Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA
Felipe se afastou para dar uma boa olhada em mim.
— Senti saudade. Como meu irmão idiota está tratando você? — Em um sussurro fingido, ele perguntou: — Você precisou usar o repelente de tigres?
Eu ri.
— Poncho está me tratando muito bem, apesar de eu ter dado a ele um presente de dia dos namorados muito mixuruca.
— Ah, ele não merece mesmo nenhum presente. O que foi que ele deu a você? Ergui a mão para tocar um dos brincos.
— Estes. Mas são muito sofisticados para mim.
Felipe estendeu a mão e tocou levemente o brinco. Seu olhar lascivo de pirata raptor de mulheres se dissolveu num terno sorriso que ergueu o canto de sua boca.
— Mamãe teria aprovado — disse ele baixinho.
— Estes brincos foram da sua mãe? — perguntei a Poncho, que assentiu. — Poncho, por que você não me disse?
— Não queria que se sentisse pressionada a usá-los caso não gostasse deles — respondeu ele frivolamente. — Estão um pouco fora de moda.
— Você devia ter me contado que eram da sua mãe. — Deslizei os braços por seu pescoço e o beijei. — Obrigada por me dar algo tão precioso para você.
Poncho me apertou mais e beijou meu rosto.
Ouvi um suspiro dramático às nossas costas.
— Argh, acho que o prefiro chorão e desesperado. Isso é tão meloso.
Poncho grunhiu baixinho.
— Quem foi que o convidou?
— Você.
— Não para vir aqui. Como nos encontrou?
Desembarcamos em Salem e encontrei o convite para o baile na casa. Pensei que, se havia uma festa, eu devia estar nela. Mas acho que todas as garotas bonitas já têm par. Talvez... eu possa pegar a sua emprestada.
Felipe estendeu a mão, mas Poncho se interpôs à minha frente e ameaçou:
— Por cima do meu cadáver.
Felipe arregaçou as mangas do suéter.
— Quando quiser, irmão. Vamos ver como se sai, Sr. Romântico.
Hora de intervir. Em minha voz mais doce, eu disse:
— Felipe, estamos bem no meio de um encontro e, embora eu esteja muito feliz em vê-lo, será que você se importaria de ir para casa agora? Como pode ver, é mais uma coisa para casais do que uma festa. Não vamos demorar e lá em casa tem ingredientes para preparar sanduíches e uma bandeja gigante de biscoitos. Você se importa? Por favor?
— Muito bem. Eu vou. Mas só porque você está pedindo.
— E você está pedindo outra coisa — retrucou Poncho.
Felipe deu um piparote na orelha de Poncho e zombou:
— Isso mesmo. Vamos ver se você pode levar essa coisa para mim mais tarde. Tchau, Anahi.
Tive a forte sensação de que minha mão em seu braço foi a única coisa que segurou Poncho e o impediu de ir atrás do irmão. Ele ficou observando até Felipe desaparecer de seu campo de visão, mas, mesmo depois, pareceu não relaxat Tentei trazer sua atenção de volta para mim.
— Poncho.
— Ele é muito abusado. Talvez tenha sido um erro chamá-lo aqui.
— Você confia nele?
— Depende. Confio nele na maioria das situações. A não ser...
— A não ser?
— A não ser com você.
— Ah. Você não precisa confiar nele em relação a mim. Só tem que confiar em mim.
— Annie... — desdenhou ele.
— Estou falando sério. — Segurei-lhe o rosto entre as mãos de modo a forçá-lo a olhar para mim. — Quero que você compreenda uma coisa. Talvez Yesubai tenha escolhido Felipe, mas eu escolhi você. É você que eu quero. Não ele. — Suspirei. — Na verdade, eu tenho pena de Felipe. Ele perdeu a pessoa que amava. É por isso que devemos aproveitar ao máximo nosso tempo juntos. Nunca se sabe quando alguém que você ama vai ser tirado de você.
Ele me abraçou por um instante, o rosto colado ao meu, enquanto dançávamos uma música lenta, sabendo que eu não falava mais de Felipe.
— Isso não vai acontecer conosco. Eu não vou deixá-la. Sou imortal, lembra?
Sorri sem entusiasmo.
— Não é a isso que estou me referindo.
— Sei a que você está se referindo. — Ele provocou. — Mas precisei lutar contra três homens para conquistá-la e não quero ter que enfrentar meu irmão também.
Eu ri.
— Está exagerando, Tarzan. Você não precisou lutar contra ninguém. Bem... exceto contra Li. E, de qualquer forma, meu coração já era seu, e você provavelmente sabia disso.
— Eu saber e você saber são duas coisas bem diferentes. Fui um tigre solitário por tempo demais. Mereço ser feliz com a mulher que amo. E não vou deixar ninguém tirá-la de mim, muito menos Felipe.
Lancei-lhe um olhar severo. Ele suspirou e me girou.
— Vou tentar ser mais paciente com Felipe, mas ele sabe como me irritar. É difícil demais me controlar, principalmente quando ele flerta com você.
— Por favor, tente, Por mim.
— Por você, eu me submeteria a torturas excruciantes, mas não posso tolerar vê-lo flertando com você.
— É você que eu amo. Vou dizer a ele que pare com isso. Mas tentem não se matar enquanto ele estiver aqui, está bem? Nada de lutas de tigres. Não se esqueça de que precisa dele aqui.
— Certo, mas se ele continuar a se atirar aos seus pés, não respondo por mim.
Depois de um momento, eu disse baixinho:
— Você não disse... que me ama também.
— Anahi, “sou firme como a Estrela do Norte, cuja essência constante e inabalável não encontra paralelo no vasto firmamento’
— César morreu, você sabe.
— Esperava que você não conhecesse essa.
— Conheço todas, Shakespeare.
— Então vou dizer simplesmente que te amo. Não há nada neste mundo mais importante para mim do que você. Só me sinto feliz quando você está por perto. Meu único propósito é ser o que você precisa que eu seja. Isso não é poesia, mas vem do meu coração. Serve?
Dei um sorriso torto.
— Acho que sim.
Não ficamos muito mais tempo no baile, pois o humor de Poncho havia mudado, apesar de minhas brincadeiras, meus beijos e minhas declarações de amor. Ele dançava comigo, no entanto sua mente estava em outro lugar, e quando eu lhe disse que gostaria de ir para casa, ele não se opôs.
Quando subíamos o caminho que levava à entrada da garagem, percebi que as luzes estavam acesas na minha casa. Antes de entrarmos, Poncho me envolveu num abraço delicado e me beijou com ternura.
Ele encostou a testa na minha e disse:
— Este não é exatamente o final que planejei para nosso encontro romântico.
