Fanfics Brasil - Seis Horas A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Seis Horas

815 visualizações Denunciar


O dia amanhecia. Passei intempestivamente
pelos edifícios de Hampi e deixei que o ímpeto de
minha fúria me levasse de volta a meio caminho
do acampamento do Sr. Kamal.
Poncho seguia atrás de mim, em algum lugar,
silencioso. Eu não podia ouvido, mas sabia que
estava lá. Eu tinha consciência de sua presença.
Tinha uma conexão intangível com ele, o homem.
Era quase como se ele estivesse andando ao meu
lado. Quase como se estivesse me tocando.
Devo ter começado a pegar o caminho errado,
pois ele tomou a dianteira, deixando claro que
seguia em uma direção diferente.
- Exibido - murmurei. - Vou pelo caminho errado,
se quiser.
No entanto, eu o segui.
Um pouco depois, avistei o Jeep estacionado na
colina e vi o Sr. Kamal acenando para nós.
Andei até o acampamento e ele me abraçou.
- Srta. Anahi! Vocês voltaram. Conte-me o que
aconteceu.
Suspirei, tirei a mochila e me sentei no párachoque
traseiro do Jeep.
- Bom, preciso lhe dizer que esses últimos dias
estão entre os piores da minha vida. Enfrentamos
macacos, kappa, cadáveres podres, picadas de
cobras, árvores cobertas de agulhas e...
Ele ergueu a mão.
- O que quer dizer com esses últimos dias? Vocês
saíram daqui na noite passada.
Confusa, eu disse:
- Não. Ficamos fora pelo menos... - contei nos
dedos - ...pelo menos quatro ou cinco dias.
- Desculpe, Srta. Anahi, mas a senhorita e Poncho se
despediram de mim na noite passada. Na
verdade, eu ia dizer que vocês deveriam
descansar um pouco e tentar de novo amanhã à
noite. Acha mesmo que ficaram fora quase uma
semana?
- Para falar a verdade, fiquei inconsciente por dois
desses dias. Pelo menos foi o que o tigre aqui me
disse.
Lancei um olhar furioso a Poncho, que me olhava
com uma expressão inocente de tigre enquanto
ouvia nossa conversa.
Poncho parecia doce e atento, como um gatinho
inofensivo. Na verdade, ele era tão inofensivo
quanto um kappa. Eu, por outro lado, parecia um
porco-espinho. Estava enfezada. Tinha todos os
espinhos eriçados para impedir que minha
barriga desprotegida fosse devorada pelo
predador que me espreitava.
- Dois dias? Nossa. Por que não voltamos para o
hotel e descansamos? Podemos tentar conseguir
o fruto amanhã à noite de novo.
- Mas, Sr. Kamal - falei, abrindo o zíper da
mochila -, não precisamos voltar. Conseguimos
pegar o primeiro presente de Durga, o Fruto
Dourado.
Puxei minha colcha e a desdobrei, revelando o
objeto ali aninhado.
Ele o tirou delicadamente de seu casulo.
- Incrível! - exclamou.
- É uma manga. - Com um sorriso insolente,
acrescentei: - Faz todo o sentido. Afinal, a manga
é muito importante para a cultura e o comércio
da Índia.
Poncho bufou e se deitou de lado na grama.
- Faz mesmo sentido, Srta. Anahi. - O Sr. Kamal
ficou admirando o fruto por mais um momento e
então tornou a embrulhá-lo na colcha. Ele juntou
as mãos. - Isso é muito empolgante! Então vamos
desfazer o acampamento e ir para casa. Ou
talvez seja melhor irmos para um hotel para que
possa descansar, Srta. Anahi.
- Ah, está tudo bem. Não me importo de pegar a
estrada. Podemos dormir no hotel hoje à noite.
Quantos dias vamos levar para chegar em casa?
- Vamos precisar pernoitar mais duas vezes em
hotéis em nossa viagem para casa.
Um pouco preocupada, olhei para Poncho.
- E... Eu estava pensando que desta vez, se o
senhor não se importar, podíamos ficar em um
hotel maior. Sabe, algo que tenha mais gente.
Com elevadores e quartos com chave. Ou, ainda
melhor, um belo hotel bem alto em uma cidade
grande. Bem, bem, bem longe da selva.
O Sr. Kamal deu uma risadinha.
- Vou ver o que posso fazer.
Recompensei o Sr. Kamal com um sorriso
agradecido.
- Ótimo! Podemos ir agora? Mal posso esperar
para tomar um banho. - Abri a porta do lado do
carona, virei-me e sibilei num sussurro para Poncho:
- Em meu belo quarto de hotel, num andar bem
alto, inacessível a tigres.
Ele apenas me olhou outra vez com sua cara
inocente e seus olhos azuis. Sorri perversamente
para ele e pulei para o interior do Jeep, fechando
a porta com força. Meu tigre se dirigiu tranquilo
para a traseira, onde o Sr. Kamal guardava seus
últimos suprimentos, e saltou para o banco de
trás. Ele se inclinou para a frente e, antes que eu
pudesse empurrá-lo, me deu uma grande e
babada lambida no rosto.
- Poncho! - vociferei. - Isso é nojento!
Usei minha camiseta para limpar a saliva de tigre
do nariz e da bochecha, e me virei para gritar
com ele um pouco mais. Poncho já estava deitado no
banco traseiro, com a boca aberta, como se
estivesse rindo. Antes que eu pudesse reagir, o
Sr. Kamal, que estava feliz como eu jamais o
vira, entrou no Jeep e começamos a esburacada
jornada de volta a uma estrada civilizada.
O Sr. Kamal queria me fazer perguntas. Eu sabia
que ele estava ávido por informações, mas ainda
estava furiosa com Poncho, então menti. Pergunteilhe
se poderia esperar um pouco para que eu
pudesse dormir. Dei um imenso bocejo, para
efeito dramático, e ele logo concordou em me
deixar ter um pouco de paz, o que fez com que
eu me sentisse culpada. Eu gostava muito do Sr.
