Desabei de quatro no chão, sufocada
por minhas emoções.
A morte de Poncho era insuportável. Se ele estava
morto, então eu também estava. Eu me afogava
na dor, não conseguia respirar. Não me restava
nenhuma vontade para me impelir. Não havia
nenhum incentivo, nenhuma voz me instando a
lutar, a nadar até a superfície, a me erguer acima
da dor. Nada podia me fazer respirar ou voltar a
viver.
A sala desapareceu e eu me vi envolta na
escuridão mais uma vez. O sonho havia mudado.
Eu usava um vestido dourado e jóias. Sentada em
uma linda cadeira sobre um tablado alto, baixei
os olhos e vi Poncho de pé diante de mim. Sorri para
ele e estendi a mão, mas foi Felipe quem a
segurou ao se sentar ao meu lado.
Olhei para Felipe, confusa. Ele dirigia um sorriso
presunçoso para Poncho. Quando me virei
novamente para Poncho, sua raiva o consumia e ele
me fuzilou com olhos de ódio e desprezo.
Lutei para libertar minha mão da de Felipe, mas
ele não me soltava. Antes que eu conseguisse,
Poncho se transformou em tigre e correu para a
selva. Gritei, chamando por ele, mas não me
ouviu. Ele não queria me ouvir.
O vento açoitava o cortinado de cor creme e
nuvens de tempestade se aglomeravam,
escurecendo o céu. Relâmpagos caíam em vários
pontos. Ouvi um rugido poderoso ecoar pela
paisagem. Era o impulso de que eu precisava.
Arranquei minha mão da de Felipe e corri para a
tempestade.
A chuva começou a castigar o chão, tornando
meu avanço mais lento enquanto eu procurava
Poncho. Minhas lindas sandálias douradas foram
arrancadas, presas na lama espessa criada pelo
aguaceiro. Eu não conseguia encontrá-lo em
lugar nenhum. Tirei os cabelos encharcados dos
olhos e gritei:
- Poncho! Poncho! Onde você está?
Um raio atingiu uma árvore próxima com um
poderoso estrondo. Fragmentos da casca do
tronco dispararam em todas as direções quando
a árvore se quebrou, e o tronco se retorceu e se
despedaçou. Quando desabou, os galhos me
prenderam ao chão.
- Poncho!
A água enlameada foi se juntando debaixo de
mim. Fui me contorcendo e contraindo meu corpo
machucado e dolorido até conseguir escorregar
sob a árvore. O vestido dourado estava rasgado e
minha pele, coberta de arranhões
ensanguentados.
- Poncho! - gritei mais uma vez. - Por favor, volte!
Preciso de você!
Eu estava tremendo de frio, mas continuei
correndo no meio da selva, tropeçando em raízes
e atirando para o lado a vegetação rasteira cinza
e espinhenta. Gritando enquanto corria, eu
avançava por um caminho sinuoso entre as
árvores, à procura dele.
- Poncho, por favor, não me deixe! - eu suplicava,
desesperada.
Finalmente avistei uma silhueta branca correndo
em meio às árvores e redobrei meus esforços
para alcançá-lo. Meu vestido se prendeu em um
arbusto cheio de espinhos, mas eu o atravessei
ferozmente, determinada a chegar até ele. Eu
seguia a trilha de raios que caíam na selva ali
perto.
Não sentia medo dos raios, embora eles caíssem
tão perto que eu podia sentir o cheiro da madeira
queimada. Os raios me levaram a Poncho. Eu o
encontrei caído no chão. Grandes marcas de
queimaduras chamuscavam seu pelo branco
onde os raios o haviam atingido repetidamente.
De alguma forma, eu sabia que eu fizera aquilo.
Eu era a responsável por sua dor.
Acariciei-lhe a cabeça e o pelo macio e sedoso do
pescoço e gritei:
- Poncho, eu não queria que fosse assim. Como isso
pôde acontecer?
Ele assumiu a forma humana e sussurrou:
- Você perdeu a fé em mim, Anahi.
Sacudi a cabeça, negando. As lágrimas escorriam
pelo meu rosto.
