Fanfics Brasil - Ciúmes A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: Ciúmes

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Poncho tornou a me beijar e deslizou um braço sob meus joelhos. Ele conseguiu me levar para dentro de casa e fechar a porta com o pé sem desgrudar os lábios dos meus. Eu finalmente tinha meu momento Rhett Butler. Ele se acomodou na poltrona, me aconchegou em seu colo, agarrou minha colcha e me envolveu com ela.
E me beijou por toda parte — cabelos, pescoço, testa, bochechas... mas sempre voltava aos lábios, como se eles fossem o centro do Universo. Suspirei baixinho e desfrutei da avalanche de beijos de Poncho — beijos sufocantes, beijos suaves, beijos sensuais, beijos que duravam um mero segundo e beijos duravam uma eternidade. Era fácil acreditar que meu anjo guerreiro me capturado e me levado voando para o céu.
Um ronco profundo ecoou em seu peito.
Afastei a cabeça, rindo.
— Você está rosnando para mim?
Ele riu baixinho, girou a fita do meu cabelo entre os dedos e a puxou demente, soltando minha trança. Mordendo de leve minha orelha, ele urrou uma ameaça:
— Você vem me deixando louco há três semanas. Tem sorte de eu apenas rosnar.
Ele traçou um lento caminho de beijos descendo pelo meu pescoço.
— E isso significa que você virá aqui com mais frequência? — eu quis saber.
Ele falou, movendo os lábios de encontro à minha pele.
— Cada minuto do dia.
— Ah. Então... você não estava apenas me evitando?
Ele colocou o dedo sob meu queixo e virou meu rosto para
— Eu nunca iria evitá-la de propósito, Annie.
Ele fez um carinho na lateral do meu pescoço e na clavícula com a ponta dos dedos, me distraindo.
— Mas fez isso.
— Porque foi lamentavelmente necessário. Eu não queria pressioná-la, então me mantive afastado, mas estava sempre por perto. Podia ouvi-la. — Ele afundou o rosto em meus cabelos soltos e suspirou. — E sentir seu cheiro de pêssego e creme, o que me deixava maluco. Só que eu não me permitia vê-la, a menos que você concordasse com um encontro. Quando você começou a me provocar, pensei que fosse enlouquecer.
— Arrá! Então você ficou tentado.
— Esse é o pior tipo de pralobhana, de tentação. Eu a teria dominado por um momento, mas então acabaria por perdê-la. Evitar você era tudo que eu podia fazer para não agarrá-la e sequestrá-la.
Era estranho. Agora que eu havia admitido em voz alta que queria estar com ele, não me sentia nem um pouco tímida ou hesitante. Sentia-me... liberada. Contente. Plantei dezenas de beijos em suas bochechas, em sua testa, em seu nariz e, por fim, em seus lábios perfeitamente esculpidos. Ele ficou imóvel enquanto eu percorria seu rosto com os dedos. Ficamos por um longo momento nos entreolhando, seus lindos olhos azul-cobalto presos aos meus, castanhos. Poncho sorriu e meu coração deu um pulo, sabendo que ele, em toda a sua perfeição, era meu.
Deslizei as mãos de seus ombros para os cabelos, tirando-os da testa, e disse baixinho:
— Eu amo você, Poncho. Sempre amei.
Seu sorriso se abriu. Ele me apertou ainda mais nos braços e sussurrou meu nome.
— Amo você, minha kamana. Se soubesse que você seria o prêmio que eu conquistaria depois de séculos de cativeiro, teria suportado tudo agradecido.
— O que quer dizer kamana?
— “O lindo desejo a que eu aspiro acima de todos os outros.”
— Humm. — Pressionei os lábios de encontro ao pescoço dele e inspirei seu cheiro cálido de sândalo. — Poncho?
—Sim?
Ele enroscou os dedos em meu cabelo.
— Desculpe por ter sido tão idiota. Foi tudo culpa minha. Desperdicei tanto tempo. Você me perdoa?
Seus dedos se aquietaram em meu cabelo.
— Não há nada para perdoar. Pressionei você cedo demais. Não a cortejei. Não disse as coisas certas.
— Não. Nada disso. Você disse todas as coisas certas. Acho só que não estava preparada para ouvi-Ias ou acreditar nelas.
