Fanfics Brasil - Kishkindha A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Kishkindha

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Saímos do alcance da gigantesca árvore de
agulhas e olhamos a cidade. Na verdade, era
mais do tamanho de um castelo medieval do que
de uma cidade. O rio corria até seus muros de
pedra cinza clara e se bifurcava, circundando-a
como um fosso.
- Estamos ficando sem luz, Anahi. E foi um dia
duro. Por que não acampamos aqui, dormimos
um pouco e entramos na cidade amanhã?
- Parece bom para mim. Estou exausta.
Poncho foi recolher madeira e voltou, murmurando:
- Até os galhos velhos e mortos arranham.
Ele atirou vários galhos no círculo de pedras que
eu tinha feito e acendeu o fogo. Joguei uma
garrafa de água para ele. Pegando a panelinha,
ele a encheu de água e a pôs para ferver.
Poncho se afastou para procurar mais lenha
enquanto eu me ocupava armando o
acampamento, o que foi bastante rápido, já que
dessa vez não havia barraca. Tudo o que eu
podia fazer era limpar a área, afastando pedras e
galhos.
Quando a água estava quente, despejei um
pouco na embalagem de nosso jantar e esperei
que a comida desidratada se tornasse comestível.
Poncho logo voltou, resmungando sobre a madeira, e
se sentou ao meu lado. Entreguei-lhe um pacote
da comida e ele a misturou em silêncio.
Entre garfadas da massa quente, perguntei:
- Poncho, você acha que aqueles kappa virão atrás
de nós durante a noite?
- Não. Eles ficaram na água esse tempo todo e, se
a história for precisa, eles também têm medo do
fogo. Vou garantir que o fogo queime a noite
toda.
- Talvez devêssemos ficar de guarda. Só por
segurança.
O canto de sua boca se contorceu enquanto ele
dava outra garfada em sua comida.
- Está bem. Quem fica com o primeiro turno de
vigília?
- Eu.
Seus olhos brilharam, divertidos.
- Ah, uma brava voluntária?
Eu o fuzilei com o olhar e dei mais uma garfada.
- Está zombando de mim?
Ele levou a mão ao coração.
- De jeito nenhum! Eu já sei que você é corajosa.
Não precisa me provar isso.
Poncho terminou seu jantar, agachou-se ao lado da
pilha de lenha e atirou mais alguns dos estranhos
galhos no fogo aceso. As chamas que lambiam a
madeira começaram a queimar com um matiz
esverdeado a princípio e em seguida crepitaram
como fogos de artifício. A chama mudou para um
tom laranja-avermelhado vivo com um toque de
verde ao redor da madeira.
Pus de lado a embalagem vazia de comida e olhei
para as estranhas chamas. Poncho se sentou ao meu
lado outra vez e pegou minha mão.
- Annie, agradeço por se oferecer para montar
guarda, mas quero que descanse. Esta jornada é
mais dura para você do que para mim.
- É você quem está sendo todo arranhado. Eu me
limito a seguir seus passos.
- Sim, mas eu me curo rápido. Além disso, não
acredito que haja motivo para preocupação.
Tenho uma proposta: eu cubro o primeiro turno e,
se nada acontecer, nós dois dormimos. Que tal?
Olhei para ele, carrancuda. Ele começou a brincar
com meus dedos e virou minha mão para que
pudesse traçar com o dedo as linhas na minha
palma. A luz do fogo bruxuleava. Meus olhos
seguiram até seus lábios.
- Anahi?
Ele fez contato visual comigo e eu rapidamente
desviei os olhos.
Não estava acostumada a lidar com ele assim em
um acampamento. Em geral, eu tomava todas as
minhas decisões e ele me seguia. Se bem que, na
verdade, era eu quem o seguia na maioria dos
lugares. Mas, pelo menos, como tigre ele não
discutia. Nem me distraía com devaneios de ser
envolvida em seus braços e beijá-lo.
Ele me dirigiu um sorriso incrivelmente branco e
acariciou a parte interna do meu braço.
- Sua pele é tão macia.
Ele se inclinou e seu nariz brincou com a minha
orelha. Meu coração batia depressa e meu
cérebro parecia perder a clareza.
- Annie, diga que concorda com o meu plano.
Eu me sacudi, livrando-me da névoa que me
enfeitiçava, e cerrei os dentes, teimosa.
- Está bem, você ganhou. Concordo - resmunguei.
- Embora você esteja me coagindo.
Ele riu e olhou para mim.
- E como exatamente eu estou coagindo você?
- Em primeiro lugar, você não pode esperar que
eu pense com coerência quando está me fazendo
carinho. Em segundo, você sempre sabe como
conseguir o que quer de mim.
- Verdade?
- Claro. Você só precisa sorrir e pedir com
gentileza, tocar em mim como quem não quer
nada, e então, antes que eu me dê conta, já
conseguiu o que queria.
- É mesmo? - zombou ele baixinho. - Eu não tinha
a menor idéia de que exercia esse efeito em
você.
Estendendo a mão, ele virou meu rosto em sua
direção. Traçou com os dedos uma linha do
maxilar até a veia que pulsava em meu pescoço,
e então ao longo de todo o meu decote. Meu
sangue latejava loucamente quando ele tocou o
cordão em meu pescoço e desceu,
acompanhando-o, até o amuleto. Em seguida,
deslizou os dedos de volta ao meu pescoço,
estudando meu rosto enquanto me tocava. Engoli
com dificuldade.
Ele se inclinou, aproximando-se, e ameaçou,
brincando:
- Vou ter que me aproveitar mais disso no futuro.