Kamal e detestava mentir. Desculpei minha
atitude atribuindo mentalmente a Poncho a culpa por
esse comportamento atípico.
Dormi um pouco e, quando acordei, o Sr. Kamal
me entregou um refrigerante, um sanduíche e
uma banana. Pensei em várias e boas piadas de
macaco com que podia importunar Poncho, mas
fiquei calada em respeito ao Sr. Kamal. Devorei
meu sanduíche e acabei com o refrigerante em
um longo gole.
O Sr. Kamal riu e me entregou outro.
- Está pronta para me contar o que aconteceu,
Srta. Anahi?
- Acho que sim.
Levei quase duas horas para lhe contar sobre o
túnel, a floresta de agulhas, a caverna, os kappa
e Kishkindha. Fiquei muito tempo falando da
árvore dourada e dos macacos de pedra que
ganharam vida. Terminei com o ataque do kappa
e as picadas de Fanindra.
Não mencionei nem uma só vez que Poncho ficara na
forma humana o tempo todo. Na verdade,
apaguei a presença dele em Kishkindha por
completo. Sempre que o Sr. Kamal me
perguntava como isso ou aquilo fora feito, eu
respondia vagamente, ou dizia que por sorte
tínhamos Fanindra ou que por sorte tínhamos a
gada. Isso pareceu satisfazer a maior parte de
suas perguntas.
Quando ele pediu mais detalhes sobre o ataque
dos kappa, eu dei de ombros e repeti o mantra:
"Por sorte eu tinha Fanindra." Não queria
responder a nenhuma pergunta estranha sobre
Poncho. Eu sabia que ele provavelmente contaria
seu lado da história quando voltasse à forma
humana, mas não me importava. Mantive minha
versão da viagem objetiva, distante e, o mais importante,
sem Poncho.
O Sr. Kamal disse que logo iríamos parar em um
hotel, mas que ele gostaria primeiro de encontrar
um bom lugar para deixar Poncho.
- É claro - concordei, e dirigi um sorriso doce e
falso ao tigre atento no banco de trás.
- Espero que nosso hotel não seja longe demais
para ele - preocupou-se o Sr. Kamal.
Dei uns tapinhas no braço do Sr. Kamal,
tranquilizando-o.
- Ah, não se preocupe com ele. Poncho é muito bom
em conseguir o que quer. Ou melhor... em cuidar
de suas necessidades. Tenho certeza de que ele
vai achar sua longa noite sozinho na selva
extremamente esclarecedora.
O Sr. Kamal me dirigiu um olhar intrigado, mas
acabou assentindo e parou perto de uma área de
selva.
Poncho saltou do Jeep, foi até o meu lado do carro e
me fitou com olhos azuis gélidos. Eu
simplesmente me virei de lado para não ter que
encará-lo. Quando o Sr. Kamal tornou a entrar no
Jeep, espiei pela minha janela, mas Poncho já havia
desaparecido. Lembrei a mim mesma que ele
merecia aquilo e me recostei no assento com os
braços dobrados sobre o peito.
- Anahi, você está bem? - perguntou o Sr. Kamal
com a voz suave. - Está parecendo muito... tensa
desde que voltou.
- O senhor não faz idéia - murmurei entre dentes.
- O que foi?
Suspirei e sorri para ele debilmente.
- Nada. Estou bem. Apenas esgotada da viagem.
Só isso.
- Tem mais uma coisa que eu queria lhe
perguntar. Você teve algum sonho estranho
quando estava em Kishkindha?
- Que tipo de sonho?
Ele olhou para mim, preocupado.
- Talvez um sonho sobre seu amuleto?
- Ah! Esqueci completamente de contar! Quando
colhi o fruto, desmaiei e tive uma visão. Nela
estavam o senhor, eu e um sujeito maligno.
O Sr. Kamal ficou visivelmente apreensivo. Ele
pigarreou.
- Então a visão foi real... para todos nós. Era o que
eu temia. O homem que você viu era Lokesh. É o
feiticeiro do mal que lançou a maldição sobre Poncho
e Felipe.
Minha boca se escancarou com o susto.
- Ele ainda está vivo?
- Pelo jeito, sim. Também parece que ele tem pelo
menos uma parte do amuleto. No entanto,
suspeito que tenha todas as outras partes.
- Quantas são?
- Supõe-se que sejam cinco ao todo, mas ninguém
tem certeza. O pai de Poncho tinha uma parte e a
mãe trouxe outra para a família, pois era filha
única de um poderoso chefe militar que também
possuía uma. Foi assim que tanto Poncho quanto
Felipe acabaram com um pedaço do amuleto.
- Mas o que isso tem a ver comigo?
- É essa a questão, Anahi. Você está ajudando
Poncho a quebrar a maldição. O amuleto conecta nós
três e receio que Lokesh saiba sobre nós. Sobre
você, em particular. Eu torcia para que alguma
coisa tivesse lhe acontecido, que ele não
estivesse mais vivo depois de todos esses anos.
Faz séculos que venho procurando por ele. Agora
que nos viu, temo que venha atrás de você e do
amuleto.
- O senhor acha mesmo que ele é tão cruel?
- Sei que é. - O Sr. Kamal fez uma pausa e então
sugeriu com delicadeza: - Talvez seja hora de
você voltar para casa.
- O quê? - perguntei, em pânico.
Voltar para casa? Que casa? Para quem? Eu não
tinha vida em meu país. Não havia nem mesmo
pensado no que aconteceria depois que quebrássemos
a maldição. Acho que simplesmente
imaginei que houvesse tanto a fazer que eu
ficaria por ali por mais alguns anos.
Desalentada, perguntei:
- O senhor quer que eu volte para casa agora?
Ele viu minha expressão e afagou minha mão.