— Eu devia saber que não deveria apressá-la. Não fui paciente e um tigre sem paciência fica sem jantar.
Eu ri.
— Você sabia que comecei a me sentir atraído por você antes mesmo de você saber que eu era humano? Lembra-se de quando fiquei correndo freneticamente de um lado para outro durante uma apresentação no circo?
— Lembro.
— Pensei que você tivesse ido embora. Ouvi Matt dizer ao pai que uma das garotas novas tinha partido. Achei que eles se referissem a você. Eu precisava saber se você ainda estava lá. Você não foi à minha jaula naquele dia e eu fiquei distraído, desanimado. Não pude sossegar até vê-la na plateia.
— Bem, estou aqui agora e não vou deixá-lo, Tigre.
Ele grunhiu, me apertou e provocou:
— Não, não vai. Não vou deixá-la sair de perto de mim outra vez. Agora, sobre todos aqueles poemas que você me deu... acho que alguns merecem ser estudados em profundidade.
— Concordo plenamente.
Ele tornou a me beijar. Foi um beijo prolongado e doce. Suas mãos seguravam o meu rosto e acho que meu coração chegou de fato a dar uma cambalhota no peito. Poncho afastou o rosto, beijou os cantos da minha boca e suspirou profundamente. Ficamos agarradinhos até seu tempo se esgotar.
Na noite seguinte preparei um jantar especial para Poncho. Quando os famosos conchiglioni recheados de minha mãe ficaram prontos, Poncho serviu uma porção gigante em seu prato, espetou um deles e mastigou, feliz.
— Esta é uma das melhores coisas que já comi. Na verdade, só fica atrás de manteiga de amendoim, chittaharini.
— Fico feliz que goste da receita da minha mãe. Ei, você nunca me disse o que chittaharini significa.
Ele beijou meus dedos.
— Significa “a que cativa a minha mente”.
— E iadala?
— Querida.
— Como se diz “eu te amo”?
— Mujhe tumse pyarhai.
— E “estou apaixonada”?
Ele riu.
— Você pode dizer anurakta, que significa que você “está se afeiçoando a alguém. Ou pode dizer que é kaamaart, que significa que você é uma “jovem intoxicada com amor ou perdida de amor” Prefiro a segunda forma.
Sorri, de modo afetado.
— Sei, sei. Tenho certeza de que você gostaria de anunciar que estou bêbada de amor por você. Como se diz “meu namorado é bonito”?
— Mera sakha sundara.
Limpei os lábios com um guardanapo e perguntei se ele gostaria de me ajudar a fazer a sobremesa. Poncho puxou a cadeira para
que eu me levantasse e me seguiu até a cozinha. Eu estava superconsciente de sua proximidade, sobretudo porque a todo instante ele encontrava razões para me tocar. Ao guardar o açúcar, acariciou meu braço. Quando estendeu a mão para colocar a baunilha em cima da bancada, fez carinho com o nariz no meu pescoço. Chegamos ao ponto em que comecei a derrubar as coisas.
— Poncho, você está me distraindo. Quero que me dê um pouco de espaço para que eu possa terminar de preparar a massa.
Ele obedeceu, mas se manteve perto o bastante para que eu roçasse nele ao guardar os ingredientes. Dei forma aos biscoitos, arrumei-os no tabuleiro
— Agora temos 15 minutos até ficarem prontos.
Ele agarrou meu braço e me puxou para ele. Quando dei por mim, o timer estava disparando e eu pulei de susto. Não sei como, mas eu tinha ido parar em cima da bancada da cozinha presa num abraço apaixonado. Uma de minhas mãos estava em seu cabelo, seus cachos sedosos enroscados em meus dedos, enquanto minha outra mão aparentemente agarrara sua camisa de grife e estava lentamente torcendo-a. A camisa recém-passada agora estava toda amassada. Envergonhada, relaxei a mão incontrolável e gaguejei:
— Sinto muito pela camisa.
Ele pegou minha mão, pousou um beijo na palma e sorriu, malicioso.
— Eu não.
Eu o empurrei e saltei para o chão. Pressionando os dedos contra seu peito, eu disse:
— Você é perigoso, rapaz.
Ele sorriu.
— Não é minha culpa que você esteja intoxicada por mim.
