Fanfics Brasil - O Templo de Vatsala Durga A Maldiçao do Tigre AyA

Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA


Capítulo: O Templo de Vatsala Durga

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Mantivemos nossa programação por mais duas semanas. Eu estava ficando mais forte e me sentia confiante de que poderia me sair bem numa luta. Não por causa de minha força física, mas pelo poder do raio. Acabei dominando essa habilidade facilmente Eu era capaz de arrancar uma erva daninha do outro lado do campo sem danificar a grama ao seu redor.
O Sr. Kamal passava a maior parte do tempo tentando achar Poncho. Desde que descobrimos que a cidade que procurávamos era Lhasa, o restante da profecia se encaixou, O Sr. Kamal tinha certeza de que, se começássemos nossa jornada ali, encontraríamos o que buscávamos. Antes de partir, porém, tínhamos que fazer outra visita a um templo de Durga.
Começaram a chegar caixas com diversos itens que usaríamos em nossa viagem. O Sr. Kamal comprara roupas novas para mim. Botas de montanhismo, 12 pares de meias de lã, suéteres de lã, casacos impermeáveis, luvas, camisetas de malha grossa e mangas compridas, botas para neve brancas e com isolamento térmico, calças
impermeáveis e térmicas em vários modelos, diversos chapéus e gorros... Tudo isso logo preencheu todo um lado do meu closet.
Depois que chegou .o último pacote, que incluía óculos de sol, protetor solar e outros vários artigos de toalete, segui para o andar de baixo.
— Sr Kamal, parece que o senhor vai me fazer escalar o Everest, afinal. Quantas bolsas está querendo que eu leve?
Ele riu.
— Venha cá, Srta. Anahi. Tenho algo interessante para lhe mostrar.
— O que é? Um casaco que vai me manter aquecida numa avalanche?
— Não, não. Aqui.
Ele me estendeu um livro.
— É Horizonte perdido, de James Hilton. Já leu? — perguntou.
— Não. Nunca ouvi falar.
— Alguma vez escutou o termo Shangri-lá?
— Sim. Como o nome daquelas boates de filmes antigos de Hollywood... Acho que existe um cassino em Las Vegas com esse nome.
— Bem, encontrei uma ligação entre este livro e nossa busca. Tem algum tempo agora para conversarmos sobre isso?
— Claro. Só me deixe chamar Felipe.
— Quando voltei, instalei-me confortavelmente na cadeira e Felipe se ajeitou no chão à minha frente.
— Horizonte perdido é um livro escrito em 1933, que descreve uma sociedade utópica na qual os habitantes vivem por um tempo
excepcionalmente longo em perfeita harmonia uns com os outros. A cidade se localizava na cordilheira de Kunlun, que é parte do Himalaia. No entanto, o fato realmente interessante é que James Hilton baseou sua história no antigo mito budista tibetano de Shambhala, cidade mística isolada do restante do mundo e que guarda muitos segredos. No mundo moderno, Shangri-lá passou a significar “um lugar de felicidade, uma utopia, um paraíso”.
— Então vamos procurar Shangri-lá através do portão do espírito?
— Acredito que sim. Esse mito é fascinante. Vocês sabem que este livro se baseia em diversas cidades famosas e suas histórias? Há ligações com o Santo Graal, a Fonte da Juventude, o Eldorado, a Cidade de Enoch e a Hiperbórea dos gregos. Todas essas narrativas se assemelham à história de Shangri-lá. E em todas elas as pessoas procuram algo que vai lhes conceder a imortalidade ou uma terra que abriga uma sociedade perfeita. Até mesmo o Jardim do Éden tem muitos temas equivalentes — a árvore, a serpente, o paraíso, belos jardins. Muitos buscaram esses lugares, mas jamais os encontraram.
— Que maravilha. Quanto mais aprendo, mais difícil parece a tarefa. Talvez fosse melhor não saber tudo isso. Pode ser menos assustador.
— Preferia que eu não tivesse lhe contado?
Suspirei.
— Não, preciso saber. Ter uma referência é sempre útil. Então, ninguém chegou perto de encontrar Shangri-lá?
— Não. Não que as pessoas não tenham tentado. Encontrei uma informação interessante. Parece que Adolf Hitier acreditava que Shangri-lá detinha a chave para a perfeita raça mestra. Ele chegou a enviar um grupo liderado por um homem chamado Ernst Schãfer numa expedição ao Tibete em busca da cidade, em 1938.