- Não. Não perdi. Jamais!
Ele não conseguia me olhar nos olhos.
- Iadala, você me deixou.
Abracei-o em desespero.
- Não, Poncho! Eu nunca vou deixá-lo.
- Mas deixou. Você foi embora. Era muito pedir
que me esperasse? Que acreditasse em mim?
Solucei, desesperada.
- Mas eu não sabia. Eu não sabia.
- Agora é tarde demais, priyatama. Dessa vez, sou
eu quem vai deixá-la.
Então fechou os olhos e morreu.
Sacudi seu corpo flácido.
- Não. Não! Poncho, volte! Por favor, volte!
As lágrimas se misturavam com a chuva e
borravam minha visão. Furiosa, enxuguei-as e,
quando tornei a abrir os olhos, vi não só Poncho
como também meus pais, minha avó e o Sr.
Kamal. Estavam todos caídos no chão, mortos.
Eu estava sozinha e cercada pela morte.
Chorando, eu gritava sem parar:
- Não! Não pode ser! Não pode ser!
Uma angústia incontrolável penetrava o meu
corpo. Eu me sentia tão desesperada, tão
sozinha! Agarrei-me a Poncho e fiquei embalando
seu corpo para a frente e para trás,
inconscientemente tentando me confortar. Mas
não encontrei nenhum alívio.
De repente, já não estava sozinha. Percebi que
não era eu quem embalava Poncho, mas outra
pessoa me embalava e me abraçava. Despertei o
suficiente para saber que estivera dormindo, mas
a dor do sonho ainda me envolvia.
Meu rosto estava molhado com lágrimas de
verdade e a tempestade também fora real. O
vento aumentou de intensidade entre as árvores
lá fora, fazendo a chuva inclemente bater na
lona. Um raio atingiu uma árvore próxima e
iluminou brevemente a barraca. No lampejo,
distingui o cabelo escuro molhado, a pele
dourada e uma camisa branca.
- Poncho?
Senti seus polegares enxugando as lágrimas do
meu rosto.
- Shh, Anahi. Eu estou aqui. Não vou deixá-la,
priya. Mein yaha hoon.
Com grande alívio e um soluço, estendi os braços
e envolvi o pescoço de Poncho. Ele deslizou o corpo
mais para dentro da barraca, saindo da chuva,
me puxou para o seu colo e me apertou mais em
seus braços. Acariciou meu cabelo e sussurrou:
- Quietinha agora. Mein aapka raksha karunga. Eu
estou aqui. Não vou deixar nada acontecer com
você, priyatama.
Ele continuou a me acalmar com palavras de sua
língua nativa até eu sentir que o sonho
desvanecia. Após alguns minutos, estava
suficientemente recuperada para me afastar, mas
fiz a escolha consciente de ficar onde estava. Eu
gostava da sensação de seus braços à minha
volta.
O sonho me fez tomar consciência de como me
sentia sozinha. Desde a morte de meus pais,
ninguém havia me abraçado dessa forma. É claro
que eu abraçava meus pais adotivos e seus
filhos, mas nenhum deles conseguira atravessar
minhas defesas. Eu não deixava alguém extrair
de mim emoções tão profundas fazia muito
tempo.
Foi nesse momento que eu soube que Poncho me
amava.
Senti meu coração se abrir para ele. Eu já amava
e confiava na sua parte tigre. Isso era fácil. Mas
reconhecia agora que o homem precisava ainda
mais desse amor. Para Poncho, era algo que não
experimentava havia séculos - se é que algum
dia o experimentou. Assim, eu o abracei com
força e não o larguei até que soube que seu
tempo havia acabado.
- Obrigada por estar aqui - sussurrei em seu
ouvido. - Fico feliz por você fazer parte da minha
vida. Por favor, fique na barraca comigo. Não há
razão para você dormir lá fora na chuva.
Beijei seu rosto e tornei a me deitar, cobrindo-me
com a colcha. Poncho se transformou em tigre e
deitou-se ao meu lado. Eu me aconcheguei em
suas costas e mergulhei em um sono tranquilo e
sem sonhos, apesar da tempestade rugindo lá
fora.
