Fanfics Brasil - Conclusões A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Conclusões

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Na manhã seguinte, arrumei todas as minhas
coisas e fiquei à espera do Sr. Kamal, sentada na
espreguiçadeira, batendo nervosamente o pé. A
noite anterior havia me convencido de que eu
precisava fazer alguma coisa em relação a Poncho. A
presença dele era irresistível.
Eu sabia que, se passasse mais tempo com ele,
Poncho me persuadiria a ter um relacionamento
sério, e eu não podia de maneira nenhuma
permitir isso.
Eu acabaria arrasada. Ah, seria maravilhoso por
um tempo. Muito, muito maravilhoso. Mas não
duraria. Ele era um Adônis e eu não era nenhuma
Helena de Tróia. Nunca daria certo. Eu tinha que
ser realista e reassumir o controle da minha vida.
Decidi que, quando chegássemos à casa dele,
teríamos uma conversa de mulher para tigre.
Então, se ele não desistisse, eu simplesmente
voltaria para minha casa, como o Sr. Kamal
sugerira. Talvez a distância ajudasse. Talvez Poncho
só precisasse de um tempo longe de mim para
perceber que um relacionamento entre nós seria
um erro. Com essa resolução, preparei-me para
vê-lo outra vez quando deixássemos o hotel.
Esperei muito tempo pelo Sr. Kamal. Já estava
quase ligando para o seu quarto quando
finalmente ouvi uma batida na porta. O Sr.
Kamal estava lá, sozinho.
- Está pronta, Srta. Anahi? Lamento que
estejamos começando o dia tão tarde.
- Tudo bem. O Sr. Maravilhoso provavelmente
estava aproveitando seu precioso tempo, certo?
- Não, na verdade o atraso foi culpa minha. Eu
estava ocupado com... uma papelada.
- Ah. Não se preocupe com isso. Que tipo de
papelada?
Ele sorriu.
- Nada importante.
O Sr. Kamal segurou a porta para mim e saímos
para o corredor vazio. Eu estava começando a
relaxar diante do elevador quando ouvi a porta
de um dos quartos se fechar. Poncho vinha pelo
corredor em nossa direção. Havia comprado
roupas novas. Obviamente, estava lindo. Recuei
um passo e tentei evitar o contato visual.
Poncho usava calça jeans escura, de grife, com
lavagem envelhecida. A camisa, de boa
qualidade, era de mangas compridas e abotoada
na frente,. Era azul, com listras brancas finas, e
combinava perfeitamente com seus olhos. Ele
havia enrolado as mangas e deixado a camisa
solta e aberta no colarinho. O corte era esportivo,
de modo que se ajustava perfeitamente em seu
torso musculoso, o que me fez arquejar
involuntariamente, apreciando seu esplendor
masculino.
Ele parece um modelo. Como vou poder
dispensar isso? O mundo é tão injusto. Sério, é
como rejeitar um encontro com Brad Pitt. A
garota capaz de fazer isso devia ganhar o prêmio
de maior idiota do século.
Novamente corri minha lista de razões para não
ficar com Poncho. O bom de ver sua figura irresistível
e observá-lo andar por aí como uma pessoa
normal era que isso firmava minha resolução.
Sim. Seria difícil, mas agora estava ainda mais
óbvio para mim que não tínhamos nada a ver um
com o outro.
Quando ele se juntou a nós à espera do elevador,
sacudi a cabeça e murmurei entre dentes:
- O cara é um tigre por 350 anos e sai da
maldição com um gosto sofisticado e um senso
de moda apurado. Incrível! Como se explica isso?
- O que foi, Srta. Anahi? - perguntou o Sr. Kamal.
- Nada.
Poncho sorriu, convencido.
Ele provavelmente me ouviu. Porcaria de ouvido
de tigre.
As portas do elevador se abriram. Entrei e fui
para um canto, torcendo para que o Sr. Kamal se
pusesse entre nós dois, mas aparentemente o Sr.
Kamal não estava recebendo as mensagens
silenciosas que eu lhe enviava e permaneceu
junto aos botões do elevador. Poncho parou ao meu
lado, ficando perto demais. Ele me olhou de cima
a baixo bem devagar e me dirigiu um sorriso
cúmplice. Descemos em silêncio.
Quando as portas se abriram, ele me deteve,
tirou a mochila do meu ombro e passou-a para o
dele, deixando-me sem nada para carregar. Ele ia
à frente, ao lado do Sr. Kamal, enquanto eu
seguia mais devagar atrás, mantendo distância
entre nós e um olho desconfiado em sua figura
alta.
No carro, o Sr. Kamal falou por nós três. Estava
muito entusiasmado por Poncho poder se manter na
forma humana novamente. Devia ser um grande
alívio para ele. De certa forma, o Sr. Kamal
estava sob o jugo da maldição tanto quanto Poncho
e Felipe. Ele não podia ter vida própria. Dedicar
seu tempo e atenção a servir os irmãos havia se
tornado seu único propósito na vida. Era tão
escravo dos tigres quanto estes eram da
maldição.
Ocorreu-me então que eu corria o risco de me
tornar escrava de um tigre também. Ah! Eu
provavelmente gostaria. Revirei os olhos diante
desse pensamento. Tenho raiva de mim. Como
sou fraca! Odiava a ideia de que tudo que ele
precisaria fazer era estalar os dedos. Meu lado
independente se inflamou. Já chega! Acabou! Vou
ter uma conversa definitiva com ele quando
chegarmos e espero que ainda possamos ser
amigos.
Essa linha de raciocínio basicamente tomou conta
dos meus pensamentos durante toda a viagem
para casa. Eu começava a devanear e então
parava, passava um sermão em mim mesma e
repetia meu mantra obstinado. Tentei ler, mas,
de tanto ter que reler o mesmo parágrafo vezes
sem conta, desisti e cochilei um pouco.
Finalmente chegamos, já tarde da noite. Dei uma
olhada na iluminada casa dos sonhos de Poncho e
soltei um profundo suspiro. Eu me sentia à
vontade ali. Seria muito difícil ir embora quando
chegasse a hora e lá no fundo eu tinha a
sensação de que esta chegaria muito em breve.
Embora eu houvesse cochilado um pouco durante
a viagem, achei que devia tentar descansar.
Forcei-me a parar de me angustiar com minha
escolha, escovei os dentes e vesti o pijama. Tirei
Fanindra da mochila com cuidado. Colocando
uma almofadinha na mesa de cabeceira, ajeitei o
corpo rijo e enroscado de Fanindra o mais
confortavelmente possível, com a cabeça voltada
para a vista da piscina. Se eu fosse uma cobra
imobilizada, seria para lá que eu gostaria de
olhar.
Em seguida, tirei a gada e o Fruto Dourado.
Envolvendo o fruto em uma toalha macia,
coloquei-o, assim como a gada, na gaveta da
cômoda. Olhando para o fruto, percebi que tinha
fome. Queria um lanche, mas estava com muita
preguiça de descer. Enfiei o fruto na gaveta.
Precisava me lembrar de pedir ao Sr. Kamal que
guardasse o Fruto Dourado e a gada com o Selo
da família de Poncho, onde quer que este estivesse.
Precisavam ficar em um lugar seguro.
Quando me enfiei na cama, percebi um pratinho
de biscoitos e queijo com fatias de maçã na mesa
de cabeceira, perto de Fanindra. Eu não o havia
notado antes.
Humm. O Sr. Kamal deve ter entrado e deixado o
prato quando eu estava no banheiro.
Grata por sua atenção, comi o lanche e apaguei
as luzes. O sono não vinha. Minha mente não me
deixava descansar. Eu temia encarar Poncho no dia
seguinte. Tinha medo de não conseguir dizer o
que precisava ser dito. Finalmente adormeci por
volta das quatro da manhã e dormi até o meiodia.
Demorei a me levantar. Eu sabia que estava
evitando Poncho e nossa conversa, mas não me
importava. Tomei banho e me vesti devagar.
Quando reuni coragem para descer, meu
estômago reclamava de fome.
Desci a escada e ouvi alguém na cozinha.
Aliviada por achar que se tratava do Sr. Kamal,
cheguei à cozinha e, para minha aflição,
encontrei Poncho, sozinho, tentando fazer um
sanduíche. Ele tinha ingredientes espalhados por
toda a cozinha. Todos os legumes e verduras da
geladeira e quase todos os condimentos
encontravam-se em cima da bancada. E lá estava
ele de pé, pensativo, tentando calcular se devia
usar ketchup ou molho de pimenta no sanduíche
de peru com berinjela. Ele havia amarrado um
dos aventais do Sr. Kamal na cintura e estava
todo sujo de mostarda. Apesar da minha
tentativa de ficar quieta, não contive o riso.