- Claro que não! Eu não quis dizer que queria que
você nos deixasse. Não se preocupe. Vamos
encontrar uma solução. Por ora, estou apenas
especulando. Não tenho nenhum plano imediato
de mandá-la para casa. E, naturalmente, se um
dia você partir, poderá voltar sempre que quiser.
Nossa casa é sua. Só precisamos agir com
extrema cautela agora que Lokesh voltou ao
cenário.
Senti meu pânico diminuir, mas somente em
parte. Pode ser que o Sr. Kamal esteja certo.
Talvez eu devesse voltar para casa. Seria muito
mais fácil esquecer o Sr. Super-Herói se eu
estivesse do outro lado do planeta. Afinal, ele é o
único rapaz com quem tive contato em semanas,
sem contar Felipe. De qualquer modo, seria mais
saudável para mim sair e conhecer outros caras.
Talvez, se eu fizesse isso, percebesse que toda
essa ligação emocional que tenho com ele não é
assim tão forte.
Minha mente pode estar me pregando peças. É
só porque fiquei isolada, só isso. Quando tudo o
que se tem é Tarzan e alguns macacos, Tarzan
parece muito bom, não é?
Vou esquecê-lo, vou para casa e vou namorar um
nerd simpático e normal, que nunca vai me
deixar.
Prossegui nessa linha de raciocínio, listando
minhas razões para ficar longe de Poncho. Decidi
que continuaria a evitá-lo. O único problema era
minha mente fraca e rebelde que ficava voltando
à questão de quanto eu me sentia segura nos
braços dele. E ao que ele dissera quando achou
que eu estivesse morrendo. E ao formigamento
quente que permanecia em meus lábios depois
que ele me beijava. Mesmo que eu ignorasse a
beleza de seu rosto, o que era uma tarefa quase
hercúlea, havia muitas outras qualidades
fascinantes nas quais minha mente podia se
demorar e esses pensamentos me mantiveram
ocupada pelo restante da viagem.
O Sr. Kamal parou na entrada de um fabuloso
hotel cinco estrelas. Eu me senti uma desleixada
em minhas roupas rasgadas e ensanguentadas,
com as quais eu estava havia uma semana. O Sr.
Kamal parecia não se importar e se mostrava
feliz como nunca quando entregou as chaves
para um manobrista e me acompanhou, entrando
no hotel. Eu fiquei com a mochila, mas nossas
duas outras malas foram levadas para os quartos
por empregados do hotel.
O Sr. Kamal preencheu os formulários
necessários e falou baixinho em hindi com a
recepcionista. Então gesticulou para que eu o
seguisse.
Quando passamos por ela, eu me inclinei e
perguntei:
- Só por curiosidade, vocês não permitem animais
de estimação, não é?
Ela pareceu confusa e olhou para o Sr. Kamal,
mas sacudiu a cabeça negativamente.
- Ótimo. Só para ter certeza.
Sorri para ela. O Sr. Kamal inclinou a cabeça,
intrigado, mas não disse nada.
Ele deve estar pensando que estou com um
parafuso frouxo. Dei um risinho e o segui até o
elevador. Saímos diretamente em nosso quarto, a
suíte da cobertura.
Os empregados se foram e as portas do elevador
se fecharam. O Sr. Kamal me disse que ocuparia
o quarto da esquerda e que eu ficaria com a suíte
à direita. E deixou-me sozinha, me aconselhando
a descansar e informando que a comida seria
servida dali a pouco.
Entrei em minha linda suíte com cama king size e
ri, atordoada. Havia uma imensa banheira no
meio do banheiro. Tirei rapidamente os tênis
sujos e decidi tomar um banho de chuveiro
primeiro e só então ficar de molho na banheira.
Ensaboei o cabelo quatro vezes e em seguida
apliquei condicionador e deixei o líquido sedoso
fazer efeito enquanto esfregava a minha pele.
Enterrei as unhas no sabonete e lavei-as bem
para tirar a sujeira, prestando especial atenção
aos pés. Meus pobres pés doloridos, cheios de
calos e bolhas. Talvez o Sr. Kamal possa me
arranjar uma pedicure mais tarde.
Quando me senti totalmente limpa, enrolei uma
toalha no cabelo e vesti um roupão. Enchendo a
banheira com água quente, despejei a espuma de
banho e liguei o sistema de hidromassagem. O
aroma de peras suculentas e amoras recémcolhidas
tomou conta do banheiro e me fez
lembrar do Oregon.
A sensação de afundar naquela banheira era a
melhor de todas. Bem, a segunda melhor. Fiquei
irritada quando a lembrança dos beijos de Poncho
surgiu e logo me livrei dela, ou pelo menos tentei.
Quanto mais eu relaxava na banheira, mais a
minha mente parecia se demorar naquelas cenas.
Era como uma música que não me saísse da
cabeça e que, independentemente do que eu
fizesse, continuava a voltar.
Cheguei até a me pegar sorrindo... Argh! O que é
isso? Estremeci, zangada, tentando me livrar dos
devaneios. Então, com relutância, saí da
banheira. Depois de me secar e vestir um short e
uma camiseta limpos, sentei-me para escovar os
cabelos. Levei um tempão para conseguir tirar
todos os nós. O ato de escovar era calmante.
Fazia com que eu me lembrasse de minha mãe.
Mais tarde, me aventurei até a sala de estar e
encontrei o Sr. Kamal lendo um jornal.
- Olá, Srta. Anahi. Está se sentindo renovada?
- Estou me sentindo muito melhor.
- Ótimo. Tomei a liberdade de pedir o seu jantar.
Está ali em cima.
Levantei a tampa do prato e encontrei peru
recheado com farofa de milho, molho de frutas
vermelhas, ervilhas e purê de batata.
- Uau! Como o senhor conseguiu que fizessem
isso?
Ele deu de ombros.