No dia seguinte acordei, me espreguicei e saí da
barraca. O sol havia evaporado a água da chuva
e transformado a selva molhada em uma sauna a
vapor. Galhos e folhas arrancados pela
tempestade se espalhavam pelo chão do
acampamento. Um fosso encharcado de água
cinzenta, cercado por pedaços de madeira
enegrecida e carbonizada, era tudo o que restava
de nossa fogueira.
A cachoeira despencava com mais velocidade
que o normal, empurrando destroços para o lago
agora lamacento.
- Nada de banho hoje - falei, cumprimentando
Poncho, que havia assumido sua forma humana.
- Não tem importância. Vamos ao encontro do Sr.
Kamal. É hora de retomar nossa jornada -
replicou ele.
- Mas e quanto a Felipe? Você não conseguiu
convencê-lo a vir conosco?
- Felipe deixou clara sua posição. Quer ficar aqui,
e eu não vou implorar a ele. Quando toma uma
decisão, raramente muda de idéia.
- Mas, Poncho...
- Está decidido.
Ele se aproximou de mim e puxou minha trança.
Então sorriu e me deu um beijo na testa. O que
acontecera entre nós durante a tempestade havia
consertado nossa ruptura emocional e eu estava
feliz por ele ter voltado a ser meu amigo.
- Venha, Annie. Vamos arrumar tudo.
Só levei alguns minutos para desmontar a
barraca e guardar as coisas na mochila. Estava
aliviada por voltar para junto do Sr. Kamal e da
civilização, mas não me agradava deixar Felipe
daquele jeito. Eu nem tivera a chance de me
despedir.
Na saída, passei pelos arbustos floridos e fiz as
borboletas levantarem voo novamente. Não havia
tantas quanto no dia em que chegamos. Elas se
agarravam às folhas encharcadas e batiam as
asas lentamente ao sol, secando-as. Algumas
alçaram vôo para o céu e Poncho esperou
pacientemente enquanto eu as observava.
Suspirei quando tomamos a trilha de volta para a
estrada onde o Sr. Kamal estava acampado.
Embora eu detestasse longas caminhadas e
acampamentos, aquele lugar era especial.
Meu tigre ia à frente, como sempre, e eu o
seguia, tentando evitar suas pegadas lamacentas
e caminhar em terreno mais seco. Para passar o
tempo, mencionei a Poncho a conversa com Felipe
sobre a vida no palácio e disse que ele carregara
uma sacola cheia de comida na boca para que eu
não morresse de fome.
Algumas coisas, porém, não dividi com Poncho,
especialmente o que Felipe me contara sobre
Clara. Eu não queria que Poncho ficasse pensando
nela, mas também sentia que era Felipe quem
precisava conversar sobre o assunto com Poncho.
Em vez disso, tagarelei sobre ter ficado entediada
na selva e haver assistido à caçada.
De repente, Poncho se transformou em homem,
agarrou meus braços e explodiu:
- Você viu o quê?
Confusa, repeti:
- Vi a... a caçada. Pensei que você soubesse.
Felipe não lhe falou?
Rangendo os dentes, ele disse:
- Não, não falou!
Desviei-me dele e subi em uma série de pedras.
- Ah. Mas não importa. Eu estou bem. Consegui
voltar.
Poncho agarrou meu cotovelo e me colocou no chão
à sua frente.
- Anahi, você está me dizendo que não só
assistiu à caçada como também voltou para o
acampamento sozinha?
Poncho estava mais do que furioso.
- Foi - falei, com voz esganiçada.
- A próxima vez que vir Felipe, eu vou matá-lo. -
Ele apontou o dedo para o meu rosto. - Você
poderia ter sido atacada! Não posso nem citar
todas as criaturas perigosas que vivem na selva.
Você nunca mais vai sair do meu lado!
Ele segurou minha mão e me puxou pela trilha.
Eu podia sentir a tensão irradiando de seu corpo.
- Poncho, eu não entendo. Você e Felipe não
conversaram depois de sua... refeição?