Respirei fundo, com a pele formigando, e
estremeci, o que pareceu deixá-lo ainda mais
satisfeito consigo mesmo. Ele então foi percorrer
o perímetro de nosso acampamento uma última
vez enquanto eu abraçava os joelhos e deixava
minha mente vagar.
Meu pescoço formigava onde Poncho havia me
tocado. Levei a mão à concavidade na base do
pescoço e manuseei o amuleto. Pensei em Felipe
e em quanto ele parecia terrível na superfície. Por
dentro, era tão inofensivo quanto um gatinho. O
irmão perigoso era Poncho. Por mais inocente que o
tigre de olhos azuis parecesse, era um predador
irresistível. Absolutamente atraente - como uma
planta carnívora. Tão atraente, tão tentador, tão
mortal! Tudo o que ele fazia era sedutor e
possivelmente perigoso para o meu coração.
Ele me parecia muito mais intimidador que
Felipe, com seus comentários provocantes. Os
dois irmãos eram lindos e charmosos. Tinham
antiquados modos cavalheirescos pelos quais
qualquer garota cairia. Mas suas palavras eram
sinceras. Não se tratava apenas de um jogo para
eles. Não era um truque para conquistar as
mulheres. Eles eram sérios.
Felipe era semelhante a Poncho em muitos
aspectos. Nesse sentido, eu podia compreender a
escolha de Clara, mas o que fazia Poncho 100 por
cento mais perigoso para mim era o fato de eu
nutrir sentimentos por ele - sentimentos fortes.
Eu já amava a parte tigre dele antes de sequer
saber que ele era um homem. Esse vínculo fez
com que me afeiçoar ao homem fosse muito mais
fácil.
No entanto, estar com o homem era bem mais
complicado que estar com o tigre. Eu precisava
sempre me lembrar de que eles eram os dois
lados da mesma moeda. Havia muitas razões por
que eu deveria abrir a guarda e me apaixonar
completamente por Poncho. Existia uma clara
ligação entre nós. Eu me sentia atraída por ele,
não podia negar. Tínhamos muito em comum. Eu
gostava da companhia dele. Gostava de
conversar com ele e de ouvir sua voz. E sentia
que podia lhe dizer qualquer coisa.
Mas havia também muitas razões para que eu
fosse cautelosa. Nosso relacionamento era muito
complexo. Tudo acontecera depressa demais. Eu
me sentia subjugada por ele. Vínhamos de
culturas diferentes. Países diferentes. Séculos
diferentes. Até agora, éramos até mesmo de
espécies diferentes na maior parte do dia.
Acho que me apaixonar por ele seria como
mergulhar em um precipício. Seria ou a melhor
coisa que me aconteceria ou o erro mais idiota
que eu cometeria. Faria com que minha vida
valesse a pena ou com que eu me chocasse
contra as pedras e me arrebentasse
completamente. Talvez a coisa mais sábia a fazer
fosse desacelerar as coisas. Ser amigos parecia
tão mais simples.
Poncho voltou, pegou a embalagem vazia da minha
comida e a guardou na mochila. Sentando-se
diante de mim, perguntou:
- O que você está pensando?
Mantive o olhar fixo no fogo.
- Nada importante.
Ele inclinou a cabeça e me olhou por um
momento. Não me pressionou, pelo que me senti
grata - outra característica que eu podia
acrescentar à coluna pró-relacionamento de
minha lista mental.
- Vou fazer a primeira vigília - continuou ele
embora não considere necessário. Ainda tenho
meus sentidos de tigre. Poderei ouvir ou farejar
os kappa se eles decidirem sair da água.
- Ótimo.
- Você está bem?
Eu me sacudi mentalmente. Droga! Eu precisava
de um banho frio! Ele era como uma droga, e o
que se faz com as drogas? A gente se afasta o
máximo possível delas.
- Estou bem - disse bruscamente, e me levantei
para vasculhar a mochila. - Avise quando seus
supersentidos começarem a formigar.
- O quê?
Pus a mão no quadril.
- Você também pode saltar de edifícios altos?
- Bom, eu ainda tenho minha força de tigre, se é a
isso que você se refere.
- Maravilha - resmunguei. - Vou acrescentar
super-herói à sua lista de prós.
Ele franziu a testa.
- Não sou nenhum super-herói, Annie. O mais
importante no momento é que você descanse um
pouco. Vou ficar de olho por algumas horas.
Então, se nada acontecer - ele disse com um
sorriso -, eu me junto a você.
Fiquei paralisada e subitamente muito nervosa.
Examinei seu rosto em busca de uma pista, mas
ele parecia não ter nenhuma intenção oculta nem
estar planejando qualquer coisa.
Peguei a colcha na mochila, mudei para o outro
lado da fogueira de propósito e tentei ficar
confortável na grama. Rolei de um lado para
outro, me revirando na colcha até estar
parecendo uma múmia, a fim de manter os
insetos de fora. Enfiando o braço sob a cabeça,
olhei para o dossel negro sem estrelas.
Poncho não pareceu se importar com minha reação.
Encontrou um local confortável no outro lado da
fogueira e desapareceu na escuridão.
- Poncho? - murmurei. - Onde você acha que
estamos? Não acredito que isso acima de nós
seja o céu.
- Acho que estamos em algum lugar subterrâneo -
respondeu baixinho.
- É quase como se tivéssemos vindo parar em
outro mundo.
Mudei de posição, tentando encontrar um trecho
macio do solo. Depois de uma meia hora inquieta,
me remexendo, suspirei, frustrada.
- Qual é o problema?
Antes que eu pudesse me deter, resmunguei:
- O problema é que estou acostumada a
descansar a cabeça em um travesseiro quente de
pelo de tigre.