— Ainda bem que não encontraram.
O Sr. Kamal me deu Horizonte perdido para ler e me avisou que provavelmente partiríamos no fim da semana. Mantivemos nossa rotina normal nos dias seguintes, só que eu estava nervosa. Havia passado por algumas experiências assustadoras da última vez, mas tivera sempre Poncho comigo. Metade do tempo eu lutava ao lado dele e, na outra metade, eu o beijava, porém, apesar de toda a confusão emocional, o tempo todo me senti segura. Sabia que ele me protegeria contra os macacos malignos e os kappa.
Agora que uma nova aventura se apresentava diante de mim, desejava tão desesperadamente que Poncho estivesse comigo que sentia um vazio doloroso. A única coisa que me fazia prosseguir era saber que estava fazendo aquilo por ele. Eu não me permitia pensar que Poncho pudesse não sobreviver às próximas semanas. Ele precisava resistir. A vida sem ele não teria sentido.
No entanto, eu ainda iria até o fim por Felipe. Não podia abandoná-lo. Não era do meu feitio. Eu sabia que ele daria o melhor de si para me proteger e me sentia mais confiante em minhas próprias habilidades. Mas não seria a mesma coisa sem Poncho.
As horas se passavam sem trazer nenhuma pista para encontrá-lo. Felipe já era melancólico o bastante por si só, portanto eu não conversava com ele sobre o assunto. Era estranho falar de Poncho com ele desde que se declarara. E se eu falava com o Sr. Kamal sobre isso, ele se mostrava culpado, mergulhava na pesquisa e parava de dormir sempre que eu mencionava como era difícil ficar sem Poncho.
Felipe e eu não tornamos a conversar sobre seus sentimentos em relação a mim. De início, nosso relacionamento ficou um pouco estranho, mas ambos ignoramos o assunto, até que as coisas se tornaram mais naturais. Ele continuou a praticar artes marciais comigo todos os dias.
Descobri que gostava cada vez mais dele. Havia semelhanças indiscutíveis entre os irmãos, no entanto, muitas diferenças também. Por exemplo, Felipe parecia mais cuidadoso do que Poncho. Mostrava-se disposto a conversar sobre qualquer assunto, mas era sempre lento nas respostas. Suas opiniões eram sempre criteriosas. Também era severo consigo mesmo e sentia-se imensamente envergonhado e se recriminava por nossa situação.
No entanto, havia coisas que ele dizia, palavras que escolhia, que me lembravam Poncho. Era fácil conversar com Felipe, assim como com o irmão. Até as vozes eram parecidas. Às vezes eu esquecia com quem estava falando e o chamava de Poncho. Ele dizia que era um engano compreensível, mas eu sabia que isso o magoava.
A tensão pairou na casa durante toda a semana antes da viagem. Finalmente chegou o dia da partida. Nossas malas foram colocadas no Jeep. Com Felipe sentado no lugar de Poncho, partimos. O Sr. Kamal tinha documentos de viagem para todos nós e explicou que atravessaríamos três países diferentes. Espiei dentro de uma bolsa e vi que meu passaporte e meus documentos agora estavam em nome de K. H. Khan e traziam uma fotografia minha mais antiga, da época do ensino médio.
Nosso destino era o Nepal, mais precisamente uma cidade chamada Bhaktapur. Levamos dois dias só para atravessar a Índia e entramos no Nepal pela fronteira Birganj-Raxaul. O Sr. Kamal teve que passar por um longo processo de apresentação de papéis na fronteira e disse que precisávamos mostrar o comprovante do Carnet de Passage en Douane — documento alfandegário que nos concedia permissão de entrar temporariamente com nosso veículo no Nepal.
Depois de nos instalarmos num hotel, deixamos Felipe tirando uma soneca enquanto o Sr. Kamal me levou num riquixá para ver a torre do relógio de Birganj.
Quando voltamos ao hotel, Felipe nos acompanhou no jantar num restaurante ali por perto. O Sr. Kamal pediu chatamari para
mim, um tipo de pizza nepalesa com massa feita com farinha de arroz. Escolhi ingredientes que eu conhecia para a cobertura. Ele pediu masu, que era alguma carne ao curry com arroz. Sua escolha foi frango, mas também havia a opção com carneiro ou búfalo, que eu nem sabia que existiam no Nepal. Felipe comeu pulao de legumes, prato de arroz frito com cominho e cúrcuma, masu de carneiro e thukpa, uma sopa com macarrão.
