Fanfics Brasil - Retorno A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Retorno

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Envolta em seus braços eu ouvia meus batimentos cardíacos. Quando me tocou, todas as emoções que eu vinha contendo transbordaram e inundaram meu corpo, preenchendo lentamente o vazio em meu peito.
Eu me senti desabrochar e crescer com novo alento. Poncho era o sol e a ternura que ele me dedicava era a água que proporcionava a vida. Uma parte dormente de mim explodiu, viva e pulsante, estendeu raízes profundas, abriu folhas verdes e espessas e disparou ramos anelados, unindo-nos ainda mais.
Sarah chamou da cozinha, lembrando-me de que existia um mundo além de nós dois.
— Anahi? Anahi? Quem é?
Voltando à realidade, eu me afastei. Ele me soltou, mas deslizou a mão pelo meu braço e entrelaçou os dedos nos meus. Eu estava muda. Minha boca se abriu para responder, mas não consegui falar uma palavra sequer.
Poncho notou minha dificuldade e anunciou sua chegada.
— Com licença. Vocês são o Sr. e a Sra. Neilson?
Tanto Mike quanto Sarah pararam o que estavam fazendo ao dirigiu-lhes seu sorriso arrasador e estendeu a mão.
— Olá. Sou o neto do Sr. Kamal, Poncho.
Ele apertou calorosamente a mão de Mike e então á estendeu para Sarah. Quando Poncho voltou seu sorriso para ela, Sarah enrubesceu, nervosa corno uma adolescente. Saber que eu não era a única mulher a ficar abobada quando ele estava por perto fez com que eu me sentisse melhor. Ele exercia um efeito hipnótico sobre mulheres de todas as idades.
— Oi, Poncho — disse Mike. — Que coincidência. Ei, Anahi, aquele tigre não
Eu me adiantei.
— Ah, é. Engraçado, não? — Olhei para Poncho e o apontei com o polegar. — Mas Poncho na verdade é só o apelido dele. Seu nome mesmo é...Al. — Dei-lhe um soco no braço. Não é mesmo, Ai?
Ele franziu as sobrancelhas, confuso.
— É, sim, Anahi. — Então voltou-se novamente para Mike e Sarah. — Na verdade, é Alagan, mas podem me chamar de Poncho. Todos me chamam assim.
A essa altura Sarah já havia se recuperado.
— Poncho, por favor, entre e conheça as crianças.
E sorriu para ela novamente e disse:
— Eu adoraria.
Sarah respondeu reprimindo uma risadinha infantil e ajeitando o cabelo, Poncho se abaixou para pegar vários pacotes grandes que ele havia empilhado junto á porta, enquanto eu seguia direto para a sala.
Enquanto Mike ajudava Poncho, Sarah veio até mim e sussurrou:
— Anahi, quando vocês dois se conheceram? Por um instante, pensei que esse finalmente conhecendo Li. O que está acontecendo?
Fitei a árvore de Natal enquanto murmurava:
— É o que eu gostaria de saber.
Os homens entraram na sala, onde Poncho tirou o sobretudo cor de carvão e o pendurou numa cadeira. Ele vestia calça jeans e uma camisa polo cinza de mangas compridas e zíper, que modelava seu peito e seus braços.
— Quem é Li? — perguntou Poncho.
— Como você... — Fechei a boca rapidamente. Eu havia me esquecido de sua audição de tigre. — Li é... é ... um cara... que eu conheço.
Sarah ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada.
Poncho me observou com atenção, esperou educadamente que eu me sentasse e então se acomodou no sofá ao meu lado. No instante seguinte as crianças estavam em cima dele.
— Eu trouxe presentes para vocês dois— disse, em tom conspiratório. — Vocês podem abri-los juntos?
Ás crianças fizeram que sim com a cabeça, sérias, e ele riu e entregou a elas uma caixa grande. Elas a abriram freneticamente e tiraram dali uma coleção de livros do Dr. Seuss. A princípio os livros me pareceram estranhos. Peguei um deles e descobri por quê.
— Você comprou exemplares raros, da primeira edição! — sussurrei para ele. — Para crianças? Devem valer milhares de dólares cada um!
Ele prendeu uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e se inclinou.
— Tenho em casa uma coleção igualzinha para você — sussurrou. — Não seja ciumenta.
Meu rosto ficou vermelho vivo.
— Não foi isso que eu quis dizer.