- Humm - grunhiu ele deixe-me ver o que posso
fazer.
Em pânico, eu disse com a voz aguda:
- Não se preocupe. Estou bem.
Ele ignorou meus protestos, pegou minha figura
de múmia no colo e me colocou novamente no
seu lado do fogo. Então me virou de lado,
deixando-me de frente para o fogo, deitou-se
atrás de mim e deslizou um braço sob o meu
pescoço para aninhar minha cabeça.
- Assim está mais confortável para você?
- É... sim e não. Minha cabeça descansa melhor
nessa posição. Mas infelizmente o restante do
meu corpo não consegue relaxar.
- Por que não?
- Porque você está perto demais para que eu
possa relaxar.
- Quando eu era um tigre, isso nunca a
incomodou - disse ele, confuso.
- O tigre e o homem são duas coisas
completamente diferentes.
Ele pôs o braço em minha cintura e me puxou
para mais perto, de modo que ficamos
abraçados, de conchinha. Ele parecia irritado e
decepcionado quando murmurou:
- Não parece diferente para mim. É só fechar os
olhos e imaginar que ainda sou um tigre.
- Não funciona assim.
Fiquei deitada, rígida, em seus braços, nervosa,
principalmente quando ele começou a acariciar
minha nuca com o nariz.
- Gosto do cheiro do seu cabelo - disse ele com
suavidade.
Seu peito roncava encostado às minhas costas,
enviando vibrações pelo meu corpo enquanto ele
ronronava.
- Poncho, pode não fazer isso agora?
Ele ergueu a cabeça.
- Gosta quando eu ronrono. Ajuda você a dormir
melhor.
- Sim, mas isso só funciona com o tigre. Aliás,
como é que você consegue fazer isso como
homem?
- Não sei. Eu apenas faço - respondeu, e então
enterrou o rosto novamente em meu cabelo e
acariciou meu braço.
- Poncho, me explique como você planeja montar
guarda assim.
Seus lábios roçaram meu pescoço.
- Eu posso ouvir e farejar os kappa, lembra?
Eu me contraí e estremeci, com nervosismo,
ansiedade ou qualquer outra coisa, e ele
percebeu. Parou de beijar o meu pescoço e
ergueu a cabeça para espiar meu rosto à luz
bruxuleante da fogueira. Sua voz soou solene e
calma:
- Anahi, espero que saiba que eu jamais a
machucaria. Não precisa ter medo de mim.
Virando-me para ele, estendi a mão e toquei seu
rosto. Olhando dentro dos seus olhos azuis,
suspirei:
- Não tenho medo, Poncho. Confiaria minha vida a
você. Só que nunca estive tão perto assim de
alguém.
Ele me beijou suavemente e sorriu.
- Nem eu. - Então mudou de posição, deitando-se
novamente. - Agora vire-se e durma. Estou
avisando que pretendo dormir com você nos
braços a noite toda. Quem sabe quando vou ter
essa chance de novo, se é que a terei. Portanto,
tente relaxar e, pelo amor de Deus, não fique se
mexendo!
Ele me puxou de volta para o calor do seu peito e
eu fechei os olhos. Acabei dormindo melhor do
que havia feito em semanas.
Quando acordei, estava aninhada em cima do
peito de Poncho. Seus braços me envolviam e nossas
pernas estavam entrelaçadas. Fiquei surpresa de
ter conseguido respirar a noite toda, pois meu
nariz estava esmagado de encontro ao seu tórax
musculoso. À noite havia esfriado, mas minha
colcha nos cobria e o corpo dele, que mantinha
uma temperatura mais quente que o normal,
havia me mantido aquecida.
Poncho ainda estava dormindo, então aproveitei a
rara oportunidade para estudá-lo. Seu corpo forte
estava relaxado e seu rosto, suavizado pelo sono.
Os lábios eram cheios, macios e extremamente
desejáveis, e, pela primeira vez, percebi como
seus cílios negros eram longos. O cabelo escuro e
acetinado caía suavemente sobre a testa e
estava desarrumado de uma forma que o fazia
parecer ainda mais irresistível.
Então este é o verdadeiro Poncho. Mas não parece
real. Ele se assemelha mais a um arcanjo caído
na Terra. Eu estivera com Poncho dia e noite pelas
quatro últimas semanas, mas seu tempo como
humano era uma fração tão pequena de cada dia
que ele quase parecia um sonho, um Príncipe
Encantado da vida real.
Segui o desenho de uma sobrancelha negra,
acompanhando seu arco com o dedo, e com
cuidado afastei o cabelo escuro e sedoso do
rosto. Torcendo para não perturbá-lo, suspirei,
mudei de posição devagar e tentei me afastar,
mas seus braços se enrijeceram, me prendendo.
- Nem pense em sair daqui - murmurou ele,
sonolento, e me puxou de volta para se aninhar
comigo novamente.
Descansei o rosto em seu peito, sentindo seu
coração bater, e me contentei em ficar ouvindo
aquele ritmo.
Depois de alguns minutos, ele se esticou e virou
de lado, puxando-me com ele. Então beijou
minha testa, abriu os olhos e sorriu para mim. Era
como ver o sol nascer. O homem bonito e
adormecido já era bastante impressionante, mas,
quando me dirigiu aquele sorriso luminoso e
deslumbrante e abriu os olhos azul cobalto, eu
fiquei muda.
Mordi o lábio. Sinos de alarme começaram a soar
em minha cabeça.
Os olhos de Poncho se abriram e ele prendeu uma
mecha de cabelo solto atrás da minha orelha.
- Bom dia, rajkumari. Dormiu bem?
