Fanfics Brasil - Provaçoes A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Provaçoes

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Descemos com cautela os degraus de pedra,
totalmente dependentes da fraca iluminação da
minha pequena lanterna. Quando alcançamos a
base, os olhos de Fanindra começaram a brilhar,
dando ao túnel uma sinistra iluminação verde azulada.
Parei e reli em voz alta a profecia de Durga:



No pé da página havia as anotações do Sr.
Kamal em sua costumeira e elegante letra
cursiva. Também as li em voz alta:



- Não tenho a menor idéia de quais possam ser
esses perigos - murmurei. - Tomara que os
espinhentos sejam algum tipo de planta.
Começamos a andar e eu tagarelei durante todo
o tempo sobre que tipo de animal poderia ter
espinhos.
- Vejamos. Há os estregossauros. Humm, talvez
sejam estegossauros. Bom, seja lá qual for o
nome, tem aquela espécie de dinossauro.
Também tem os dragões e porcos-espinhos, e
não podemos esquecer os lagartos de chifres.
Talvez fosse melhor tirar a gada da mochila,
hein?
Parei e peguei a arma. A caminhada
provavelmente já seria bastante difícil sem
arrastar por aí o bastão, mas eu me sentia
melhor tendo-o à mão.
O túnel logo se transformou em um caminho de
pedras e quanto mais andávamos, mais
iluminado ele ia se tornando. Os olhos de
Fanindra se turvaram e sua luz se apagou. Por
fim tornaram-se simples esmeraldas cintilantes
outra vez. Algo estranho estava acontecendo.
Eu não sabia dizer de onde vinha a luz. Parecia
filtrar-se de algum lugar acima de nós.
Literalmente, estávamos seguindo uma luz no fim
do túnel. Eu tinha a sensação de estar em um dos
meus pesadelos, no qual não estava claro, mas
também não estava escuro. E neles uma
sensação maligna de tocaia atravessava meu
subconsciente e uma força poderosa me
perseguia, obstruía meu progresso e feria
aqueles de quem eu mais gostava.
Os rolos de névoa pareciam nos seguir. Enquanto
andávamos, eles se agitavam à frente para
impedir nossa visão do caminho. Quando
paramos, a neblina se acumulou e passou a nos
circundar como pequenas nebulosas girando em
nossa órbita. A névoa fria e cinzenta explorava
nossa pele com dedos gélidos, como se
procurasse um ponto fraco.
O corredor começou a parecer diferente. Em vez
de caminhar na pedra, meus pés agora
afundavam ligeiramente na terra úmida e eu
ouvia o ruído que meus tênis produziam ao
esmagar a grama baixa. As paredes estavam
cobertas de musgo, que em seguida se
transformou em hera e logo em pequenas plantas
semelhantes a samambaias. Eu me perguntava
como elas podiam sobreviver nesse ambiente
úmido e sombrio.
As paredes se afastavam cada vez mais, até que
eu não consegui mais vê-las. O teto se abriu para
um céu cinzento. Não havia profundidade nele e
no entanto eu não via seu fim. Era como se
estivéssemos em outro planeta.
Nosso caminho se tornou descendente e tive que
me concentrar no pé que eu levava à frente.
Entramos em uma floresta cheia de plantas e
árvores estranhas, que oscilavam nas raizes,
como se o vento as empurrasse. Mas eu não
sentia o menor sinal de brisa. As árvores eram
tão compactas e os arbustos tão densos que ficou
difícil ver o caminho, que logo desapareceu
totalmente.
Poncho se mantinha na frente e ia abrindo uma trilha
com seu corpo. As árvores tinham galhos longos
que se curvavam até o chão, como salgueiroschorões.
Seus ramos eram leves e faziam
cócegas em minha pele quando eu passava. Ergui
a mão para coçar meu pescoço e percebi que
estava molhado.
Devo estar suando. Estranho, não me sinto
cansada. Talvez tenha caído um pouco de água
de um galho. Alguma coisa lambuzava minha
mão. A luz esverdeada dava ao líquido uma
aparência marrom. O que é isto? Seiva da
árvore? Não! É sangue!