Ele riu e pegou o presente seguinte. Mike olhava a todo instante pela janela o carro de Poncho.
— Poncho, estou vendo que você dirige um Hummer.
Poncho ergueu os olhos para Mike.
— Isso mesmo.
— Acha que pode me levar para dar uma volta? Quer dizer... sabe, eu sempre quis andar num desses.
Poncho esfregou o queixo.
— Claro, só não posso hoje. Tenho que me instalar em minha nova casa.
— Ah... você vai ficar aqui por um tempo?
— É o que pretendo fazer, pelo menos este semestre. Eu me matriculei em algumas disciplinas na Western Oregon University.
— Bem, isso é ótimo. Vai frequentar a mesma universidade de Anahi.
Poncho sorriu.
— É. Talvez a gente se esbarre por lá.
Mike voltou a atenção para o carro novamente com um grande sorriso no rosto. Sarah me observava atenta. Tentei manter uma expressão neutra, mas, por dentro, eu era um amontoado incoerente de perguntas.
O que ele está pensando? Vai ficar aqui? Onde? Vai para a faculdade comigo? O que eu vou fazer? Por que ele está aqui?
Poncho deslizou uma grande caixa para Sarah e Mike.
— Este é para vocês dois.
Mike ajudou Sarah a abrir a embalagem e tiraram dali uma batedeira vermelha novinha em folha, com todo tipo de acessórios que se pode imaginar. Eu não ficaria surpresa se Sarah pudesse criar uma escultura de gelo com aquela coisa. Ela começou a falar cheia de entusiasmo sobre todas as coisas orgânicas e sem trigo que agora poderia fazer.
Poncho pegou um pacote menor e o entregou a mim.
— Este é do Sr. Kamal.
Abri e encontrei exemplares encadernados em couro do Mahãbhãrata, da Índia, do Romance dos três reinos, da China, e de O conto de Genji, do Japão, todos traduzidos para o inglês. Também havia uma breve carta me desejando feliz Natal.
Corri a mão sobre as capas de couro e planejei ligar para ele mais tarde e lhe agradecer.
Poncho me entregou outro presente.
— Este é de Felipe.
Sarah ergueu os olhos de sua batedeira e perguntou:
— Quem é Felipe?
— Felipe é meu irmão mais novo — respondeu Poncho.
Sarah me lançou um olhar maternal de repreensão, ao qual reagi dando de ombros timidamente. Eu não havia falado nem de Poncho nem de Felipe para ela, que devia estar se perguntando como eu poderia deixar de lembrar de alguém como ele.
Desfiz o embrulho e encontrei uma caixinha de joias da Tiffany’s. Dentro havia um delicado colar de ouro branco, O cartão havia sido escrito à mão, muito capricho:
Oi, Kells,
Estou com saudade.
Venha logo para casa.
Achei que você fosse gostar de algo mais
feminino para usar com meu amuleto.
Também tem um presente extra na caixa,
para o caso de você precisar.
Felipe
Deixei o cordão de lado e vasculhei a caixa. Encontrei um pequeno cilindro envolto em papel fino. Desenrolando-o, um frio recipiente de metal caiu na palma da minha mão. Era uma latinha de spray de pimenta. Nele, Felipe havia colado uma imagem de um tigre com um círculo cortado ao meio sobre o rosto. No alto, liam-se as palavras “Repelente Contra Tigres” em letras grandes e negras.
Eu ri e Poncho o tomou de mim. Depois de ler o rótulo, ele franziu a testa e jogou a lata de volta na caixa. Abaixando-se, pegou mais um pacote.
— Este é meu.
Suas palavras me deixaram alerta. Olhei rapidamente para avaliar a expressão de Mike e de Sarah. Mike parecia contente, alheio à tensão que eu sentis, mas Sarah estava mais ligada e me observava com atenção. Fechei os olhos por um segundo, rezando para que o que quer que houvesse naquela caixa não motivasse um bilhão de perguntas.
Deslizei os dedos sob o elaborado papel de presente e desfiz o embrulho.
Levando a mão ao interior da caixa, senti algo de madeira lisa e polida. Lá dentro havia um porta-joias entalhado à mão.
Poncho se inclinou na minha direção.
— Pode abrir.
Corri a mão nervosamente pela tampa e a abri com cuidado. Havia fileiras de minúsculas gavetas, forradas com veludo, e dentro de cada gavetinha uma fita de cabelo enrolada.