- Eu... você... eu... dormi muito bem, obrigada -
gaguejei.
Fechei os olhos, rolei para longe dele e me
levantei. Eu podia lidar muito melhor com o Poncho
homem se não pensasse muito nele, nem olhasse
para ele, nem falasse com ele, nem o ouvisse.
Ele me abraçou por trás e pude sentir seu sorriso
quando pressionou os lábios contra a pele macia
atrás da minha orelha.
- A melhor noite de sono que tive em 350 anos.
Ele roçou o nariz em meu pescoço e me veio à
mente uma imagem dele me acenando para que
eu saltasse em um precipício e então rindo
enquanto meu corpo se despedaçava nas pedras
molhadas lá embaixo.
Murmurei algo como "Que bom para você" e me
desvencilhei dele. Afastei-me para me aprontar
para o dia e ignorei sua expressão confusa.
Desfizemos o acampamento e seguimos na
direção da cidade. Estávamos ambos muito
quietos. Ele parecia remoer algo em sua mente.
Quanto a mim, eu estava tentando impedir que
palpitações nervosas me dominassem a cada vez
que olhava em sua direção.
O que há de errado comigo? Temos uma tarefa a
executar. Precisamos encontrar o Fruto Dourado
e eu aqui só pensando em... namorar!
Estava irritada comigo mesma. Tinha que ficar
me lembrando que aquele era apenas Poncho, o
tigre, e não uma paixonite de adolescente. Ficar
perto do homem esse tempo todo estava me
fazendo enfrentar a realidade e a primeira coisa
que eu precisava fazer era assumir o controle das
minhas emoções. Enquanto andávamos, eu
ponderava sobre o problema que era o nosso
relacionamento, mordendo o lábio enquanto
pensava.
Ele provavelmente se apaixonaria por qualquer
garota que estivesse destinada a salvá-lo. Além
disso, um cara como ele jamais se sentiria
atraído por alguém como eu. Poncho era como o
Super-Homem e eu tinha que admitir que não era
nenhuma Lois Lane. Quando a maldição estiver
quebrada, ele provavelmente vai querer namorar
top models. E tem mais: eu sou a primeira garota
por perto em mais de 300 anos - e, embora a
linha do tempo seja um pouquinho diferente, ele
é o primeiro homem por quem já senti alguma
coisa. Se eu alimentar a ilusão de ficar com ele
para sempre depois que isso estiver acabado,
com certeza vou quebrar a cara.
Na verdade, eu não tinha a menor ideia do que
fazer em relação a Poncho. Eu nunca me apaixonara.
Nunca nem mesmo tivera um namorado, e
aqueles sentimentos novos eram excitantes e
assustadores ao mesmo tempo. Pela primeira vez
na vida, eu não tinha o controle e não sabia bem
se gostava disso.
O problema era que quanto mais tempo eu
passava com ele, mais eu queria ficar com ele. E
eu era realista. Meus breves momentos com ele
agora, embora emocionantes, não me
garantiriam um final feliz. Eu sabia, por dolorosa
experiência própria, que finais felizes não
existem. Agora que o fim da maldição assomava
no futuro próximo, eu precisava encarar os fatos.
Primeiro: assim que Poncho estiver livre, ele vai
querer explorar o mundo, e não sossegar.
Segundo: o amor é arriscado. Se ele chegar à
conclusão de que não me ama, isso me destruirá.
Seria mais seguro para mim voltar para o Oregon
epara minha vida solitária de antes e esquecê-lo
por completo. Terceiro: talvez eu simplesmente
não esteja pronta para tudo isso.
Parte de meu raciocínio era circular, mas os
círculos todos levavam a uma única coisa: não
ficar com Poncho. Engoli uma onda de tristeza e
cerrei os punhos com determinação. E resolvi
que, para proteger meu coração, seria melhor se
eu cortasse esse relacionamento pela raiz
imediatamente e me poupasse da dor e do
constrangimento de nosso rompimento final.
Eu me concentraria na tarefa à frente: chegar a
Kishkindha. Então, quando tudo estivesse
acabado, ele poderia seguir seu caminho e eu, o
meu. Eu apenas faria minha parte para ajudar
meu amigo e depois o deixaria ir embora e ser
feliz.
Pelo que me pareceram vários quilômetros de
caminhada através daquele mundo estranho e
mítico, formulei um plano e comecei a enviar
sinais sutis que punham um freio no romantismo.
Sempre que ele pegava minha mão, eu
encontrava um motivo para delicadamente nos
separar. Quando ele tocava meu braço ou meu
ombro, eu me afastava. Quando ele tentava me
abraçar, eu me desvencilhava ou continuava
andando. Eu não disse nada nem ofereci
nenhuma explicação porque não conseguia
pensar em uma forma de abordar o assunto.
Poncho tentou me perguntar o que havia de errado,
mas eu desconversei e ele desistiu. A princípio,
mostrou-se confuso, depois sombrio e então
começou a se fechar e ficar com raiva. Estava
claro que eu o havia magoado. Não levou muito
tempo para que ele parasse de tentar e eu senti
um muro tão imponente quanto a Grande
Muralha da China se erguer entre nós.
Chegamos a um fosso e encontramos uma ponte
levadiça. Infelizmente, estava levantada. No
entanto, pendia ligeiramente de um lado, como
se estivesse quebrada. Poncho acompanhou o leito
do riacho de ambos os lados e olhou para a água.
- Tem muitos kappa aqui - observou. - Eu não
recomendaria atravessar a nado.
- E se arrastássemos um tronco até aqui e o
usássemos como ponte?
- É uma boa idéia - grunhiu ele.