Arranquei uma folha delicada para olhar mais de
perto. Ao examiná-la, fiquei surpresa em ver
minúsculas agulhas cobrindo sua face inferior. Estendi
um dedo para tocar uma delas e as agulhas
cresceram, elevando-se na direção do meu dedo.
Movi o dedo para a frente e para trás, e as
agulhas o acompanharam, como um ímã.
- Poncho, pare! Os galhos estão nos arranhando. Eles
têm agulhas na parte de baixo que seguem
nossos movimentos. São eles os perigos
espinhentos da profecia!
Quando ele parou, os galhos finos lentamente
baixaram e se enroscaram em seu pescoço e em
sua cauda. Ele deu um salto e os arrancou com
violência da árvore.
- Precisamos correr ou eles vão nos enredar! -
gritei.
Ele redobrou os esforços para romper a
vegetação densa. Corri atrás dele. A floresta
parecia prosseguir eternamente, sem nenhum
sinal de espaçamento entre as árvores. Depois de
mais uns 15 minutos, reduzi o ritmo, exausta. Eu
não conseguia mais correr.
- Poncho, não posso ir mais rápido - falei, arfando. -
Continue sem mim. Ultrapasse a linha das
árvores. Você pode conseguir.
Ele parou, deu meia-volta e voltou correndo para
o meu lado. Os galhos começaram a serpentear e
envolver com os ramos anelados seu corpo de
tigre.
Ele rugiu e rolou, então atacou os galhos com as
garras, o que os fez recuar por um momento.
Senti um deles se enroscando em meu braço e
sabia que tinha acabado para mim. Lágrimas
brotaram de meus olhos e eu me ajoelhei para
acariciar o rosto de Poncho.
- Poncho, vá - implorei. - Por favor, vá sem mim.
Ele se transformou e colocou a mão sobre a
minha.
- Temos que ficar juntos, lembra? Não vou deixála,
Anahi. Eu nunca vou deixar você.
Ele me dirigiu um sorriso triste.
Engoli em seco e assenti enquanto ele removia
gentilmente o galho anelado do meu braço e
dava um tapa, afastando outro que se estendia
para o meu pescoço.
- Venha.
Ele tirou a gada da minha mão e começou a batêla
nos galhos, mas eles simplesmente tentavam
envolver seus dedos verdes e afiados em torno
da arma, indiferentes a seu poder. Então Poncho foi
até um tronco e o atingiu com força.
A árvore se contraiu de imediato. Os galhos se
recolheram e envolveram o tronco, protetores.
Poncho se pôs à minha frente e me avisou que
esperasse perto da árvore ferida. Então deu
alguns passos à frente e girou a gada.
Ele golpeava o tronco das árvores, deixando
feridas abertas no caminho. Eu o seguia a certa
distância enquanto ele avançava aos poucos pela
floresta. Os galhos aparentavam saber o que ele
pretendia e o atacavam ferozmente, mas Poncho
parecia ter uma dose de energia infindável.
Eu estremecia ao ver cortes e arranhões surgirem
em cada pedaço nu de sua pele. Suas costas logo
ficaram laceradas, a camisa rasgada e
ensanguentada. Ele parecia ter sido brutalmente
chicoteado.
Por fim, chegamos aos limites da floresta
traiçoeira e paramos em uma clareira. Ele me
puxou para além do alcance dos galhos e deixou
que seu corpo desabasse no chão. Dobrou-se,
suando e arfando por causa do esforço. Tirei uma
garrafa de água da mochila e lhe ofereci. Ele
bebeu tudo de um gole só.
Inclinei-me para examinar seu braço
ensanguentado. Seu corpo estava escorregadio,
com sangue e suor. Peguei outra garrafa de água
e uma camiseta velha e comecei a limpar a
sujeira de seus cortes e ferimentos. Pressionei o
tecido molhado e fresco em seu rosto e em suas
costas. Ele começou a relaxar e respirar mais
devagar à medida que eu prosseguia. Os cortes
cicatrizavam rapidamente e, quando minha
preocupação com Poncho diminuiu, eu me dei conta
de algo.
- Poncho! Você está na forma humana há muito mais
do que 24 minutos. Você está bem... sem contar
os arranhões, é claro?