—As partes são soltas, está vendo?
Ele ergueu a seção superior e a seguinte. Havia cinco seções, com cerca de 40 fitas por seção.
— Todas as fitas são diferentes. Não há nenhuma cor repetida e tem pelo menos uma de cada um dos principais países do mundo.
Atônita, eu disse:
—Poncho... eu...
Levantei a cabeça. Mike não via nada de extraordinário na cena. Ele devia achar que uma coisa assim acontecia todos os dias. Sarah olhava para Poncho com outros olhos. Suas expressões de suspeita e preocupação haviam desaparecido.
Com um pequeno sorriso de aprovação, ela disse:
— Parece que você conhece Anahi muito bem, Poncho. Ela adora fitas de cabelo. — De repente Sarah pigarreou, pôs-se de pé e nos pediu que olhássemos as crianças enquanto eles iam dar uma corridinha. Eles nos trouxeram duas canecas de chocolate fumegante e desapareceram escada acima, indo trocar de roupa. Embora eles se exercitassem sempre, em geral faziam uma pausa no Natal. Será que ela estava tentando nos dar algum tempo a sós? Eu não sabia se devia abraçá-la ou implorar para que ficasse.
A caixa ainda estava no meu colo e eu manuseava distraidamente uma fita quando os dois saíram correndo pela porta com um aceno.
Poncho tocou minha mão.
— Você não gostou?
Olhei dentro de seus olhos azuis e disse, a voz rouca:
— É o melhor presente que já ganhei.
Ele sorriu, radiante, pegou minha mão e depositou um beijo em meus dedos.
Voltando-se para as crianças, perguntou:
— Quem quer ouvir uma história?
Rebecca e Sammy escolheram um livro e subiram no colo de Poncho. Ele envolveu cada um deles com um braço e começou a ler. Só empacou numa palavra, mas as crianças o ajudaram, e a partir de então ele leu certinho. Eu estava impressionada. O Sr. Kamal deve tê-lo ensinado a ler inglês.
Poncho convenceu Sammy a segurar o livro para ele e me agarrou com o braço livre, Ele me puxou contra seu corpo, de modo que minha cabeça :cansasse em seu ombro. Então correu os dedos, provocante, para cima e baixo em meu braço.
Quando Mike e Sarah voltaram, levantei de um salto e comecei a recolher minhas coisas numa louca correria. Nervosa, olhei para Poncho e o peguei me observando com o olhar ligeiramente divertido. Mike e Sarah nos agradeceram e me ajudaram a levar as coisas para o carro. Poncho também se despediu e ficou minha espera do lado de fora.
Sarah me dirigiu um olhar que dizia: “Você tem explicações a dar, mocinha.“ Então fechou a porta e nos deixou no frio de dezembro. Estávamos finalmente sozinhos.
Poncho tirou uma das luvas e traçou o contorno do meu rosto com os dedos cálidos.
— Vá para casa, Kells. Não me faça perguntas agora. Este não é o lugar apropriado. Vamos ter tempo suficiente mais tarde. Encontro você lá.
— Mas...
— Mais tarde, rajkumari.
Ele tornou a colocar a luva e se encaminhou para o Hummer.
Quando foi que ele aprendeu a dirigir? Fiz a volta com meu carro e fiquei observando o Hummer pelo retrovisor até eu virar numa rua secundária e ele aparecer do meu campo de visão.
Milhares de indagações martelavam minha cabeça e percorri a lista na subida da colina. A estrada estava parcialmente coberta de gelo. Deixei de lado as perguntas urgentes para me concentrar na direção.
Quando dobrei a curva e vi minha casa, percebi que alguma coisa estava diferente. Levei um minuto para descobrir o que era: havia cortinas na janela da outra casa geminada. Alguém havia se mudado para lá.
Estacionei na garagem e andei até a porta de entrada da outra casa. Bati, mas ninguém respondeu. Girando a maçaneta, encontrei a
porta destrancada. A casa estava mobiliada quase da mesma maneira que a minha, só que em cores mais escuras, mais masculinas. Quando vi o velho bandolim descansando no sofá de couro, minhas suspeitas foram confirmadas. Poncho estava se mudando para aquela casa.
Fui até a cozinha, encontrei a despensa e a geladeira vazias e vi que na parte inferior da porta dos fundos havia sido adaptada uma portinhola grande demais.