No dia seguinte acordamos cedo para a viagem até Bhaktapur. Quando chegamos, o Sr. Kamal nos instalou no hotel e depois caminhamos até a praça principal. Passamos por um grande mercado que vendia dezenas de artigos de cerâmica. Muitos deles eram pintados com tintas coloridas sobre argila negra, o que parecia ser um material comum.
Outras bancas exibiam máscaras de animais, deuses, deusas e demônios. Legumes, frutas e barracas de comida nos atraíram mais. Compramos o famoso iogurte com mel, chamado juju dhau. Feito com leite de búfala, levava também nozes, passas e canela.
Deixamos a área do mercado e chegamos à praça principal, onde não eram permitidos riquixás nem táxis. O Sr. Kamal disse que isso mantinha a a silenciosa, limpa e tranquila. Enquanto andávamos, ele explicou:
— Esta é a praça de Durbar. Ah, ali está o que procuramos; o Templo Varsala Durga.
Dois leões de pedra guardavam a entrada do templo. A construção era em formato de cone, como o Templo de Virupaksha, em Hampi, mas tinha um tio de tijolos ao redor. Duas grandes pilastras sustentavam um sino gigantesco perto da construção.
— Sr. Kamal, eu não precisava usar minha tornozeleira de sino, afinal. Tem um sino gigante ali em cima.
— Sim. Chama-se Sino de Taleju. É feito de bronze e está apoiado sobre o pedestal do templo. Gostariam de conhecer a história do sino?
— Claro!
— Também é chamado de Sino que Late. Um dos antigos reis que viveram aqui teve um sonho. As histórias variam, mas, nesse sonho, na verdade um pesadelo, criaturas parecidas com cães atacavam as pessoas durante a noite.
— Criaturas parecidas com cães? Tipo lobisomens?
— É bem possível. Em seu sonho, o único jeito de afugentar as criaturas e salvar as pessoas era tocar um sino, O repicar do sino era tão alto e tão forte que as criaturas as deixavam em paz. Quando o rei acordou, imediatamente ordenou que um sino especial fosse feito. Esse foi o poder do seu sonho, O so foi fabricado e usado para indicar o toque de recolher para os habitantes da cidade. Enquanto a população da cidade obedecesse ao sinal do sino, acreditava-se que estaria a salvo. Muitas pessoas ainda dizem que cães latem e uivam toda vez que o sino toca.
— É uma boa história. — Dei uma cotovelada em Felipe. — Imagino se funciona com tigres-homens.
Felipe segurou meu cotovelo, puxou-me mais para perto e provocou:
— Não aposte nisso. Se um tigre for atrás de você, um sino não conseguiria assustá-lo com facilidade. Os tigres são criaturas muito focadas.
Algo me dizia que ele não estava falando da mesma coisa que eu. Procurei desesperadamente mudar de assunto.
A maioria dos homens andando por ali usava chapéus altos. Perguntei sobre aquilo ao Sr. Kamal e ele se lançou numa longa e
detalhada narrativa acerca da história da moda e das vestimentas religiosas.
— Sr. Kamal, o senhor é uma enciclopédia ambulante em qualquer assunto imaginável. É muito útil tê-lo por perto e gosto muito mais de ouvir o senhor do que ouvir qualquer outro professor que já tive.
Ele sorriu.
— Obrigada. Mas, por favor, fique à vontade para me repreender se eu me empolgar num tema específico. É uma de minhas fraquezas.
— Se algum dia me entediar — eu disse, com uma risada — Felipe sorriu e usou meu comentário como desculpa para passar o braço pelos meus ombros e acariciar minha pele.
— Posso garantir que eu também jamais vou entediá-la — provocou ele.
A sensação era gostosa, gostosa demais. Reagi com culpa, contorcendo-me sob seu braço pesado, para me livrar dele.
— Shh! Seu abusado! Nunca lhe ocorreu consultar a garota primeiro?
Felipe se inclinou e disse em voz baixa:
— Pode ir se acostumando.
Fechei a cara e tratei de me concentrar em nosso passeio.
Passamos a tarde toda nos familiarizando com a área e fizemos planos de voltar ao templo ao entardecer, no dia seguinte. O Sr. Kamal usara sua influência — ou sua carteira recheada para conseguir que entrássemos sozinhos depois que o local fechasse.