Ele esfregou a mão no peito.
- Eu me sinto... bem. Não sinto a necessidade de
me transformar de volta.
- Talvez a gente já tenha quebrado a maldição!
Ele refletiu por um minuto.
- Acho que não. Tenho a impressão de que
devemos ir em frente.
- Por que não testamos? Veja se você pode se
transformar em tigre.
Ele assumiu a forma de tigre e voltou, e suas
roupas rasgadas e ensanguentadas foram
imediatamente substituídas por outras brancas e
limpas.
- Talvez seja apenas a magia deste lugar que me
permite ser humano.
Meu rosto deve ter mostrado meu abatimento.
Poncho riu e beijou meus dedos.
- Não se preocupe, Annie. Logo serei totalmente
humano, mas por ora aceito esta dádiva pelo
máximo de tempo que puder tê-la.
Ele piscou para mim e sorriu, e então se inclinou
e me puxou para mais perto, de modo que
pudesse examinar meus ferimentos. Inspecionou
meus braços, as pernas e o pescoço. Passou a
camiseta molhada pelos meus braços e limpou os
cortes com ternura. Eu sabia que as suas feridas
eram muito mais graves que as minhas, então
tentei dissuadi-lo, mas ele não recuava.
- Está tudo bem - declarou ele. - Você tem um
arranhão feio no pescoço, mas acho que vai
cicatrizar sem nenhum problema. - Ele umedeceu
a parte posterior do meu pescoço com o tecido e
o pressionou ali por um instante. Então puxou a
gola da minha camiseta com o dedo. - Tem
outros lugares que queira que eu examine para
você?
Afastei sua mão com um tapa.
- Não, obrigada. Esses outros lugares eu mesma
posso examinar.
Ele riu bem-humorado, então se levantou e me
ajudou a me erguer. Pôs a mochila nas costas e
apoiou a gada no ombro. Depois de me oferecer a
mão, começamos a andar.
Passamos por mais árvores de agulhas, mas
estas estavam bem espaçadas e misturadas a
outras árvores normais, não assassinas, e assim
pudemos nos manter fora de seu alcance. Poncho
entrelaçou os dedos nos meus.
- Sabe, é bom andar com você sem me preocupar
com quanto tempo me resta.
- É verdade - concordei, tímida.
Poncho parecia feliz, apesar de nossa situação.
Pensei em como devia ser difícil para ele,
sabendo que tinha muito pouco tempo por dia
como humano e tentando usufruir o melhor de
cada momento. Para ele, aquele lugar sinistro era
um presente. Seu bom humor acabou me
contagiando.
Eu sabia que desafios piores provavelmente nos
aguardavam, mas, andando ao lado de Poncho, eu
não me importava. Assim, me permiti desfrutar o
meu tempo com ele.
Reencontramos uma trilha de terra batida e
começamos a segui-la. O caminho levava na
direção de algumas colinas e de um grande túnel
que, deduzimos, as atravessava. Não havia
nenhum outro caminho a tomar, portanto
entramos ali devagar, de olhos atentos ao que
nos cercava. Tochas acesas se alinhavam nas
paredes de pedra e muitos outros túneis partiam
do principal. Dei um pulo quando vi alguma coisa
se mexer em uma passagem lateral.
- Poncho! Eu vi alguma coisa ali.
- Também vi algo.
Parecia que estávamos em uma grande colmeia
de túneis e figuras apareciam continuamente em
nossa visão periférica. Pressionei meu corpo de
encontro ao de Poncho e ele passou o braço pelos
meus ombros.
Ouvi uma voz, uma voz feminina, dizer baixinho,
chorando:
- Poncho? Poncho? Poncho? Poncho?
O chamado ecoava de túnel em túnel.
- Estou aqui, Annie! Annie! Annie!
Poncho me olhou, apreensivo, e apertou meu ombro.
Aquelas eram as nossas vozes. Ele me soltou e
puxou a gada, deixando-a preparada diante dele.
Avançando com cautela, ele observava
atentamente os outros túneis.
Ouvi gritos e passos correndo, tigres rosnando e
berros lancinantes. Parei de andar por um
instante e fiquei diante de um dos túneis.