Fiz cara feia para ele, mas isso não o perturbou nem um pouco; ele estava muito satisfeito consigo mesmo. Tirei os biscoitos do forno e me virei para pegar o leite. Quando lhe entreguei o copo, Poncho já havia devorado um biscoito superquente e estava no segundo.
— Deliciosos! São de quê?
— De chocolate, com gotas de chocolate e recheio de manteiga de amendoim.
— São a segunda melhor coisa que já provei.
Eu ri.
— Você disse a mesma coisa no jantar.
— Acabei de atualizar o ranking.
— Ah, é? Qual é o primeiro lugar agora? Ainda são as panquecas de manteiga de amendoim?
— Não... você. Mas o páreo é duro. — Seu sorriso se turvou. — É hora de eu me transformar, Annie.
Senti um leve tremor percorrer-lhe o braço. Ele me beijou docemente mais uma vez e se metamorfoseou em tigre. Então seguiu para a escada, subiu-a em dois saltos e se dirigiu para o meu quarto.
Poncho se acomodou no tapete perto da minha cama enquanto eu vestia o pijama no banheiro. Depois de escovar os dentes, ajoelhei-me ao lado dele. Abraçando-lhe o pescoço, sussurrei:
— Mujhe tumse pyarhai, Poncho.
Ele começou a ronronar enquanto eu me cobria com o edredom. Eu não via sua metade tigre desde que ele aparecera no dia de Natal e estava com saudade. Abraçando-o, acariciei-lhe o pelo macio. Aconchegando-me ao seu o, usei suas patas como travesseiro e adormeci, em paz pela primeira vez desde que deixara a Índia.
No sábado acordei em minha cama agarrada ao meu tigre branco de pelúcia. Poncho estava sentado numa cadeira posicionada ao contrário, a cabeça descansando nos braços, me observando. Grunhi e cobri a cabeça com o edredom.
— Bom dia, dorminhoca. Sabe, se queria tanto dormir com um tigre, era só dizer. — Ele apanhou o tigre de brinquedo. — Quando comprou isto?
— Na semana que voltei.
Ele sorriu.
— Então sentiu a minha falta?
Suspirei e sorri.
— Como um peixe sente falta da água.
— É bom saber que sou tão necessário assim à sua sobrevivência. — Ele se ajoelhou ao lado da cama e tirou o cabelo do meu rosto. — Eu já lhe disse que você é a coisa mais linda de manhã?
Eu ri.
— Fala sério. Meu cabelo está todo desgrenhado e eu estou de pijama.
— Gosto de ver você acordar. Você suspira e começa a se remexer. Rola para um lado e para outro algumas vezes e em geral murmura alguma coisa sobre mim.
Ele sorriu.
— Então eu falo dormindo, é? — perguntei, apoiando-me no cotovelo. — Isso é constrangedor.
— Eu gosto. Depois você abre os olhos e sorri para mim, mesmo quando estou como tigre.
— Que garota não iria sorrir quando você é a primeira coisa que ela vê? É como acordar na manhã de Natal e encontrar o melhor presente que você já ganhou.
Ele riu e beijou minha bochecha.
— Quero conhecer Silver Falls hoje, portanto levante esse esqueleto preguiçoso da cama. Vou esperar você lá embaixo.
A caminho das cachoeiras, paramos em Salem para o café da manhã no White’s, um pequeno restaurante que funcionava há décadas. Poncho pediu a especialidade da casa: batatas tipo roesti, ovos, salsicha, bacon e molho, tudo misturado numa grande pilha. Eu nunca vira ninguém terminar um prato daqueles, mas Poncho comeu tudo e ainda roubou uma torrada minha.
— Você está com um apetite e tanto — comentei. — Não tem comido direito?
Ele deu de ombros.
— O Sr. Kamal contratou um serviço de supermercado, mas eu só sei fazer pipoca e sanduíche.
— Por que não me contou? Eu teria cozinhado para você com mais frequência.
Ele pegou minha mão e a beijou.
— Eu queria mantê-la ocupada de outra forma.
A viagem foi linda. Quilômetros e quilômetros de fazendas de pinheiros de ambos os lados da estrada serpenteante que levava a uma região montanhosa e coberta de florestas.