Veios de cor riscavam o céu, que escurecia ao chegarmos ao templo. O Sr. Kamal nos acompanhou até os degraus na entrada e me deu uma mochila com vários itens para serem usados como oferenda. Ela estava repleta de diferentes objetos relacionados ao ar: diversos tipos de penas de pássaros, um leque, a cauda de uma pipa, um balão com gás hélio, uma flauta de madeira, um avião de plástico movido a elástico, um minúsculo barômetro, um barquinho a vela e um pequeno prisma que transformava a luz em arco-íris. Também incluímos alguns pedaços de frutas para dar sorte.
O Sr. Kamal me entregou Fanindra, que fiz deslizar no meu braço. Ela havia se torcido numa posição de braçadeira, para que eu pudesse usá-la, o que interpretei como um sinal de que queria ir comigo. Felipe e eu subimos os degraus de pedra que levavam ao centro do templo. Passamos entre os elefantes guardiões de pedra e depois pelos leões. A estátua de Durga podia ser vista da rua, numa alcova muito acima de nós. Eu temia que, se ela ganhasse vida como da última vez, alguém passando pelas ruas de pedras pudesse vê-la.
Silenciosamente, Felipe e eu andamos por trás do prédio, contornando o terraço de pedra cercado de pilares, e encontramos a escada circular que levava ao topo do templo. Ele procurou minha mão. Estava escuro e fresco do lado de dentro. As lâmpadas nos postes da praça iluminavam de maneira fantasmagórica o corredor que levava à estátua. Felipe andava a meu lado. Eu gostava muito dele, mas sentia falta da luz e do calor que sempre pareciam emanar de Poncho.
Entramos numa sala pequena e nos vimos diante de uma parede de pedra. Eu sabia que a estátua de Durga se encontrava do outro lado, iluminada pelas luzes da rua mais abaixo. Ela estava a cerca de 60 centímetros da parede externa do templo e podíamos ficar de qualquer lado dela e continuar ocultos pelas sombras.
— Da última vez fizemos uma oferenda, tocamos o sino, pedimos sabedoria e orientação e então Poncho se transformou em tigre. Foi o que pareceu funcionar.
— Ë só me dizer o que fazer.
Apresentamos nossas oferendas ligadas ao ar e as depositamos aos pés da estátua antes de voltarmos para as sombras. Ergui o tornozelo, passei os dedos da mão pelos sinos, fazendo-os tilintar, e sorri ao pensar em Poncho.
Afastamo-nos da parede e Felipe pegou de novo minha mão. Senti-me grata por sua segurança. Apesar de já ter visto uma estátua de pedra ganhar vida uma vez, eu ainda me sentia nervosa.
— Vou falar primeiro e depois será sua vez.
Ele concordou com a cabeça e apertou minha mão.
— Grande deusa Durga, viemos pedir sua ajuda novamente. Peço sua bênção para irmos em busca do próximo prêmio que vai ajudar os dois príncipes. Receberemos seu auxilio e sua sabedoria?
Voltei-me para Felipe e lhe fiz um sinal com a cabeça.
Ele permaneceu em silêncio por um instante e depois disse:
— Eu... não mereço sua bênção. — Olhou para mim e suspirou, infeliz, antes de continuar. — O que aconteceu foi minha culpa, mas peço-lhe que ajude meu irmão. Zele por sua segurança... por ela. Ajude-me a protegê-la nessa viagem e a mantê-la longe dos perigos.
Ele olhou para mim em busca de aprovação. Fiquei na ponta dos pés, beijei-lhe o rosto e sussurrei:
— Obrigada.
— Por nada.
— Agora, transforme-se em tigre.
Ele assumiu sua forma de tigre, seu pelo escuro quase desaparecendo nas sombras. Um vento forte e gelado varreu o prédio e avançou pelas escadas. Minha camiseta de manga comprida inflou.
Mergulhei a mão no pelo da nuca de Felipe e gritei acima do barulho do vento:
— Esta é a parte assustadora!
O vento levantou um turbilhão de pó e areia em torno de nós, enquanto anos de poeira eram levantados de rachaduras e do chão. Apertei os olhos e cobri a boca e o nariz com minha manga. Felipe me empurrou até um canto da sala, abrigando-me das poderosas rajadas de vento perto das janelas abertas do templo.
Eu estava encurralada entre ele e a parede, o que era bom, pois ele tinha que enfiar as garras no chão para se manter de pé. Felipe pressionou seu corpo contra o meu. Eu me ajoelhei e passei os braços ao redor do pescoço de Felipe, escondendo o rosto em seu pelo.
Entalhes antes ocultos por urna cobertura de pó começaram a aparecer. O vento e a areia poliram o chão até parecer mármore. Passei um braço em torno de uma pilastra para me ancorar e o outro ao redor de Felipe.