- Anahi! Me ajude!
Poncho apareceu no túnel lateral. Lutava contra um
grupo de macacos que o arranhavam e mordiam.
Ele se transformou em tigre, cravou os dentes
neles e os estraçalhou. Era horripilante!
Dei um passo para trás, sentindo medo. Então me
imobilizei e me lembrei do aviso de Durga sobre
ficarmos juntos. Dei meia-volta e vi dois outros
túneis que não estavam ali antes. Dois Ponchos
avançavam segurando a gada à frente do corpo,
um em cada túnel. Qual era o túnel principal?
Qual era o verdadeiro Poncho?
Ouvi passos correndo atrás de mim e
rapidamente escolhi o da direita. Corri para
alcançá-lo, mas parecia que quanto mais perto eu
chegava, mais distante ele ficava. Eu sabia que
havia escolhido o caminho errado e o chamei:
- Poncho!
Ele não se virou para mim. Parei e olhei em dois
outros túneis, procurando um sinal dele. Vi
Kishan e Poncho lutando como tigres em um túnel.
Em outro, o Sr. Kamal travava uma luta de
espada com um homem que parecia o mesmo do
meu pesadelo.
Corri de túnel em túnel. Várias passagens
mostravam cenas da minha vida. Minha avó me
acenando para que eu a ajudasse a plantar flores.
Uma professora da escola me fazendo perguntas.
Havia até uma com meus pais. Eles me
chamavam. Arquejei e meus olhos se encheram
de lágrimas.
- Não, não, não! - gritei. - Isso não pode estar
acontecendo! Onde está Poncho?
- Anahi? Anahi! Cadê você?
- Poncho! Estou aqui!
Ouvi minha voz, mas eu não dissera nada.
Olhei em outro túnel e vi Poncho correndo para...
mim. Só que não era eu. Poncho chegou perto da
coisa que parecia eu e fez um carinho em seu
rosto.
- Anahi, você está bem?
Eu a ouvi responder:
- Sim, estou bem.
E virou a cabeça, olhando para mim quando Poncho
beijou seu rosto. A imagem se metamorfoseou e,
com um ruído agudo e estrondoso, o rosto se
dissolveu na morte e sorriu insidiosamente.
Estremeci de repulsa enquanto olhava para um
cadáver sorridente, pulsando com larvas de
varejeira.
Aproximei-me da entrada do túnel e gritei para
que Poncho parasse, mas ele não podia me ouvir.
Havia uma espécie de barreira bloqueando meu
caminho para que eu não pudesse entrar. O
cadáver deu uma risadinha e me acenou com a
mão. A imagem tornou-se obscura e eu não pude
mais distingui-la.
Enfurecida, esmurrei a barreira, mas isso não
surtiu efeito. Depois de alguns momentos, a
barreira desapareceu e eu me vi olhando para um
longo e negro corredor iluminado por tochas,
exatamente como as dezenas de outros por que
eu passara.
Desisti e segui adiante. Passei por um Poncho
agachado no chão, desesperado. Ele soluçava e
lamentava suas perdas. Falava de todos os erros
que cometera e de quanto estivera equivocado
em relação a tudo. Implorava perdão, mas não
conseguia encontrar a absolvição. As coisas que
ele dizia ter feito eram terríveis, inexprimíveis.
Coisas que eu sabia que Poncho jamais fizera e não
podia sequer imaginar fazer.
Eu estava indignada. Aquilo já era demais! Era
tão terrível ver alguém de quem você gostava
totalmente destruído que fiquei furiosa. Alguém
ou alguma coisa estava brincando conosco e eu
odiava isso. O pior era saber que as mesmas
coisas estavam acontecendo com Poncho em algum
lugar naqueles túneis. Quem saberia como
estavam me representando?
Segui para outro túnel e vi um Poncho ereto e altivo
de costas para mim.
Chamei, com cautela:
- Poncho? É você mesmo?
Ele deu meia-volta e exibiu seu lindo sorriso, e
então estendeu os braços para mim e acenou
para que eu me aproximasse.
- Anahi! Finalmente! Por que você demorou
tanto? Onde estava?