— Ainda lhe resta uma hora. — Sorri e passei os braços em torno de seu pescoço. — O que tinha em mente?
Ele riu.
— Na verdade eu estava planejando improvisar o restante, mas isso não vai acontecer com Felipe por aqui.
Poncho tornou a me beijar e ouvimos um comentário abafado, baixo demais para que eu pudesse entender. Ele afastou os lábios dos meus e grunhiu baixinho, resmungou alguma coisa em hindi e abriu a porta carrancudo.
Felipe estava assistindo à TV enquanto devorava uma quantidade inacreditável de petiscos. Seis pacotes diferentes de pretzels, pipoca, biscoitos, batatas chips e outras guloseimas variadas estavam espalhados sobre a mesinha de centro, todos comidos pela metade.
— É repugnante — queixou-se Felipe. — Vocês não podiam ter terminado se beijar no baile para que eu não precisasse ouvir isso?
Poncho me ajudou a tirar o casaco com um resmungo de irritação, antes que seguisse para o andar de cima. Ele disse que subiria assim que acomodasse Felipe. A parte do acomodasse me soou ameaçadora, mas assenti com a cabeça, na esperança de que pelo menos tentariam ser civilizados um com o outro.
Estava acabando de passar a blusa do pijama pela cabeça quando ouvi Poncho
— Você comeu todos os meus biscoitos de manteiga de amendoim?
Sacudi a cabeça. Dois tigres vivendo tão próximos vão me dar uma grande dor de cabeça.
Sem ouvir a resposta de Felipe, decidi deixar que eles resolvessem a questão sozinhos. Aninhei cuidadosamente os brincos de rubi na caixa de fitas por segurança e pensei na mãe de Poncho e Felipe. Tirei a maquiagem e os pentes com pedras do cabelo, deixando os cachos macios cascatearem pelas minhas costas.
Encontrei Poncho descansando em minha cama, recostado na cabeceira, O paletó de seu smoking estava jogado sobre uma cadeira e a gravata, com o nó desfeito, pendia de seu pescoço.
Subi em seu colo e dei-lhe um beijo no rosto. Seus braços me envolveram, puxando-me para mais perto, mas os olhos se mantiveram fechados.
— Estou tentando lidar com Felipe, Anahi, mas vai ser muito, muito difícil.
— Eu sei. Onde ele vai dormir?
— Na minha cama, na outra casa.
— E onde você vai dormir?
Ele abriu os olhos.
— Aqui. Com você. Como sempre faço.
— Humm, Poncho, você não acha que Felipe vai tirar conclusões sobre... você sabe, nós estarmos juntos. Juntos mesmo?
— Não se preocupe com isso. Ele sabe que não estamos.
— Poncho. Você está corando?
Eu ri.
— Não. Eu só não esperava falar sobre esse assunto.
— Você é realmente de outra época, Príncipe Encantado. Essa é uma conversa importante.
— E se eu ainda não estiver pronto para essa conversa?
— É mesmo? Depois de 350 anos você ainda não está pronto para essa conversa?
Ele grunhiu suavemente.
— Não me entenda mal, Annie. Estou mais do que pronto para ter essa conversa, mas nós não vamos tê-la. Pelo menos não até que a maldição tenha sido quebrada.
Meu queixo caiu.
— Você está dizendo o que acho que está dizendo? Que não poderemos ficar juntos até sermos perseguidos por macacos e demônios imortais por pelo menos mais três vezes, o que pode levar anos?
— Eu espero sinceramente que não leve todo esse tempo. Mas, sim. É isso que estou dizendo.
— E você não vai ceder, não é?
— Que maravilha! Então eu vou virar uma velha solteirona que mora com dois gatos enormes!
— Você não vai virar uma velha.
— Quando você resolver ficar comigo já estarei velha, sim.
— Anahi, você está dizendo que está pronta para tudo agora?
— Provavelmente não, mas e daqui a um ano? Ou dois? Vou acabar ficando maluca.
— Também não vai ser fácil para mim, Annie. O Sr. Kamal concorda que é perigoso demais. Seus descendentes vivem por um tempo excepcionalmente longo e ele acha que o amuleto é o responsável por isso. Foi uma conversa constrangedora, mas ele disse que é melhor não corrermos nenhum... risco desnecessário. Não sabemos como o amuleto ou a maldição funcionam e, até sermos homens outra vez, por completo, não posso me arriscar a que alguma coisa aconteça com você.
— O Sr. Kamal não matou a mulher, Poncho — observei secamente.
— Não. Mas ele também não era um tigre.
— Está com medo de termos gatinhos? — provoquei.
— Nem brinque com isso — disse Poncho, com uma expressão de pedra.
— Bem, então do que você tem medo? Quer fazer umas aulas?
Não pude evitar. O humor sarcástico de mamãe tomou conta de mim.
— Não! — disse ele revoltado. Eu ri. — Anahi! Você não está levando isso a serio.
— Claro que estou. Só que estou conversando sobre algo que me deixa nervosa e em geral reajo ao nervosismo com humor e sarcasmo. Poxa, Poncho, você está falando de anos quando estou quase a ponto de atacá-lo agora. — Suspirei. — Acha mesmo que seria perigoso?
— A verdade é que não sei. Não sei como a maldição irá nos afetar. E não vou colocá-la em risco. Portanto, podemos adiar essa conversa... pelo menos por enquanto?
— Podemos — resmunguei. — Mas é bom você saber que tenho... dificuldade em pensar com clareza perto de você.
— Humm — gemeu ele, pressionando os lábios em meu pescoço.
— E isso não ajuda em nada, — Suspirei. — Acho que vejo um monte de banhos frios à minha espera no futuro.
Poncho murmurou de encontro à minha pele:
— Para você e para mim. Você tinha dificuldade em pensar com clareza perto dos seus outros namorados?
— Que namorados?
— Jason ou Li?
— Sinceramente, não penso em Jason senão como um amigo. Li era um bom amigo com potencial. Humm... isso é gostoso. Eles eram pessoas interessantes e que eu quis conhecer melhor. Mas nunca foram meus namorados. Eu não os amava como amo você e eles não faziam com que eu me sentisse assim. — Gemi baixinho. — Não chegavam nem perto.
Ele traçou com beijos a linha do meu maxilar.
— E antes deles?
— Não. Não houve ninguém. Você é o meu primeiro... em tudo.
Ele ergueu a cabeça e me dirigiu seu sorriso devastador.
— Eu me sinto delirantemente feliz em ouvi-la dizer isso. — Ele juntou meu cabelo sobre o ombro e depositou beijos ao longo da curva do meu pescoço.