Algum tempo depois o vento cedeu e eu abri os olhos. A sala adquirira uma aparência drasticamente diferente. Despido de sujeira e anos de pó, o templo resplandecia. A lua nascente derramava sua luz dentro da sala, iluminando-a de tal modo que ela parecia etérea e onírica. Na parede dos fundos, atrás da estátua de Durga, surgira uma familiar marca de mão. Felipe se transformou em homem e ficou de pé atrás de mim.
— E agora, o que acontece? — ele perguntou.
— Venha ver.
Puxei-o, coloquei a mão sobre a marca e deixei que a energia descesse crepitando do meu braço para a parede. Um estrondo sacudiu a parede, fazendo com que recuássemos. A parede girou 180 graus. Estávamos agora de frente para a estátua de Durga.
Essa versão de Durga era semelhante à outra estátua que eu vira. Seus muitos braços estavam abertos em leque e o tigre jazia a seus pés. Não havia javali dessa vez. Ouvi o doce tilintar de sinos e então uma bela voz disse:
— Saudações, jovem. Suas oferendas foram aceitas.
Todos os itens que depositáramos a seus pés tremeluziram e depois desapareceram. A pedra cor de areia começou a se mover quando os braços de Durga balançaram no ar. Os lábios de pedra ficaram cor de rubi e sorriram para nós. O tigre rosnou e se sacudiu, livrando-se da pedra como pó. A criatura espirrou e sentou-se aos pés da deusa.
Felipe foi cativado pela deusa. Ela tremeu delicadamente e uma brisa suave percorreu o templo e soprou toda a poeira que havia sobre ela, revelando-a como uma joia luminosa enterrada na areia. A pele de Durga era macia, de um cor-de-rosa pálido, não de ouro como na primeira vez que a vi. Ela relaxou os braços e ergueu uma das mãos para tirar sua tiara dourada.
Magníficos cabelos negros caíram sobre seus ombros e suas costas.
Com voz metálica, ela disse:
— Anahi, minha filha, estou tão contente que você tenha tido sucesso na busca do Fruto Dourado.
Ela se virou e olhou para Felipe. Inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha, parecendo confusa.
Levantando um braço delicado e rosado, fez um gesto na direção de ;k Felipe.
— Mas quem é este? Onde está seu tigre, Anahi?
Corajosamente, Felipe deu um passo à frente e se curvou sobre a mão estendida da deusa.
— Senhora, também sou um tigre.
Ele se transformou em tigre negro e voltou ao normal. Durga riu, um som alegre que ecoou pelas paredes. Felipe sorriu para ela. Ela olhou de volta para mim e notou a cobra enrolada em meu braço.
— Ah, Fanindra, meu bichinho.
Ela gesticulou, convidando-me a me aproximar, então dei alguns passos à frente. A metade superior de Fanindra ganhou vida e ela estendeu o corpo até a mão da deusa. Durga acariciou afetuosamente a cabeça da cobra.
— Ainda há trabalho para você, minha querida. Preciso que fique com
Anahi um pouco mais.
A cobra sibilou de leve e depois relaxou em meu braço, voltando à sua forma inanimada, mas seus olhos verdes brilhavam suavemente como joias enquanto falávamos.
Durga voltou sua atenção para mim.
— Sinto você triste e perturbada, filha. Conte-me a causa de sua dor.
— Poncho, o tigre branco, foi feito prisioneiro e não conseguimos encontrá-lo.Esperávamos que a senhora nos ajudasse a localizá-lo.
Ela me dirigiu um sorriso triste.
— Meu poder é... limitado. Posso aconselhá-la sobre como encontrar o próximo objeto, mas tenho pouco tempo para qualquer outra coisa.
Uma lágrima desceu pelo meu rosto.
— Mas, sem ele, encontrar os objetos não teria significado para mim.
Ela estendeu a mão macia até meu rosto e enxugou uma lágrima brilhante. Vi quando esta endureceu e se transformou num diamante cintilante na ponta de seu dedo. Ela o deu a Felipe, que ficou encantado com o presente.
— Você deve ter em mente, Anahi, que a busca na qual eu a envio não ajuda apenas seus tigres. Também ajuda toda a Índia. É vital que você recupere os objetos sagrados.
Funguei e enxuguei os olhos na manga
Ela sorriu para mim com doçura.