Humm... isso não vai impedir a entrada de um ladrão. Ele pode rastejar e entrar. Mas acho que teria uma bela surpresa se tentasse roubar alguma coisa aqui.
Corri para minha casa, fechando a porta, sem me dar ao trabalho de olhar no segundo andar ou verificar o closet em busca das peças de grife que eu sabia que encontraria por lá. Não havia a menor dúvida de que Poncho era meu novo vizinho.
Na verdade, eu tinha acabado de tirar os sapatos e o casaco quando ouvi o que só podia ser o Hummer entrando na outra garagem. Eu o observei pela janela. Poncho era um bom motorista. De alguma forma conseguira manobrar o veículo imenso entre os galhos salientes que poderiam arranhar a pintura.
Ouvi o ruído de seus passos no caminho congelado enquanto ele se dirigia à minha porta.
Deixando-a aberta para ele, fui para a sala de estar, sentei-me na poltrona reclinável com os pés dobrados sob o corpo e cruzei os braços diante do peito. Eu sabia que os especialistas em linguagem corporal diriam que essa era uma postura defensiva clássica, mas não me importava.
Eu o ouvi fechar a porta, tirar o casaco e pendurá-lo. Então finalmente entrou na sala. Ele estudou meu rosto por um breve momento e então correu a mão pelo cabelo, sentando-se diante de mim. Seu cabelo estava mais comprido do que na Índia. Fios negros e sedosos caíam-lhe na testa e ele os jogou para trás, irritado. Parecia
major, mais musculoso do que eu me lembrava. Deve estar se alimentando melhor do que antes.
Ficamos nos entreolhando em silêncio por vários segundos.
— Então... você é o meu novo vizinho — eu disse, por fim.
Ele suspirou suavemente. — Não consegui mais ficar longe de
— Eu não sabia que você estava tentando ficar longe de você.
— Foi o que você me pediu. Eu estava tentando respeitar seu desejo. Queria lhe dar tempo para pensar. Para clarear a mente. Para... ouvir seu coração.
Eu certamente tivera tempo para pensar. Infelizmente, meus pensamentos continuavam confusos. Eu não havia conseguido raciocinar desde que deixara a Índia. E não tinha dado ouvidos ao meu coração desde que acordara ao lado de Poncho em Kishkindha. Fazia meses que eu me desligara do meu coração.
— Ah. Então seus sentimentos não... mudaram?
— Meus sentimentos estão mais fortes do que nunca.
Seus olhos azuis estudaram meu rosto. Ele afastou o cabelo dos olhos e se inclinou para a frente.
— Anahi, cada dia que você ficou longe de mim foi uma agonia. Eu fiquei louco. Se o Sr. Kamal não tivesse me mantido ocupado cada minuto de cada dia eu teria tomado um avião na semana seguinte. Eu ouvia pacientemente enquanto ele me instruía, mas só tenho seis horas como humano. Como tigre, abri um caminho no tapete do meu quarto de tanto andar de um lado para outro, hora após hora. Ele quase pegou um rifle de caça para me aplicar tranquilizante. Nada me acalmava. Eu estava sempre inquieto, um animal selvagem sem... sem sua fêmea.
Remexi-me, nervosa, e mudei de posição na cadeira.
— Eu disse a Felipe que precisava treinar para trazer minhas habilidades de luta de volta ao padrão esperado. Lutávamos o tempo todo, tanto como homens quanto como feras. Treinávamos com armas, garras, dentes e com as mãos. Praticar com ele foi provavelmente a única coisa que me manteve são. Eu desabava no tapete todas as noites, ensanguentado, exausto, esgotado. Mas, ainda assim.., podia sentir você.
Ele me fitou antes de prosseguir.
— Mesmo do outro lado do mundo eu muitas vezes acordava com o seu cheiro à minha volta. Eu ansiava por você, Kells. Por mais que Felipe me surrasse, a dor de perdê-la não diminuía. Eu sonhava com você e estendia a mão para tocá-la, mas você estava sempre fora do meu alcance. Kamal ficava me dizendo que era melhor assim e que eu tinha coisas a aprender antes de poder vir para o Oregon. Ele devia estar certo, mas não era o que eu queria ouvir.
— Mas, se você queria ficar comigo, então... por que não telefonou?