- Não - resmungou ele. - Cada um foi para o seu
lado. Voltei direto para o acampamento. Felipe
ficou perto da... comida um pouco mais. Não
devo ter sentido seu cheiro por causa da chuva.
- Felipe ainda deve estar me procurando. Talvez
devêssemos voltar.
- Não. Seria bem feito para ele. - Poncho riu
acintosamente. - Sem um cheiro para rastrear, é
provável que ele leve dias até descobrir que
partimos.
- Poncho, você devia voltar lá e dizer a ele que
estamos indo embora. Ele o ajudou na caçada. É
o mínimo que podia fazer.
- Anahi, nós não vamos voltar. Ele é um tigre
adulto e pode tomar conta de si mesmo. Além
disso, eu estava me virando bem sem ele.
- Não, não estava. Eu vi a caçada, lembra? Ele o
ajudou a abater o antílope. Felipe disse que você
não caçava havia mais de 300 anos. Por isso
fomos atrás de você. Ele disse que sabia que
precisaria da ajuda dele.
Poncho franziu a testa, mas não disse nada.
Parei e coloquei a mão em seu braço.
- Não é sinal de fraqueza precisar de ajuda às
vezes.
Ele resmungou, dispensando meu comentário,
mas prendeu minha mão em seu braço e
recomeçou a andar.
- Poncho, o que exatamente aconteceu com você há
300 anos?
Ainda carrancudo, ele não respondeu. Eu o
cutuquei com o cotovelo e sorri, encorajando-o. A
carranca lentamente desapareceu de seu lindo
rosto e a tensão foi deixando seus ombros. Ele
suspirou, correu a mão pelos cabelos e explicou:
- E muito mais fácil para um tigre negro caçar do
que para um tigre branco. Eu não me misturo à
vegetação na selva. Quando ficava com muita
fome e frustrado com a dificuldade de caçar
animais selvagens, às vezes me aventurava em
um vilarejo e roubava uma cabra ou uma ovelha.
Eu tomava cuidado, mas logo se espalharam os
rumores de que havia um tigre branco na região.
Não só os fazendeiros queriam me afugentar dali
como também havia caçadores de grandes
animais selvagens que buscavam a emoção de
capturar um animal exótico.
- Nossa, você correu muito perigo! - observei.
- Eles espalharam armadilhas para mim por toda
a selva e muitas criaturas inocentes foram
mortas. Sempre que eu encontrava uma, eu a
desarmava. Um dia, cometi um erro idiota. Havia
duas armadilhas bem perto uma da outra, mas eu
me concentrei na óbvia, que era do tipo padrão:
um pedaço de carne pendurado sobre um buraco.
Eu estava estudando o buraco, tentando
calcular uma forma de pegar a carne, e tropecei
em um arame oculto, disparando uma chuva de
espigões e flechas que desabou sobre mim vinda
do topo da árvore. Saltei para o lado para me
esquivar a uma lança, mas a terra sob meus pés
cedeu e eu caí no buraco.
- Alguma das setas atingiu você? - perguntei,
ansiosa.
- Sim. Várias me arranharam, mas eu sarei rápido.
Felizmente, o buraco não tinha estacas de
bambu, mas era benfeito e fundo o bastante para
que eu não conseguisse sair.
- O que fizeram com você?
- Depois de alguns dias, os caçadores me
encontraram. E me venderam para um
colecionador de animais selvagens. Quando me
mostrei difícil, ele me vendeu para outro, que me
vendeu para um terceiro, e assim por diante. Por
fim, acabei em um circo na Rússia e desde então
fui passando de circo em circo. Sempre que as
pessoas suspeitavam da minha idade ou me
machucavam, eu causava problemas suficientes
para provocar uma venda rápida.
Era uma história terrível, de partir o coração. Eu
me afastei dele e, quando tornei a me aproximar,
ele entrelaçou os dedos nos meus e continuou a
caminhar.
- Por que o Sr. Kamal não o comprou e o levou
para casa? - indaguei.