— Não se aflija, querida. Prometo que zelarei por seu tigre branco e o protegerei do perigo e... oh... eu vejo. — Ela piscou e olhou para a frente, como se visse algo que não víamos. — Sim... o caminho que você tomar agora vai ajudá-la a salvar seu tigre. Guarde bem o objeto e não deixe que ele ou o Fruto Dourado caiam em mãos erradas.
— O que devemos fazer com o Fruto Dourado?
— Por enquanto, ele deverá ajudá-la em sua jornada. Leve-o com você e use-o com sabedoria.
— O que é o prêmio aéreo que procuramos?
— Para responder a essa pergunta, aqui está alguém que eu quero que conheça.
Ela ergueu um dedo e apontou para o fundo da sala às nossas costas. Estalidos ritmados chamaram a nossa atenção.
No canto iluminado pelo luar, uma mulher velha e enrugada estava sentada num banco de madeira. Tufos de seu cabelo grisalho escapavam de um lenço vermelho desbotado. Ela usava um vestido simples marrom, de tecido rústico, com um avental branco. À sua frente havia um pequeno tear. Observei em silêncio enquanto ela
tirava bonitos fios de um grande cesto trançado e os torcia ao redor da lançadeira. Esta puxava os fios para a frente e para trás no tear.
Após um momento, perguntei:
— Vovó, o que a senhora está tecendo?
Ela respondeu numa voz gentil, mas cansada:
— O mundo, minha jovem. Eu teço o mundo.
— Seus fios são lindos. Nunca vi cores como essas.
Ela deu uma risada estridente.
— Uso fios de teia de aranha para deixá-lo leve, asas de fada para fazê-lo cintilar, arco-íris para torná-lo iridescente e nuvens para torná-lo macio. Venha, sinta o tecido.
Segurei a mão de Felipe, puxando-o mais para perto, e então estiquei meus dedos para tocar o material. Ele vibrou e estalou.
— É poderoso!
— Sim, há um grande poder aqui, mas preciso ensiná-la duas coisas sobre arte da tecelagem.
— E o que é, vovó?
— Estes fios longos e verticais são chamados de urdidura e os coloridos e horizontais são chamados de trama. Os fios da urdidura são grossos, fortes e normalmente simples, mas, sem eles, a trama não tem onde se agarrar. Seus tigres se agarram em você; precisam de você. Sem você, eles seriam levados pelos ventos do mundo.
Assenti com a cabeça, mostrando que entendera.
— O que mais a senhora precisa me ensinar?
Ela se inclinou para mais perto de mim e sussurrou com ar conspiratório:
— Tecer com maestria produz tecidos excepcionais e eu teci fios poderosos nesta peça. Um bom tecido deve ser versátil. Atender a muitos propósitos. Este aqui pode recolher, criar e proteger. Guarde-o bem.
— Muito obrigada, vovó.
— Mais uma coisa. Você deve aprender a dar um passo para trás e visualizar a peça como um todo. Se focaliza apenas o fio que lhe é dado, perde de vista o que ele pode vir a ser. Durga tem a capacidade de ver a peça do início ao fim. Confie nela.
Assenti com a cabeça e ela continuou:
— Não se deixe abater quando o fio não servir ou parecer feio. Espere e observe. Seja paciente e dedicada. À medida que os fios forem se torcendo e virando, vai começar a entender e verá o padrão por fim se materializar em todo o seu esplendor.
Soltei a mão de Felipe para poder me aproximar da velha mulher. Beijei-lhe a face suave e enrugada e lhe agradeci mais uma vez. Seus olhos brilharam e a lançadeira voltou a se movimentar. Os estalidos ritmados continuaram quando ela lentamente foi desaparecendo de vista. Logo ouvíamos apenas os sons do tear e depois mais nada.
Viramo-nos para Durga, que afagava a cabeça de seu tigre e sorria para nós.
— Vai confiar que cuidarei de seu tigre, Anahi?
— Sim, vou.
Durga deu um sorriso radiante.
— Fabuloso! Agora, antes de me despedir de você, vou lhe conceder outro presente.
Ela começou a girar as armas em seus braços e deteve-se no arco e flecha.
Levantou o arco e Felipe deu um passo à frente.
— Paciência, meu tigre de ébano. Tenho um presente para você também, mas este... é para minha filha.
Ela me entregou um arco dourado de tamanho médio com uma aljava de flechas de ponta dourada.
Fiz uma mesura.
— Muito obrigada, Deusa.
Ela voltou-se para Felipe e sorriu.
— Agora vou escolher algo para você.
Ele fez uma profunda reverência e sorriu sedutoramente para ela.
— Aceitarei com alegria qualquer coisa que me oferecer, minha linda deusa. Revirei os olhos.