Ele sorriu, mas manteve a atenção no sanduíche.
- Ouvi você levantar. Levou bastante tempo para
descer. Imaginei que deveria estar com fome e
vim fazer um sanduíche para você.
Eu ri com azedume.
- Argh, não um desses. Fico com um de manteiga
de amendoim.
- Certo. E qual desses vidros é de manteiga de
amendoim?
Apontou para um grupo de frascos. Ele havia
colocado os de rótulo em inglês de um lado e
mantivera todas as outras coisas perto dele.
Confusa, eu me aproximei.
- Você não sabe ler inglês, sabe?
- Não. Posso ler cerca de 15 outras línguas e falar
umas 30, mas não consigo decifrar o que são
estes vidros.
Sorri para ele.
- Se tivesse cheirado, provavelmente saberia,
Faro de Tigre.
Poncho ergueu os olhos, sorriu e pousou os dois
frascos na bancada. Depois, veio até mim e me
beijou na boca.
- Está vendo? É por isso que você deve estar por
perto. Preciso de uma namorada inteligente.
Voltou ao sanduíche e começou a abrir frascos e
a cheirá-los.
- Poncho! Eu não sou sua namorada! - explodi.
Ele se limitou a sorrir para mim como resposta,
localizou a manteiga de amendoim e fez o
sanduíche de manteiga de amendoim mais
exagerado que eu já vira. Dei uma mordida e não
consegui abrir a boca.
- Uen, quetaumumcopodeueite?
Ele riu.
- O quê?
- Ueite, ueite!
Imitei alguém bebendo algo.
- Ah, leite! Só um segundo.
Esvaziei metade do copo de leite de uma só vez,
para limpar a manteiga grudenta da boca.
Separando as duas fatias de pão, escolhi a que
tinha a menor quantidade de manteiga de
amendoim, dobrei-a ao meio e a comi.
Poncho se sentou à minha frente com o maior e mais
estranho sanduíche do planeta e começou a
comer. Arregalei os olhos diante daquilo e ele riu.
Decidi que aquela era uma boa hora para falar,
quando ele não podia responder.
-Poncho? Tem uma coisa importante que precisamos
discutir. Dê uma passada hoje na varanda ao pôr
do sol, está bem?
Ele se imobilizou com o sanduíche a meio
caminho da boca.
- Um encontro secreto? Na varanda? Ao pôr do
sol? - Ele arqueou uma sobrancelha. - Anahi,
você está tentando me seduzir?
- Dificilmente - murmurei, seca.
Ele riu.
- Bom, sou todo seu. Mas seja gentil comigo esta
noite, minha amada. Sou novo nessas histórias
de seres humanos.
Exasperada, rejeitei:
- Eu não sou sua amada.
Ele ignorou meu comentário e voltou a devorar
seu almoço. Também pegou a outra metade do
sanduíche de manteiga de amendoim que
descartei e a comeu, comentando:
- Ei! Essa coisa é gostosa.
Quando terminei, fui até a ilha da cozinha e
comecei a arrumar a bagunça de Poncho. Depois de
comer, ele se levantou para me ajudar.
Trabalhávamos bem juntos. Era quase como se
soubéssemos o que o outro ia fazer antes que ele
fizesse. Em pouco tempo a cozinha ficou
imaculada. Poncho tirou o avental e o atirou no cesto
de roupa suja. Então, aproximou-se por trás de
mim enquanto eu guardava alguns copos e me
abraçou pela cintura, me puxando para ele.
Cheirou meu cabelo, beijou meu pescoço e
murmurou em meu ouvido:
- Humm, definitivamente pêssegos e creme, mas
com um toque picante. Vou me transformar em
tigre e tirar um cochilo, assim posso salvar todas
as minhas horas para você esta noite.
Fiz uma careta. Ele devia estar esperando uma
sessão de amassos, e eu, planejando romper com
ele. Ele queria namorar e minha intenção era
explicar que não daria certo ficarmos juntos. Não
que oficialmente estivéssemos juntos. Ainda
assim, parecia um rompimento.
Por que isso precisa ser tão difícil?
Poncho me embalou e sussurrou:
- "Que doce som de prata faz a língua dos
amantes à noite, tal qual música langorosa que
ouvido atento escuta."
Virei-me em seus braços, chocada.
- Como você se lembra disso? É de Romeu e
Julieta!
Ele deu de ombros.
- Prestei atenção quando você leu para mim. Eu
gostei.
Ele beijou delicadamente minha bochecha.
- Vejo você à noite, iadala.
E me deixou ali parada.
Pelo resto da tarde, não consegui me concentrar
em coisa alguma. Nada prendia minha atenção
por mais que uns poucos minutos. Ensaiei
algumas frases na frente do espelho, mas todas
me soavam muito pouco convincentes: "Não é
você, sou eu", "Tem muitos outros peixes no
mar", "Eu preciso me encontrar", "Nossas
diferenças são grandes demais", "Eu não sou a
garota certa para você", "Existe outra pessoa".
Droga, cheguei até a tentar "Sou alérgica a
gatos".
Nenhuma das desculpas que me ocorreram
funcionaria com Poncho. Decidi que a melhor coisa a
fazer era ser direta e falar a verdade. Essa era
eu. Eu enfrentava as situações, resolvia os
problemas e seguia com a vida.
O Sr. Kamal esteve fora o dia todo. O Jeep não
estava lá. Eu alimentei a esperança de que ele
estivesse por ali para me distrair um pouco,
quem sabe me dar um conselho, mas ele havia
sumido.
O pôr do sol chegou rápido demais e eu subi,
nervosa. Entrei no banheiro, desfiz minhas
tranças e escovei os cabelos até que eles
caíssem pelas minhas costas em ondas suaves.
Pus um brilho nos lábios e lápis nos olhos, e
então procurei no closet algo melhor para usar do
que uma camiseta. Aparentemente, alguém
andara acrescentando roupas de grife ao meu
armário. Peguei uma blusa de algodão xadrezinho
cor de amora, com debruns de seda preta, e uma
calça cigarrete preta na altura dos tornozelos.
A coisa mais caridosa a fazer seria me apresentar
com a aparência mais sem graça possível, o que
provavelmente tornaria tudo mais fácil para ele,
mas eu não queria que suas lembranças de mim
fossem de uma desmazelada vestindo roupas de
menino.
Afinal, tenho um pouco de orgulho feminino. Eu
ainda quero que ele sofra. Pelo menos um pouco.
Satisfeita com minha aparência, passei por
Fanindra, acariciei-lhe a cabeça e pedi que me
desejasse sorte. Abri a porta de vidro, deslizandoa,
e saí para a varanda. O ar estava morno e
cheirava a jasmim e ao aroma amadeirado da
selva. Fiquei observando o sol mergulhar no
horizonte, deixando o céu rosa e laranja. As luzes
da piscina e do chafariz se acenderam lá embaixo
quando me recostei no sofazinho acolchoado
pendurado e comecei a balançar levemente,
desfrutando a brisa suave e de fragrância doce
que soprava em minha pele.
Suspirei e disse em voz alta:
- Só falta uma daquelas bebidas tropicais com
abacaxi, cereja e um guarda- - chuvinha.
Alguma coisa chiou ao meu lado em uma
mesinha lateral. Era um copo curvo e gelado
contendo uma bebida à base de frutas laranjaavermelhada,
com guarda-chuva, cerejas e tudo!
Apanhei-a para ver se era de verdade. Tomei um
gole, cautelosa, e o suco doce e espumante
estava perfeito.
Alguma coisa estranha está acontecendo. Não
tem mais ninguém aqui, então como essa bebida
surgiu do nada?
Nesse exato momento Poncho apareceu e eu me
esqueci da bebida misteriosa. Ele estava
descalço, de calça preta com cinto fino e camisa
de seda verde da cor do mar. Os cabelos estavam
úmidos e ele os penteara para trás. Sentou-se ao
meu lado no sofazinho e passou o braço pelos
meus ombros. Seu cheiro era fantástico. Aquele
seu aroma quente de sândalo, que fazia lembrar
um dia de verão, se misturava ao jasmim.
O paraíso só pode ter este cheiro.