— Só para registrar, Annie, você também é a minha primeira em tudo.
Estremeci. Suspirando, ele me beijou docemente e me aconchegou de encontro ao seu peito.
Brinquei com os botões de sua camisa e falei baixinho:
— Sabe, minha mãe conversou comigo sobre isso pouco antes de morrer. Ela e papai torciam para que eu esperasse até o casamento, como eles fizeram.
— Para mim, isso estava subentendido. No meu tempo, em meu país, os relacionamentos casuais não existiam.
— Ah— provoquei —, então você acha que nosso relacionamento é casual? Não. Não para mim. — Ele inclinou a cabeça e observou minha expressão atentamente. — E para você?
— Para mim também não.
— É bom saber.
Ele estendeu a mão, agarrou meu edredom e o ajeitou à nossa volta.
— Poncho, o que você diria se eu quisesse esperar, você sabe, até lá.
Um sorriso iluminou seu rosto bonito.
— Até... o quê?
Mordi o lábio, nervosa.
— Até... você sabe.
Seu sorriso se abriu ainda mais.
— Isso é uma proposta de casamento? Quer o número do telefone do Sr. Kamal para você pedir a permissão dele?
Bufei.
— Vá sonhando, Romeu! Mas, falando sério, Poncho, se eu quisesse esperar, isso... chatearia você?
Ele segurou meu rosto entre as mãos, olhou-me nos olhos e disse simplesmente:
— Eu esperaria por você pela eternidade, Anahi.
Suspirei.
— Você sempre diz a coisa certa.
Eu estava desfrutando o fato de estar ali agarradinha com ele quando um mento dormente acordou em minha cabeça e me fez sentar na cama.
— Espere um minuto! Sua primeira em tudo, hein? Isso não é exatamente verdade. O Sr. Kamal uma vez me disse que ele invadiu o Banho da Rainha em Hampi, o que era um rito de passagem para rapazes. Você não o acompanhou a Hampi em várias ocasiões?
Poncho imobilizou-se.
— Bem, tecnicamente falando...
Eu sorri e ergui uma sobrancelha, debochada.
— Sim, Poncho? Meu amor? Você estava dizendo...
— Eu estava dizendo que, tecnicamente falando, sim, Kamal, Felipe e eu invadimos o local. Mas só chegamos até a porta da frente e todas as mulheres estavam dormindo. Não vimos nada.
Espetei meu dedo em seu peito.
— Está me dizendo a verdade, Lancelote?
— Esta é, 100 por cento, a mais absoluta verdade.
— Então, se eu perguntar a Felipe amanhã, ele vai confirmar sua história? Claro que sim. — E então murmurou baixinho: — E, se não confirmar, dou um soco na cara dele.
— É melhor que você esteja me falando a verdade, Poncho. E não, você não vai dar nenhum soco na cara de Felipe.
Só estou provocando você, Annie. Juro. Eu nunca olhei para outra que não fosse você desde o primeiro dia em que leu para mim junto à jaula do circo. No que diz respeito a Felipe, de qualquer maneira, ele merece ui soco por comer meus biscoitos.
— Amanhã faço mais para você. Não brigue com ele por causa disso, ciumento.
Ri até que ele me calasse com os lábios.
No dia seguinte, durante a terceira omelete de Poncho e a quarta de Felipe, Poncho anunciou que queria voltar a praticar wushu. Felipe bateu palmas, deixando claro que mal podia esperar para surrar o irmão.
Eles alugaram um pequeno estúdio onde teríamos total privacidade, de forma que ele e Poncho pudessem me instruir. Não me ensinaram nenhum movimento ou posição elaborados, mas me deram um curso intensivo de Iniciação à Incapacitação de Seu Oponente. Nós todos achamos que era melhor eu aprender alguns movimentos defensivos com a possibilidade de Lokesh estar rondando por aí, assim como a de sabe-se lá o quê estar à nossa espreita na próxima missão. Então nos alongamos por alguns minutos e em seguida Poncho começou sua aula, usando Felipe para demonstrar.
— Lição número um. Se seu atacante estiver correndo em sua direção, flexione os joelhos e espere até ele se aproximar. Então agarre-o pelo braço, gire ao redor dele e trave os braços em seu pescoço. Se o sujeito for grande, atinja-o no pescoço, sob a mandíbula.
Felipe correu para Poncho e o atacou por trás. Então foi a minha vez. Poncho correu em minha direção e eu agarrei seu braço e pulei em
suas costas. Atirei os braços em torno de seu pescoço numa breve gravata, mas em seguida estalei um beijo em seu rosto antes de pular para o chão.
— Ótimo. Lição número dois. Se o atacante tem mais habilidade nas artes marciais que você, não lute com ele. Tente apenas incapacitá-lo. Mire o estômago ou a virilha e soque ou chute o mais forte que puder.
Felipe voltou a atacar e começou uma complicada investida empregando artes marciais. Reconheci um salto com chute no rosto, com o joelho flexionado e um soco circular, mas ele também fez muitos outros movimentos complicados que eu desconhecia. Poncho apenas recuava, fugindo do alcance de Felipe, até que encontrou uma abertura e socou Felipe com força no estômago. Felipe levantou-se imediatamente e voltou ao ataque. Dessa vez, lutou com mais empenho e derrubou Poncho, que então desferiu um soco para o alto, parando a poucos centímetros de incapacitar o irmão.
— Se tiver que escolher um ou outro, escolha a virilha. É muito mais eficaz. Lição número três. Procure os pontos principais: olhos, pomo de adão, ouvidos, têmporas e nariz. No caso dos olhos, ataque com dois dedos, assim. Nas orelhas, use ambas as mãos e dê um telefone, isto é, acerte ambos os ouvidos ao mesmo tempo, o mais forte que puder. Nos outros pontos, aplique um golpe forte, com a mão espalmada.
Poncho demonstrou cada um dos golpes e então sugeriu que praticasse nele novamente. Pediu que eu o machucasse de fato, pois queria que a aula fosse realista. Mas eu não conseguia me forçar a fazer isso.
Felipe grunhiu e se levantou, empurrando Poncho e tirando-o do caminho.
— Desse jeito, ela nunca vai aprender. Ela precisa de um ataque de verdade.
— Não, você é bruto demais. Vai machucá-la.
— O que você acha que eles vão fazer com ela?
Pus meu braço no de Poncho.
— Ele tem razão. Está tudo bem. Deixe Felipe tentar.
Poncho concordou, relutante, e ficou encostado à parede.