- Ele não podia. Alguma coisa sempre surgia para
evitar que isso acontecesse. Todas as vezes que
ele tentava me comprar do circo onde eu estava,
os proprietários se recusavam a vender por
qualquer que fosse o valor oferecido. Uma vez ele
mandou outras pessoas me comprarem e isso
também não funcionou. O Sr. Kamal chegou a
contratar gente para me roubar, mas os homens
foram capturados. A maldição era quem dava as
cartas, não nós. Quanto mais ele tentava
interferir, pior ficava minha situação. Acabamos
descobrindo que o Sr. Kamal podia pôr no meu
caminho compradores em potencial com um
interesse genuíno. Ele conseguia induzir pessoas
boas a me comprar, mas somente se não tivesse
a intenção de ele mesmo ficar comigo.
Eu ouvia atenta cada palavra de sua história. E o
encorajava a continuar, balançando a cabeça.
- O Sr. Kamal cuidava para que eu me mudasse
com frequência suficiente, de modo que as
pessoas não percebessem a minha idade -
prosseguiu. - Ele me visitava de tempos em
tempos para que eu soubesse como entrar em
contato com ele, mas não havia nada que
pudesse de fato fazer. No entanto, nunca deixou
de tentar descobrir uma maneira de quebrar a
maldição. Dedicava todo o seu tempo a pesquisar
soluções. Suas visitas significavam tudo para
mim. Acho que teria perdido minha humanidade
sem ele.
Poncho deu um tapa em um mosquito atrás de seu
pescoço e refletiu:
- Assim que fui capturado, pensei que seria fácil
escapar. Eu simplesmente esperaria que a noite
caísse e abriria o trinco da jaula. Mas, assim que
me tornei cativo, fiquei permanentemente preso
à forma de tigre. Não conseguia mais me
transformar em homem... até que você apareceu.
Ele segurou um galho para que eu pudesse
passar por baixo e eu perguntei:
- Como foi passar todos esses anos no circo?
Tropecei em uma pedra e Poncho estendeu os
braços para me equilibrar. Quando me firmei
novamente, ele soltou minha cintura e me
ofereceu a mão outra vez.
- Entediante, na maior parte do tempo. Às vezes
os proprietários eram cruéis e eu era chicoteado,
espancado e espetado. Tive sorte, porém, porque
sarava depressa e era esperto o bastante para
fazer os truques que outros tigres se recusavam a
fazer. Um tigre naturalmente não quer saltar por
uma argola em chamas ou ter a cabeça de um
homem em sua boca. Tigres odeiam o fogo, por
isso devem ser ensinados a temer o domador
mais do que as chamas.
- Parece horrível!
- Os circos daquela época eram mesmo horríveis.
Os animais eram colocados em jaulas pequenas
demais. Relações familiares naturais se rompiam
e os bebês eram vendidos. Nos primeiros tempos,
a comida era ruim, as jaulas ficavam imundas e
os animais eram machucados, levados de cidade
em cidade e deixados ao ar livre em lugares e
climas aos quais não estavam acostumados. Não
viviam muito.
Pensativo, ele prosseguiu:
- Hoje existem mais estudos e esforços para
prolongar a vida dos animais e melhorá-la. Viver
enjaulado me fez pensar por muito tempo em
minhas relações com outras criaturas,
especialmente elefantes e cavalos. Meu pai tinha
milhares de elefantes que foram treinados para a
batalha ou para levantar objetos pesados e no
passado tive um garanhão que eu adorava
cavalgar. Preso em minha jaula dia após dia, eu
me perguntava se ele sentia o mesmo que eu.
Imaginava-o em sua baia, entediado, esperando
que eu aparecesse para soltá-lo.
Poncho apertou a minha mão e se transformou
novamente em tigre.
Eu me perdi em meus pensamentos. Como devia
ter sido difícil viver enjaulado. Poncho precisou
suportar séculos nessa condição. Estremeci e
continuei andando atrás dele.
Depois de passada mais de uma hora, tornei a
falar:
- Poncho? Tem uma coisa que não compreendo. Onde
estava Felipe? Por que ele não o ajudou a
escapar?