Passamos o dia caminhando por South Falls, Winter Falls e Middle North Falls e seguíamos para outras três cachoeiras. Estava frio e eu havia esquecido minhas luvas. Poncho imediatamente tirou um par de luvas do bolso do casaco e as calçou em minhas mãos. Eram grandes demais, mas forradas e quentes. O gesto me trouxe à
lembrança o encontro horrível com Artie. Poncho e Artie eram como o dia e a noite.
Estávamos discutindo as diferenças entre as florestas da Índia e as do Oregon quando um pensamento me ocorreu e interrompi o assunto:
— Poncho, durante todo o tempo em que saí com Li, você não sentiu nem um pouco de ciúme?
— Senti muito ciúme. Fico enfurecido todas as vezes que alguém se aproxima de você.
— Você não demonstrava isso.
— Quase fiquei louco. Não conseguia pensar com clareza. Quando outro cara chega perto de você, tenho vontade de fazê-lo em pedaçinhos com minhas garras. Mesmo que eu goste dele... como é o caso de Li. E especialmente se não gosto... como Jason.
— Você não tem nenhum motivo para ter ciúme.
— Não tenho, agora. Jason recuou e eu tenho uma dívida de gratidão para com Li por finalmente fazê-la reconhecer seus sentimentos.
— É, isso você deve mesmo a ele. Por falar nisso, ele disse que, se um dia você me deixar, ele irá atrás de você.
Poncho sorriu.
— Isso nunca vai acontecer.
Passando por uma clareira, percebi que ele erguia o nariz.
— O que você está farejando?
— Humm. Sinto cheiro de urso, onça-parda, cervo, vários cães, cavalos, muitos esquilos, água, plantas, árvores, flores e você.
— Não o incomoda sentir os cheiros tão intensamente?
— Não. Você aprende a desativar todos os outros e se concentrar no que quer sentir. É o mesmo com a audição. Se eu me concentrar, posso ouvir pequenas criaturas escavando o solo, mas eu simplesmente desativo esses sons.
Chegamos a Double Falis e ele me levou até uma pedra coberta de musgo que servia como ponto de observação. Estremeci, batendo o queixo, mesmo casaco e luvas. Poncho rapidamente tirou o próprio casaco e o enrolou em corpo. Então me puxou de encontro ao seu peito e me envolveu com os braços. Senti seu cabelo sedoso roçar minha pele quando ele baixou a cabeça.
— É quase tão lindo quanto você, priya. E muito melhor do que ter que nos preocupar com kappa nos perseguindo ou árvores de agulhas furando minha pele.
Virei a cabeça e beijei-lhe o rosto.
— Tem uma coisa de Kishkindha de que sinto falta.
— Verdade? O que é? Deixe-me adivinhar. Você sente falta das brigas.
— Brigar com você é divertido, mas fazer as pazes é melhor. Só que não é disso que sinto saudade. Sinto falta de tê-lo perto de mim como homem o tempo todo. Não me entenda mal, eu amo seu lado tigre, mas seria bom ter um relacionamento normal.
Ele suspirou e apertou minha cintura.
— Não sei se um dia teremos um relacionamento normal. — Poncho ficou em silêncio por um minuto e então confessou:
— Por mais que eu goste de ser humano, tem uma parte de mim que anseia por correr livre na floresta.
Ri, envolta no calor de seu casaco.
— Posso até imaginar a expressão no rosto do guarda-florestal quando visitantes disserem que viram um tigre branco correndo em meio às árvores.
Ao longo das semanas seguintes estabelecemos uma rotina. Por decisão mútua resolvemos suspender as aulas de wushu e tive que passar meia hora ao telefone consolando Jennifer e encorajando-a a continuar sem mim.
Poncho queria estar comigo o tempo todo, mesmo como tigre. Ele gostava de se esticar ao longo das minhas pernas enquanto eu estudava sentada no chão.
À noite ele tocava bandolim ou praticava no violão que tinha comprado. Às vezes cantava para mim. Sua voz era grave e profunda, ressonância quente e melódica. Seu sotaque era mais acentuado quando ele cantava, o que eu achava hipnótico. Sua voz, por si só, já era bastante poderosa mas, quando cantava, ela me levava a um transe. Ele sempre brincava com a imagem da fera acalmando a garota selvagem com música.