- Pensei que você fosse gostar de alguma coisa
bem americana para variar e isso é o mais
americano que há. Tem até torta de maçã de
sobremesa.
Peguei meu prato e o copo de água com limão e
gelo e me sentei perto dele para comer, com as
pernas dobradas debaixo do corpo.
- O senhor já comeu?
- Sim, há uma hora mais ou menos. Não se
preocupe comigo. Aproveite seu jantar.
Comecei a comer e, antes mesmo da torta de
maçã, já me sentia farta. Passei um pedaço de
pão no molho em meu prato e disse:
- Sr. Kamal? Queria lhe dizer uma coisa. Eu me
sinto culpada por não ter contado antes, mas
acho que o senhor precisa saber. - Respirei fundo
e continuei: - Poncho ficou na forma humana o
tempo todo em que permanecemos em
Kishkindha.
Ele colocou de lado o jornal.
- Isso é interessante. Mas por que você não me
contou antes?
Dei de ombros e respondi, evasiva:
- Não sei. Tivemos algumas... divergências nesses
últimos dias.
Seus olhos faiscaram quando ele riu,
compreendendo.
- Agora tudo faz sentido. Eu me perguntava por
que você estava agindo de maneira diferente
perto dele. Poncho pode ser... difícil quando quer.
- Teimoso, o senhor quer dizer. E exigente. E... -
Olhei pela janela para as luzes noturnas da
cidade e murmurei: - Muitas outras coisas.
Ele se inclinou para a frente e tomou uma de
minhas mãos nas dele.
- Entendo. Não se preocupe, Srta. Anahi. Estou
surpreso que tenham realizado tanto em tão
pouco tempo. Já é bastante difícil empreender
uma jornada perigosa, ainda mais com alguém
que você está começando a conhecer e em quem
não sabe se pode confiar. Mesmo os melhores
companheiros podem ter desentendimentos
quando sofrem uma pressão como a que vocês
dois sofreram. Tenho certeza de que se trata
apenas de um contratempo momentâneo em sua
amizade.
Nossa amizade não era exatamente a questão.
Ainda assim, as palavras do Sr. Kamal me
confortaram. Quem sabe agora que estávamos
fora daquela situação pudéssemos conversar
sobre o assunto e usar o bom senso. Talvez eu
pudesse ser mais tolerante. Afinal, Poncho estava
apenas começando a voltar a se comunicar com
as pessoas. Se eu pudesse ao menos explicar
para ele como o mundo funcionava, tinha certeza
de que entenderia e seria capaz de nos ver como
amigos.
- É extraordinário que ele tenha conseguido
manter a forma humana durante todo o tempo
em que estiveram lá - prosseguiu o Sr. Kamal. -
Talvez tenha algo a ver com o tempo parar.
- O senhor acha mesmo que o tempo parou em
Kishkindha?
- Talvez o tempo apenas passe de forma diferente
naquele lugar, mas o que eu sei é que vocês
ficaram fora menos de um dia.
Assenti, concordando com sua avaliação.
Sentindo-me melhor com a conversa e feliz por
ter contado a verdade ao Sr. Kamal, avisei que ia
ler um pouco e depois dormiria bastante. Ele me
pediu que colocasse toda a roupa na sacola da
lavanderia para que ela fosse lavada durante a
noite.
Voltando para a suíte, comecei a reunir minhas
coisas. Coloquei as roupas e também os tênis na
sacola. Além disso, com cuidado, abri minha
colcha, tirei o Fruto Dourado e o enrolei em uma
toalha pequena. Apanhei a colcha imunda e a
enfiei na sacola da lavanderia também.
Depois de colocar a sacola diante da porta, pulei
na cama imensa, me deliciando nos lençóis
macios. Afundei nos travesseiros de pena de
ganso e logo mergulhei em um sono profundo e
relaxante.
Na manhã seguinte, sorri ao acordar e estiquei
pernas e braços até onde podia, e ainda assim
eles não alcançaram as extremidades da cama.
Escovei novamente o cabelo e o prendi em um
rabo de cavalo frouxo.
O Sr. Kamal estava tomando seu café da manhã:
fritada de batata, torrada e omelete. Juntei-me a
ele, beberiquei meu suco de laranja e tagarelei
sobre como era empolgante voltar para casa.
Nossa roupa foi devolvida lavada, passada e
dobrada, como se fosse nova. Peguei algumas
peças na pilha, para vestir, e transferi todo o
restante para a bolsa. Quando cheguei à colcha,
me detive por um momento para aspirar o aroma
de limão do sabão utilizado e a inspecionei
cuidadosamente à procura de danos. Embora
estivesse velha e desbotada, estava resistindo
muito bem. Disse um obrigada silencioso à minha
avó.
Coloquei a colcha dobrada no fundo da mochila e
guardei a gada na lateral, na posição vertical. Na
noite anterior, eu havia apanhado a gada para
limpar e ficara surpresa ao encontrá-la reluzente
e imaculada, como se nunca tivesse sido usada.
Em seguida, posicionei Fanindra em cima da
colcha e coloquei o Fruto Dourado bem no meio
de suas dobras. Então fechei o zíper, deixando
apenas uma pequena abertura para que Fanindra
pudesse respirar. Eu não sabia se ela respirava
de fato, mas isso me deixava mais tranquila.
Logo chegou a hora de partir. Eu me sentia
alegre, renovada e perfeitamente satisfeita até
pararmos no acostamento da estrada - então o vi,
e ele não era um tigre. Poncho estava à nossa
espera, usando sua habitual roupa branca e
ostentando um grande sorriso. O Sr. Kamal foi
até ele e o abraçou. Eu podia ouvir suas vozes,
mas não conseguia entender o que diziam. Mas
escutei o Sr. Kamal rir bem alto ao dar tapinhas
nas costas de Poncho. Estava evidentemente muito
feliz por alguma razão.