Poncho saltou sobre um enorme tronco caído. No
meio do salto, ele se transformou em pleno ar,
caindo no chão do outro lado, silenciosamente,
sobre dois pés. Estendi a mão para que ele me
ajudasse a me firmar quando eu começava a
transpor o tronco.
- Naquela época, Felipe e eu tentávamos evitar
um ao outro o máximo possível. Ele não sabia o
que ocorrera até Kamal encontrá-lo. Quando eles
entenderam o que tinha acontecido, era tarde
demais para fazer qualquer coisa. Kamal havia
tentado, sem sucesso, me libertar, então
persuadiu Felipe a se manter escondido
enquanto procurava descobrir o que fazer. Como
eu disse, ele tentou me libertar me comprando e
contratando ladrões durante séculos. Nada
funcionou até você aparecer. Por alguma razão,
depois que você desejou que eu vivesse em
liberdade, eu pude ligar para ele.
Poncho riu.
- Quando me transformei em homem de novo
pela primeira vez depois de séculos, pedi a Matt
que fizesse uma ligação a cobrar para mim. Disse
a ele que eu fora assaltado e que precisava
entrar em contato com meu patrão. Ele me
explicou como funcionava o telefone e o Sr.
Kamal chegou pouco depois.
Poncho tornou a se transformar em tigre e
prosseguimos. Ele caminhava ao meu lado e eu
mantinha a mão em seu cangote.
Depois de andar por várias horas, Poncho parou de
repente e farejou o ar. Sentou-se e se pôs a olhar
para a selva. Fiquei alerta quando alguma coisa
sacudiu os arbustos. Primeiro surgiu um focinho
preto em meio à vegetação rasteira, seguido pelo
restante do tigre negro.
Eu sorri, feliz.
- Felipe! Você mudou de idéia. Está vindo
conosco? Fico tão feliz!
Felipe se aproximou de mim e estendeu uma
pata que se transformou em mão.
- Olá, Anahi. Não, não mudei de idéia. Mas fico
feliz de encontrá-la em segurança.
Felipe lançou um olhar malévolo a Poncho, que não
perdeu tempo em assumir a forma humana
também.
Poncho empurrou o ombro de Felipe e gritou:
- Por que você não me disse que ela estava lá?
Ela viu a caçada, e você a deixou sozinha e
desprotegida!
Felipe reagiu, empurrando o peito de Poncho.
- Você foi embora antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa. Se isso faz você se sentir melhor,
passei a noite toda procurando por ela. Vocês
arrumaram tudo e partiram sem me dizer nada.
Eu me pus entre eles e pedi:
- Por favor, açalmem-se. Poncho, eu concordei com
Felipe que acompanhá-lo seria mais prudente e
ele cuidou bem de mim. Fui eu quem resolvi assistir
à caçada e fui eu quem escolhi voltar para o
acampamento sozinha. Portanto, se você vai ficar
com raiva de alguém, fique com raiva de mim.
Virei-me para Felipe.
- Sinto muito ter feito você me procurar a noite
toda no meio de uma tempestade. Não me dei
conta de que ia chover ou de que isso fosse
apagar o meu rastro. Peço desculpas.
Felipe sorriu e beijou minha mão, enquanto Poncho
grunhia, ameaçador.
- Desculpas aceitas. Então, o que achou?
- Da chuva ou da caçada?
- Da caçada, é claro.
- Ah, foi...
- Ela teve pesadelos - Poncho disse ao irmão com
aspereza.
Fiz uma careta e concordei com um movimento
da cabeça.
- Bom, pelo menos meu irmão está bem
alimentado. Provavelmente semanas se
passariam antes que ele matasse uma presa
sozinho.
- Eu estava indo muito bem sem você!
Felipe sorriu, com deboche.
- Não, você não ia conseguir pegar nem uma
tartaruga manca sem mim.
Ouvi o soco antes de vê-lo. Foi uma pancada
forte, do tipo que eu pensava que só acontecesse
no cinema. Poncho me conduzira habilmente para o
lado e então socara o irmão.
Felipe se afastou, esfregando o maxilar, mas
encarou Poncho com um sorriso.