Então veio até mim e me fez virar de costas.
- O que você está fazendo? - murmurei, nervosa.
- Só estou pegando a gada. - Então acrescentou,
sarcástico: - Não se preocupe. Isso é tudo que
vou fazer.
Ele a pegou, fechou o zíper da mochila e se
dirigiu para as árvores.
Estava com raiva. Eu nunca o vira com raiva
antes, exceto de Felipe. Eu não gostava disso,
mas era um efeito colateral natural do plano
"arrancando a semente do amor e me poupando
das pedras pontiagudas lá embaixo". Não podia
ser evitado.
Lancei a Fanindra um breve olhar para ver se ela
aprovava o que eu estava fazendo, mas seus
olhos cintilantes nada revelaram.
Um minuto depois, soou um estrondo e uma
árvore rapidamente recolheu os galhos. Outro
estrondo e a árvore atravessou o dossel e
tombou no chão com um ruído alto. Ele começou
a golpear os galhos, arrancando-os do tronco, e
fui até ele para ajudar.
- Alguma coisa que eu possa fazer?
Ele se manteve de costas para mim.
- Não. Só temos uma gada.
Embora eu já soubesse a resposta, perguntei:
- Poncho, por que está com raiva? Tem algo
aborrecendo você?
Fiz uma careta, sabendo que era eu que o
aborrecia.
Ele parou e se voltou para mim. Seus olhos azuis
examinaram meu rosto. Rapidamente desviei o
olhar e o fixei em um galho trêmulo contraindo
suas agulhas. Quando voltei a encará-lo, seu
rosto era uma máscara indecifrável.
- Não tem nada me aborrecendo, Anahi. Estou
bem.
Ele se virou e continuou a arrancar os galhos da
árvore. Quando terminou, me entregou a gada,
pegou uma extremidade da pesada árvore e
começou a arrastá-la na direção do riacho.
Corri atrás dele e me abaixei para pegar a outra
extremidade.
Ele gritou sem nem mesmo olhar para mim:
- Não!
Quando voltamos ao riacho, ele largou o tronco e
começou a procurar um bom lugar para assentálo.
Eu estava prestes a me acomodar no tronco
da árvore quando notei as agulhas. Até o tronco
tinha agulhas grossas e afiadas que se erguiam
para penetrar carnes desprevenidas. Fui até a
extremidade dianteira e vi o sangue de Poncho em
grandes gotas cobrindo as agulhas negras e
reluzentes.
Quando ele voltou, exigi:
- Poncho, deixe-me ver suas mãos e seu peito.
- Esqueça, Anahi. Eu vou sarar.
- Mas, Poncho...
- Não. Agora se afaste.
Ele foi até a outra extremidade do tronco e o
ergueu, apoiando-o no peito. Fiquei boquiaberta.
É, ele ainda tem a força do tigre. Estremeci ao
imaginar aquelas centenas de agulhas se
enterrando no seu peito e em seus braços. Os
bíceps haviam se avolumado enquanto ele levava
o tronco até a beira do riacho.
Uma garota tem o direito de admirar, não tem?
Mesmo quem não pode comprar pode olhar a
vitrine, certo?
Era como ver Hércules em ação. Respirei fundo e
fiquei repetindo as palavras: "Ele não é para mim,
ele não é para mim, ele não é para mim", a fim
de fortalecer minha decisão.
A extremidade do tronco bateu no muro de
pedra. Ele andou ao longo da margem do riacho
até encontrar o ponto que queria e então o
deixou cair com um baque suave.
As agulhas haviam aberto riscos irregulares e
profundos em seu peito e feito em tiras a frente
de sua camisa branca. Fui até ele e estendi a
mão para tocar-lhe o braço.
Ele se voltou para mim e disse:
- Agora fique aqui.
Transformando-se em tigre, pulou para o tronco,
atravessou-o e então saltou para a fenda de onde
a ponte levadiça pendia ligeiramente aberta. Ali,
abriu caminho com as garras e desapareceu.
Ouvi um som metálico e em seguida um silvo
quando a pesada ponte de pedra baixou. Ela
cruzou o riacho, bateu na água com uma grande
pancada e então se acomodou em seu leito de
cascalho. Atravessei rapidamente, com medo dos
kappa que vira na água abaixo. Poncho ainda estava
como tigre e parecia disposto a permanecer
assim.
Entrei na cidade de pedra de Kishkindha. A maior
parte dos edifícios tinha dois ou três andares. A
pedra acinzentada dos muros externos também
era a usada nas construções. Era polida como
granito e continha pedaços cintilantes de mica
que refletiam a luz. Produzia um efeito lindo.
Uma estátua gigante de Hanuman erguia-se no
centro, e cada canto e cada fresta da cidade
encontrava-se coberto com macacos de pedra em
tamanho natural. Sobre os prédios, os telhados e
as sacadas viam-se estátuas de macacos.
Entalhes de símios cobriam as paredes dos
prédios. As estátuas representavam várias
espécies diferentes de macaco e com frequência
se agrupavam em número de dois ou três. Na
verdade, os únicos tipos de macaco não
presentes ali eram os fictícios macacos voadores
de O Mágico deOze o King Kong.
Quando passei pelo chafariz central, senti uma
pressão no braço. Fanindra despertara. Abaixeime
para deixá-la deslizar do meu braço para o
chão. Ela ergueu a cabeça e provou o ar com a
língua várias vezes. Então começou a colear pela
cidade antiga. Poncho e eu a seguimos enquanto ela
tecia seu lento caminho.
- Você não precisa se manter como tigre só por
minha causa - falei.