Então Poncho se transformou em tigre e saltou para
o carro. Ele se enroscou para tirar um cochilo no
banco de trás enquanto eu claramente o ignorava
e escolhia um livro para me manter ocupada
durante a longa viagem.
O Sr. Kamal explicou que precisaríamos parar
em outro hotel no caminho e que viajaríamos o
dia todo. Eu lhe disse que não havia problema
para mim. Tinha muitos livros para ler, pois o Sr.
Kamal havia comprado alguns romances na
livraria do hotel, assim como um guia de viagem
sobre a Índia.
Cochilei intermitentemente entre os capítulos.
Terminei o primeiro romance no começo da tarde
e estava chegando ao fim do segundo quando
entramos numa cidade. O carro estava silencioso.
O Sr. Kamal parecia animado, mas não
partilhava essa alegria, e Poncho dormiu o dia todo.
Depois que o sol se pôs, o Sr. Kamal anunciou
que estávamos perto de nosso destino. Ele
indicou que me deixaria lá primeiro e mais tarde
jantaríamos no restaurante do hotel para
comemorar.
Em meu novo quarto de hotel, fiquei triste por ter
na bolsa apenas jeans e camisetas. Depois de
revolver os mesmos três itens pela terceira vez,
ouvi uma batida na porta e fui até lá de roupão e
chinelos. Uma camareira me entregou uma
sacola de roupa e uma caixa. Tentei falar com
ela, mas a mulher não entendia inglês. Ela só
ficava dizendo "Kamal".
Peguei as duas coisas, agradeci, abri o fecho da
sacola e encontrei um vestido esplêndido ali
dentro. O corpete justo de veludo preto tinha o
decote em coração e as manguinhas curtas e a
saia eram feitas de tafetá perolado cor de
ameixa. O corte justo do vestido me deixava com
mais curvas do que eu tinha de fato. Ele se
estreitava até os quadris e se ajustava sobre a
saia cor de ameixa na altura dos joelhos. Um
cinto, feito do mesmo material macio da saia, era
amarrado do lado e preso com um broche
cintilante que realçava minha cintura.
O vestido tinha um belo corte, era forrado e
provavelmente caro. Quando eu me
movimentava na luz, o tecido tremeluzia,
refletindo várias tonalidades de púrpura. Eu
nunca usara nada tão bonito, a não ser o lindo
vestido indiano azul que eu tinha na casa. Abri a
caixa e encontrei um par de sandálias
pretas altas de tiras com fivelas de diamante e
uma presilha de cabelo com um lírio combinando.
Um vestido como aquele exigia maquiagem,
então fui até o banheiro e terminei de me
arrumar. Prendi a presilha com o lírio no cabelo,
logo acima da orelha esquerda, e penteei os fios
ondulados com os dedos. Por fim me calcei e
fiquei esperando o Sr. Kamal.
Não demorou para que ele batesse à minha porta
e me olhasse com admiração paternal.
- Srta. Anahi, está linda!
Rodopiei a saia para ele.
- O vestido é lindo. Se estou bem, é graças ao
senhor, que escolheu algo fabuloso. Obrigada. O
senhor deve ter percebido que, para variar, eu
queria me sentir uma dama e não uma garota em
um acampamento.
Ele assentiu. Seus olhos pareciam pensativos,
mas sorriu, estendeu o braço e me acompanhou
até o elevador do hotel. Descemos rindo,
enquanto eu lhe descrevia a cena de Poncho
correndo com uns 20 macacos presos ao pelo.
Entramos em um restaurante à luz de velas com
toalhas de mesa e guardanapos de linho branco.
A hostess nos conduziu a uma área com janelas
que iam do chão ao teto e cuja vista dava para as
luzes da cidade abaixo. Somente uma das mesas
dessa área do restaurante estava ocupada. Um
homem jantava sozinho. Ele estava de costas
para nós, apreciando as luzes.
O Sr. Kamal fez um reverência e disse:
- Srta. Anahi, vou deixá-la com sua companhia
para o jantar. Boa refeição.
Em seguida deixou o restaurante.
- Sr. Kamal, espere. Não estou entendendo.
Companhia para o jantar? Do que ele está
falando?
Nesse momento, uma voz grave e muito familiar
disse atrás de mim:
- Oi, Annie.
Fiquei imobilizada e meu coração despencou até
o estômago, causando um alvoroço ali. Alguns
segundos se passaram. Ou foram alguns
minutos? Eu não saberia dizer.
Ouvi um suspiro de frustração.
- Você continua sem falar comigo? Vire-se, por
favor.
Uma mão quente segurou meu cotovelo, me
forçando delicadamente a virar. Ergui os olhos e
arquejei de leve. Ele estava maravilhoso! Tão
lindo que dava vontade de chorar.
- Poncho.
Ele sorriu.
- Quem mais?
Vestia um elegante terno preto e tinha cortado o
cabelo. Os fios pretos e lustrosos estavam
jogados para trás em camadas desalinhadas, com
um leve cacheado na nuca. A camisa branca que
ele usava estava desabotoada no colarinho,
realçando a pele de bronze dourada e o brilhante
sorriso branco, tornando-o letal para qualquer
mulher que cruzasse o seu caminho. Gemi por
dentro.
Ele parece... parece uma mistura de James Bond,
Antonio Banderas e Brad Pitt.
Decidi que a coisa mais segura a fazer era olhar
para seus sapatos. Sapatos eram chatos, certo?
Não tinham nenhum atrativo. Ah. Muito melhor.
Seus sapatos eram bonitos, é claro - pretos e
bem engraxados, exatamente como eu esperaria.
Sorri ironicamente quando percebi que essa era a
primeira vez que via Poncho usar sapatos.
Ele segurou meu queixo e me fez olhar para o
seu rosto. O idiota. Então foi sua vez de me
avaliar. Ele me olhou de cima a baixo. E não foi
um olhar rápido. Foi daqueles que envolvem tudo
lentamente. O tipo de lentidão que faz o rosto de
uma garota ficar quente. Fiquei com raiva de mim
mesma por corar e olhei para ele, furiosa.