— Era o que eu queria fazer. Era uma tortura ouvir sua voz toda semana quando você ligava para Kamal. Eu ficava esperando ao lado dele todas as vezes, torcendo para que pedisse para falar comigo, mas você nunca pediu. Eu não queria pressioná-la. Queria respeitar seu desejo. Queria que a decisão fosse sua.
Que ironia. Tantas vezes eu quis perguntar por ele, mas não conseguia fazer isso.
— Você ouvia as nossas conversas ao telefone?
— Ouvia. Tenho ótima audição, lembra?
— Sim. Então o que... mudou? Por que vir aqui agora?
Poncho riu sarcasticamente.
Foi graças a Felipe. Um dia, durante uma de nossas lutas, ele estava acabando comigo, como sempre. A essa altura, eu nem me esforçava mais para competir com ele. Eu queria que ele me machucasse. De repente ele parou. Andou à minha volta e me olhou de cima a baixo. Fiquei lá, parado, esperando que retomasse a luta. Então ele fechou a mão e me deu o soco mais forte de que foi capaz.
— Meu Deus.
— Eu simplesmente recebi o golpe, sem nem me dar ao trabalho de me defender. Em seguida, ele me socou com toda força na barriga. Eu me recuperei e me levantei novamente diante dele, sem me importar. Ele rosnou e berrou na minha cara.
— O que foi que ele disse?
— Muitas coisas, a maioria das quais prefiro não repetir. O que disse de mais importante foi que eu precisava sair dessa e perguntou por que eu não me levantava e fazia alguma coisa, já que estava tão infeliz.
— Ele zombou de mim, dizendo que o poderoso Príncipe do Império Mujulaain, o Sumo Protetor do Povo, o campeão da Batalha dos Cem Cavalos, herdeiro do trono, fora abatido por uma garota. Gritou que não havia nada mais patético que um tigre covarde lambendo suas feridas. Mas a essa altura eu não estava nem aí para o que ele falava. Nada me perturbou até ele me dizer que nossos pais ficariam envergonhados, que eles haviam criado um covarde. Foi aí que tomei uma decisão.
— A decisão de vir aqui.
Sim. Decidi que precisava ficar perto de você. Decidi que, mesmo que você só quisesse minha amizade, eu estaria mais feliz aqui do que na India sem você.
Poncho se levantou, ajoelhou-se e pegou minha mão.
— Decidi encontrá-la, me atirar aos seus pés e implorar para que tenha misericórdia de mim. Vou aceitar o que você decidir. De verdade, Anahi. Só não me peça que fique longe de você outra vez. Porque... eu não posso.
Como eu poderia resistir? As palavras de Poncho penetraram as frágeis barreiras em torno do meu coração. Eu tivera a intenção de erguer uma cerca de arame farpado, mas o arame tinha pontas de marshmallow. Ele passou facilmente por minhas defesas. Poncho pousou a testa em minha mão e meu coração de marshmallow se derreteu.
Passei os braços em torno de seu pescoço, abraçando-o, e sussurrei em seu ouvido:
— Um príncipe da Índia nunca deve se ajoelhar e implorar por nada. Está bem. Você pode ficar.
Ele suspirou e me apertou mais.
Eu sorri com ironia.
— Afinal, eu não ia querer que a sociedade protetora dos animais viesse atrás de mim por maus-tratos a um tigre.
Ele riu.
— Espere aqui — disse e saiu pela porta que conectava nossas casas.
Voltou com um pacote amarrado com uma fita vermelha.
A caixa era comprida, fina e negra. Eu a abri e encontrei uma pulseira. A corrente fina tinha um medalhão oval de ouro branco, dentro do qual havia duas fotografias: Poncho, o príncipe, e Poncho, o tigre.
Eu sorri.
— Você sabia que eu ia querer me lembrar do tigre também.
Poncho prendeu a pulseira em meu pulso e suspirou.
— Sabia, embora eu tenha um pouco de ciúme dele. Ele passa muito mais com você do que eu.
— Hum. Não tanto quanto antes. Sinto falta dele.
Ele fez uma careta.
— Acredite em mim, você o verá muito nas próximas semanas.
Seus dedos quentes roçaram meu braço e meu coração acelerou. Ele puxou meu braço até a altura de seus olhos, examinou o pingente e depositou um beijo no pulso.
Os olhos de Poncho brilharam, maliciosos, enquanto ele perguntava:
— Então... gostou?
— Gostei. Obrigada. Mas... — Minha expressão mudou, mostrando tristeza. — Eu não comprei nada para você.