Às vezes eu não fazia nada, deixando-me apenas ficar sentada com sua cabeça de tigre no meu colo, observando-o dormir. Acariciava-lhe o pelo branco e sentia seu peito subir e descer Ser tigre era parte dele e eu me sentia confortável com isso. Agora, porém, que eu finalmente aceitara que ele me amava, sentia-me dominada pelo desejo de estar com ele.
Era frustrante. Eu queria partilhar cada momento com ele. Queria ouvir sua voz, sentir sua mão na minha e pousar meu rosto em seu peito enquanto ele lia para mim. Estávamos juntos, mas não estávamos juntos. Poncho passava a maior parte de suas horas como humano na faculdade, o que deixava pouco tempo para nosso relacionamento. Eu tinha fome dele. Podia falar com ele, as ele não
podia responder. Rapidamente tornei-me especialista em ler expressões de tigres.
Eu me aconchegava a ele no chão todas as noites e todas as noites ele me pegava no colo e me colocava na cama depois que eu adormecia. Fazíamos os trabalhos da faculdade juntos, assistíamos a filmes, líamos. Terminamos Otelo e passamos a Hamlet. Também mantínhamos contato constante com Sr. Kamal. Quando eu atendia o telefone, ele conversava comigo sobre a faculdade e Nilima e me dizia que eu não me entristecesse com o fato de minha pesquisa sobre a prova das quatro casas ter se mostrado inútil. Era educado e me perguntava sobre minha família adotiva, e também sempre pedia para falar com Poncho.
Eu não estava tentando bisbilhotar, mas era óbvio que alguma coisa estava acontecendo quando eles sussurravam e às vezes falavam em híndi. De vez em quando eu ouvia termos estranhos: Yggdrasil, pedra do umbigo e montanha de Noé. Depois que Poncho desligava eu perguntava sobre o que estavam conversando, mas ele apenas sorria e me dizia que não me preocupasse, que estavam apenas discutindo negócios ou numa teleconferência com outras ressoas que só falavam híndi. Eu me lembrava do e-mail do Sr. Kamal sobre documentos e suspeitava que Poncho estivesse escondendo alguma coisa, mas depois ele agia de forma tão natural e se mostrava tão genuinamente feliz por estar comigo que eu acabava esquecendo minhas preocupações, pelo menos até o telefonema seguinte.
Poncho começou a escrever breves poemas e bilhetes e a colocá-los em minha bolsa para que eu os encontrasse durante as aulas. Alguns eram poemas famosos e outros eram de sua autoria. Eu os colava em meu diário e levava comigo o tempo todo uma cópia dos meus dois prediletos.
Você sabe que está apaixonado
quando vê o mundo nos olhos dela
e os olhos dela em todos os cantos do mundo
David Levesque
Se um rei tivesse uma pérola inestimável
Uma joia que amasse acima de tudo
Ele a guardaria num esconderijo
Tirando-a de vista
Temendo que outros a roubassem?
Ou a exibiria, orgulhoso,
Engastada num anel ou numa coroa
De modo que o mundo lhe admirasse a beleza
E visse a riqueza que ela trazia à sua vida?
Você é a minha pérola inestimável.
Poncho
Ler seus pensamentos e sentimentos mais íntimos quase compensava a limitação de nosso tempo juntos. Quase.
Um dia, depois da aula de história da arte, Poncho me surpreendeu aparecendo por trás de mim.
— Como você sabia onde era a minha aula?
— Saí cedo hoje e segui seu rastro. Fácil como rastrear uma torta de pêssego com chantili, que você prometeu fazer para mim mais tarde. Não me esqueci disso.
Ri e seguimos na direção do oratório de idiomas para devolver um vídeo.
Atrás da mesa no laboratório estava Artie.
— Oi, Artie. Quero devolver um vídeo.
Ele empurrou os óculos nariz acima.
— Ah, sim. Eu já tinha me perguntado por esse vídeo. Está muito atrasado.
— É. Eu peço desculpas.
Ele o deslizou para um espaço vago, que imaginei que ele vinha observando havia semanas, enquanto ia enlouquecendo aos poucos.
— Ainda bem que você teve a integridade de devolvê-lo afinal.
— Certo. Eu tenho muita integridade. Até mais, Artie.
— Espere, Anahi. Você não retornou minhas ligações, então imagino sua secretária eletrônica não esteja funcionando. Vai ser difícil encaixar você, mas acho que estou disponível na próxima quarta.