Fiquei parada, nervosa, com as costas voltadas para Felipe, à espera do ataque. Ele se aproximou de mim por trás, agarrou meu braço com força e me fez girar. Suas mãos envolveram meu pescoço. Ele estava me estrangulando. Ouvi um rugido feroz antes de Felipe ser lançado contra a parede mais distante. Poncho ficou parado diante de mim tocando com carinho as marcas de dedos vermelhas em minha pele.
— Eu falei! — ele gritou com Felipe, — Você é bruto demais! Ela vai ficar com hematomas no pescoço!
— É necessário ser bruto para ser realista. Ela precisa estar pronta.
— Poncho, eu estou bem. Deixe-o tentar outra vez. Tenho que me preparar para que possa pensar com clareza durante um ataque. Você pode precisar de mim para salvá-lo um dia.
Ele acariciou meu pescoço delicadamente e olhou para mim, indeciso. Por fim assentiu e saiu do caminho.
Felipe correu para a outra extremidade do estúdio e gritou para mim:
— Não pense. Apenas reaja.
Virei-me para o outro lado a fim de esperar o ataque. Felipe estava silencioso. Apurei os ouvidos tentando captar o som de seus passos, mas não ouvi nada. De repente, seus braços me envolviam com força por trás e ele me arrastava. Ele era forte demais. Estava me
estrangulando. Eu me debati, lutei e pisei com força em seu pé, tudo inutilmente.
Desesperada, inspirei com força e bati a cabeça contra o seu queixo. Doeu. Muito. Mas ele reduziu a força dos braços o suficiente para que eu escapasse ide, caindo no chão. Então me levantei subitamente, bati meu ombro em ma virilha e soquei seu estômago com toda a minha força.
Felipe caiu no chão, rolando. Poncho soltou uma gargalhada alta e bateu nas costas do irmão antes de ir até mim.
— Você pediu! Não pense. Apenas reaja. Pena que eu não tinha uma câmera!
Eu tremia por causa do esforço. Tinha conseguido, mas sinceramente não acreditava que pudesse lidar com mais do que um adversário. Como eu poderia proteger Poncho se mal conseguia cuidar de mim?
— Felipe vai ficar bem?
— Ele vai se recuperar. Só precisa de um minuto.
Poncho estava entusiasmado com minha pequena vitória. Felipe ficou de pé, fazendo careta.
— Essa foi boa, Anahi. Se eu fosse um homem normal, ficaria no chão por pelo menos 20 minutos.
Eu me sentia um pouco tonta.
— Será que podemos parar por hoje? Minha cabeça está rodando. Acho que preciso de uma aspirina. Lembrem-se de que eu não me recupero tão rápido quanto vocês dois.
Poncho ficou sério, apalpou minha cabeça e encontrou um grande galo se formando. Ele insistiu em me carregar até o carro, embora eu pudesse andar sem problemas. Quando chegamos em casa, ele me acomodou no sofá, socou com força a barriga de Felipe, só para
deixar claro o que pensava, e foi para a cozinha pegar uma bolsa de gelo para a minha cabeça.
Ao longo das duas semanas seguintes, enquanto praticávamos, acreditar que poderia manter o autocontrole durante um ataque. Felipe e Poncho passaram a se alternarem rondas em torno da casa à noite, certificando-se de que ninguém chegaria sorrateiramente e nos surpreenderia. Coloquei uma mochila de emergência debaixo do banco dianteiro da picape GMC preta de Felipe, com roupas e outros itens de que precisaria no caso de partirmos com pressa. Guardei nela minha colcha, documentos de viagem, os brincos de rubi e Fanindra. Poncho e Felipe a encheram com dinheiro de vários países e acrescentaram uma bolsa de roupas para eles também. Estacionaram a picape cerca de um quilômetro e meio adiante na estrada principal e a cobriram com galhos para camuflá-la.
Eu sempre usava meu amuleto e a pulseira com o medalhão de Poncho, i me preocupava com minha caixa de fitas. Se tivéssemos que deixar a cidade rapidamente, não queria que nada acontecesse com ela. Poncho sugeriu que, por segurança, enviássemos um pacote pelo correio para o Sr. Kamal. Despachamos para a Índia minha caixa de fitas e vários outros itens pessoais insubstituíveis.
Manter o estado de ânimo descontraído era difícil, pois todos sentíamos que alguma coisa ruim estava para acontecer. Felipe agora se juntava a nós nas noites de filmes e na maioria das vezes comia toda a pipoca, o que irritava Poncho. Ficávamos em casa quase todas as noites e eu cozinhava. Felipe comia facilmente o dobro do que Poncho comia, que já era muito, O rapaz do mercado que fazia a entrega devia pensar que estávamos administrando uma pensão, a julgar pela quantidade de comida que pedíamos toda semana.
Num sábado de março, sugeri um passeio à Tillamook e à praia. A previsão era de um tempo atipicamente quente e ensolarado. A probabilidade de o dia estar de fato quente e assim se manter era mínima, mas as praias do Oregon eram lindas, mesmo com chuva. No minuto em que prometi sorvete de chocolate com manteiga de amendoim, Poncho passou a apoiar a ideia.
Separamos biscoitos, chocolate e marshmallows para o lanche e colocamos uma muda de roupa na traseira do Hummer. Dirigi até Lincoln City e dobrei a direita, na rodovia 101, que corria ao longo do litoral do Oregon. Era uma bela viagem e os dois tigres empinaram o nariz para farejar o oceano quando abri um pouco as janelas. Mais tarde, parei no Centro de Visitantes da Queijaria Tillamook e estacionei na vaga mais distante do movimento.
— Encontro vocês lá dentro.
Vesti um casaco leve. Apesar da previsão de tempo bom, o céu estava um pouco nublado, com raios de sol espiando através das nuvens cinzentas apenas ocasionalmente. Ventava um pouco também, mas não parecia que fosse chover antes do anoitecer. Entrei na loja e examinei a variedade de queijos em exposição.
Poncho entrelaçou os dedos nos meus. Usava um suéter azul-claro de capuz com uma estampa de alguma espécie de dragão asiático que ia de um ombro ao outro.
Levantei a mão para traçar as linhas do dragão.
— Onde você comprou isto?
Ele deu de ombros.
— Pela internet. Agora sou expert em compras on-line.
— Humm. Gostei.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Gostou?
— Sim. — Suspirei. — É melhor manter você longe do sorvete.
Ele pareceu ofendido.
— Posso saber por quê?
— Porque você é quente o bastante para derretê-lo. As atendentes já estão de olho em você.
— Bem, talvez você não tenha percebido o rapaz atrás do balcão. Ele ficou muito desapontado quando entrei aqui.
— Você está mentindo.
— Não... não estou.
Espiei o rapaz atrás da caixa registradora. Ele estava nos observando.
— Provavelmente ele só quer ter certeza de que não estamos provando amostras demais.
— Duvido.
Fomos até o balcão de sorvete onde senti o aroma de casquinhas de waffle recém-saídas do forno. Felipe pediu uma casquinha e três bolas com os sabores cheesecake de mirtilo, laranja com chocolate e root beer.
— Uma combinação interessante, Felipe.
Ele sorriu para mim acima de sua casquinha gigante e deu uma mordida imensa na bola de sorvete de cima. Poncho era o próximo, mas parecia estar com problemas.
— Estou dividido.
— Entre o quê?
— Chocolate com manteiga de amendoim e pêssego com creme.
— Você adora chocolate com manteiga de amendoim. Deveria ser uma escolha fácil.
— Ah, é verdade. — Ele se inclinou para sussurrar: — Mas gosto mais de pêssego com creme.
Ele me deu um beijo no rosto e pediu uma casquinha com duas bolas de pêssego com creme.
Eu pedi uma casquinha com uma bola de chocolate com manteiga de amendoim por baixo e uma do meu favorito, o especial da casa, por cima, e prometi a Poncho que ele poderia comer metade da minha casquinha. Acrescentei uma barra grande de chocolate com manteiga de amendoim ao pedido e paguei a conta.
Dali era uma viagem curta até a praia. Como estava nublado e ainda bastante frio, a praia encontrava-se deserta. Éramos apenas nós três, as gaivotas e o rugido do oceano gelado.
A água azul fria e cortante encapelava-se, derramando-se pela areia cinzenta e borrifando as grandes pedras negras. Era assim o oceano do noroeste: lindo, frio e escuro. Muito diferente das praias da Califórnia e da Flórida. À distância um barco de pesca passava lentamente.
Poncho estendeu uma manta grande na areia e começou a fazer uma fogueira. Logo, logo uma labareda crepitava e ele se sentou ao meu lado no cobertor. Comemos, rimos e conversamos sobre vários estilos de artes marciais: caratê, wushu, ninjútsu, kendo, aikido, shaolin, muay thai, tae kwon do e kempo.
Poncho e Felipe discutiram sobre que estilo usar em cada situação. Por fim, se aquietaram e Poncho me convidou para caminhar pela praia. Tiramos os sapatos, demos as mãos e deixamos a água fria lamber nossos pés descalços enquanto andávamos até as pedras negras, a cerca de um quilômetro dali.
— Você gosta do mar? — perguntou ele.
— Gosto de observá-lo ou navegá-lo, mas nadar nele me dá medo.
— Por quê? Pensei que você adorasse as histórias sobre o oceano.
— E adoro. Existem alguns livros excelentes sobre o mar: Robinson Crusoé, Vinte mil léguas submarinas, A ilha do tesouro e Moby Dick.
— Então por que você tem medo?
— Uma palavra: tubarões.
— Tubarões?
— É. Parece que tenho que apresentá-lo ao filme Tubarão. — Suspirei. — Eu sei, estatisticamente falando, que a maioria das pessoas que nadam em praias não é comida por um tubarão, mas o simples fato de eu não poder ver nada na água já me enche de pavor.
— Então não tem problema com as piscinas?
— Não. Adoro nadar, mas vi programas de mais sobre tubarões na TV e não me sinto tranquila no mar.
— Talvez você pudesse gostar de mergulhar.
— Talvez, mas duvido.
— Gostaria de experimentar um dia.
— Fique à vontade.
— Sabe, estatisticamente falando, você tem muito mais probabilidade de ser devorada por um tigre.
Ele tentou agarrar meus braços, mas corri, saindo de seu alcance.
— Não se o tigre não puder me pegar.
Saí correndo o mais rápido que pude e Poncho riu e me perseguiu pela areia, tentando agarrar meus calcanhares.
Ele me deixou escapar por algum tempo, apesar de eu saber que poderia ter me dominado quando quisesse. Por fim, ele me pegou no colo e me jogou sobre o ombro.
Eu não parava de rir.
— Vamos voltar, Tigre. A maré está subindo e deixamos Felipe sozinho por muito tempo.
Ele me carregou de volta e me colocou sobre a manta.
Peguei os marshmallows para assá-los. Poncho desafiou Felipe para uma corrida, indo da manta até as pedras e voltando.
— Vamos lá, Felipe. O primeiro a voltar ganha.
— Ganha o quê?
— Que tal um sanduíche de biscoito com marshmallow e chocolate? — Felipe sacudiu a cabeça.
— Que tal um beijo de Anahi?
O rosto de Poncho tornou-se sombrio.
Eu me aventurei:
— Ah, Felipe. Acho que essa não é uma ideia muito boa.
— Ë sim, Anahi — insistiu Felipe. Vai servir como motivação para ele se esforçar. A menos que ele ache que vai perder.
— Eu não vou perder — grunhiu Poncho.
Felipe espetou o dedo no peito de Poncho.
— No seu melhor dia você nem sequer veria minha cauda.
— Muito bem. Vamos lá.
— Rapazes, eu não acho...
Ambos saíram correndo tão rápido que se transformaram quase num borrão sobre a areia. Deixando os marshmallows de lado, levantei-me para vê-los correr. Felipe parecia um relâmpago, mas Poncho também era rápido, indo logo atrás. Quando alcançaram a pedra, Poncho fez uma virada melhor e ganhou alguns centímetros de vantagem, que conseguiu manter na volta. Mais ou menos na metade, Felipe estendeu o braço, agarrou o capuz azul do suéter de Poncho, puxou com força e o empurrou na areia.
Poncho girou e caiu, porém se levantou rapidamente e avançou, correndo com fúria. Suas pernas se movimentavam mais rápido do que parecia possível. A areia voava vários metros atrás dele, à medida que diminuía a distância e emparelhava com Felipe. A corrida terminou com Felipe ganhando por meio metro.
Poncho estava furioso. Felipe riu e cutucou Poncho para que saísse da frente e o deixasse reivindicar seu prêmio.
Fiquei na ponta dos pés e dei um beijo no rosto de Felipe. Poncho pareceu se acalmar e começou a relaxar. Ele pegou uma pedra e a atirou no oceano.
— Você só ganhou porque roubou — resmungou.
— Ganhei porque sei como ganhar — retrucou Felipe. — Roubar é irrelevante. Você precisa aprender a fazer o que for necessário para ganhar. Por falar nisso, esse não era o prêmio que eu tinha em mente.
Ele agarrou meu cotovelo, fazendo-me dar meia-volta, e me segurou pelas costas, inclinando-nos num beijo teatral. Era muito mais drama que substância, mas Poncho ficou enlouquecido.
— Solte-a. Agora.
Depois de Felipe me colocar de pé, recuei um passo e Poncho se lançou de encontro à barriga de Felipe, interrompendo sua
gargalhada ao atirá-lo na areia. Eles rolaram pelo chão lutando e rosnando pelos 10 minutos seguintes. Achei melhor não intervir. Parecia que lutar contra o outro era um dos passatempos preferidos de ambos.
Quando finalmente encerraram a briga, nós comemos os biscoitos com marshmallow e chocolate. Tirando o cabelo de Poncho de sua testa e alisando-o, eu disse:
— Você sabe que a única intenção dele era tentar irritá-lo.
— Ah, mas não era mesmo. Eu já disse: se ele continuar bancando o engraçadinho com você, a trégua estará cancelada. Ei, isso é muito bom. Humm, ficaria ainda melhor com...
— Manteiga de amendoim? — falamos os dois ao mesmo tempo.
Ele começou a plantar beijos melados por todo o meu rosto. Eu ri, empurrei-o do meu colo e corri. Ele se pôs de pé num salto para me pegar quando teu celular tocou. Era Jason.
— Oi, Jason. Tudo bom?
— Achei que você ia gostar de saber que uns caras estranhos apareceram o campus ontem perguntando por você. Disseram que representam um escritório de advocacia e que têm novidades sobre o testamento dos seus pais.
— Ah. E como eram eles?
— Eram altos e vestiam uns ternos caros. Pareciam falar a verdade, mas eu não disse nada a eles. Achei melhor consultar você primeiro.
— Muito obrigada por me avisar, Jason. Você fez bem em não dizer nada a eles.
— Você está com algum problema, Anahi? Está tudo bem?
— Tudo bem. Não se preocupe.
— Beleza. Até mais.
— Até.
Encerrei a ligação e olhei para Poncho. Ele me encarou. Ambos sabíamos: Lokesh havia me encontrado. Ouvi Felipe falando baixinho, me virei e o vi em seu celular, provavelmente com o Sr. Kamal.
Começamos a arrumar tudo para voltar imediatamente. De repente a atmosfera na praia havia mudado. Agora era sombria, escura e sinistra, quando antes era amistosa e segura. O céu parecia agourento e ameaçador e estremeci com a brisa repentinamente fria.
Poncho e Felipe concordaram que, se Jason não tinha dito nada aos homens, era improvável que eles já houvessem encontrado nossa casa. Resolvemos ir até lá, acertar umas últimas coisas e deixar o Oregon.
No caminho, liguei para Sarah e Mike e disse a eles que estava voltando para a Índia.
— O Sr. Kamal fez uma descoberta importante e precisa da minha ajuda. Poncho irá comigo. Ligo assim que o avião pousar.
Telefonei para Jennifer e disse a mesma coisa. Ela ficou insinuando que, se eu estava fugindo com Poncho, devia lhe confessar. Por fim acreditou na história e disse que passaria a informação a Li. Tomei o cuidado de não mencionar a cidade nem quanto tempo ficaria fora. Tentei ser o mais vaga possível.
Quando desliguei, Poncho me assegurou que minha família estaria a salvo. Disse que o Sr. Kamal havia providenciado férias surpresa para Sarah, Mike e as crianças. Eles ganhariam uma viagem de três semanas com tudo pago para o Havaí, mas somente se partissem imediatamente. Seriam informados de que a viagem era um prêmio de sua marca favorita de tênis de corrida.
Fiquei olhando os retrovisores durante todo o trajeto até em casa, esperando que sedãs negros surgissem, vindo em disparada em nossa direção, com homens inescrupulosos atirando contra nós. Dizer que eu estava assustada era eufemismo. Eu havia enfrentado demônios e macacos imortais, mas, por alguma razão, era completamente diferente enfrentar bandidos do mundo moderno. Eu podia racionalizar que demônios não eram reais; portanto, ainda que estivessem me perseguindo, não chegavam a ser de fato uma ameaça. Mas homens de verdade, que queriam sequestrar, torturar e matar, pareciam muito mais apavorantes.
Quando chegamos em casa, estacionei na garagem e esperei no carro até os irmãos inspecionarem a casa. Voltando uns 10 minutos depois, Poncho pôs os dedos nos lábios e, em silêncio, abriu minha porta. Ele havia vestido roupas escuras, botas pesadas e um casaco preto.
— O que está acontecendo? — meus lábios formaram as palavras sem pronunciá-las.
— Alguém entrou na casa. Na verdade, nas duas casas — sussurrou Poncho em resposta. — O cheiro deles está por toda parte, mas nada foi levado. Não tem ninguém aqui agora, então suba e vista rapidamente uma roupa escura e tênis de corrida. Depois nos encontre aqui embaixo. Felipe está vigiando as portas. Vamos sair pelos fundos, pegar a picape de Felipe e seguir para o aeroporto.
Assenti, entrei depressa na casa e subi a escada correndo. Lavei o rosto, vesti uma calça jeans escura, um suéter preto de mangas compridas e tênis. Peguei o casaco e encontrei-os lá embaixo. Felipe ia na frente, enquanto atravessávamos furtivamente minha casa e entrávamos na de Poncho.
Tanto Felipe quanto Poncho haviam se munido de armas da minha caixa de wushu. O bastão tripartido tinha sido dobrado e estava preso no cinto de Felipe, nas costas, e Poncho havia enfiado um par de facas no passador do cinto. Poncho e eu continuamos a seguir
Felipe, que nos conduziu para fora da casa, seguindo para o meio das árvores.
Ele parava com frequência para farejar o ar e examinar o solo. Precisávamos caminhar cerca de um quilômetro e meio até a picape. Cada ruído, cada estalo na floresta me assustava e eu girava o corpo com frequência, esperando um ataque. Sentia um formigamento nas costas, como se estivéssemos sendo observados.
Depois de cinco minutos, Felipe estancou. Indicou com gestos que nos abaixássemos e afundamos atrás de algumas samambaias. Havia alguém em meio às árvores, movendo-se em silêncio, seguindo nosso rastro. Até eu podia ouvi-lo, o que significava que estava perto.
— Precisamos sair daqui — murmurou Felipe. — Quando eu disser — Alguns segundos de tensão transcorreram. — Agora — sussurrou.
Ele nos guiou floresta adentro num ritmo mais veloz. Eu tentava me mover o mais silenciosamente possível, mas temia que quem quer que estivesse nos seguindo pudesse me ouvir. Meus pés pareciam não encontrar os pontos certos para pisar e várias vezes quebrei galhos e escorreguei em lugares molhados enquanto corria. Chegamos a uma clareira, onde Felipe se deteve e sibilou:
— Emboscada!
Demos meia-volta, O homem que nos seguia nos alcançou e bloqueou nossa passagem. Felipe correu em sua direção, diminuindo rapidamente a distância. Quando estava a poucos metros, Felipe puxou o bastão e o brandiu acima da cabeça, para ganhar impulso. Eu achava a arma pesada, s mãos de Felipe ela girava como as hélices de um helicóptero. Com um estalo, ele acertou as pernas do homem e o derrubou, e então, dando um salto gigante, girou a arma e a acertou nas costas e na cabeça do homem caído. Com um movimento rápido do pulso, a arma dobrou-se, acomodando-se em sua palma, e ele tornou a enfiá-la no cinto, O homem não se levantou.
Poncho agarrou minha mão e me puxou enquanto corria. Parando pequeno bosque, ele me forçou a me esconder atrás de um tronco caído e ordenou que eu não me mexesse, então voltou correndo para juntar-se a Felipe, tomando posição não muito longe do irmão. Eu vi o lampejo das facas quando Poncho as sacou e as rodopiou habilmente enquanto Felipe mais uma vez brandia o bastão. Os dois irmãos perscrutavam a floresta, à espera
Os outros homens haviam nos alcançado. O que aconteceu em seguida não foi nada parecido com o que se vê nas aulas de artes marciais. Aquilo era batalha. Guerra. Poncho e Felipe pareciam dois supersoldados. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção. Eles se moviam com agilidade e eficiência Não desperdiçavam energia. Movimentavam-se em harmonia, como um par de dançarmos letais, Poncho com as facas e Felipe com o bastão. Entre eles, derrubaram pelo menos uma dúzia de homens, no entanto outras dezenas surgiam em disparada do meio das árvores.
Poncho golpeou um deles no pescoço com o cotovelo, provavelmente esmagando-lhe a traqueia. Quando o homem se dobrou, Poncho saltou sobre suas costas, girou o corpo e chutou a cara do que vinha atrás dele. Felipe era brutal. Quebrou o braço de um homem enquanto simultaneamente chutava o joelho de outro. Pude ouvir o estalo repugnante e o grito quando os dois desabaram no chão. Era como estar no meio de um dos filmes de artes marciais de Li, só que ali o sangue e o perigo eram reais.
Quando nenhum dos homens conseguia ficar de pé, os irmãos voltaram correndo até mim.
— Há outros vindo para cá — disse Felipe, sem emoção.
Corremos. Poncho me pegou e me jogou sobre o ombro. Mesmo com meu peso retardando-o, ele ainda avançava mais rápido do que eu conseguiria. Os irmãos corriam o mais rápido que podiam. Velozes, porém silenciosos. De algum modo, eles sabiam onde pisar para evitar fazer barulho. Felipe desacelerou e começou a correr
atrás de nós, assumindo uma posição no flanco. Continuamos assim por pelo menos 10 minutos. Calculei que estivéssemos distantes dos homens, mas, de repente, ouvi silvos e estalos, à medida que alguma coisa atingia os troncos das árvores à nossa volta.
Imediatamente, Poncho e Felipe duplicaram sua velocidade e saltaram atrás de um tronco caído, em busca de proteção.
— Eles estão atirando na gente?
— Não — Felipe sussurrou de volta. — Pelo menos não com armas de fogo. O ruído é diferente.
Ficamos ali em silêncio. Eu respirava com mais intensidade do que eles, embora eles que tivessem corrido. Esperamos. Os dois irmãos tinham os ouvidos atentos. Eu estava prestes a fazer uma pergunta, mas Poncho levou um dedo aos lábios, indicando que eu devia ficar calada. Eles usavam sinais com as mãos para se comunicar. Eu observava com atenção, mas não conseguia entender o que queriam dizer. Poncho girou o dedo em círculo e Felipe lhe passou o bastão, metamorfoseou-se no tigre negro e se enfiou furtivamente
Apontei na direção em que Felipe havia desaparecido. Poncho pressionou a boca em meu ouvido e sussurrou numa voz que mal se podia ouvir:
— Ele está atraindo os homens.
Poncho então me acomodou no oco da árvore e mudou de posição, de forma que seu corpo agora cobria o meu.
Fiquei ali, tensa, meu rosto pressionado contra o peito de Poncho por um longo tempo. De repente ouvi um rugido terrível. Poncho me envolveu com os braços e sussurrou:
— Eles o seguiram. Estão a quase um quilômetro daqui agora. Vamos. Ele pegou minha mão e começou a me levar novamente na direção da picape escondida. Tentei ser o mais silenciosa possível.
Vários minutos depois, uma forma escura saltou diante de nós. Era Felipe. Ele voltou à forma humana.
— Eles estão por toda parte. Levei-os o mais longe que pude, mas parece que todo um regimento foi mandado em nosso encalço.
Dez minutos depois, Felipe parou e farejou o ar. Poncho fez o mesmo. Nesse momento, homens saltaram das árvores sobre nós; vários deles desceram de arneses e cordas. Dois sujeitos me agarraram, afastando-me de Poncho, e me seguraram com força, enquanto cinco o atacavam. Ele rugiu de fúria e se transformou em tigre. Os homens não pareceram surpresos com isso. Felipe já havia assumido sua forma de tigre e abatera vários de seus agressores.
Poncho ergueu-se nas patas traseiras, lançou as dianteiras nos ombros de um homem e rugiu em seu rosto. Então mordeu o pescoço e o ombro do homem, empurrou-o para o chão e usou seu corpo como ponto de apoio para impulsionar e saltar no ar, as garras estendidas, e atacar dois homens, atingindo-os no peito. Suas orelhas estavam coladas à cabeça, o pelo eriçado, e de suas mandíbulas pingava sangue. A cauda subia e descia como uma alavanca imediatamente antes de ele se arremessar no ar outra vez, indo aterrissar nas costas de um sujeito que lutava com Felipe. O simples peso de seu corpo tirou o agressor de ação.
Eu lutava, mas não conseguia nem me mover, pois os homens me seguravam com força. Felipe rugiu. Um dos homens havia usado uma arma que tinha uma espécie de dispositivo de choque elétrico preso à extremidade: O tigre negro girou, derrubou a arma no chão com a pata e a partiu ao meio com o peso do corpo.
Rapidamente Felipe saltou sobre o homem que havia caído no chão e mordeu-lhe o ombro. Depois, erguendo-o do chão com as mandíbulas poderosas, sacudiu a cabeça com violência até o homem parar de se mexer. Felipe então arrastou o corpo inerte por vários metros e, com um movimento repentino da cabeça, arremessou-o nos arbustos. Em seguida, ergueu-se nas patas traseiras, como um urso, e
atacou os outros homens que se aproximavam. O sangue gotejava de suas mandíbulas quando ele rosnou feroz.
Poncho tentava o tempo todo chegar até mim, mas os homens sempre se interpunham entre nós. Aproveitei a distração temporária deles quando Poncho largou um homem aos nossos pés para chutar um de meus agressores na virilha o mais forte que pude e dar uma cotovelada no estômago do outro. Este se dobrou, mas manteve o aperto em meu braço. Em seguida, ele me golpeou na têmpora e minha visão ficou embaçada.
Ouvi o rugido terrível de Poncho. Continuei lutando, mas me sentia tonta. O homem me segurava à frente de seu corpo, como se eu fosse uma isca. Ele provocava os tigres tratando-me com brutalidade. Eu sabia que era para distrair os irmãos, o que infelizmente funcionou. Poncho e Felipe continuaram tentando abrir caminho até onde eu estava e olhavam o tempo todo para mim, o que permitiu que uma quantidade maior de homens se reunisse atrás deles.
Outros homens chegaram. Aparentemente tinham chamado reforços e os recém-chegados portavam mais armas. Um deles sacou uma delas e disparou contra Poncho. Um dardo atingiu-o no pescoço e ele cambaleou. Fui tomada de fúria e de repente minha visão clareou. Senti uma força queimando meus membros. Bati a parte posterior da cabeça no nariz do meu captor e tive a alegria de sentir a cartilagem quebrar. O homem gritou e afrouxou o aperto o suficiente para que eu escapasse. Corri para Poncho. Ele assumiu a forma humana. Outro dardo o atingiu. Ele ainda estava de pé, mas seus movimentos eram muito mais lentos. Arranquei os dardos de seu corpo.
Ele tentou me empurrar para trás dele.
— Anahi! Para trás! Agora!
Um terceiro dardo o acertou na coxa. Ele cambaleou um pouco mais e caiu apoiado num joelho. Vários homens o cercaram e, sabendo que eu estava perto, ele recomeçou a lutar para mantê-los
afastados de mim. Felipe estava enfurecido, surrando um homem atrás do outro enquanto tentava chegar até nós, mas outros continuavam a surgir. Ele estava ocupado demais para me ajudar com Poncho. Mal conseguia dar conta de se defender. Tentei puxar os homens, para afastá-los de Poncho, mas eles eram grandes demais. Também eram lutadores profissionais talvez militares, então praticamente me ignoravam e se concentravam nos dois alvos mais perigosos. Eu era apenas uma mosca irritante que eles afugentavam com a mão. Se pelo menos eu tivesse uma arma.
Eu estava desesperada. Tinha que haver alguma coisa que eu pudesse fazer para proteger Poncho. Ele liquidou o último homem perto de nós e caiu de joelhos, arfando penosa.mente. Havia pilhas de corpos ao nosso redor. Alguns mortos, outros feridos. Mais homens, porém, estavam chegando. E eram muitos! Eu podia vê-los se aproximando sorrateiros, os olhos fixos no homem esgotado ao meu lado.
O temor pela vida de Poncho reforçou minha determinação. Como uma mãe ursa protegendo o filhote, postei-me diante de Poncho, decidida a impedi-los de continuar avançando ou pelo menos a lhes dar um alvo diferente contra o qual disparar. Havia mais de uma dúzia de homens vindo em nossa direção, maior parte empunhando armas. Um fogo queimou em mim, ansiedade de proteger o homem que eu amava.
Meu corpo tremeu com energia, com poder. Virei-me para o sujeito mais próximo e o encarei, ameaçadora. Ele ergueu a arma e eu levantei a mão como defesa. Meu corpo queimava e senti uma lava derretida subir pelo meu braço e alcançar a mão. As chamas se inflamaram e os símbolos que Phet desenhara em minha mão reapareceram, reluzindo em tom carmim. Um raio explodiu dessa mão até o corpo do meu agressor, elevando-o no ar e lançando-o contra uma árvore com força suficiente para sacudi-la. O homem caiu curvado em sua base.
Sem tempo para questionar ou entender o que havia acontecido, virei-me para enfrentar o agressor seguinte e o outro. Eu estava dominada pelo ódio. Uma fúria fervia em mim. Minha mente gritava que ninguém iria ferir aqueles eu amava. Eufórica com meu poder, fui derrubando-os um após o outro.
De repente senti uma fisgada no braço e outra no ombro. Parecia a picada de uma abelha, mas, em lugar do fogo, era uma dormência que se espalhava. O fogo em minha mão crepitou e se apagou e eu desabei no chão diante de Poncho. Ele repeliu um agressor, ainda lutando, embora tivesse sido atingido por dardos várias vezes. Minha visão estava escurecendo, meus olhos se fechando.
Poncho me ergueu e eu o ouvi gritar:
— Felipe! Pegue-a!
— Não — murmurei incoerentemente.
O sussurro de seus lábios roçou meu rosto e então senti braços de ferro prenderem meu corpo.
— Vá! Agora! — gritou Poncho.
Eu estava sendo carregada rapidamente por entre as árvores, mas Poncho não nos seguia. Ele ainda lutava, enquanto os agressores fechavam o cerco em torno dele. Tornou a se transformar em tigre. Eu o ouvi rugir de fúria e dor e soube, em meio à névoa que tomava conta da minha mente, que não era o sofrimento físico que o fazia gritar. Não poderia ser, pois eu também o sentia. A dor horrível e dilacerante era porque eu tinha sido tirada dele. Sem conseguir manter os olhos abertos, estendi a mão e agarrei debilmente o ar.
— Poncho! Não! — implorei, antes de despencar na escuridão.
Autor(a): ju10linha
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
O ronco grave de um motor me acordou. Minha cabeça latejava e eu sentia a um gosto estranho na boca. Parecia que algo estava muito errado; minha mente ainda estava confusa. Eu queria despertar, mas sabia que, do outro lado, um novo tipo de horror me aguardava, então me permiti afundar um pouco mais de volta à escuridão e me deixei ficar ali, covar ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 98
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39
OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso
-
Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14
Postaaaaaaaa =(
-
franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00
AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....
-
franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07
thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.
-
franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34
quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)
-
elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03
Posta mais...
-
thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54
VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.
-
franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57
Ebaaaaaaaaaaa
-
franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24
cade vc?? :(
-
elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49
Olá, continua... gostei de sua fic.