Ele manteve os olhos voltados para a frente,
seguindo a cobra.
- Poncho, é um milagre que você possa ficar na forma
humana. Não faça isso consigo mesmo, por favor.
Só porque está com rai...
Ele voltou à forma humana e girou, ficando de
frente para mim.
- Eu estou com raiva! Por que não deveria
permanecer como tigre? Você parece muito mais
à vontade com ele do que comigo!
Seus olhos azuis se turvaram com incerteza e
mágoa.
- Eu me sinto mais à vontade com ele, mas não
porque eu goste mais dele - argumentei. - E
complicado demais discutir isso com você agora.
Eu me virei para o outro lado, escondendo meu
rosto vermelho.
Frustrado, ele correu a mão pelos cabelos e
perguntou, ansioso:
- Anahi, por que está me evitando? É porque
estou indo rápido demais? Você não está pronta
para pensar em mim dessa maneira, é isso?
- Não. Não é isso. É só que - eu torcia as mãos -
eu não quero cometer um erro ou me envolver
em algo que vá levar um de nós ou os dois a se
machucar. Também não acho que este seja o
melhor lugar para falar sobre isso.
Eu olhava para seus pés enquanto dizia essas
palavras. Ele ficou em silêncio por um bom
tempo. Espiei seu rosto por baixo dos meus cílios
e vi que me avaliava. Ele continuou a me
observar pacientemente. Eu olhava para as
pedras do pavimento, para Fanindra, para minhas
mãos, para tudo - menos ele. Por fim, Poncho
desistiu.
- Ótimo.
- Ótimo?
- É, ótimo. Agora me dê a mochila. É minha vez de
carregá-la um pouco.
Ele me ajudou a tirá-la das costas e então ajustou
as alças para seus ombros largos. Fanindra
parecia pronta para se pôr novamente em
movimento e seguiu sua jornada, atravessando
furtivamente a cidade de macacos.
Passamos para as sombras escuras entre os
edifícios, onde o corpo dourado de Fanindra
brilhava. Ela escorregou entre frestas sob portas
emperradas contra as quais Poncho teve que se
jogar para abrir. E nos levou por uma
interessante pista de obstáculos do ponto de
vista de uma cobra, enfiando-se debaixo e
através de coisas pelas quais era impossível Poncho
e eu passarmos. Ela desaparecia sob rachaduras
no chão e Poncho precisava farejar para encontrá-la.
Muitas vezes tivemos que voltar para achá-la do
outro lado de paredes e salas. Sempre a
encontrávamos enrodilhada e descansando,
esperando pacientemente que a alcançássemos.
Por fim, ela nos levou até um tanque retangular
cheio até a borda com água verde repleta de
algas. O tanque ia até a minha cintura e em cada
canto erguia-se um alto pedestal de pedra. No
topo de cada pedestal havia um macaco
esculpido, todos olhando a distância, um para
cada ponto cardeal.
As estátuas encontravam-se agachadas, com as
mãos tocando o chão. Os dentes estavam à
mostra e eu podia visualizá-los sibilando, como se
prestes a atacar. Suas caudas se curvavam sobre
o corpo, alavancas robustas para aumentar o
alcance da investida. Sob os pedestais, grupos de
macacos de pedra de olhar maligno espiavam
das sombras com suas caretas e olhos negros e
ocos. Os braços compridos se estendiam à frente,
como se prontos para agarrar e dilacerar quem
passasse por ali.
Degraus de pedra levavam ao tanque de água.
Subimos e olhamos lá dentro. Com alívio, vi que
não havia nenhum kappa à espreita nas águas
escuras. Na extremidade do tanque, na borda de
pedra, havia uma inscrição.
- Você consegue ler? - perguntei.
- Diz Niyuj Kapi. "Escolha o macaco".
- Hum.
Demos uma volta pelos quatro cantos
examinando cada estátua. Uma tinha orelhas
espetadas para a frente e outra tinha as orelhas
grudadas à cabeça. As quatro eram de espécies
diferentes de macacos.
- Poncho, Hanuman era metade homem, metade
macaco, certo? Que tipo de macaco era a metade
macaco?
- Não sei. O Sr. Kamal saberia. Só sei dizer que
estas duas estátuas não são de espécies nativas
da Índia. Este aqui é um macaco-aranha, nativo
da América do Sul. Este outro é um chimpanzé.
Olhei para ele, boquiaberta.
- Como você sabe tanto assim sobre macacos?
Ele cruzou os braços no peito.
- Ah, então macacos são um tema de conversa
aceitável? Talvez, se eu fosse um macaco e não
um tigre, você me desse uma pista do motivo por
que está me evitando.
- Não estou evitando você. Só preciso de um
pouco de espaço. Não tem nada a ver com sua
espécie. Tem a ver com outras coisas.
- Que outras coisas?
- Nada.
- É alguma coisa.
- Podemos voltar para o tema macacos? - gritei.
- Ótimo! - ele gritou de volta.
Ficamos ali fuzilando um ao outro com o olhar por
um minuto, ambos frustrados e com raiva. Ele
então voltou a examinar os vários primatas e a
ticar mentalmente suas características numa
lista.
Antes que pudesse me conter, disparei, com
sarcasmo:
- Eu não tinha a menor ideia de que estava
acompanhado de um especialista em macacos,
mas, é claro, você os come, certo? Então acho
que essa seria a diferença entre, digamos, porco
e frango, para alguém como eu.
Poncho me olhou com a testa franzida.
- Eu vivi em zoológicos e circos por séculos,
lembra? E eu não... como... macacos!
Cruzei os braços sobre o peito e olhei ferozmente
para ele. Ele devolveu o olhar e então, batendo o
pé, foi se agachar diante de outra estátua.