Com grande alívio, eu o envolvi com os braços
quando ele me puxou para mais perto. Ele me
abraçou e esfregou minhas costas.
Intrigada, perguntei:
- Poncho? Onde estão a mochila e a gada?
Eu me afastei e olhei seu lindo rosto.
- Não precisamos mais delas - disse ele. - Agora
fique aqui quietinha comigo um minuto.
Recuei rapidamente, distanciando-me dele alguns
passos.
- Você não é Poncho.
Ele riu.
- Claro que sou eu, Anahi. O que preciso fazer
para provar a você?
- Não. Alguma coisa está errada. Você não é ele!
Saí correndo do túnel e continuei até meus
pulmões estarem prestes a explodir. Mas não
cheguei a lugar nenhum. Simplesmente passei
por um túnel após outro. Fui perdendo a
velocidade até parar e, arquejando, tentava
pensar no que deveria fazer. Poncho tinha a gada e a
mochila. Ele nunca as descartaria. Assim, ainda
estava com elas em algum lugar, e eu nada tinha.
Não, isso não era verdade. Eu tinha, sim, uma
coisa! Puxei o papel do bolso da calça e reli os
avisos.
Se, por alguma razão, vocês se separarem,
enfrentarão grande perigo. Ela também disse
para não confiar em seus olhos. Seus corações e
suas almas lhes dirão a diferença entre fantasia e
realidade.
Não confiar em meus olhos? Isso já era óbvio
àquela altura. Então meu coração me ajudará a
ver a diferença. Muito bem, vamos seguir meu
coração. Mas como?
Decidi continuar andando e manter a mente
aberta. A cada túnel, eu parava para observar por
um minuto e então fechava os olhos e tentava
sentir se estava tudo bem. Em geral, o que ou
quem estivesse ali redobrava seus esforços. Eles
falavam e adulavam, tentando me fazer ir atrás
deles. Prossegui dessa forma, atravessando
vários túneis, e nenhum dos lugares onde parei
parecia o certo.
Cheguei a outra passagem e me detive para
examinar a cena. Eu me vi morta e caída no chão
com Poncho ajoelhado ao meu lado. Ele se
debruçava sobre o meu corpo inerte,
examinando. Eu o ouvi sussurrar:
- Anahi? É você? Anahi, por favor. Fale comigo.
Preciso saber se é mesmo você.
Ele pegou meu corpo e o embalou amorosamente
nos braços. Vi que ele tinha a gada e a mochila.
Mas eu já fora enganada antes. Então ele disse:
- Não me deixe, Annie.
Fechei os olhos e ouvi sua voz implorando para
que eu vivesse. Meu coração começou a martelar
violentamente, uma reação diferente da que eu
tivera nas visões anteriores. Dei um passo à
frente e bati em outra barreira.
- Poncho? Estou aqui. Não desista - falei baixinho.
Ele ergueu a cabeça, como se tivesse me ouvido.
- Anahi? Eu estou ouvindo você, mas não posso
vê-la. Onde você está?
Poncho deitou o corpo do meu clone no chão e aquilo
desapareceu.
- Feche os olhos e sinta seu caminho até mim - eu
lhe disse.
Ele se ergueu lentamente e fechou os olhos.
Também fechei os meus e tentei me concentrar
não em sua voz, mas em seu coração. Imaginei
minha mão em seu peito, sentindo os batimentos
fortes. Meu corpo parecia se mover por vontade
própria e eu dei vários passos à frente. Estava
concentrada em Poncho, em sua risada, seu sorriso,
como eu me sentia perto dele, e então, de
repente, minha mão tocou seu peito e eu pude
sentir seu coração batendo. Ele estava ali. Abri
meus olhos devagar e olhei para ele.
Poncho estendeu a mão e tocou meu cabelo, mas
então recuou.
- É você mesma desta vez, Annie?
- Bom, eu não sou um cadáver cheio de larvas de
varejeira, se é o que você quer dizer.
Ele sorriu.
- Que alívio. Nenhum cadáver cheio de larvas de
varejeira seria tão sarcástico.
- Bem, e como eu sei que é você de verdade? -
indaguei.