Nervosa e impaciente, perguntei:
- Já terminou?
- Quase.
Ele agora fitava minhas sandálias altas.
- Então se apresse!
Seus olhos voltaram vagarosamente ao meu
rosto e ele sorriu para mim, com aprovação.
- Anahi, quando um homem está com uma
mulher bonita, ele precisa seguir seu próprio
ritmo.
Ele passou minha mão pelo seu braço e conduziume
até uma mesa lindamente iluminada. Então
puxou a cadeira para que eu me sentasse.
Fiquei ali de pé me perguntando se podia ir
correndo até a saída mais próxima. Sandálias
idiotas. Eu jamais conseguiria.
Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido:
- Eu sei o que você está pensando e não vou
deixá-la escapar de novo. Você pode se sentar e
jantar comigo como uma namorada normal - ele
sorriu diante da palavra utilizada - ou - fez uma
pausa, pensativo, e ameaçou: - pode se sentar no
meu colo enquanto eu a obrigo a comer.
- Você não ousaria - sibilei. - Você é cavalheiro
demais para me forçar a fazer qualquer coisa.
Isso é um blefe, Sr. Permissão.
- Até um cavalheiro tem seus limites. De um jeito
ou de outro, vamos ter uma conversa civilizada.
Estou torcendo para ter que lhe dar comida no
meu colo, mas a escolha é sua.
Ele se endireitou e esperou. Desabei rudemente
na cadeira e a arrastei até a mesa, fazendo
barulho. Ele riu baixinho e se acomodou na
cadeira diante da minha. Senti culpa por causa do
vestido e rearrumei a saia, para que não
amarrotasse.
Olhei-o com raiva quando a garçonete se
aproximou. Ela pousou meu cardápio
rapidamente na mesa mas se demorou
entregando o cardápio a Poncho. Parou perto do
ombro dele e apontou várias opções enquanto se
inclinava sobre seu braço. Depois que ela se foi,
revirei os olhos, enojada.
Poncho examinou o cardápio devagar e com
atenção, parecendo estar se divertindo muito. Eu
nem peguei o meu cardápio na mesa. Ele me
lançava olhares significativos enquanto eu me
mantinha ali em silêncio, tentando evitar o
contato visual. Quando ela voltou, falou com ele
brevemente e gesticulou em minha direção.
Sorri e, em uma voz melosa, disse:
- Quero o que me fizer sair daqui mais depressa.
Como uma salada.
Poncho me devolveu um sorriso benevolente e
recitou o que parecia um banquete, pedido que a
garçonete ficou mais do que feliz em anotar. O
tempo todo ela o tocava e ria com ele. O que
achei muito, muito irritante.
Quando ela se foi, ele se reclinou na cadeira e
bebeu água.
Fui a primeira a romper o silêncio, sussurrando:
- Não sei o que está aprontando, mas só lhe
restam mais uns dois minutos. Portanto espero
que você tenha pedido o steak tartare, Tigre, que
é de carne crua.
Ele riu, travesso.
- Veremos, Annie. Veremos.
- Está bem. Para mim, tanto faz. Mal posso
esperar para ver o que vai acontecer quando um
tigre branco sair correndo por este belo
restaurante, espalhando o caos. Talvez eles
percam uma das estrelas por colocarem a vida
dos clientes em perigo. Talvez sua nova
amiguinha, a garçonete, fuja correndo e gritando.
Sorri com esse pensamento.
Poncho fingiu estar chocado.
- Anahi! Você está com ciúmes?
Ri com desdém, de uma forma muito pouco
feminina, e retruquei:
- Não! É claro que não.
Ele sorriu. Nervosa, eu brincava com o
guardanapo de tecido.
- Não posso acreditar que você tenha convencido
o Sr. Kamal a tomar parte nisso. É um absurdo.
Ele abriu o guardanapo e piscou para a garçonete
quando ela veio nos trazer uma cesta de pães.
Depois que ela se afastou, reclamei:
- Você está piscando para ela? E inacreditável!
Ele riu baixinho e pegou um pãozinho fumegante,
passou manteiga e o colocou no meu prato.
- Coma, Anahi - ordenou ele, e então se debruçou
sobre a mesa. - A menos que esteja
reconsiderando apreciar a vista no meu colo.
Zangada, parti o pãozinho e engoli alguns
pedaços antes de perceber como era delicioso - a
massa leve e macia, com pedacinhos de casca de
laranja. Eu teria comido outro, mas não daria a
ele essa satisfação.
A garçonete retornou logo depois com dois
ajudantes e eles foram colocando prato após
prato em nossa mesa. De fato, ele havia pedido
um banquete. Não havia um só centímetro vazio
na mesa. Ele pegou o meu prato e o encheu com
uma seleção aromática, de dar água na boca.
Depois de colocá-lo diante de mim, começou a
encher o próprio prato. Quando terminou, olhou
para mim e arqueou uma sobrancelha.
Debrucei-me e sussurrei, furiosa:
- Eu não vou me sentar no seu colo, portanto não
alimente esperanças.
Ele ficou esperando até eu dar algumas garfadas.
Espetei um pedaço de peixe com crosta de
macadâmia e disse:
- Xi. O tempo acabou, não é? O relógio é
implacável. Você deve estar suando, hein? Quer
dizer, pode se transformar a qualquer segundo.
Ele se limitou a dar uma garfada no carneiro ao
curry e em seguida no arroz de açafrão, e ficou
ali mastigando como se tivesse todo o tempo do
mundo.
Eu o observei com atenção por dois minutos
completos e então dobrei o guardanapo.
- O.k., eu desisto. Por que você está todo
presunçoso e confiante? Quando vai me contar o
que está acontecendo?