Irritado, ele disse:
- Aquele ali é do gênero Macaca, nativo da Índia,
e esse peludo é um babuíno, também encontrado
aqui.
- Então, qual eu escolho? Tem que ser um destes
dois últimos, já que os outros dois não são daqui.
Ele me ignorou, provavelmente ainda ofendido, e
estava olhando o grupo de macacos sob o
pedestal quando declarei:
- Babuíno.
Ele se levantou.
- Por que ele?
- A cara dele me lembra a da estátua de
Hanuman.
- Então faça uma tentativa.
- Como é?
Ele perdeu a paciência.
- Sei lá! Faça aquela coisa que você faz, com a
mão.
- Não sei se funciona.
Ele gesticulou na direção do macaco.
- Ah, então esfregue a cabeça dele como uma
estátua de Buda. Precisamos descobrir qual é o
próximo passo.
Fechei a cara para Poncho, que decididamente
estava frustrado comigo, e então fui até a estátua
do babuíno e, hesitante, toquei-lhe a cabeça.
Nada aconteceu. Dei tapinhas em suas
bochechas, esfreguei-lhe a barriga e puxei os
braços, a cauda... Nada! Estava apertando os
ombros dele quando senti a estátua se mover um
pouquinho. Empurrei um dos ombros e o topo do
pedestal deslocou-se para o lado, revelando uma
caixa de pedra com uma alavanca. Estendi a mão
e puxei a alavanca. A princípio, nada se moveu.
Então senti que minha mão esquentava. Os
símbolos desenhados nela ressurgiram nítidos e a
alavanca se moveu, erguendo-se, retorcendo-se e
saltando.
Um tremor sacudiu o chão e a água no tanque
começou a escoar. Poncho agarrou meus braços e
rapidamente me puxou contra o seu peito,
afastando-nos do tanque. Ele descansou as mãos
na parte superior dos meus braços enquanto
observávamos a pedra se deslocar.
O tanque retangular rachou e se dividiu em dois.
As duas metades começaram a deslizar em
direções opostas. A água se derramou, batendo
na pedra e rolando para o buraco que se abriu.
Alguma coisa começou a emergir. A princípio,
pensei que fosse apenas o reflexo da luz na pedra
molhada e reluzente, mas a luz foi ficando cada
vez mais clara até que vi um galho se projetar do
buraco, coberto por folhas douradas. Mais galhos
surgiram e então um tronco. Ele continuou a
subir até que a árvore toda estava diante de nós.
As folhas tremeluziam, irradiando uma luz
amarela suave, como se milhares de luzinhas de
Natal douradas estivessem enroscadas nos
galhos. As folhas douradas tremiam, como se
uma leve brisa as sacudisse.
A árvore tinha cerca de três metros de altura e
era coberta por pequenas flores brancas que
exalavam uma fragrância doce. As folhas eram
longas e finas, presas a galhos delicados que
levavam a outros mais grossos e mais fortes e
dali ao tronco compacto e robusto. O tronco se
assentava em uma grande caixa de pedra,
sobreposta a uma sólida base também de pedra.
Era a árvore mais bonita que eu já vira.
Poncho pegou minha mão e me conduziu
cautelosamente na direção da árvore. Ele
estendeu a mão para tocar uma folha dourada.
- É linda! - exclamei.
Ele colheu uma flor e a cheirou.
- É uma mangueira.
Ficamos os dois admirando a árvore. Eu tinha
certeza de que meu rosto mostrava tanto
assombro quanto o dele.
A expressão de Poncho se suavizou. Ele deu um
passo em minha direção e ergueu a mão para
prender a flor no meu cabelo. Eu me afastei dele,
fingindo não ver, e toquei uma folha dourada.
Quando tornei a olhá-lo um momento depois, sua
expressão era de pedra e a flor branca jazia
esmagada no chão. Meu coração palpitou
dolorosamente quando vi as lindas pétalas caídas
despedaçadas e esquecidas na sujeira.
Contornamos a base da árvore, examinando-a de
todos os ângulos.
- Ali! - gritou Poncho. - Está vendo lá no alto? É um
fruto dourado!
- Onde?
Ele apontou para o alto da árvore e, de fato, uma
esfera dourada oscilava suavemente em um
galho.
- Uma manga - murmurou ele. - É claro. Faz
sentido.
- Por quê?
- A manga é um dos principais produtos de
exportação da índia. É essencial para o nosso
país. É possível que seja o recurso natural mais
importante que temos. Portanto, o Fruto Dourado
da índia é uma manga. Eu devia ter imaginado.
Ergui os olhos para os galhos altos.
- Como vamos alcançá-lo?
- Suba nos meus ombros. Precisamos fazer isso
juntos.
Eu ri.
- Poncho, acho melhor você inventar outro plano.
Tipo saltar como vocês supertigres fazem e pegálo
com a boca ou algo assim.
Ele sorriu para mim, malicioso.
- Não. Você - ele tocou meu nariz com o dedo - vai
se sentar nos meus ombros.
- Por favor, pare de dizer isso - gemi.
- Ande logo. Eu vou dizendo a você o que fazer. É
como uma brincadeira de criança.
Ele me levantou e me colocou na borda de pedra
do tanque de água. Então deu meia-volta, ficando
de costas para mim.
- Muito bem, suba.
Ele estendeu as mãos. Eu as segurei, hesitante, e
passei uma perna sobre seu ombro, queixandome
o tempo todo. Quase recuei a perna, mas ele
antecipou que eu iria amarelar e levou o braço às
costas para agarrar minha outra perna e me içar
antes que eu pudesse desistir.