Ele apanhou o lápis e a agenda e já estava escrevendo meu nome. Como ele podia ignorar o homem enorme atrás de mim?
— Olhe, Artie, estou saindo com outra pessoa agora.
— Acho que não pensou nisso com clareza, Anahi. Nosso encontro foi muito especial e senti uma conexão verdadeira com você. Tenho certeza de que, se reconsiderasse, veria que devia estar saindo era comigo. — Ele lançou um rápido olhar para Poncho. — Eu sou obviamente a melhor opção.
— Artie! — exclamei, exasperada.
Ele empurrou os óculos novamente para cima e me olhou, tentando me convencer com os olhos a ceder.
Nesse momento, Poncho se interpôs entre nós dois. Artie, relutante, afastou os olhos de mim e olhou para Poncho com antipatia. Os dois homens formavam um contraste tão gritante que eu não podia deixar de compará-los. Enquanto Artie era flácido, cheio de papadas e barrigudo, Poncho era esguio e com peito e braços musculosos. E, tendo visto Poncho sem camisa, eu também podia garantir que ele tinha músculos abdominais fantasticamente esculpidos. Poderia esmagar Artie no chão sem qualquer esforço.
Artie era branco e pálido e tinha braços peludos, nariz vermelho e olhos lacrimosos. Poncho era capaz de parar o trânsito. E tinha feito isso. Literalmente. Ele era um Adônis renascido em bronze dourado. Frequentemente eu via garotas tropeçarem na calçada e darem de cara com árvores quando ele passava. Nenhuma dessas qualidades intimidava Artie. Ele tinha uma autoconfiança extraordinária e se manteve firme, inabalado pela aparência impressionante de Poncho.
— E quem seria você? — perguntou Artie, com sua voz anasalada.
— Sou o homem com quem Anahi está saindo.
A expressão de Artie era de incredulidade. Ele me olhou por trás de Poncho e disse com sarcasmo:
— Você prefere sair com esse bárbaro que comigo? Talvez eu tenha julgado o seu caráter. Está claro que você faz escolhas questionáveis baseadas puramente em impulsos lascivos. Pensei que fosse de um calibre moral mais alto, Anahi.
— Escute aqui, Art... — comecei.
Poncho se aproximou o rosto do de Artie e ameaçou em voz baixa:
— Nunca mais a insulte. A garota deixou sua posição clara. Se algum dia eu souber que você voltou a persegui-la ou a alguma outra garota, voltarei e tornarei sua vida muito desconfortável.
Ele espetou o dedo na agenda de Artie.
— Talvez seja melhor você escrever isso para não esquecer Faça uma anotação para si mesmo lembrando também que Anahi nunca mais estará disponível. Nunca mais.
Eu jamais vira Poncho dessa perspectiva. Ele podia ser letal. Se eu fosse Artie, estaria tremendo de medo. Mas, como sempre, Artie estava alheio a tudo que não fosse ele mesmo. E não viu o predador perigoso espreitando por trás dos olhos de Poncho. As narinas de Poncho pareciam dilatadas. Seus olhos estavam fixos no alvo e seus músculos, retesados. Ele estava prestes a atacar. A destroçar. A matar.
Pousei a mão em seu braço e a mudança foi instantânea. Ele deixou escapar um suspiro tenso, relaxou a postura e cobriu minha mão com a sua.
Apertei seus dedos.
— Venha. Vamos embora.
Ele abriu a porta do carro para mim e, depois de verificar que o cinto estava afivelado, inclinou-se e perguntou:
— Que tal um beijo?
— Não. Você não precisava ter sido tão ciumento. Não merece nenhum beijo depois disso.
— Ah, mas você merece.
Ele sorriu e me beijou até que eu mudasse de ideia.
Poncho se manteve quieto durante o trajeto até em casa.
— O que você está pensando? — perguntei.
— Estou pensando que talvez eu devesse comprar uma gravata-borboleta e um pulôver de lã, já que você parece gostar tanto deles.
Eu ri e dei um soco em seu braço.
Mais tarde naquela semana vi Poncho conversando com uma bonita garota indiana. Ele estava sério e parecia um pouco perturbado. Eu me perguntava quem seria aquela garota, quando senti alguém pôr a mão em meu ombro. Era Jason.
— Oi, Anahi. — Ele se sentou ao meu lado no degrau e seguiu meu olhar. — Problemas no paraíso, hein?
Eu ri.
— Não. E aí? O que você tem feito?
— Pouca coisa — replicou ele, revirando a mochila e me entregando uma revista de teatro. — Fique com uma cópia daquele artigo. O que tem uma foto sua.
Na capa da revista havia uma foto de Jason comigo, de pé ao lado do carro. Minha mão estava no braço da senhora enquanto ela me agradecia. Eu estava horrível. Como se tivesse sido atropelada.
Jason se levantou de repente.
— É... pode ficar com ela, Anahi. Falo com você mais tarde — disse ele por sobre o ombro quando Poncho se aproximava.
Poncho ficou olhando Jason se afastar.
— O que ele queria?
— Engraçado, eu ia lhe fazer a mesma pergunta. Quem é a garota?
Ele mudou de posição, pouco à vontade.
— Venha. Vamos conversar sobre isso no carro.
Depois que deixamos o estacionamento, cruzei os braços e perguntei:
— Quem é ela?
Ele se assustou com o meu tom.
— O nome dela é Amara.
Esperei, mas ele não acrescentou mais nada.
— E... o que ela queria?
— O número do telefone dos meus pais... para que os pais dela pudessem ligar para os meus.
—Para quê?
— Para combinar o casamento.
Meu queixo despencou.
— Você está falando sério?
Poncho sorriu.
— Está com ciúme, Anahi?
— É claro que estou. Você é meu!
Ele beijou meus dedos.
— Gosto que você tenha ciúme. Eu disse a ela que já estava comprometido, anão não se preocupe, minha prema.
— Isso é muito esquisito, Poncho. Como ela pode querer propor casamento se vocês nem sequer se conhecem?
— Ela não propôs casamento exatamente; propôs a ideia de casamento em geral são os pais que cuidam disso, mas, nos Estados Unidos, as coisas mudaram um pouco. Agora a situação é mais ou menos assim: os pais selecionam potenciais parceiros e os filhos fazem sua escolha.
— Bem, você já passou por isso. Foi prometido a Yesubai. Você queria se casar com ela? Seus pais a escolheram para você, certo?
Ele hesitou e falou com cuidado.
— Eu... aceitei o arranjo. Estava ansioso para ter uma esposa. Esperava ter um casamento feliz, como o dos meus pais.
— Mas você a teria escolhido para esposa?
— Não era uma escolha minha. — Ele sorriu, tentando me apaziguar. — Mas, se isso a faz se sentir melhor, eu escolhi você, embora não estivesse procurando ninguém.
Eu ainda não queria deixar o assunto de lado.
— Então você teria ido até o fim, embora não soubesse nada sobre ela?
Ele suspirou.
— O casamento era e ainda é diferente na cultura indiana. Quando você se casa, tenta deixar seus pais felizes com alguém que tenha a mesma formação cultural que você e que adote e mantenha as tradições e os costumes importantes para sua família. São muitos os fatores a se considerar, como educação, riqueza, casta, religião e local de origem.
— Então é como selecionar candidatos para a faculdade? Será que eu teria sido aprovada?
Ele riu.
— É difícil dizer. Alguns pais acreditam que namorar um estrangeiro desonra você para sempre.
— Quer dizer que o simples fato de namorar uma garota americana o desonra? O que seus pais teriam dito sobre nós?
— Meus pais viveram numa época muito diferente.
— Ainda assim... eles não aprovariam.
— O Sr. Kamal é como um pai, de certa forma, e ele aprova você.
Deixei escapar um gemido.
— Não é a mesma coisa.
— Anahi, meu pai amava minha mãe e ela não era indiana. Eles vinham de culturas diferentes e tiveram que fundir tradições divergentes. Mesmo assim, foram felizes. Se havia alguém naquela época capaz de nos entender... eram eles. E os seus pais? Eles teriam gostado de mim?
— Minha mãe teria adorado você. Ela iria fazer biscoitos de chocolate e manteiga de amendoim toda semana para o genro querido e dar risadinhas todas as vezes que o visse, como Sarah faz. Meu pai nunca achou que homem algum seria bom o bastante para mim. Ele teria dificuldade em me deixar partir, mas também acabaria gostando de você.
Entramos na garagem e eu tive uma súbita visão de nós quatro sentados na biblioteca dos meus pais, conversando sobre nossos livros favoritos. Sim, eles teriam aprovado Poncho com entusiasmo.
Sorri por um instante e então franzi a testa.
— Não me agrada a ideia de que haja outras garotas atrás de você.
— Agora você sabe como eu me senti. Por falar nisso, o que Jason queria com você?
— Ah. Ele me deu isto aqui.
Entreguei-lhe o artigo quando entrávamos em casa. Poncho se sentou e o leu em silêncio enquanto eu preparava um lanche para nós. Depois apareceu na cozinha com uma expressão preocupada no rosto.
— Anahi, quando essa foto foi tirada?
— Há cerca de um mês. Por quê? Algum problema?
— Talvez não. Preciso ligar para Kamal.
Ele pegou o telefone e começou a falar em hindi. Sentei-me no sofá, segurando sua mão. Ele falava rápido e parecia muito preocupado. A última coisa que disse antes de desligar foi algo a respeito de Felipe.
— Poncho, me conte. O que está acontecendo?
— Seu nome e sua foto estão nesta revista. É uma publicação pouco importante, então talvez tenhamos sorte.
— Do que você está falando?
— Tememos que Lokesh possa rastreá-la até aqui.
— Ah. Mas isso não é difícil. Tenho matrícula na faculdade e carteira de motorista — respondi, confusa.
— Alteramos tudo. O Sr. Kamal tem seus contatos. Ele providenciou para que seus registros não combinem nome e foto. Você acha mesmo que ele podia providenciar um passaporte em uma semana para que você fosse para Índia no verão passado?
— Não tinha pensado nisso. — Minha mente disparava com a nova informação e a visão que tivera na Índia do feiticeiro ávido por poder voltou à minha memória. De repente, preocupada, eu disse: — Mas, Poncho, estou matriculada na faculdade com o meu nome e existem registros sobre mim no sistema de adoção que poderiam levar a Sarah e Mike. E se ele os encontrar?
— O Sr. Kamal alterou esses dados também. Os registros do estado oficialmente dizem que você foi emancipada aos 15 anos e todas as suas faturas vão para uma conta oculta. Até a minha carteira de motorista é falsa e estou registrado com um nome diferente. Anahi Hayes oficialmente frequenta a Western Oregon, mas sua foto foi trocada de forma que ele não possa identificá-la. Não deixamos nenhum registro do seu nome ligado à sua foto. Esses eram os
documentos mencionados no e-mail que você viu no meu computador.
— E quanto ao meu anuário da escola do ensino médio?
— Cuidamos disso também. Apagamos você dos registros oficiais. Se alguém entrasse em contato com um antigo colega seu com um anuário nas mãos poderia identificá-la, mas as probabilidades de isso acontecer são pequenas. Teriam que verificar cada escola do país, supondo-se que saibam em que país procurar.
— Então você acha que esse artigo significa..
— Que existe um registro pelo qual ele pode encontrá-la.
— Por que vocês dois não me contaram tudo isso antes?
— Não queríamos preocupá-la desnecessariamente. Nosso desejo era que levasse uma vida tão normal quanto possível.
— E agora? O que vamos fazer?
— Se tudo correr bem, vamos terminar o período, mas, por via das dúvidas, mandei buscar Felipe.
— Felipe está vindo para cá?
— Ele é um bom caçador e pode me ajudar a ficar de olho nas coisas. E também teria menos distrações que eu.
—Ah.
Poncho me puxou para ele e massageou minhas costas.
— Não vou deixar que nada aconteça a você. Prometo.
— Mas e se alguma coisa acontecer a você? O que eu posso fazer para ajudar?
— Felipe vai me dar cobertura para que eu possa cuidar de você.



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Sem nenhuma notícia de Lokesh e, felizmente, sem nada de anormal acontecendo, relaxei o bastante para aproveitar o baile do dia dos namorados. A noite seria divertida e todo o lucro seria revertido para o Museu Artico Jensen.Poncho pegou uma capa para roupa no meu armário e a pendurou na porta do banheiro.— O que é isto, Tigre? Acha que agora pode ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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