Poncho pôs um pé em uma mesa lateral e começou
a nos balançar para a frente e para trás. Ele
parecia feliz por simplesmente se sentar, relaxar
e desfrutar a brisa e o pôr do sol, e ficamos assim
por um tempo, sentados lado a lado
confortavelmente. Era bom. Talvez ainda
pudéssemos ser amigos assim depois. Eu
esperava que sim. Gostava da sua companhia.
Ele estendeu a mão e pegou a minha,
entrelaçando os dedos nos meus. Ficou brincando
com eles por um tempo, depois levou minha mão
aos lábios e os beijou lentamente, um a um.
- Sobre o que você queria falar esta noite, Anahi?
- É...
Sobre que diabos eu queria falar? Não conseguia
lembrar. Ah, sim. Eu me livrei da reação que
tivera com sua presença e me preparei.
- Poncho, prefiro que você se sente à minha frente
para que eu possa vê-lo. Assim me distrairá
menos.
Ele riu de mim.
- Está bem, Annie. Como quiser.
Ele puxou uma cadeira, colocando-a diante de
mim, e se sentou. Incli- nando-se, pegou meu pé
e o colocou em seu colo.
Encolhi a perna.
- O que você está fazendo?
- Relaxe. Você parece tensa.
Começou a massagear meu pé. Eu ia protestar,
mas Poncho me lançou um olhar que me fez calar.
Ele torceu meu pé para um lado e para outro.
- Seus pés estão cheios de bolhas. Precisamos
comprar um calçado melhor para você, se vai
andar pela selva com essa frequência.
- As botas de trekking me fizeram bolhas
também. O problema não deve estar nos sapatos.
Eu tenho andado calçado mais nas últimas
semanas do que em toda a minha vida. Meus pés
não estão acostumados a isso.
Ele franziu a testa e delicadamente acompanhou
o arco do meu pé com o dedo, o que disparou
arrepios pela minha perna. Então envolveu meu
pé com as duas mãos e começou a massagear,
tomando o cuidado de evitar os pontos sensíveis.
Eu estava prestes a reclamar outra vez, mas a
sensação era tão gostosa. Além disso, essa podia
ser uma boa distração durante uma conversa
constrangedora, por isso deixei que ele
continuasse. Olhei para o seu rosto e ele me
estudava, curioso.
O que deu na minha cabeça? Como pude achar
que ele sentado à minha frente facilitaria as
coisas? Idiota! Agora preciso olhar diretamente
para o arcanjo guerreiro e tentar me manter
concentrada. Fechei os olhos por um minuto.
Vamos, Annie. Foco. Foco. Você consegue!
- Poncho, tem mesmo uma coisa que precisamos
discutir.
- Muito bem. Vá em frente.
Deixei escapar um suspiro.
- Sabe, eu não posso... corresponder aos seus
sentimentos. Ou ao seu... afeto.
Ele riu.
- Do que você está falando?
- Bem, o que quero dizer é que eu...
Ele se inclinou para a frente e falou, a voz baixa,
cheia de significado:
- Anahi, eu sei que você corresponde aos meus
sentimentos. Não finja mais.
Quando foi que ele deduziu isso? Talvez enquanto
você o beijava feito uma
pateta, Annie. Eu tinha esperanças de que o
tivesse enganado, mas ele podia ver através de
mim. Resolvi me fazer de boba e fingir que não
sabia do que ele estava falando.
Agitei a mão no ar.
- Está bem! Sim! Admito que me sinto atraída por
você. - Quem não se sentiria? - Mas não vai dar
certo - concluí.
Pronto, falei.
Poncho pareceu confuso.
- Por que não?
- Porque me sinto atraída demais por você.
- Não estou entendendo. Como essa atração por
mim pode ser um problema? Eu diria que é uma
coisa boa.
- Para pessoas normais... sim - afirmei.
- Então eu não sou normal?
- Não. Deixe-me explicar dessa forma: assim... um
homem faminto comeria feliz um rabanete,
certo? Na verdade, um rabanete seria um
banquete se fosse tudo o que ele tivesse. Mas, se
houvesse um banquete de verdade diante dele, o
rabanete jamais seria escolhido.
Poncho permaneceu calado por um momento.
- O que está querendo dizer?
- Estou dizendo... que eu sou o rabanete.
- E eu sou o quê? O banquete?
- Não... você é o homem. Só que... eu não quero
ser o rabanete. Quem quer? Mas sou realista o
bastante para saber o que sou e eu não sou um
banquete. Quero dizer, você poderia estar
comendo bombas de chocolate, pelo amor de
Deus.
- Mas não rabanete.
- Não.
- Mas e se... - Poncho fez uma pausa, pensativo - ...eu
gostar de rabanete?
- Você não gosta. Só não conhece nada melhor.
Eu lamento ter sido tão rude com você.
Normalmente não sou assim. Não sei de onde
vem todo esse sarcasmo.
Poncho arqueou uma sobrancelha.
- Muito bem. Tenho um lado cínico e mau que
costuma ficar escondido - admiti. - Mas que aflora
quando estou sob grande estresse ou
extremamente desesperada.
Ele pôs meu pé no chão, pegou o outro e
começou a massageá-lo com os polegares. Não
disse nada, então continuei:
- Ser insensível e detestável era a única coisa que
eu podia fazer para afastá-lo. Foi como um
mecanismo de defesa.
- Então você admite que estava tentando me
afastar.
- Sim. É claro.
- E isso porque você é um rabanete.
Frustrada, eu disse:
- Sim! Agora que você pode ser um homem de
novo, vai encontrar alguém melhor, alguém que o
complemente. Não é culpa sua. Você foi um tigre
por tanto tempo que não sabe como o mundo
funciona.
- Certo. E como o mundo funciona, Anahi?
Eu podia sentir a frustração em sua voz, mas
prossegui:
- Bem, para falar sem rodeios, você poderia estar
namorando alguma top model ou uma atriz. Não
está prestando atenção à sua volta?
- Ah, sim, de fato eu venho prestando atenção! -
gritou ele, furioso. - O que você está dizendo é
que eu devia ser um libertino rico, superficial e
convencido, que só se importa com dinheiro,
poder e em melhorar seu status. Que eu deveria
namorar mulheres superficiais, volúveis,
ambiciosas e sem cérebro, que se importem mais
com minhas conexões do que comigo. E que eu
não sou inteligente o bastante, ou atualizado o
bastante, para saber quem eu quero ou o que eu
quero na vida! Será que isso resume o seu ponto
de vista?
- Sim - respondi, com a voz aguda.
- Você acha mesmo isso?
Eu me encolhi.
- Acho.
Poncho se inclinou em minha direção.
- Você está errada, Anahi. Errada em relação a si
mesma e errada em relação a mim!
Ele estava furioso. Eu me mexi, desconfortável,
enquanto ele prosseguia:
- Eu sei o que eu quero. Não estou sob o efeito de
nenhuma ilusão. Durante séculos estudei as
pessoas de dentro de uma jaula e isso me deu
bastante tempo para estabelecer minhas
prioridades. No primeiro instante em que a vi, na
primeira vez em que ouvi sua voz, eu soube que
você era diferente. Você era especial. Quando
colocou a mão na jaula e me tocou, fez com que
eu me sentisse vivo de uma maneira que nunca
sentira antes.
- Talvez isso seja apenas parte da maldição. Já
pensou nisso? Esses podem não ser seus
verdadeiros sentimentos. Talvez você tenha
pressentido que eu era a pessoa que iria ajudá-lo
e, de alguma forma, interpretou mal suas
emoções.
- Duvido muito. Nunca senti isso por ninguém,
nem antes da maldição.
As coisas não estavam indo pelo caminho que eu
queria. Senti uma necessidade desesperada de
fugir antes que eu dissesse alguma coisa que
arruinasse meus planos. Poncho era o lado escuro, o
fruto proibido, a minha Dalila - a última tentação.
A questão era... eu poderia resistir?
Dei um tapinha amigável em seu joelho e joguei
meu trunfo:
- Estou indo embora.
- Você o quê?
- Estou voltando para casa, no Oregon. O Sr.
Kamal acha que vai ser mais seguro para mim,
com Lokesh solto por aí, tentando nos matar e
tudo o mais. Além disso, você precisa de tempo
para esclarecer... as coisas.
- Se você vai, então vou com você!
Sorri-lhe com ironia.
- Isso anula o propósito da minha ida. Você não
acha?