Ela balançou a cabeça ligeiramente em reconhecimento e não pude ter certeza, mas pensei ver unia covinha onde ela contraiu a boca num breve
Olhei para Felipe, que estava sorrindo como um bobo, enfeitiçado por Durga. Ele era lindo. Zeus não tinha romances com mortais? Hum, tenho que perguntar ao Sr. Kamal sobre isso quando voltarmos.
Durga entregou a Felipe um disco dourado e ele pareceu encantado. Teve até mesmo a ousadia de dar um beijo afetuoso nas costas de sua mão. Tem alguém aí mestre em passar dos limites? Não fiquei com ciúme, mas chocada por ele agir daquela maneira com uma deusa.
Os dois se olhavam, então pigarreei.
— Arrã. Então, existe algo mais de que precisamos saber antes de partir? Estávamos pensando em Lhasa e no Himalaia. Procurar a Arca de Noé e Shangri-lá.
Durga piscou e voltou ao assunto. Sua voz metálica ecoou.
— Sim... — Sua voz começou a sumir e seus braços retornaram à posição anterior — Cuidado com as quatro casas. Elas irão testá-la. Use o que aprendeu. Quando conseguir o objeto, ele vai ajudá-la a fugir e a encontrar quem você ama. Use-o para..
A deusa congelou. Sua pele macia enrijeceu-se, transformando-se em pedra
— Droga! Tenho que fazer as perguntas a ela primeiro da próxima vez!
O vento varreu a sala, a estátua começou a se mover e logo estava novamente voltada para a rua.
— Alô? Terra chamando Felipe.
Ele ficou parado olhando até Durga desaparecer de vista.
— Ela é... excepcional!
Dei risada.
— É. Qual é o seu problema com mulheres inalcançáveis?
A luz se apagou dos seus olhos e ele visivelmente murchou. Fez uma careta. Tem razão, Anahi. — Ele riu de si mesmo, —Talvez eu encontre um grupo de apoio.
Ri, mas em seguida fiquei triste.
— Desculpe, Felipe. Dizer isso não foi muito legal da minha parte. Com um sorriso triste, ele estendeu a mão.
— Não se preocupe, Annie. Ainda tenho você. Lembre-se, você é minha urdidura e eu sou sua trama.
— Claro, claro. Vamos lá, tigre de ébano — provoquei. — Vamos encontrar o Sr. Kamal.
Ele sorriu.
— Você primeiro, meu encanto.
Revirei os olhos de novo e comecei a descer os degraus.
— Não flertou o bastante com a deusa? Pode ir parando. Isso não funciona comigo.
Ele riu e me seguiu escada abaixo.
— Então vou continuar tentando até encontrar algo que funcione.
— Não conte com isso, Casanova.
— Quem é Casanova?
— Deixe para lá.
A lua havia desaparecido por trás das nuvens e as paredes e o chio do templo estavam cobertos com a mesma fuligem e o mesmo pó de quando entramos. Felipe pegou de novo minha mão e saímos juntos para a noite escura.



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Autor(a): ju10linha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Encontramos o Sr. Kamal do lado de fora do templo. Quando perguntamos se tinha notado a estátua se movendo, ele respondeu que não. Tampouco sentira o vento. Eu lhe disse que ele deveria ir conosco da próxima vez. Ele sempre assumia a posição de vigia e afirmou que achava que Durga só apareceria para mim e os tigres e que sua presen&c ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 98



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  • franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39

    OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso

  • Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14

    Postaaaaaaaa =(

  • franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00

    AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07

    thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.

  • franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34

    quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)

  • elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03

    Posta mais...

  • thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54

    VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.

  • franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57

    Ebaaaaaaaaaaa

  • franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24

    cade vc?? :(

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49

    Olá, continua... gostei de sua fic.


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