Ele me puxou e me abraçou pela cintura.
— Você me deu o melhor presente de todos: o dia de hoje. É o melhor presente que eu poderia ter desejado.
Eu ri e provoquei:
— Nesse caso, que porcaria de embrulho que eu fiz.
— É, tem razão. É melhor eu embrulhar você devidamente.
Poncho pegou a colcha da minha avó no encosto da poltrona e me enrolou feito uma múmia. Eu me debati e gritei enquanto ele me pegava nos braços e me punha no colo.
— Vamos ler alguma coisa, Kells. Estou pronto para outra peça de Shakespeare. Tentei ler uma sozinho, mas tive muita dificuldade com a pronúncia das palavras.
Pigarreei dentro de meu casulo.
— Como pode ver, meu captor, meus braços estão presos.
Poncho se inclinou para fazer um carinho com o nariz em minha orelha e de repente ficou rígido.
— Tem alguém aqui.
A campainha soou. Poncho se levantou de um salto, me colocou em pé e me livrou da colcha antes que eu pudesse piscar. Fiquei ali parada por um instante, tonta e confusa. Então corei, constrangida.
— O que aconteceu com sua audição de tigre? — sibilei.
Ele sorriu para mim.
— Eu estava distraído, Kells. Você não pode me culpar. Está esperando alguém?
De repente me lembrei:
— Li!
— Li?
Fiz uma careta.
— Temos um... um encontro.
Os olhos de Poncho escureceram e ele repetiu baixinho:
— Você tem um encontro?
— Tenho... — respondi, hesitante.
Em minha mente disparavam pensamentos sobre o homem à minha frente e o outro, diante da porta. Poncho está de volta, mas o que isso significa? E o que eu devo fazer agora?
A campainha tornou a soar No mínimo eu sabia que não podia deixar Li esperando.
Voltando-me para Poncho, expliquei:
— Preciso ir agora. Por favor, fique aqui. Veja o que tem na geladeira e faça um sanduíche. Volto mais tarde. Por favor, tenha paciência. E não... fique... zangado.
Poncho cruzou os braços diante do peito e estreitou os olhos.
— Se é isso que você quer que eu faça, é o que farei.
Suspirei com alívio.
— Obrigada. Estarei de volta assim que puder.
Calcei os sapatos e peguei o embrulho com a coleção de DVDs que havia comprado para Li. Com os lábios apertados, Poncho me ajudou a vestir o casaco e foi para a cozinha. Ele se recostou na bancada com os braços cruzados e ergueu as sobrancelhas. Dirigi-lhe um sorriso débil e suplicante e segui para a porta da frente.
Senti uma pontada de culpa por ter um presente para Li e nenhum para Poncho mas rapidamente descartei essa sensação e abri a porta, agindo como se nada estranho estivesse acontecendo.
— Oi, Li.
— Feliz Natal, Anahi — disse ele, completamente alheio ao fato de que tudo na minha vida havia mudado mais uma vez.
Meu encontro com Li não transcorreu como originalmente planejado. Devíamos ver um filme de artes marciais e depois ir para o jantar de Natal na casa da Vó Zhi. Eu estava séria e meus pensamentos insistiam em me levar a volta a Poncho. Era difícil me concentrar em Li — ou em qualquer outra coisa.
— O que foi, Anahi? Você está muito quieta.
— Li, você se importa se pularmos o filme e anteciparmos o jantar? Preciso dar alguns telefonemas quando chegar em casa. Quero desejar feliz Natal a alguns amigos.
Li ficou decepcionado, mas replicou alegremente, como sempre.
— Ah. Claro. Isso não é problema.
Aquilo não era exatamente mentira. Eu pretendia ligar para o Sr. Kamal mais tarde. Porém isso não me fez sentir nem um pouco melhor por mudar nossos planos.
Na casa da Vó Zhi, os garotos estavam no meio de uma maratona de um dia inteiro de jogos. Participei de alguns, mas estava distraída e tomei decisões estratégicas ruins — tão ruins que até os rapazes comentaram.
— O que você tem, Anahi? — perguntou Wen. — Nunca deixou que eu me safasse com uma jogada como essa.
Sorri para ele.
— Não sei. Melancolia de Natal, talvez.
Eu estava perdendo feio, então Li pegou minha mão e me levou para a sala ir de trocarmos nossos presentes. Li e eu abrimos os pacotes ao mesmo tempo.