Ele considerou minha pergunta por um momento
e então baixou a cabeça para me beijar. Puxoume
de encontro ao seu peito, me segurando mais
perto dele do que eu pensei ser possível, e seus
lábios tocaram os meus. Seu beijo começou terno
e suave, mas rapidamente tornou-se ávido. Suas
mãos percorreram meus braços, meus ombros, e
então seguraram meu pescoço. Envolvi sua
cintura com os braços e me deliciei com o beijo.
Quando ele se afastou, meu coração martelava
em resposta.
Assim que me vi capaz de falar novamente, disse:
- Mesmo que não seja você de verdade, eu fico
com esta versão.
Ele riu e o alívio tomou conta de ambos.
- Annie, acho melhor você segurar minha mão pelo
resto do caminho.
Sorri feliz para ele.
- Sem problema.
Exultante por ter meu Poncho de volta, pude ignorar
os chamados e lamentos suplicantes que vinham
das passagens laterais.
Uma luz apareceu na extremidade oposta do
túnel e seguimos para lá. Poncho segurou minha
mão com força até emergirmos da abertura e nos
vermos bem longe dela. Ele parou perto de um
riacho serpenteante que fazia uma curva por trás
de algumas árvores.
Parecia meio-dia ali, qualquer que fosse aquele
lugar, então decidimos fazer uma pausa e comer.
Mordiscando uma barra de cereais, Poncho disse:
- Prefiro evitar as árvores e ficar perto do leito do
rio. Tenho esperanças de que, se o seguirmos um
pouco mais, ele nos levará a Kishkindha.
Assenti com a cabeça e me perguntei o que mais
estaria à nossa espera depois da próxima curva.
Sentindo-nos revigorados após o breve descanso,
avançamos seguindo o riacho. A água corria na
mesma direção que nós, o que, segundo Poncho, significava
que estávamos andando rio abaixo. A
margem era cheia de pedras lisas do rio.
Pegando uma pedra cinza, comecei a atirá-la
para cima e para baixo enquanto andava e me
perdi em pensamentos. Até sentir que o peso e a
textura da pedra mudaram. Abri a mão e vi que
ela havia se transformado em uma esmeralda lisa
e reluzente. Parei e olhei para as pedras sob
meus pés. Ainda eram cinzentas e foscas, mas,
quando desapareciam sob a água, eu via jóias
tremeluzindo em seu lugar.
- Poncho! Olhe ali. Debaixo dagua. - Apontei para as
pedras preciosas que cintilavam ali embaixo.
Quanto mais rio adentro eu olhava, maiores eram
as pedras. - Está vendo ali? Um rubi do tamanho
de um ovo de avestruz!
Assim que me inclinei para tirar um grande
diamante da água, senti Poncho me envolver com os
braços e me puxar para trás.
Ele sussurrou junto ao meu rosto, apontando para
o rio:
- Olhe adiante. Ali, com o canto do olho. O que
você vê?
- Não estou vendo nada.
- Use sua visão periférica.
Bem perto do diamante, uma imagem tremeluzia
levemente sob a água. Parecia um macaco
branco, sem pelos. Seus braços longos estavam
estendidos na minha direção.
- Ele estava tentando pegar você.
Atirei a esmeralda no riacho. A água
redemoinhou e sibilou onde ela caiu, depois
acalmou-se novamente, ficando tão lisa quanto
seda. Quando eu olhava diretamente para as
pedras preciosas, elas eram tudo o que eu via,
mas pelo canto do olho podia distinguir macacos
d agua por toda parte, boiando logo abaixo da
superfície. Aparentemente eles usavam a cauda
para ancorar seus corpos em raízes de árvores e
plantas subaquáticas, como fazem os cavalosmarinhos.
- Estou achando que são kappa - disse Poncho.
- O que são kappa?
- Demônios da Ásia dos quais minha mãe
costumava me falar. Eles ficam na água, à
espreita de crianças, para pegá-las e sugar-lhes o
sangue.
- Macacos-cavalos-marinhos-vampiros? Você está
falando sério?
Ele deu de ombros.
- Parece que são reais. Minha mãe falava sobre
eles quando eu era pequeno. Contava que as
crianças na China aprendiam a demonstrar
respeito pelos mais velhos curvando-se. Diziamlhes
que, se não se curvassem, os kappa iriam
pegá-las. Sabe, os kappa têm uma depressão no
alto da cabeça que fica cheia de água. Precisam
ter água nessa concavidade para sobreviver. A
única maneira de se salvar se um deles o
perseguir é se curvando.
- Como o ato de se curvar pode salvar alguém?
- Se você se curvar para um kappa, ele terá que
repetir o gesto. Ao fazê-lo, a água no topo da
cabeça derrama, deixando-o indefeso.
- Bem, se eles podem sair da água, por que não
nos atacaram?
- Em geral atacam apenas crianças, ou pelo
menos foi o que me disseram - refletiu ele. -
Minha mãe contou que a avó dela costumava
entalhar o nome das crianças em frutas ou
pepinos e então os atirava na água antes de
banhá-las no rio. Os kappa comiam os frutos e
ficavam satisfeitos, assim não machucavam as
crianças no banho.
- Sua mãe seguia essa tradição?
- Não. Éramos da realeza e tínhamos o banho
preparado para nós. Além do mais, minha mãe
não acreditava nessa história. Ela só nos contava
para que compreendêssemos a essência, que era
a de que todas as pessoas e coisas precisam ser
tratadas com respeito.
- Gostaria de saber mais sobre sua mãe. Parece
ter sido uma mulher muito interessante.
- E era - replicou ele baixinho. - Eu também
gostaria que ela tivesse conhecido você. - Ele
examinou a água e mostrou o demônio à
espreita. - Aquele ali estava tentando pegar você,
embora supostamente só ataquem crianças.
Estes devem ter sido designados para proteger as
pedras preciosas. Se você houvesse apanhado
uma delas, eles a teriam puxado para debaixo
d’água.
- Por que me puxar para debaixo d’água? Por que
simplesmente não saltar sobre mim?
- Os kappa em geral afogam suas vítimas antes
de tirar seu sangue. Eles se mantêm na água o
máximo possível para se protegerem.
Recuei, deixando Poncho entre mim e o rio.
- Então devemos voltar para as árvores ou ficar
perto do leito do rio?
Ele correu a mão pelos cabelos e tornou a colocar
a gada no ombro, mantendo-a pronta para o
ataque.
- Que tal seguirmos pelo meio? Os kappa
parecem satisfeitos em ficar na água por
enquanto, mas vamos tentar evitar os galhos das
árvores também.
Caminhamos por mais algumas horas.
Conseguimos contornar tanto os kappa quanto as
árvores, embora as últimas tenham feito o
possível para nos alcançar e nos agarrar. O riacho
descrevia uma longa curva que nos levou um
pouco perto demais das árvores para que nos
sentíssemos tranquilos, mas Poncho manteve a gada
preparada e alguns golpes em troncos próximos
cuidaram de uns galhos insistentes.
Por fim, deparamos com uma árvore enorme bem
no nosso caminho. Seus ramos longos e
serpenteantes estendiam-se impossivelmente em
nossa direção, as agulhas projetadas para a
frente. Poncho se abaixou e, com uma extraordinária
explosão de velocidade, disparou adiante e saltou
na direção do tronco. O abraço folhoso da árvore
o engoliu imediatamente.
Ouvi uma grande pancada, e a árvore
estremeceu e o libertou. Ele emergiu todo
arranhado, mas veio até mim com um sorriso no
rosto. Sua expressão logo mudou para um olhar
de preocupação, porém, ao me ver boquiaberta,
olhando acima de sua cabeça. A árvore estivera
bloqueando nossa visão e, agora que ela havia se
dobrado sobre si mesma, eu podia ver adiante o
reino fantasmagoricamente cinzento de
Kishkindha.


 



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Prévia do próximo capítulo

Saímos do alcance da gigantesca árvore deagulhas e olhamos a cidade. Na verdade, eramais do tamanho de um castelo medieval do quede uma cidade. O rio corria até seus muros depedra cinza clara e se bifurcava, circundando-acomo um fosso.- Estamos ficando sem luz, Anahi. E foi um diaduro. Por que não acampamos aqui, dormimosum pouco e entramos na cid ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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