Ele limpou a boca com cuidado e bebeu um gole
de água.
- O que está acontecendo, minha prema, é que a
maldição foi suspensa.
Fiquei boquiaberta.
- O quê? Se ela foi suspensa, por que você ficou
como tigre nos últimos dois dias?
- Bem, para ser exato, a maldição não se
extinguiu completamente. Parece que me foi
concedida uma suspensão parcial.
- Parcial? Em que sentido?
- Um certo número de horas por dia. Seis horas,
para ser exato.
Recitei a profecia em minha mente e lembrei que
havia quatro lados no monólito, e quatro vezes
seis eram...
- Vinte e quatro.
Ele fez uma pausa.
- Vinte e quatro o quê?
- Bem, seis horas fazem sentido porque são
quatro os presentes a serem obtidos para Durga
e quatro os lados do monólito. Nós só
completamos uma das tarefas, então você ganha
apenas seis horas.
Ele sorriu.
- Então acho que tenho que mantê-la por aqui,
pelo menos até que as outras tarefas estejam
finalizadas.
Bufei.
- Não se anime, Tarzan. Pode ser que eu não
precise estar presente para as outras tarefas.
Agora que é humano boa parte do tempo, você e
Felipe serão capazes de resolver esse problema
sozinhos, tenho certeza.
Ele inclinou a cabeça e estreitou os olhos.
- Não subestime seu nível de... envolvimento,
Anahi. Mesmo que você não fosse mais
necessária para quebrar a maldição, acha que eu
simplesmente a deixaria ir? Que a deixaria sair da
minha vida sem nem mesmo olhar para trás?
Comecei a brincar nervosamente com minha
comida e resolvi não dizer nada. Aquilo era
exatamente o que eu estava planejando fazer.
Alguma coisa havia mudado. O Poncho magoado e
confuso que me fizera sentir culpa por rejeitá-lo
em Kishkindha tinha desaparecido. Agora ele parecia
extremamente confiante, quase arrogante,
e muito seguro de si.
Ele mantinha os olhos no meu rosto enquanto
comia. Quando terminou toda a comida que havia
em seu prato, tornou a enchê-lo, pegando pelo
menos metade de cada travessa na mesa.
Eu me sentia constrangida sob o seu olhar. Ele
parecia o gato com o canário ou o aluno com
todas as respostas do teste antes mesmo de o
professor anunciá-lo para a turma. Estava
irritantemente satisfeito consigo mesmo e eu
intuía que havia muito mais por trás de sua
recente confiança do que apenas ter mais tempo
como humano.
Ele aparentava saber todos os meus
pensamentos e sentimentos secretos. Sua
confiança me incomodava. Eu me sentia
encurralada.
- A resposta a essa pergunta é... não vou. Seu
lugar é ao meu lado. O que me leva à conversa
que eu queria ter com você.
- Qual é o meu lugar, cabe a mim decidir, e,
embora eu possa ouvir o que você tem a dizer,
isso não significa que irei concordar.
- É justo. - Poncho empurrou o prato vazio para o
lado. - Temos algumas questões pendentes para
resolver.
- Se você está se referindo às outras tarefas que
devemos cumprir, já estou ciente disso.
- Não estou falando disso. Estou falando de nós.
- Nós?
Coloquei as mãos debaixo da mesa e limpei as
palmas suadas no guardanapo.
- Acho que algumas coisas ficaram por dizer e que
já é hora de serem discutidas.
- Não estou escondendo nada de você, se é isso
que está dizendo.
- Está, sim.
- Não. Não estou.
- Você está se recusando a reconhecer o que se
passou entre nós?
- Não estou me recusando a nada. Não tente pôr
palavras em minha boca.
- Não estou fazendo isso. Só estou tentando
convencer uma mulher teimosa a admitir que
sente alguma coisa por mim.
- Se eu sentisse algo por você, você seria o
primeiro a saber.
- Está dizendo que não sente nada por mim?
- Não é isso que estou dizendo.
- Então o que você está dizendo?
- Eu estou dizendo... não estou dizendo nada! -
explodi.
Poncho sorriu e estreitou os olhos.
Se ele continuasse com esse interrogatório,
provavelmente ia conseguir me pegar em uma
mentira. Não sou muito boa nisso.
Ele se recostou na cadeira.
- Está bem. Vou tirá-la da berlinda por ora, mas
iremos falar sobre isso mais tarde. Os tigres são
incansáveis uma vez que se propõem a alguma
coisa. Você não vai conseguir me evitar para
sempre.
- Não crie expectativas - repliquei. - Todo herói
tem a sua criptonita e você não me intimida.
Torci o guardanapo no colo enquanto ele
observava cada movimento meu com seus olhos
escrutinadores. Eu me sentia despida, como se
ele pudesse ver dentro do meu coração.
A garçonete voltou e Poncho sorriu quando ela lhe
estendeu um cardápio menor, provavelmente de
sobremesas. Ela se inclinou sobre ele enquanto
eu batia o pé, de frustração. Ele a ouvia com
atenção. Então os dois riram outra vez.
Ele falou baixinho, gesticulando em minha
direção, e ela olhou para mim, deu uma risadinha
e recolheu os pratos. Ele pegou a carteira e
entregou-lhe um cartão de crédito. A garçonete
pôs a mão em seu braço, para fazer outra
pergunta, e não pude mais me segurar. Eu o
chutei por baixo da mesa. Ele nem piscou ou
olhou para mim. Apenas estendeu o braço sobre
a mesa, tomou a minha mão na dele e ficou
acariciando-a distraidamente com o polegar
enquanto respondia à pergunta dela. Era como se
meu chute tivesse sido um tapinha de amor. Só
serviu para deixá-lo mais feliz.
Quando ela se afastou, encarei-o com os olhos
estreitados e disse:
- Como foi que você conseguiu aquele cartão e o
que você falou com ela sobre mim?