Rasgamos os papéis e rimos muito por muito tempo. Havíamos comprado exatamente o mesmo presente para o outro. Era uma sensação boa aliviar parte da tensão que havia se acumulado.
— Parece que nós dois gostamos de DVDs de artes marciais — disse ele, rindo.
— Desculpe, Li. Eu devia ter pensado mais.
Ele ainda estava rindo.
— Não se preocupe. Ë um bom sinal. Vó Zhi diria que é um sinal de boa sorte na cultura chinesa. Significa que somos compatíveis.
— É — eu disse, pensativa —, acho que sim.
Voltamos ao jogo depois de comer e joguei sem entusiasmo enquanto pensava no que ele tinha dito. Li estava certo em muitos aspectos. Nós éramos compatíveis e provavelmente combinávamos mais do que Poncho e eu. Como Sarah e Mike, éramos pessoas normais. E Poncho... não. Ele era imortal e maravilhoso. Era perfeito demais.
Eu podia facilmente visualizar uma vida com Li. Seria cômoda e segura. Ele seria médico e montaria um consultório num lugar tranquilo. Teríamos um casal de filhos e passaríamos as férias na Disney. As crianças fariam aulas de wushu e futebol. Comemoraríamos as datas festivas com os avós de Li e faríamos churrascos e convidaríamos todos os seus amigos e esposas.
Uma vida com Poncho era mais difícil de imaginar. Não parecia que fôssemos feitos um para o outro. Era como combinar Ken com Moranguinho. Ele precisava da Barbie. O que Poncho faria no Oregon?Arranjaria um emprego? O que ele colocaria no currículo? Sumo Protetor e ex-Príncipe da Índia? Ficaríamos sócios de um parque temático de animais selvagens para que ele pudesse ser a principal atração nos fins de semana? Nada disso fazia sentido. Mas eu não podia negar meus sentimentos por Poncho — não mais.
Era dolorosamente óbvio que meu coração rebelde ansiava por ele. E, por mais que eu tentasse me convencer a me apaixonar por Li, a verdade era que eu era sempre atraída de volta a Poncho. Eu gostava de Li. Talvez um dia pudesse até vir a amá-lo. Com certeza eu não queria magoá-lo. Não era justo.
O que eu vou fazer?
Depois de jogar mal por mais uma hora, Li me levou para casa. A noite caía quando ele parou na entrada da garagem. Olhei para as janelas em busca de uma sombra familiar, mas não vi nada. A casa estava escura. Li me acompanhou até a porta.
— Ei, meus olhos estão me enganando ou é um visco que está pendurado aí? — perguntou ele, apertando meu cotovelo.
Olhei para cima, para o visco, e me lembrei de minha decisão de beijar Li naquela noite. Isso parecia ter sido muito tempo atrás. Agora tudo tinha mudado. Não tinha? E Poncho? Podíamos mesmo ser só amigos? Eu deveria arriscar tudo e dar uma chance a Poncho? Ou optar por algo seguro como Li? Como escolher?
Eu ficara em silêncio por muito tempo e Li esperava pacientemente por zz-_ha resposta. Por fim, virei-me para ele e disse:
— É,sim.
Levei a mão ao seu rosto e beijei-o delicadamente nos lábios. Foi bom. Não foi o beijo apaixonado que eu havia planejado, mas ainda assim ele parecia feliz. Li tocou meu rosto e sorriu. Seu toque era agradável. Seguro. Mas não chegava nem perto do que eu sentia com Poncho. O beijo de Li era uma partícula de poeira no Universo, uma gota perto de uma cachoeira.
Como viver com alguma coisa tão comum quando já se teve algo tão excepcional? Acho que só aprendendo a acalentar as lembranças.
Girei a chave na fechadura e abri a porta.
— Boa noite, Anahi — gritou Li, feliz. — Até segunda.
Fiquei observando o carro se afastar e entrei em casa para encarar o príncipe indiano que me esperava lá dentro.



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Entrei e fechei a poda, deixando que meus olhos se ajustassem à escuridão. Perguntei-me se Poncho estaria na casa ao lado e ponderei se deveria ou não esclarecer as coisas com ele aquela noite.Cheguei à sala e arquejei baixinho quando avistei a forma familiar do meu tigre branco de olhos azuis esparramado no sofá de couro. Poncho ergueu a c ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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