Ele alisou o cabelo para trás, deixou escapar um
profundo suspiro, pegou minha mão e olhou
intensamente nos meus olhos.
- Annie, quando você vai aceitar o fato de que
devemos ficar juntos?
Eu me senti mal, como se estivesse chutando um
cachorrinho fiel que só queria ser amado. Olhei
para a piscina.
Um momento depois, ele se recostou na cadeira
e disse, ameaçador:
- Eu não vou deixar você ir.
Por dentro, eu queria desesperadamente pegar a
mão dele e implorar que me perdoasse, que me
amasse, mas resisti, deixei as mãos caírem no
colo e implorei:
- Poncho, por favor. Você tem que me deixar ir. Eu
preciso... Eu tenho medo... Olhe, eu não posso
estar aqui, perto de você, quando você mudar de
idéia.
- Isso não vai acontecer.
- Pode acontecer. Há uma boa chance.
Ele grunhiu, furioso:
- Não há nenhuma chance!
- Olhe, meu coração não pode correr esse risco e
eu não quero colocar você numa posição
embaraçosa. Sinto muito, Poncho. Sinto mesmo. Eu
quero ser sua amiga, mas compreendo se você
não quiser isso. Vou voltar quando precisar de
mim, se precisar, para ajudá-lo a encontrar as
outras três oferendas. Eu não abandonaria você
ou Felipe assim. Só não posso ficar aqui com
você se sentindo obrigado a ficar comigo por
piedade, porque precisa de mim. Mas saiba que
eu nunca abandonaria sua causa. Sempre estarei
à disposição de vocês dois, aconteça o que
acontecer.
- Ficar com você por piedade? Anahi, você não
pode estar falando sério!
- Estou. Muito, muito sério. Vou pedir ao Sr.
Kamal que providencie a minha volta nos
próximos dias.
Ele não disse mais nada. Ficou ali sentado. Eu
podia ver que estava enfurecido, mas achava
que, depois de uma ou duas semanas, quando
recomeçasse a voltar ao mundo, ele acabaria
agradecendo o meu gesto.
Desviei os olhos.
- Estou muito cansada agora. Gostaria de ir
dormir. - Levantei-me e segui para o meu quarto.
Antes de fechar as portas de correr, perguntei: -
Posso fazer um último pedido?
Ele continuou sentado lá, calado, os braços
cruzados no peito, com uma expressão tensa e
furiosa.
Suspirei. Mesmo furioso ele é lindo.
Como permanecia calado, continuei:
- Seria muito mais fácil para mim se eu não o
visse. Como homem. Vou tentar evitar a maior
parte da casa. Ela é sua, afinal, então vou ficar no
quarto. Se você vir o Sr. Kamal, por favor, diga
que eu gostaria de falar com ele.
Ele não respondeu.
- Até logo, Poncho. Cuide-se.
Forcei-me a desviar os olhos, fechei as portas e
puxei as cortinas.
Cuide-se? Que despedida ridícula. As lágrimas
afloraram aos meus olhos
e nublaram minha visão. Estava orgulhosa por ter
feito aquilo sem mostrar emoção. Mas agora eu
me sentia como se um rolo compressor tivesse
passado por cima de mim.
Eu não conseguia respirar. Fui para o banheiro e
abri o chuveiro para abafar qualquer ruído. Fechei
a porta, o que aprisionou todo o vapor ali dentro,
e solucei. Espasmos de agonia sacudiam o meu
corpo. Meus olhos, nariz e boca, todos jorraram
simultaneamente quando me permiti sentir o
desespero vazio da perda.
Escorreguei para o chão e deslizei ainda mais até
estar esparramada com o rosto encostado no
mármore frio. Deixei as emoções me dominarem
até me sentir completamente esgotada. Meus
braços e pernas pareciam sem vida e insensíveis,
e os cabelos se encresparam e grudaram-se às
lágrimas no rosto.
Bem mais tarde, levantei-me lentamente,
desliguei o chuveiro, lavei o rosto e fui para a
cama. Imagens de Poncho voltaram a atravessar
minha mente e lágrimas silenciosas correram
mais uma vez. Cheguei até a pensar em colocar
Fanindra no meu travesseiro e abraçá-la, de tão
desesperada que eu estava por ser consolada.
Chorei até dormir, com a esperança de que na
manhã seguinte fosse me sentir melhor.
No dia seguinte, acordei tarde outra vez faminta
e entorpecida. Estava emocionalmente esgotada.
Não queria correr o risco de descer para pegar
alguma coisa para comer. Não queria encontrar
Poncho. Sentei-me na cama, puxei os joelhos até o
peito e me perguntei o que fazer.
Decidi escrever no diário. Despejar os meus
pensamentos e emoções embaralhados em suas
páginas fez com que eu me sentisse um pouco
melhor. Meu estômago roncava.
Eu adoraria uns crepes de frutas vermelhas do Sr.
Kamal.
Alguma coisa se moveu na minha visão
periférica. Virei-me e vi o café da manhã posto
para mim na mesinha. Fui até lá inspecionar.
Crepes de frutas vermelhas! Fiquei boquiaberta.
Isso é bom demais para ser verdade.
De repente me lembrei do suco espumante que
eu provara na noite passada. Quando quis
alguma coisa para beber, ele aparecera.
Decidi testar esses estranhos fenômenos.
- Queria leite achocolatado - falei em voz alta, e
um copo alto de leite frio com chocolate se
materializou do nada.
Resolvi experimentar pensando.
Queria um par de sapatos novo.
Nada aconteceu.
- Queria um par de sapatos novo - eu disse em
voz alta.
Ainda assim, nada aconteceu.
Talvez só funcione com comida. Pensei: Queria
um milk-shake de morango.
Outro copo grande apareceu, cheio até a borda
com um espesso milk-shake de morango,
finalizado com creme batido e uma fatia de
morango.
O que faz isso acontecer? A gada? Fanindra?
Durga? O Fruto? O Fruto! O Fruto Dourado da
índia! O Sr. Kamal tinha dito que, por meio do
Fruto Dourado, o povo da índia seria alimentado.
O Fruto Dourado provê alimento! Peguei o fruto
na gaveta e o segurei enquanto fazia outro
desejo.
- Um... rabanete, por favor.
O fruto tremeluziu e brilhou como um diamante
dourado, e um rabanete apareceu em minha mão
livre. Examinei-o cuidadosamente e então o arremessei
na lixeira.
- Está vendo? Nem eu quero um rabanete -
murmurei com ironia.
Tive vontade de partilhar imediatamente essa
novidade incrível com Poncho e corri para a porta.
Girei a maçaneta, mas então hesitei. Não queria
desfazer todas as coisas que dissera na noite
passada. Eu fora sincera sobre continuarmos
amigos, no entanto, por ironia, era eu quem não
podia ser sua amiga nesse momento. Eu
precisava de tempo para esquecê-lo.
Resolvi esperar pela volta do Sr. Kamal. Então
contaria a Poncho sobre o fruto.
Comecei a comer os crepes e me deliciei com a
refeição - ainda mais especial por ser mágica.
Quando terminei, me vesti e resolvi ler no quarto.
Algum tempo depois, alguém bateu na porta.
- Posso entrar, Srta. Anahi?
Era o Sr. Kamal.
- Sim. A porta está aberta.
Ele entrou, fechou a porta e se sentou em uma
das espreguiçadeiras.
- Sr. Kamal, fique bem aí. Tenho algo para lhe
mostrar! - Levantei-me, empolgada, e corri para a
cômoda. Pegando o Fruto Dourado, eu o desembrulhei
e pousei delicadamente em cima da
mesa. - O senhor está com fome?
Ele riu.
- Não. Acabei de comer.
- Bem, peça alguma coisa para comer assim
mesmo.
- Por quê?
- Experimente.
- Está bem. - Os olhos dele piscaram. - Queria
uma tigela do ensopado da minha mãe.
O fruto fulgurou e uma tigela branca surgiu
diante de nós. O aroma picante de ensopado de
carneiro com ervas encheu o quarto.
- Como isso é possível?
- Vá em frente, Sr. Kamal. Deseje algo mais.
Alguma comida.
- Quero um iogurte de manga.
O fruto cintilou mais uma vez e um pequeno pote
de iogurte de manga apareceu.
- Viu? É o fruto que faz isso! Ele alimenta a Índia.
Entendeu? Ele pegou o fruto com todo o cuidado.
- Que descoberta impressionante! Já contou para
Poncho?
Corei, culpada.
- Não, ainda não. Mas o senhor pode contar.
Ele assentiu, atônito, e revirou o fruto nas mãos,
olhando-o de todos os ângulos.
- Sr. Kamal? Tem outra coisa que eu queria lhe
falar.
Ele deixou o fruto de lado com delicadeza e
voltou toda sua atenção para mim.
- Claro, Srta. Anahi. O que é? Soltei um profundo
suspiro.
- Acho que é hora... de eu voltar para casa.
Ele se recostou na cadeira, juntou os dedos e me
olhou, pensativo.
- Por que acha isso?
- Bem, como o senhor disse, tem esse tal Lokesh,
e também tem outras... coisas.
- Outras coisas?
- Sim.
- Como, por exemplo...
- Como, por exemplo... bem, não quero me
aproveitar de sua hospitalidade para sempre.
Ele dispensou meu argumento.
- Bobagem. Você faz parte da família. Temos uma
dívida eterna com você, que jamais poderá ser
paga. Esta casa é tão sua quanto nossa.
Sorri para ele, agradecida.
- Obrigada. Mas não é só isso, é também... Poncho.
- Poncho? Quer me falar sobre isso?
Eu me sentei na borda do sofá e abri a boca para
dizer que não queria falar desse assunto, mas
acabou transbordando. Antes que me desse
conta, eu chorava, e ele estava sentado ao meu
lado dando tapinhas na minha mão e me
consolando, como se fosse meu avô.
Ele não disse nada. Simplesmente me deixou pôr
para fora toda a mágoa, a confusão e os
sentimentos novos. Quando terminei, ele me
afagou as costas, enquanto eu soluçava, as
lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ele me
entregou um lenço de tecido caro e desejou ter
uma xícara de chá de camomila para me dar.
Em meio às lágrimas, ri de sua expressão
encantada ao me entregar o chá. Então assoei o
nariz e me acalmei. Estava horrorizada com o
fato de ter lhe confessado tudo. O que ele deve
estar pensando de mim? De repente outro
pensamento atravessou meu desespero: E se ele
contar a Poncho?
Como se lesse meus pensamentos, o Sr. Kamal
disse:
- Srta. Anahi, não se sinta mal por ter me
contado.
- Por favor, por favor, não conte para Poncho -
implorei.
- Fique tranquila, não vou trair sua confiança. - Ele
deu uma risadinha. - Sou muito bom em guardar
segredos, minha querida. Não se desespere. A
vida muitas vezes parece sem esperanças e
complicada demais para um desfecho feliz. Eu só
espero poder lhe oferecer um pouco da paz e da
harmonia que você me devolveu.
Ele recostou-se na cadeira, pensativo, afagando a
barba curta.
- Talvez seja mesmo hora de você voltar para o
Oregon. Está certa quando diz que Poncho precisa de
tempo para aprender a ser um homem outra vez,
embora não exatamente da forma que você
acredita. Além disso, tenho muitas pesquisas
para fazer antes de sairmos à procura da
segunda oferenda de Durga.
Ele fez uma pausa.
- É claro que vou tomar as providências para sua
viagem. Nunca se esqueça, porém, de que esta
casa é sua e de que pode me ligar quando quiser
e eu a trarei de volta imediatamente. Se a
senhorita não achar muito atrevimento da minha
parte, eu a considero uma filha. - Ele riu. - Ou
talvez uma neta seja o mais exato.
Sorri para ele, trêmula, abracei-o e solucei
novamente em seu ombro.
- Obrigada. Muito obrigada. Também considero o
senhor parte da minha família. Vou sentir muito a
sua falta.
Ele retribuiu meu abraço.
- Também sentirei saudade. Agora, chega de
lágrimas. Por que não vai nadar e pegar um
pouco de ar fresco enquanto eu tomo as
providências?
Enxuguei uma lágrima que cintilava no meu olho.
- Boa idéia. Acho que vou fazer isso.
Ele apertou minha mão e saiu do quarto,
fechando a porta silenciosamente ao passar.
Seguindo seu conselho, vesti o maiô e fui para a
piscina. Fiquei nadando, tentando pôr energia em
outra coisa que não minhas emoções. Quando
senti fome, experimentei desejar um sanduíche
triplo de presunto, alface e tomate, e um desses
surgiu ao lado da piscina.
Isto é muito útil! Não preciso nem estar no
mesmo cômodo do fruto! Eu me pergunto qual
será o alcance dele.
Comi o sanduíche e me deitei em uma toalha de
praia até minha pele ficar quente. Então pulei na
piscina e fiquei boiando preguiçosamente por um
tempo.
Um homem alto se aproximou e parou ao lado da
piscina, diante do sol. Mesmo protegendo os
olhos com a mão, eu não conseguia ver seu
rosto, mas sabia quem era.
- Poncho! Você não pode me deixar em paz? -
resmunguei, mal-humorada. - Não quero falar
com você agora.
O homem saiu da frente do sol e eu estreitei os
olhos para vê-lo.
- Você não quer me ver? Depois de eu ter
percorrido toda essa distância? - Ele estalou a
língua. - Tsc, tsc, tsc. Alguém precisa lhe ensinar
boas maneiras, senhorita.
- Felipe? - arquejei.
Ele sorriu.
- Quem mais, bilauta?
Dei um grito, subi em disparada os degraus da
piscina e corri para ele, que abriu os braços para
mim e riu quando lhe dei um grande abraço
molhado.
- Não posso acreditar que esteja aqui! Estou tão
feliz!
Ele me olhou de cima a baixo com seus olhos
dourados, tão diferentes dos de Poncho.
- Bem, se eu soubesse que era esse tipo de
recepção que me esperava, teria vindo muito
mais cedo.
Eu ri.
- Pare de brincar. Como foi que você chegou aqui?
Também ganhou seis horas? Precisa me contar
tudo!
Ele ergueu a mão e deu uma risadinha.
- Espere, espere. Em primeiro lugar, quem está
brincando? E, em segundo, por que você não se
troca e nos sentamos para uma longa conversa?
- Está bem. - Sorri para ele e hesitei. - Mas
podemos continuar aqui na piscina?
Ele inclinou a cabeça, confuso, mas sorriu.
- Claro, se quiser. Vou esperar você aqui.
- Certo. Não se mova. Volto já!
Subi correndo a escada dos fundos que levava ao
meu quarto, tomei um banho rápido, me vesti e
penteei os cabelos. Também pedi duas vacaspretas,
cortesia do Fruto Dourado, e as levei
comigo.
Quando voltei à piscina, ele havia carregado duas
espreguiçadeiras para a sombra e estava
recostado, relaxando com as mãos atrás da
cabeça e os olhos fechados. Vestia camiseta
preta com calça jeans e seus pés estavam descalços.
Afundei na outra cadeira e lhe entreguei um
dos copos.
- O que é isso que você trouxe para mim?
- É refrigerante batido com sorvete. Experimente.
Ele tomou um gole e tossiu. Eu ri.
- As bolhas subiram pelo nariz?
- Parece que sim. Mas é gostoso. Muito doce.
Acho que me lembra você. É do seu país?
-É.
- Se eu quiser responder às suas perguntas antes
que a noite caia, acho melhor começar. - Ele
tomou outro gole da bebida e continuou: -
Primeiro, você perguntou se eu também consegui
minhas seis horas. A resposta é sim. Sabe, é
estranho. Vivi resignado como tigre por séculos,
mas, depois que você e Dhiren estiveram lá,
passei a me sentir desconfortável em meu pelo
negro. Pela primeira vez em muito tempo, eu
queria me sentir vivo outra vez, não como um
animal, mas como eu mesmo.
- Entendo. Como você descobriu que tinha seis
horas? E como chegou aqui?
- Eu tinha começado a usar meus minutos como
humano todos os dias e também passara a ir
sorrateiramente às vilas próximas para observar
as pessoas e ver o que o mundo moderno
oferece. - Ele suspirou com tristeza. - O mundo
mudou muito desde que deixei de fazer parte
dele.
Assenti e ele prosseguiu.
- Um dia, há cerca de uma semana, eu observava,
como homem, as crianças brincando na praça do
vilarejo. Sabia que meu tempo estava se
esgotando, então voltei para a selva e esperei os
tremores que precedem a transformação. Mas
eles não vieram.
Ele sorria ao fazer seu relato.
- Esperei uma hora, depois duas, e nada. Eu sabia
que alguma coisa havia acontecido. Atravessei a
selva e esperei até sentir o impulso do tigre
tomar conta de mim novamente. Testei no dia
seguinte, e no outro, e o tempo era o mesmo
todos os dias. Então concluí que você e Poncho
haviam tido sucesso, pelo menos parcial. Depois
disso, voltei para a vila como homem e pedi a
algumas pessoas que me ajudassem a fazer uma
ligação para o Sr. Kamal. Alguém finalmente
descobriu como falar com ele, que foi me buscar.
- Então foi por isso que o Sr. Kamal esteve
ausente nos últimos dias.
Felipe me olhou de cima a baixo, tornou a se
reclinar e bebericou sua vaca-preta, parecendo
aprovar. Ergueu o copo para mim.
- Preciso confessar que não fazia a menor idéia do
que estava perdendo.
Ele sorriu e esticou as longas pernas diante de si,
cruzando-as nos tornozelos.
- Bem, estou feliz que tenha vindo - declarei. -
Esta é a sua casa e o seu lugar é aqui.
Ele ficou sério e seus olhos se perderam na
distância.
- Acho que sim. Durante muito tempo, achei que
não havia mais nenhuma centelha de
humanidade em mim. Minha alma era sombria.
Mas você, minha querida - ele estendeu o braço,
pegou a minha mão e a beijou -, me trouxe de
volta à luz.
Pousei a mão levemente em seu braço.
- Você apenas sentia a falta de Yesubai. Não
acredito que sua alma fosse sombria ou que você
tivesse perdido sua humanidade. Só que leva
tempo para sarar quando seu coração é partido
dessa maneira.
Seus olhos piscaram.
- Talvez você esteja certa. Agora, me conte suas
aventuras! O Sr. Kamal me pôs a par dos fatos
básicos, mas quero saber dos detalhes.
Contei-lhe sobre as armas de Durga e ele
demonstrou grande interesse na gada em
particular. Riu quando contei a história dos
macacos atacando Poncho e me olhou horrorizado
quando descrevi o kappa que quase me matara.
Era fácil conversar com ele. Felipe ouvia com
interesse e eu não sentia o frio na barriga que
experimentava quando estava com Poncho.
Ao concluir a história, fitei a piscina enquanto
Felipe estudava com atenção o meu rosto.
- Tem mais uma coisa que está me deixando
curioso, Anahi.
Sorri para ele.
- O que mais você quer saber?
- O que exatamente está acontecendo entre você
e Poncho?
Algo comprimiu o meu peito, mas tentei parecer
indiferente.
- O que quer dizer?
- Vocês dois são mais do que companheiros de
viagem? Estão juntos?
Respondi rápido:
- Não. Claro que não.
Ele sorriu.
- Ótimo! - Ele pegou minha mão e a beijou. -
Então isso significa que você está livre para sair
comigo. Nenhuma garota em seu juízo perfeito
iria mesmo querer ficar com Poncho. Ele é muito...
monótono. Frio, no que diz respeito a
relacionamentos.
Por um momento, fiquei boquiaberta, chocada, e
então senti a raiva varrer o choque e assumir seu
lugar.
- Ei! Em primeiro lugar, não vou ficar com nenhum
dos dois. Segundo, uma garota precisa ser louca
para não querer Poncho. Você está errado em relação
a ele. Ele não é nem monótono nem frio. Na
verdade, ele é atencioso, carinhoso, lindo,
confiável, leal, doce e charmoso.
Ele me avaliou, pensativo, por um instante. Eu
me remexi, desconfortável sob o seu olhar,
sabendo que falara rápido demais e mais do que
devia.
- Entendo - aventurou-se ele, cauteloso. - Talvez
você tenha razão. O Dhiren que conheci
certamente mudou nas últimas centenas de anos.
No entanto, apesar disso e de você sustentar que
não vai ficar com nenhum de nós, eu queria
propor sairmos para comemorar hoje à noite. Se
não como minha... qual é a palavra adequada?
- A palavra é namorada.
- Namorada. Se não como namorada... então
como amiga.
Fiz uma careta.
Felipe continuou pressionando:
- Com certeza você não vai me deixar por aí,
sozinho e indefeso, em minha primeira noite no
mundo real, não é?
Ele sorriu, tentando me convencer. Eu queria,
sim, ser sua amiga, mas não sabia o que dizer em
relação ao convite. E, por um breve momento,
me perguntei como Poncho se sentiria em relação a
isso e quais poderiam ser as consequências.
- Onde você quer comemorar? - perguntei.
- O Sr. Kamal disse que tem uma boate numa
cidade aqui perto onde se pode jantar e dançar.
Pensei que poderíamos dar uma passada lá,
quem sabe comer alguma coisa, e você poderia
me ensinar a dançar.
Eu ri, nervosa.
- Esta é a primeira vez que venho à Índia e não
sei nada sobre a música e a dança daqui.
Felipe pareceu ainda mais animado.
- Ótimo! Então vamos aprender juntos. Não aceito
não como resposta.
Ele se levantou para ir, apressado.
- Espere, Felipe! - gritei. - Eu nem sei o que
vestir!
- Pergunte a Kamal. Ele sabe tudo! - gritou sobre
o ombro.
Assim que ele desapareceu na casa, mergulhei,
melancólica, em um estado de depressão. A
última coisa que eu queria fazer era tentar me
divertir quando me encontrava emocionalmente
vazia. No entanto, eu me sentia feliz por Felipe
estar de volta e em ótimo astral.
No fim, concluí que, embora não sentisse vontade
de comemorar nada, eu não queria frustrar o
recém-descoberto entusiasmo de Felipe pela
vida. Inclinei-me para recolher os copos vazios de
nossas bebidas e descobri que eles haviam
desaparecido.
Incrível! O Fruto Dourado não só provê a comida
como também cuida da louça!
Eu me levantava para entrar na casa quando
pressenti alguma coisa. Um arrepio percorreu
meus braços. Olhei ao redor, mas não vi nem
ouvi nada. Então senti um zumbido elétrico
atravessar meu corpo. Alguma coisa me puxou e
me fez erguer os olhos para a sacada. Lá estava
Poncho de pé, encostado em uma coluna, os braços
cruzados sobre o peito, me observando.
Ficamos nos olhando por um minuto, sem dizer
nada, mas pude sentir o clima entre nós se
modificar, tornando-se denso, opressivo e
tangível - como quando o ar muda pouco antes
de uma tempestade. Eu podia sentir seu poder
me envolver ao roçar minha pele. Embora não
pudesse vê-la, sabia que uma tempestade estava
chegando.
O ar opressivo me puxava como uma
contracorrente, tentando me sugar de volta para
o vácuo de poder que Poncho havia criado entre nós.
Eu sentia que precisava me arrancar fisicamente
dele. Fechei os olhos e ignorei aquela mudança,
seguindo em frente.
Quando finalmente me livrei daquilo, uma
sensação horrível e dilacerante tomou conta de
mim, e eu me vi girando no vazio sozinha.
Enquanto me arrastava até o quarto e fechava a
porta, podia sentir seus olhos ainda em mim, me
queimando e abrindo um buraco abrasador nas
minhas costas. Entrei, rígida, no quarto escuro,
arrastando os fios rompidos e desconectados
atrás de mim.
Fiquei no quarto pelo resto da tarde. O Sr. Kamal
foi me ver e expressou sua felicidade ao saber
que eu sairia à noite com Felipe. Ele sugeriu que
todos fôssemos juntos, para comemorar.
- Então o senhor e Poncho querem ir também? -
perguntei.
- Não vejo por que não. Vou falar com ele.
- Sr. Kamal, talvez fosse melhor vocês terem uma
noite exclusivamente masculina. Eu só vou
atrapalhar.
- Bobagem, Srta. Anahi. Todos temos motivos
para comemorar e eu vou cuidar para que Poncho se
comporte bem.
Ele se virava para sair quando eu disse:
- Espere! O que eu devo usar?
- Pode usar o que quiser. Roupas modernas ou um
traje mais tradicional. Por que não usa sua
sharara?
- Não acha que vou ficar deslocada?
- Não. Muitas mulheres usam essa peça em
celebrações. Seria perfeitamente aceitável.
Meu rosto mostrou preocupação e ele
acrescentou:
- Se não quer usá-la, pode escolher uma de suas
roupas comuns. As duas opções são apropriadas.
Ele saiu e eu dei um gemido. Tentar comemorar
sozinha com Felipe já era bastante difícil, mas
pelo menos ele não me fazia sentir como se
estivesse me afogando em um turbilhão de
emoções. Agora Poncho estaria lá. Seria um
tormento.
Eu me sentia estressada diante da ideia de sair
de casa. Queria vestir roupas comuns, mas sabia
que os rapazes provavelmente usariam Armani
ou algo do tipo, e eu não queria ficar ao lado
deles de jeans e tênis. Então optei pela sharara.
Peguei a saia pesada e o top no closet, corri a
mão sobre os bordados de contas e suspirei. Era
tão linda. Demorei um pouco arrumando o cabelo
e fazendo a maquiagem. Realçando os olhos com
mais rímel e lápis do que costumava usar,
também passei um pouco de sombra cinzapúrpura
e usei uma prancha para alisar o cabelo.
A sensação de alisá-lo em longos movimentos era
bastante terapêutica e me ajudou a relaxar.
Quando terminei, meus cabelos castanhodourados
estavam lisos e brilhantes, caindo
soltos pelas costas. Deslizei o corpete azul
cuidadosamente pela cabeça e peguei a saia
pesada. Ajeitei-a na cintura, alinhando as dobras
brilhantes, gostando da sensação de peso que ela
dava. Ao manusear o intrincado desenho de
lágrimas de pérolas, não pude deixar de sorrir.
Estava lamentando que o Fruto Dourado não
pudesse criar calçados quando uma batida soou à
porta. O Sr. Kamal estava à minha espera.
- Está pronta, Srta. Anahi?
- Quase. Não tenho sapatos.
- Ah, talvez possa pegar alguma coisa emprestada
no closet de Nilima.
Eu o segui até o quarto de Nilima, onde ele abriu
o closet e apanhou um par de sandálias
douradas. Ficaram um pouco grandes, mas eu as
amarrei bem e acabou dando certo. O Sr. Kamal
me ofereceu o braço.
- Espere um segundo. Esqueci uma coisa.
Corri de volta ao meu quarto e peguei a echarpe
dupatta, enrolando-a em torno dos ombros.
Ele sorriu e me ofereceu o braço novamente.
Saímos da casa e fomos até a entrada, onde eu
esperava ver o Jeep. Em seu lugar, porém, estava
estacionado um lustroso Rolls-Royce Phanton
prata. O Sr. Kamal abriu a porta para mim e eu
mergulhei no luxuoso interior de couro cinza.
- De quem é este carro? - perguntei, passando a
mão pelo painel polido.
- E meu. - O Sr. Kamal sorriu, radiante,
obviamente cheio de orgulho. - Os automóveis na
Índia, em sua maioria, são muito pequenos e
econômicos. Na verdade, apenas um por cento
da população tem carro. Quando se compara os
automóveis da índia com os americanos...
Ele citou rapidamente vários outros fatos sobre
automóveis antes de virar a chave na ignição
enquanto eu sorria e afundava no banco ouvindo
com muita atenção.
- Felipe já está descendo e Poncho... não quis vir.
- Entendo.
Eu deveria ter ficado feliz, mas me senti
desapontada. Sabia que era melhor se não
ficássemos nenhum tempo juntos até essa
paixão, ou o que quer que fosse, passar, e ele
provavelmente estava apenas respeitando meu
desejo de não vê-lo, mas ainda havia uma parte
de mim que queria estar com ele pelo menos
essa última vez.
Engoli meus sentimentos e sorri para o Sr.
Kamal.
- Tudo bem. Vamos nos divertir sem ele.
Felipe saiu apressado pela porta. Usava um
suéter fino de decote em V cor de vinho sobre a
calça cáqui. Seus cabelos tinham sido cortados
em camadas irregulares, penteados para lhe dar
uma aparência hollywoodiana. O suéter revelava
sua estrutura musculosa. Ele estava muito bonito.
Abriu a porta traseira do carro e entrou.
- Desculpem a demora.
E se inclinou entre os bancos dianteiros.
- Ei, Anahi, você... - Ele se deteve e assoviou. -
Uau, Anahi! Você está incrível! Vou ter que
afugentar os outros homens com uma vara!
Fiquei vermelha.
- Até parece. Você não vai nem conseguir chegar
perto de mim, com a multidão de mulheres que
irá cercá-lo.
Ele sorriu e se recostou no banco.
- Fico feliz que Poncho tenha decidido recuar. Assim
tenho mais de você para mim.
- Humm...
Virei-me para a frente e afivelei o cinto de
segurança.
Paramos diante de um belo restaurante com uma
varanda que o circundava em toda sua extensão
e Felipe correu para me abrir a porta. Em seguida
me ofereceu o braço enquanto me dirigia
um sorriso irresistível. Ri e aceitei o braço,
determinada a aproveitar a noite.
Fomos conduzidos a uma mesa nos fundos. A
garçonete se aproximou e eu tomei a liberdade
de escolher refrigerante de cereja para mim e
para Felipe. Ele pareceu feliz em me deixar
sugerir as opções de comida para ele.
Foi divertido olharmos o cardápio juntos. Ele me
perguntou quais eram os meus pratos preferidos
e o que ele deveria experimentar. Ele traduzia o
que o cardápio dizia e eu dava a minha opinião. O
Sr. Kamal pediu um chá de ervas e sentou-se
calado bebericando o chá enquanto ouvia nossa
conversa. Depois de pedirmos a comida, ficamos
observando os casais na pista de dança.
A música era suave e lenta, clássicos atemporais,
mas em uma língua diferente. Deixei que a
melancolia tomasse conta de mim e me calei.
Quando a comida chegou, Felipe começou a
comer com satisfação e ficou feliz em terminar o
meu prato quando eu já estava satisfeita. Ele
parecia fascinado com tudo - as pessoas, a
língua, a música e, principalmente, a comida. Fez
milhares de perguntas ao Sr. Kamal: "Como eu
pago?", "De onde veio o dinheiro?", "Quanto se
dá ao garçom?".
Eu ouvia e sorria, mas meus pensamentos
estavam distantes. Quando os pratos foram
retirados, ficamos bebericando e observando as
pessoas à nossa volta.
O Sr. Kamal pigarreou.
- Srta. Anahi, posso ter o prazer desta dança?
Ele se levantou e estendeu o braço. Seus olhos
brilhavam e ele sorria para mim. Olhei para ele
com meu sorriso lacrimoso e pensei em como iria
sentir a falta desse homem bondoso.
- Claro que sim, meu caro senhor.
Ele afagou minha mão em seu braço e me
conduziu para a pista de dança. Ele dançava
muito bem. Até então eu só havia dançado com
garotos da escola em bailes e em geral eles
apenas se movimentavam em círculo até a
música acabar. Não era nada interessante nem
empolgante. Dançar com o Sr. Kamal era muito
mais divertido. Ele me conduziu por toda a pista
de dança, me girando em círculos que faziam
minha saia se abrir como um leque. Eu ri e me
diverti com ele, que me rodopiava e me trazia de
volta habilmente a cada vez.
Quando a música acabou, voltamos para a mesa.
O Sr. Kamal agiu como se estivesse velho e sem
fôlego, mas, na verdade, era eu quem estava ofegante.
Felipe batia o pé no chão, impaciente, e
assim que voltamos ele se pôs de pé, agarrou
minhas mãos e me levou de volta para a pista.
Dessa vez a música era mais rápida. Felipe
parecia um bom aprendiz, pois observava com
atenção e copiava os movimentos das outras
pessoas dançando na pista. Ele tinha um bom
ritmo, mas estava exagerando na tentativa de
parecer natural. Foi divertido, porém, e eu ri o
tempo todo.
A música seguinte era uma canção de amor lenta
e eu comecei a voltar para a mesa, mas Felipe
pegou a minha mão e disse:
- Espere, Anahi, quero experimentar esta.
Ele observou por alguns segundos um casal perto
de nós. Em seguida, colocou meus braços em
torno de seu pescoço e enlaçou minha cintura.
Manteve os olhos nos outros casais por mais
alguns segundos apenas e então me olhou com
um sorriso travesso.
- Posso ver claramente o benefício deste tipo de
dança. - Ele me puxou um pouco mais para perto
e murmurou: - Sim. Isso é muito bom.
Suspirei e deixei meus pensamentos vagarem por
um momento. Um som de repente vibrou através
do meu corpo. Um ronco profundo. Não. Um leve
grunhido. Que mal se podia ouvir acima da
música. Ergui os olhos para Felipe, me
perguntando se também ouvira, mas ele fitava
alguma coisa por cima da minha cabeça.
Uma voz baixa porém poderosa disse atrás de
mim:
- Creio que esta seja a minha dança.
Era Poncho. Eu podia sentir sua presença. Seu calor
se infiltrou em minhas costas e eu estremeci,
como folhas à brisa morna da primavera.
Felipe estreitou os olhos e disse:
- Creio que a escolha é da dama.
Felipe baixou os olhos para mim. Eu não queria
provocar uma cena, por isso simplesmente
assenti e tirei meus braços de seu pescoço.
Felipe fuzilou seu substituto com os olhos e,
furioso, deixou a pista de dança.
Poncho se colocou diante de mim, tomou minhas
mãos nas dele e as colocou em torno de seu
pescoço, deixando meu rosto dolorosamente
perto do seu. Em seguida deslizou as mãos de
forma lenta e deliberada por meus braços nus e
pelas laterais do meu corpo, até envolverem a
cintura. Com os dedos, ele traçou pequenos
círculos na parte inferior exposta das minhas
costas, apertou minha cintura e me puxou,
apertando meu corpo contra o dele.
Poncho me conduziu habilmente durante a música
lenta. Ele não falava nada, pelo menos não com
palavras, mas enviava muitos sinais. Encostou a
testa na minha e se inclinou para fazer carinho
com o nariz em minha orelha. Enterrou o rosto
em meu cabelo e brincou com os dedos em meu
braço nu e em minha cintura.
Quando a música terminou, nós dois levamos um
minuto para recuperar nossos sentidos e nos
lembrar de onde estávamos. Ele traçou a curva
do meu lábio inferior com o dedo e então tirou
meus braços de seu pescoço e me levou até a
varanda.
Pensei que iria parar ali, mas ele continuou,
descendo os degraus e me levando a uma área
arborizada, com bancos de pedra. A lua fazia sua
pele brilhar. Ele vestia camisa branca e calça
escura. O branco me fez pensar nele como tigre.
Ele me puxou para a sombra de uma árvore.
Fiquei imóvel e calada, temendo dizer algo de
que me arrependeria.
Poncho segurou meu queixo e ergueu meu rosto
para que pudesse me olhar nos olhos.
- Anahi, tem algo que eu preciso lhe dizer. Quero
que você fique calada e ouça.
Fiz que sim com a cabeça, hesitante.
- Primeiro, quero que saiba que ouvi tudo o que
você me disse na outra noite e que venho
pensando muito seriamente em suas palavras. É
importante que você compreenda isso.
Ele mudou de posição, pegou uma mecha de meu
cabelo e a prendeu atrás da orelha e depois
roçou os dedos pelo meu rosto até os lábios.
Sorriu docemente e eu senti que minha plantinha
do amor se aquecia nesse sorriso e se voltava
para ele como se ali estivessem contidos os raios
nutritivos do sol.
- Anahi - ele correu a mão pelos cabelos e seu
sorriso doce se transformou em um sorriso torto
-, o fato é que... estou apaixonado por você... já
faz algum tempo.
Respirei fundo.
Ele pegou minha mão e brincou com os dedos.
- Não quero que você vá embora. - Começou a
beijar meus dedos enquanto me olhava nos
olhos. Era hipnótico. Ele tirou alguma coisa do
bolso. - Quero lhe dar uma coisa. - Estendeu uma
corrente de ouro com talismãs de sininhos
tilintantes. - É uma tornozeleira. São muito
populares aqui e escolhi esta para que nunca
mais tenhamos que procurar um sino.
Ele se abaixou, segurou minha panturrilha por
trás, deslizou a palma até meu tornozelo e
prendeu o fecho. Eu oscilei e mal consegui me
manter de pé. Ele deslizou levemente os dedos
quentes pelos sinos antes de se levantar. Pondo
as mãos em meus ombros, ele os apertou e me
puxou para ele.
- Annie... por favor. - Ele me beijou na têmpora, na
testa, na bochecha. Entre um beijo e outro,
implorava docemente: - Por favor. Por favor. Por
favor. Diga que vai ficar comigo. - Quando sua
boca roçou a minha, ele disse: - Preciso de você. -
E então esmagou os lábios contra os meus.
Senti minha determinação desmoronar. Eu o
queria, queria muito. Também precisava dele. E
quase cedi. Quase lhe disse que não havia nada
no mundo que eu quisesse mais do que estar
com ele. Que não pensava que seria capaz de
deixá-lo. Que, para mim, ele era mais importante
do que tudo. Que eu abriria mão de qualquer
coisa para ficar com ele.
Então ele me apertou mais e falou suavemente
em meu ouvido:
- Por favor, não me abandone, priya. Não poderei
viver sem você.
Meus olhos se encheram de lágrimas e as gotas
brilhantes desceram pelas
minhas faces. Toquei o seu rosto.
- Você não vê, Poncho? É exatamente por isso que
tenho que ir. Você precisa saber que pode viver
sem mim. Que existe mais na vida do que eu.
Precisa conhecer este mundo que se abriu para
você e saber que tem escolhas. Eu me recuso a
ser a sua jaula.
Era doloroso, mas eu precisava continuar.
Respirei fundo.
- Eu poderia capturá-lo e mantê-lo preso, por puro
egoísmo, a fim de satisfazer meus próprios
desejos. Independentemente de você querer isso
ou não, seria errado. Eu o ajudei para que você
pudesse ser livre. Livre para ver e fazer todas as
coisas que perdeu durante todos esses anos. -
Minha mão deslizou de seu rosto para o pescoço.
- Devo colocar uma coleira em você? Acorrentá-lo
para que passe a vida ligado a mim por
obrigação? - Sacudi a cabeça. Agora eu chorava
copiosamente. - Sinto muito, Poncho, mas não vou
fazer isso com você. Não posso. Porque... eu
também amo você.
Beijei-o rapidamente uma última vez. Então
segurei a saia e voltei correndo para o
restaurante. O Sr. Kamal e Felipe me viram
entrar, olharam meu rosto e na mesma hora se
levantaram para sair. Para minha sorte, os dois
se mantiveram calados no caminho para casa,
enquanto eu chorava baixinho e enxugava com
as costas da mão as lágrimas que não paravam
de fluir. Quando chegamos, um Felipe sério
apertou meu ombro, saiu e entrou em casa.
Respirei fundo e disse ao Sr. Kamal que gostaria
de ir para casa pela manhã.
Ele assentiu em silêncio e eu corri para o quarto,
fechei a porta e me joguei na cama. Então me
desmanchei em uma poça abatida de choro
desesperado. Por fim, o sono me venceu.
Na manhã seguinte, me levantei cedo, lavei o
rosto e trancei os cabelos, amarrando a ponta
com uma fita vermelha. Vesti jeans, camiseta e
meus tênis, e guardei minhas coisas em uma
bolsa grande. Estendendo a mão para tocar a
sharara, concluí que ela guardava lembranças
demais para que eu a levasse comigo, então a
deixei no closet. Escrevi um bilhete para o Sr. Kamal,
dizendo-lhe onde estavam a gada e o Fruto
Dourado e pedindo-lhe que os guardasse no cofre
da família e que desse a sharara para Nilima.
Decidi levar Fanindra comigo. Agora eu a
considerava uma amiga. Coloquei-a com cuidado
em cima da minha colcha e apanhei a delicada
tornozeleira que Poncho me dera. Os sininhos
tilintaram quando passei o dedo por eles. Eu
pretendera deixá-la na cômoda, mas mudei de
ideia no último minuto. Provavelmente era uma
atitude egoísta, mas eu a queria. Queria ter
alguma
coisa dele, uma lembrança. Deixei-a cair em
minha bolsa e fechei o zíper.
A casa estava quieta. Em silêncio, desci a escada
e passei pela sala do pavão, onde encontrei o Sr.
Kamal sentado à minha espera. Ele pegou minha
bolsa e me acompanhou até o carro. Após dar a
partida, circundou o caminho de pedra
lentamente. Virei-me para dar uma última olhada
naquele lindo lugar que eu via como lar.
Enquanto seguíamos pela estrada margeada por
árvores, fiquei olhando a casa até as árvores
bloquearem minha visão.
Nesse momento, um rugido ensurdecedor e de
partir o coração sacudiu as árvores. Virei-me no
assento e fitei a estrada deserta à minha frente.



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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esse foi o ultimo capitulo desse livro, porem tem o segundo livro que chama o resgate do tigre vcs querem q poste?


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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