- Tente de novo, irmão.
Poncho ficou carrancudo, mas não disse nada. Ele
simplesmente pegou a minha mão e começou a
andar com passos rápidos, me puxando com ele
através da selva. Eu tinha quase que correr para
acompanhá-lo.
O tigre negro passou zunindo por nós e com um
salto se interpôs em nosso caminho. Felipe
mudou novamente para a forma humana e disse:
- Esperem. Tenho uma coisa para dizer a Anahi.
Poncho franziu a testa, mas eu pus a mão em seu
peito.
- Poncho, por favor.
Ele correu o olhar do irmão para mim e sua
expressão se suavizou. Então soltou minha mão,
tocou meu rosto brevemente e se afastou alguns
passos enquanto Felipe se aproximava.
- Anahi, quero que fique com isto - anunciou
Felipe, levando as mãos ao pescoço para retirar
uma corrente oculta sob a camisa preta. Depois
de a colocar em torno do meu pescoço e prender
o fecho, ele disse: - Acho que você sabe que este
amuleto irá protegê-la da mesma forma que o de
Poncho protege Kamal.
Manuseei a corrente e puxei o pendente
quebrado para olhá-lo mais de perto.
- Felipe, tem certeza de que quer que eu o use?
Ele sorriu jovialmente.
- Meu encanto, seu entusiasmo é contagiante. Um
homem não pode estar perto de você e
permanecer indiferente à sua causa. E, embora
eu vá continuar na selva, esta será minha
pequena contribuição para seus esforços.
Sua expressão ficou séria.
- Quero que se cuide, Anahi. Tudo o que sabemos
com certeza é que o amuleto tem o poder de dar
uma vida longa a seu portador. Mas isso não
significa que você não possa ser ferida ou mesmo
morta. Fique atenta.
Ele segurou meu queixo e eu fitei seus olhos
dourados.
- Não quero que nada lhe aconteça, bilauta.
- Vou tomar cuidado. Obrigada, Felipe.
Felipe fitou Poncho, que inclinou a cabeça em
discreto consentimento, e então voltou o olhar
para mim, sorriu e disse:
- Vou sentir sua falta, Anahi. Venha me visitar.
Eu o abracei brevemente e lhe ofereci o rosto
para um beijo. No último segundo, Felipe desviou
o rosto e me deu um rápido selinho.
- Seu trapaceiro! - exclamei, surpresa.
Então ri e lhe dei um soco de leve no braço.
Ele apenas sorriu e piscou para mim.
Poncho cerrou os punhos e uma expressão sombria
tomou conta de seu lindo rosto. Felipe, porém, o
ignorou e disparou em direção à selva. Sua risada
ecoou em meio às árvores e tornou-se um rugido
rouco quando ele se transformou no tigre negro.
Poncho veio até mim, pegou o pendente e o
esfregou, pensativo, entre os dedos. Pus a mão
em seu braço, temendo que ele ainda pudesse
estar zangado por causa de Felipe. Ele deu um
leve puxão em minha trança, sorriu e pousou um
beijo afetuoso em minha testa.
Transformando-se novamente no tigre branco,
ele me conduziu pela selva por mais meia hora
até que, com alívio, vi que finalmente havíamos
chegado à rodovia.
Depois de esperarmos ali até não haver mais
trânsito, atravessamos correndo para o outro
lado e desaparecemos em meio à vegetação.
Seguimos o faro de Poncho por mais uma pequena
distância e por fim encontramos uma barraca de
estilo militar. Corri para abraçar o homem que
saiu de dentro dela.
- Sr. Kamal! Como estou contente em ver o
senhor!



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Autor(a): ju10linha

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— Srta. Anahi! - o Sr. Kamal me cumprimentoucalorosamente. - Também estou feliz em vê-la!Espero que os meninos tenham cuidado bem devocê.Poncho bufou e encontrou um lugar na sombra paradescansar.- Cuidaram, sim. Estou bem.O Sr. Kamal me levou até um tronco perto desua fogueira.- Sente-se aqui e descanse enquanto arrumo ascoisas.Fiquei comendo ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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