Depois de eu gritar com ele em vão, Poncho segurou
minhas mãos e, equilibrando meu peso com
facilidade, voltou até a árvore. Levou algum
tempo procurando o lugar certo e então começou
a me dar instruções.
- Está vendo aquele galho grosso bem acima da
sua cabeça?
- Sim.
- Solte uma das mãos e agarre-o.
Foi o que fiz, advertindo-o:
- Não me deixe cair!
- Fique tranquila.
Segurei o galho e me agarrei a ele.
- Ótimo. Agora levante a outra mão e pegue o
mesmo galho. Vou ficar segurando suas pernas,
não se preocupe.
Erguendo o braço, segurei firme o galho, mas as
palmas das minhas mãos estavam suadas, e, se
ele não estivesse me segurando, eu certamente
teria caído.
- Ei, Poncho, essa foi uma ótima ideia, mas ainda
estou a mais ou menos meio metro do fruto. O
que faço agora?
Em resposta, ele riu e disse:
- Espere um segundo.
- Como é?
Ele arrancou os tênis dos meus pés.
- Segure-se no galho e fique de pé - instruiu.
Apavorada, gritei e apertei o galho, como se disso
dependesse a minha vida. Poncho me elevou ainda
mais. Olhei para baixo e vi que ele apoiava meus
pés nas mãos, suportando todo o peso do meu
corpo apenas com os braços.
- Poncho, você está maluco? - sibilei. - Sou muito
pesada para você.
- É claro que não é, Anahi - zombou ele. - Agora
preste atenção. Continue segurando o galho.
Quero que você passe das minhas mãos para os
meus ombros, primeiro um pé, depois o outro.
Ele ergueu minha perna direita primeiro e eu
senti meu calcanhar bater em seu braço. Com
cuidado, movi o pé, pousando-o em seu ombro
largo, e então fiz o mesmo com o outro pé. Olhei
para o fruto, que agora pendia bem à minha
frente, oscilando levemente.
- Pronto. Vou tentar pegá-lo agora. Fique firme.
Suas mãos haviam deslizado para as minhas
panturrilhas e ele as apertava com firmeza. Eu
me apoiei no galho, que agora estava na altura
da minha cintura, e estiquei o braço para
alcançar o fruto, preso a um caule longo e
lenhoso que se projetava do topo da árvore.
Meus dedos roçaram o fruto e por um momento
ele se deslocou. Quando voltou, eu o envolvi com
a mão e puxei delicadamente.
Ele não se moveu. Puxei com um pouco mais de
força, tomando cuidado para não danificar o fruto
dourado. Supreendentemente, a textura era a de
uma manga de verdade, com sua pele lisa e
semelhante a couro, embora reluzisse com uma
luz dourada deslumbrante. Firmei meu corpo
outra vez no galho, puxei com força e consegui
arrancá-lo do caule.
Imediatamente, meu corpo se congelou e tornouse
rígido, e minha mente mergulhou na
escuridão. Um calor escaldante queimava meu
peito e uma figura fantasmagórica vinha em
minha direção. As feições enevoadas giraram e
se solidificaram, tomando forma. Era o Sr.
Kamal! Ele tinha a mão no peito e parecia em
agonia. Quando retirou a mão, vi que o amuleto
que usava brilhava, incandescente. Olhei para
baixo e vi que o meu brilhava da mesma
maneira. Tentei estender a mão para ele e falei,
mas ele não parecia me ouvir, nem eu a ele.
Outra figura espectral girou diante de nós e foi
lentamente ganhando forma. Ele também
segurava um grande amuleto. De repente, alerta,
olhou para o Sr. Kamal. E logo voltou sua
atenção para o amuleto que o Sr. Kamal usava.
O homem vestia roupas modernas e caras. Seus
olhos vivos demonstravam inteligência,
confiança, determinação e algo mais, algo
sombrio, algo... maligno. Ele tentou dar um passo
à frente, mas uma espécie de barreira impedia
que qualquer um de nós se movesse.
Sua expressão se contraiu e se contorceu em
fúria, que, embora rapidamente reprimida,
continuou ali, como uma fera à espreita por trás
de seus olhos. Fiquei desesperada quando o
homem voltou sua atenção para mim. Estava
claro que ele queria alguma coisa.
Seus olhos me examinaram com atenção da
cabeça aos pés e então pousaram no amuleto
incandescente em meu pescoço. Uma malícia
reluzente e uma satisfação repugnante
perpassaram pelo seu rosto. Olhei para o Sr. Kamal,
buscando ajuda, mas ele também estudava
o homem meticulosamente.
Eu sentia muito medo. Gritei, chamando Poncho,
mas nem eu mesma podia ouvir a minha voz.
O homem tirou algo do bolso e começou a
murmurar palavras para si mesmo. Tentei ler
seus lábios, mas ele parecia falar em outra
língua. As feições do Sr. Kamal estavam ficando
transparentes. Ele se tornava espectral outra vez.
Olhei para o meu braço e arquejei quando
percebi que o mesmo começava a acontecer
comigo. Minha mente rodopiava, tonta. Tive a
sensação de que ia desmaiar. Não pude mais
resistir. E fui caindo... caindo... caindo...



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

  Quando abri os olhos, o rosto de Poncho estavadiante de mim.- Anahi! Você está bem? Você caiu. Desmaiou? Oque aconteceu?- Não, eu não desmaiei! Pelo menos, acho quenão.Ele me segurava nos braços, me apertando juntoao peito, e eu gostava disso. Não queria gostar,mas gostava.- Você me pegou?- Eu falei que n&at ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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