- O Sr. Kamal me deu o cartão e eu disse a ela
que aproveitaríamos a sobremesa... mais tarde.
Eu ri com sarcasmo.
- Você vai comer a sobremesa mais tarde
sozinho, porque eu não vou comer mais nada
com você.
Ele se inclinou sobre a mesa à luz das velas e
disse:
- Quem falou alguma coisa sobre comer, Anahi?
Ele só pode estar brincando! Mas parecia
totalmente sério. Ótimo! Lá vem o frio na barriga
outra vez.
- Pare de me olhar assim.
- Assim como?
- Como se estivesse me caçando. Eu não sou um
antílope.
Ele riu.
- Ah, mas essa perseguição seria perfeita e você
seria uma presa muito suculenta.
- Pare com isso.
- Estou deixando você nervosa?
- Pode-se dizer que sim.
Levantei-me bruscamente enquanto ele assinava
o recibo e comecei a me dirigir para a porta. Em
um instante ele estava ao meu lado falando no
meu ouvido:
- Não vou deixar você escapar, lembra? Agora,
comporte-se como uma boa namorada e me
deixe acompanhá-la até em casa. É o mínimo que
pode fazer, já que não quis conversar comigo.
Poncho me pegou pelo cotovelo e começou a me
conduzir para a saída do restaurante. Pensar que
ele ia me acompanhar até o quarto e que
provavelmente tentaria me beijar provocava
arrepios em minhas costas. Por uma questão de
autopreservação, eu precisava fugir. Cada minuto
que passava com ele só me fazia querê-lo mais.
Como apenas irritá-lo não estava surtindo efeito,
eu ia ter que pegar mais pesado.
Aparentemente, eu não precisava que ele
deixasse de gostar de mim, mas que me odiasse.
Várias vezes me disseram que eu era o tipo de
garota "tudo ou nada". Se eu queria afastá-lo,
teria que fazer isso de maneira tão drástica que
não houvesse absolutamente nenhuma chance
de ele voltar.
Tentei soltar meu cotovelo de sua mão, mas ele
apenas a segurou com mais força.
- Pare de usar sua força de tigre em mim - grunhi
para ele.
- Estou machucando você?
- Não, mas eu não sou uma marionete para ser
arrastada por aí.
Ele deslizou os dedos pelo meu braço e segurou a
minha mão.
- Se você for boazinha, eu serei também.
- Ótimo.
Ele sorriu.
- Ótimo.
- Ótimo! - sibilei de volta.
Andamos até o elevador e ele apertou o botão do
meu andar.
- Meu quarto fica no mesmo andar - explicou Poncho.
Franzi a testa e lhe dirigi um sorriso torto e só um
pouquinho cruel.
- E como é que você vai fazer de manhã, Tigre?
Não devia meter o Sr. Kamal em encrenca por
ter um... animal de estimação tão grande.
Poncho devolveu meu sarcasmo quando me
acompanhava até a porta.
- Está preocupada comigo, Annie? Não precisa. Eu
vou ficar bem.
- Acho que nem é preciso perguntar como você
sabia qual era a minha porta, hein, Faro de Tigre?
Ele me olhou de uma forma que me fez virar
geléia por dentro. Voltei-me de costas, mas a
consciência de sua presença era forte demais e
eu podia senti-lo atrás de mim, muito perto,
observando, esperando.
Coloquei a chave na fechadura e ele se
aproximou. Minha mão começou a tremer e eu
não conseguia girar a chave. Ele pegou minha
mão e me fez virá-la delicadamente. Em seguida,
apoiou as mãos na porta, de ambos os lados da
minha cabeça, e se inclinou para mim, me
prendendo contra a porta. Eu tremia como um
coelhinho preso nas garras de um lobo. O lobo
chegou ainda mais perto. Curvou a cabeça e
começou a acariciar meu rosto com o nariz. O
problema era que... eu queria que o lobo me
devorasse.
Comecei a me perder na névoa espessa que me
envolvia todas as vezes que Poncho punha as mãos
em mim.
E a história de pedir permissão?, pensei enquanto
sentia todas as minhas defesas caírem por terra.
- Eu sempre sei onde você está, Anahi. Você
cheira a pêssego com creme - sussurrou ele,
terno.
Estremeci e pus a mão em seu peito para
empurrá-lo, mas acabei agarrando sua camisa,
desesperada. Seus beijos foram abrindo uma
trilha a partir da orelha, descendo pelo rosto, e
então ele foi depositando beijos suaves ao longo
do arco do meu pescoço. Eu o puxei para mais
perto e virei a cabeça para que ele pudesse me
beijar de verdade. Ele sorriu e ignorou o meu convite,
passando então à outra orelha. Mordeu o
lóbulo de leve, passou para a clavícula e seguiu
sua trilha de beijos até o ombro. Depois ergueu a
cabeça e trouxe os lábios a um centímetro dos
meus, e o único pensamento em minha cabeça
era... mais.
Com um sorriso arrasador, ele se afastou,
relutante, e correu os dedos levemente pelo meu
cabelo.
- Esqueci de dizer que você está linda hoje.
Ele tornou a sorrir, se virou e afastou-se pelo
corredor.
Minúsculos tremores vibravam pelos meus braços
e minhas pernas, como aqueles que se seguem a
um terremoto. Eu não conseguia firmar a mão enquanto
girava a chave. Abri bruscamente a porta
do quarto escuro, entrei e, trêmula, fechei-a.
Encostando-me nela, deixei a escuridão me
envolver.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Na manhã seguinte, arrumei todas as minhascoisas e fiquei à espera do Sr. Kamal, sentada naespreguiçadeira, batendo nervosamente o pé. Anoite anterior havia me convencido de que euprecisava fazer alguma coisa em relação a Poncho. Apresença dele era irresistível.Eu sabia que, se passasse mais tempo com ele,Poncho me pers ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais