Fanfic: A Maldiçao do Tigre AyA | Tema: RBD AyA
Na manhã seguinte, acordei cheia de energia,
sentindo-me otimista e empolgada com a
viagem. Depois de um banho e de um rápido café
da manhã, peguei minha bolsa, abracei Sarah
novamente, pois ela era a única acordada, e corri
para a garagem.
Entrei no estacionamento do circo e parei ao lado
de um caminhão de tamanho médio. O veículo
tinha um grosso pára-brisa, rodas muito grandes
e portas minúsculas. Atrás da cabine havia uma
carroceria aberta, na qual se via uma estrutura
quadrada de aço com um cortinado de lona
cinza.
A rampa estava abaixada na traseira: o Sr. Davis
colocava Poncho na jaula. Poncho usava uma coleira
grossa no pescoço, firmemente presa a uma
longa corrente que tanto o Sr. Davis quanto Matt
seguravam com força. O tigre parecia muito
calmo, apesar do caos que se desenrolava à sua
volta. Ele me olhava, esperando paciente
enquanto os homens preparavam o caminhão.
Por fim, tudo ficou pronto e, a um comando do Sr.
Davis, Poncho saltou para a caixa de metal.
O Sr. Kamal pegou minha bolsa e passou a alça
pelo ombro.
- Srta. Anahi, prefere ir no caminhão com o
motorista ou me acompanhar no conversível? -
perguntou ele.
Olhei para o caminhão de rodas enormes e
rapidamente tomei minha decisão.
- Prefiro acompanhar o senhor. Eu jamais trocaria
um conversível por um caminhão desses.
Ele riu, concordando, antes de guardar minha
bolsa no porta-malas do Bentley. Sabendo que
era hora de ir, acenei para o Sr. Davis e para
Matt, entrei novamente no conversível e afivelei
o cinto de segurança. Antes que eu me desse
conta, seguíamos pela rodovia interestadual
atrás do caminhão.
Era difícil conversar por causa do vento, então eu
simplesmente reclinei a cabeça para trás,
apoiando-a no couro macio, e fiquei admirando a
paisagem. Na verdade, seguíamos devagar - a 90
quilômetros por hora, cerca de 15 quilômetros
abaixo do limite de velocidade daquela estrada.
Passantes curiosos desaceleravam para olhar
nosso pequeno comboio. O trânsito foi se
tornando mais pesado perto de Wilsonville, onde
alcançamos os carros que haviam nos
ultrapassado mais cedo.
O aeroporto ficava uns 30 quilômetros adiante,
numa pequena estrada que saía da interestadual
como a alça de uma xícara. O caminhão à nossa
frente entrou na rua do aeroporto e então parou
em uma rua lateral, atrás de uns hangares
enormes. Vários aviões de carga estavam
enfileirados ali, sendo carregados. O Sr. Kamal
abriu caminho entre as pessoas e os
equipamentos até alcançar um avião particular,
em cuja lateral se lia Linhas Aéreas Tigre Voador,
exibindo a imagem de um tigre correndo.
Virei-me para o Sr. Kamal, apontei com a cabeça
para o avião e disse:
- Tigre Voador, hein?
Ele sorriu.
- É uma longa história, Srta. Anahi, que vou lhe
contar no avião.
Tirando minha bolsa do porta-malas, ele
entregou as chaves a um homem ali perto que
imediatamente entrou no carro e o levou dali.
Nós dois ficamos observando enquanto vários
trabalhadores corpulentos erguiam a caixa do
tigre com uma empilhadeira motorizada e
habilmente o transferiam para a jaula ampla e
apropriada do avião.
Satisfeitos ao ver o tigre confortavelmente em
segurança, subimos pela escada retrátil da
aeronave e entramos.
Fiquei impressionada com a opulência do interior.
O avião era decorado em preto, branco e
prateado, o que o fazia parecer muito moderno.
As poltronas de couro preto pareciam bastante
aconchegantes, bem diferentes dos assentos de
aviões comerciais, e reclinavam completamente!
Uma comissária de bordo muito bonita, com
cabelos pretos e longos, nos apontou os lugares e
se apresentou:
- Meu nome é Maite. Por favor, sente-se, Srta.
Anahi - disse ela, com um sotaque parecido com
o do Sr. Kamal.
- Você também é indiana?
Maite assentiu e sorriu para mim enquanto
afofava um travesseiro atrás da minha cabeça.
Em seguida, ela me trouxe um cobertor e várias
revistas. O Sr. Kamal ocupou a espaçosa
poltrona diante da minha. Ele afivelou logo o
cinto de segurança, dispensando o travesseiro e
o cobertor.
Eu viajara de avião umas poucas vezes antes, de
férias com minha família. Durante o voo
propriamente dito, em geral eu ficava bastante
tranquila, mas decolagens e aterrissagens me
deixavam tensa e ansiosa. O som das turbinas
era o que mais me incomodava - o rugido
ameaçador quando ganhavam vida - e a
sensação de ser empurrada contra a cadeira
enquanto o avião se descolava do chão sempre
me deixava enjoada. As aterrissagens não eram
mais divertidas, mas em geral eu estava tão
ansiosa para saltar do avião que esse momento
passava rapidinho.
O luxo do avião e do belo conversível me fizeram
refletir sobre o empregador do Sr. Kamal. Deve
ser alguém muito rico e poderoso na Índia. Tentei
pensar em quem poderia ser, mas não consegui
formular nenhum palpite.
Talvez seja um daqueles atores de Bollywood.
Quanto dinheiro será que eles ganham? Não, não
pode ser isso. O Sr. Kamal trabalha para ele há
muito tempo, então o homem deve ser velho.
O avião ganhara velocidade e decolara enquanto
eu ponderava sobre o misterioso empregador do
Sr. Kamal. E eu nem percebera! Olhei pela janela
e observei o rio Colúmbia ir ficando cada vez
menor até atravessarmos a camada de nuvens e
eu não conseguir mais ver terra firme.
Cerca de uma hora e meia depois, já tendo lido
uma revista inteira e terminado o sudoku e as
palavras cruzadas das últimas páginas, deixei de
lado a revista e olhei para o Sr. Kamal. Eu não
queria incomodá-lo, mas tinha toneladas de
perguntas.
Pigarreei. Ele respondeu sorrindo para mim
acima da revista de atualidades. Naturalmente, a
primeira coisa que me saiu pela boca foi a
pergunta que menos me interessava.
- Então, Sr. Kamal, me fale sobre as Linhas
Aéreas Tigre Voador.
Ele fechou a revista antes de pousá-la na mesa.
- Humm... por onde começar? Meu empregador
era o proprietário e eu o administrador de uma
empresa de carga aérea chamada Linhas Aéreas
de Fretamento e Carga Tigre Voador, ou,
encurtando, Linhas Aéreas Tigre Voador. Era a
maior empresa de charter transatlântico nas
décadas de 1940 e 1950. Voávamos para quase
todos os continentes do mundo.
- De onde veio o nome Tigre Voador?
Ele mudou ligeiramente de posição na cadeira.
- Além de possuir certa afeição por tigres, meu
empregador achava interessante o fato de que
alguns dos primeiros pilotos haviam conduzido
aviões "tigres" durante a Segunda Guerra
Mundial. Talvez você se lembre de que eram
pintados como tubarões-tigres a fim de
parecerem ferozes na batalha. Mas, no fim da
década de 1980, meu empregador resolveu
vender a empresa. E manteve só um avião, este,
para uso pessoal.
- Qual é o nome do seu empregador? Eu vou
conhecê-lo?
Seus olhos brilharam.
- Com toda a certeza. Ele se apresentará quando
você pousar na índia. E vai gostar de conversar
com você. - Ele desviou o olhar para os fundos do
avião por um momento. Sorrindo com uma
expressão encorajadora, ele olhou para mim e
acrescentou: - Mais perguntas?
- Então o senhor é uma espécie de vicepresidente
para ele?
O cavalheiro indiano achou graça.
- Digamos que ele é um homem muito rico que
confia totalmente em mim para cuidar de seus
assuntos profissionais.
- Ah, então o senhor é o Sr. Smithers e ele é o Sr.
Burns.
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Não entendi.
Corei e agitei a mão no ar.
- Deixe para lá. São personagens dos Simpsons.
Provavelmente o senhor nunca viu a série.
- Infelizmente não, Srta. Anahi.
O Sr. Kamal parecia ligeiramente desconfortável
ou nervoso quando falava sobre seu patrão, mas
gostava de falar de aviões, então eu o incentivei
a continuar. Mudando de posição na cadeira, tirei
os sapatos, cruzei as pernas e perguntei:
- Que tipo de carga vocês transportavam?
Ele relaxou visivelmente.
- Ao longo dos anos, a empresa transportou uma
coleção e tanto de cargas interessantes. Por
exemplo, ganhamos o contrato para carregar a
famosa baleia assassina do Aquatic World, assim
como a tocha da Estátua da Liberdade. Na maior
parte do tempo, porém, a carga era bastante
comum. Levamos coisas como enlatados,
produtos têxteis e embalagens. Uma variedade e
tanto, de fato.
- Como é que se coloca uma baleia em um avião?
- Uma nadadeira de cada vez, Srta. Anahi. Uma
nadadeira de cada vez.
O rosto do Sr. Kamal continuou sério. Eu ri com
vontade. Enxugando uma lágrima no canto do
olho, indaguei:
- Então o senhor administrava a empresa?
- Sim. Passei muito tempo desenvolvendo as
Linhas Aéreas Tigre Voador. Gosto muito de
aviação. - Ele fez um gesto, indicando a
aeronave. - Estamos voando aqui no chamado
MD-11, um McDonnell Douglas. Trata-se de um
modelo de grande autonomia, o que é necessário
quando se cruza o oceano. O interior é espaçoso
e confortável, como deve ter notado. Ele tem
duas turbinas sob as asas e uma terceira atrás,
na base do estabilizador vertical.
- Humm, parece... poderoso.
Ele se inclinou um pouco para a frente e falou,
entusiasmado:
- Embora este avião seja de um modelo mais
antigo, ainda proporciona uma viagem muito
rápida.
Ele havia se empolgado muito durante sua
exposição técnica. A única coisa que gravei de
todas aquelas explicações é que aquele era um
avião muito bom e que aparentemente tinha três
turbinas.
Ele deve ter percebido que eu não tinha a menor
ideia do que ele estava falando, pois olhou para o
meu rosto perplexo e deu uma risadinha.
- Talvez devêssemos falar sobre outro assunto.
Quer conhecer alguns mitos da minha terra sobre
os tigres?
Assenti com empolgação, incentivando-o a
continuar. Joguei minhas pernas para o lado,
sobre a poltrona. Então puxei o cobertor até o
queixo e me recostei no travesseiro.
A entonação do Sr. Kamal mudou quando ele
entrou no modo de contador de histórias. Seu
sotaque indiano ficou mais pronunciado; as
palavras, mais melódicas. Eu gostava de ouvir a
cadência de sua voz.
- O tigre é considerado o grande protetor da
selva. Vários mitos indianos atribuem grandes
poderes ao animal. Ele combate bravamente
imensos dragões, mas também ajuda
camponeses. Uma de suas tarefas é deslocar
nuvens de chuva com a cauda, pondo fim à seca
que aflige aldeões humildes.
- Gosto muito de mitologia. As pessoas na Índia
ainda acreditam nesses mitos sobre tigres?
- Sim, principalmente nas zonas rurais. Mas em
todas as partes do país você vai encontrar quem
acredite, mesmo entre aqueles que se
consideram parte do mundo moderno. Você sabia
que alguns afirmam que o ronronar de um tigre
acaba com os pesadelos?
- O Sr. Davis disse que os tigres não ronronam.
Ele contou que grandes felinos que rosnam e
rugem não podem ronronar, mas eu juro que às
vezes Poncho ronrona.
- Ah, você está certa. A ciência moderna diz que o
tigre não pode produzir o som que identificamos
como ronronar. Vários dos grandes felinos
emitem um som vibrante, mas não é exatamente
a mesma coisa que o ronronar de um gato
doméstico. Ainda assim, existem alguns mitos
indianos que falam do ronronar do tigre. Diz-se
também que o corpo de um tigre tem
propriedades curativas únicas. Este é um dos
motivos por que regularmente são caçados e
mortos, e seus corpos, mutilados ou vendidos em
partes.
Ele inclinou-se para trás na poltrona, relaxando.
- No islamismo, acredita-se que Alá irá enviar um
tigre para defender e proteger aqueles que o
seguirem fielmente, mas também enviará um
tigre para punir aqueles que considera traidores.
- Acho que se eu fosse muçulmana fugiria de
tigres, só por garantia.
Ele riu.
- Sim, muito sábio da sua parte. Confesso que
absorvi parte do fascínio que meu empregador
tem por tigres e estudei numerosos textos sobre
a mitologia dos tigres indianos, em particular.
Ele deixou a voz morrer por um momento,
perdido em pensamentos, os olhos vidrados. O
dedo indicador esfregava um ponto na gola
aberta e percebi que ele usava um pequeno
pingente em forma de cunha numa corrente que
estava parcialmente escondida sob a camisa.
Quando sua atenção se voltou outra vez para
mim, ele baixou a mão para o colo e prosseguiu:
- Os tigres também são um símbolo de poder e
imortalidade. Diz-se que podem derrotar o mal
por vários meios. São chamados doadores de
vida, sentinelas, guardiões e defensores.
Estiquei as pernas e acomodei melhor a cabeça
no travesseiro.
- Existe algum tipo de lenda com tigres do tipo
"donzela em perigo"?
Ele pensou um pouco.
- Ah, sim. Na verdade, uma das minhas histórias
favoritas é sobre um tigre branco que cria asas e
salva a princesa que o ama de um destino cruel.
Levando-a nas costas, eles abrem mão de suas
formas corpóreas e se tornam uma única risca
branca subindo para o céu, finalmente juntandose
às estrelas da Via Láctea. Juntos, eles passam
a eternidade vigiando e protegendo as pessoas
na Terra.
Bocejei, sonolenta.
- Isso é muito bonito. Acho que é a minha
preferida também.
Sua voz suave e melódica havia me relaxado.
Apesar de meus esforços para ficar acordada e
ouvir, eu estava caindo no sono.
Ele continuou, sem se abalar:
- Em Nagaland, o povo acredita que tigres e
homens são irmãos. De acordo com uma lenda, a
Mãe Terra era a mãe do tigre e também do
homem. Houve um tempo em que os dois irmãos
eram felizes, amavam um ao outro e viviam em
harmonia. Mas surgiu uma hostilidade entre eles
por causa de uma mulher, e Irmão Tigre e Irmão
Homem se enfrentaram com tamanha violência
que a Mãe Terra não pôde mais tolerar aquela
discórdia e teve que mandar os dois para longe.
- Está explicado - brinquei.
O Sr. Kamal sorriu e continou:
- Irmão Tigre e Irmão Homem deixaram a casa da
Mãe Terra e emergiram de uma passagem escura
e muito profunda, saindo no interior da terra, no
que diziam ser uma toca de pangolim. Vivendo
juntos dentro da terra, os dois irmãos ainda
lutavam todos os dias, até que por fim decidiram
que seria melhor viverem separados. Irmão Tigre
foi para o sul caçar na selva e Irmão Homem foi
para o norte, cultivar o solo no vale. Se ficassem
longe um do outro, então ambos estariam felizes.
Mas, se um ultrapassasse os limites do território
do outro, a luta recomeçava. Muito tempo depois,
a lenda permanece viva. Se os descendentes do
Irmão Homem deixam a selva em paz, Irmão
Tigre também nos deixa em paz. Ainda assim, o
tigre é nosso parente e dizem que, se você fitar
os olhos de um tigre por bastante tempo, poderá
reconhecer um espírito semelhante.
Minhas pálpebras se fechavam contra a minha
vontade. Eu queria perguntar o que era um
pangolim, mas minha boca não se movia e
minhas pálpebras pesavam muito. Fiz um último
esforço de permanecer desperta mudando de
posição na cadeira, forçando os olhos a se
abrirem.
O Sr. Kamal me olhava, pensativo.
- Um tigre branco é uma espécie muito especial.
Ele é irremediavelmente atraído para uma
pessoa, uma mulher, que tem grande apego às
próprias convicções. Essa mulher terá grande
força interior, a sabedoria para discernir o bem
do mal e o poder para superar muitos obstáculos.
Ela, que é chamada a caminhar com tigres...
Mergulhei no sono.
Quando acordei, a poltrona diante da minha
estava vazia. Eu me aprumei e olhei à volta, mas
não vi o Sr. Kamal em parte aguma. Desafivelei
o cinto de segurança e saí à procura do banheiro.
Abrindo uma porta de correr, entrei em um
banheiro surpreendentemente grande, em nada
semelhante aos minúsculos banheiros de um
avião comum. As luzes eram embutidas nas
paredes e iluminavam suavemente os itens
especiais do ambiente. Era decorado em tons de
cobre, creme e ferrugem, que me agradavam
mais do que o aspecto moderno e austero da
cabine do avião.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o
chuveiro. Abri a porta de vidro para espiar lá
dentro. Os belos azulejos ferrugem e creme eram
dispostos em um lindo padrão. Havia dispensers
com xampu, condicionador e sabonete líquido.
Um simples aperto ligava e desligava a ducha de
cobre. Um grosso tapete creme cobria o belo piso
de ladrilhos.
De um lado, viam-se dois nichos verticais
engastados na parede, repletos de macias
toalhas brancas, penduradas em um suporte de
cobre. Outro amplo compartimento exibia um
roupão macio e sedoso, totalmente forrado, que
parecia de caxemira. Logo abaixo dele, outro
pequeno nicho guardava um par de pantufas de
caxemira.
Uma pia funda, no formato de um retângulo
estreito, tinha uma torneira de cobre e, de um
lado, um dispenser com sabonete líquido, do
outro, um com hidratante de lavanda.
Saí do banheiro e fui para minha poltrona
confortável. O Sr. Kamal havia voltado e Maite,
a comissária de bordo, nos serviu um almoço
com um aroma delicioso. Ela havia armado uma
mesa entre nós e disposto dois pratos.
Maite ergueu as tampas sobre nossos pratos e
anunciou:
- Hoje o almoço é linguado com crosta de avelã,
aspargos na manteiga, purê de batata com alho e
torta de limão para sobremesa. O que gostariam
de beber?
- Água com limão - respondi.
- O mesmo para mim - disse o Sr. Kamal.
Desfrutamos o almoço juntos. O Sr. Kamal me
fez muitas perguntas sobre o Oregon. Ele parecia
ter uma sede insaciável de aprender fatos novos
e me perguntou sobre tudo, de esportes e
política (assuntos que não domino) à flora e à
fauna do estado.
Conversamos sobre o ensino médio, minha
experiência no circo e minha cidade natal: as
migrações de salmões, as fazendas de árvores de
Natal, os mercados de produtores e os arbustos
de amora que, de tão comuns, eram
considerados erva daninha. Era fácil conversar
com ele, pois era um bom ouvinte e me deixava
à vontade. O pensamento de que ele seria um
avô maravilhoso cruzou a minha mente. Não tive
a chance de conhecer nenhum dos meus. Eles
morreram antes de eu nascer, assim como minha
outra avó.
Depois de terminarmos o almoço, Maite voltou
para tirar os pratos e eu a observei recolher a
mesa. Quando ela apertou um botão, um
motorzinho soou. A mesa retangular sem pernas
inclinou-se para cima até se nivelar com a parede
e então deslizou, embutindo-se no revestimento
da parede. Maite nos instruiu a afivelar os cintos
pois logo chegaríamos a Nova York.
A descida foi tão suave quanto a decolagem.
Enquanto reabastecíamos para a viagem até
Mumbai, fui ver Poncho.
Depois de me certificar de que ele tinha comida e
bebida suficientes, sentei-me no chão perto de
sua jaula. Ele se aproximou e deixou-se cair bem
ao meu lado. Suas costas estavam estiradas ao
longo do comprimento da jaula, com o pelo
listrado projetando-se pelas grades e fazendo
cócegas em minhas pernas, e sua cabeça estava
perto da minha mão.
Ri para ele, inclinei-me para acariciar o pelo de
suas costas e recontei algumas das lendas de
tigres que ouvira do Sr. Kamal. Sua cauda ficava
chicoteando de um lado para outro, saindo e
entrando pelas grades da jaula.
O tempo passou depressa e o avião logo estava
pronto para decolar novamente. O Sr. Kamal já
afivelava o cinto. Dei tapinhas no dorso de Poncho e
voltei para minha poltrona também.
Decolamos e o Sr. Kamal me advertiu de que
esse seria um voo longo, de cerca de 16 horas, e
que perderíamos um dia no calendário. Depois de
atingirmos a altitude de cruzeiro, ele sugeriu que
eu assistisse a um filme. Maite me entregou
uma lista de todos os filmes disponíveis e escolhi
o mais longo deles: ...E o vento levou.
Ela se dirigiu à área do bar, pressionou um botão
na parede e uma grande tela branca deslizou,
saindo da lateral do bar. Minha poltrona girou
com facilidade, ficando de frente para a tela, e
até reclinou-se, oferecendo um descanso para os
pés. Então me acomodei e passei algumas horas
na companhia de Scarlett e Rhett.
Quando finalmente cheguei ao "Afinal, amanhã
será outro dia", fiquei de pé e me espreguicei.
Olhei pela janela e descobri que já estava escuro.
Eu tinha a sensação de que eram apenas cinco
da tarde, mas calculei que deviam ser umas nove
da noite no fuso horário em que nos
encontrávamos.
Nilima surgiu, apressada, retornou a tela de
cinema à posição anterior e então começou a pôr
a mesa novamente.
- Muito obrigada por essas refeições deliciosas e
pelo serviço maravilhoso - agradeci a ela.
- Isso mesmo. Obrigado, Maite - disse o Sr.
Kamal, piscando para ela, que inclinou a cabeça
ligeiramente e saiu.
Mais uma vez partilhei um agradável jantar com
o Sr. Kamal. Dessa vez conversamos sobre o seu
país. Ele me contou muitos fatos interessantes e
descreveu lugares fascinantes na índia. Imaginei
se teria tempo de conhecer tantas atrações. Ele
falou de antigos guerreiros, poderosas fortalezas,
invasores asiáticos e batalhas horríveis. Enquanto
ele falava, eu tinha a sensação de que estava
vendo e presenciando tudo aquilo.
Maite nos serviu peito de frango recheado com
abobrinha grelhada e uma salada. Eu me sentia
bem comendo mais legumes e verduras, até que
ela trouxe petits gateaux de sobremesa.
Suspirei.
- Por que tudo que faz mal é sempre tão gostoso?
O Sr. Kamal riu.
- Você se sentiria melhor se dividíssemos um?
- Com certeza.
Cortei meu petit gâteau ao meio e passei a sua
parte para um prato limpo.
Lambi a calda quente e espessa da colher. Que
vida boa. Muito boa. Eu poderia me acostumar a
isso.
Nas horas que se seguiram conversamos sobre
nossos livros favoritos. Ele gostava de clássicos,
como eu, e nos divertimos muito revisitando
personagens memoráveis: Hamlet, Capitão Ahab,
Dr. Frankenstein, Robinson Crusoé, Jean Valjean,
Iago, Hester Prynne e o Sr. Darcy. Ele também
me apresentou a alguns personagens indianos
que pareciam interessantes, como Arjuna e
Shakuntala, ou ainda Gengi, da literatura
japonesa.
Reprimindo um bocejo, me levantei para dar
outra olhada em Poncho. Estendi a mão por entre as
grades para acariciar-lhe a cabeça e coçar atrás
de sua orelha.
O Sr. Kamal me observava e disse:
- Srta. Anahi, não tem medo deste tigre? Não
acha que ele possa machucá-la?
- Eu acho que ele pode me machucar, mas sei
que não vai fazer isso. É difícil explicar, mas eu
me sinto em segurança com ele, quase como se
fosse um amigo e não um animal selvagem.
O Sr. Kamal não pareceu alarmado, apenas
curioso. Ele falou baixinho com Maite por um
momento.
Ela se aproximou de mim e perguntou:
- Está pronta para dormir um pouco, senhorita?
Assenti e ela me mostrou onde minha bolsa havia
sido guardada. Eu a apanhei e segui para o
banheiro. Não fiquei lá muito tempo, mas nesse
meio-tempo ela havia se ocupado bastante.
Agora havia uma cortina dividindo a cabine e ela
armara um sofá-cama que se transformou em um
leito confortável com lençóis de cetim e travesseiros
altos e macios. O avião estava escuro e ela
me disse que o Sr. Kamal estaria do outro lado
da cortina se eu precisasse de alguma coisa.
Fui dar uma rápida olhada na jaula do tigre. Ele
me olhava, sonolento, a cabeça apoiada nas
patas.
- Boa noite, Poncho. Vejo você na Índia, amanhã.
Cansada demais para ler, enfiei-me debaixo das
cobertas macias e sedosas, e me deixei ninar
pelo zumbido das turbinas.
O cheiro de bacon me despertou. Espiei pelo
canto e vi o Sr. Kamal sentado, lendo o jornal,
com um copo de suco de maçã na mesa diante
dele. Seu cabelo estava levemente molhado e ele
já estava vestido para o dia.
- É melhor se aprontar, Srta. Anahi. Chegaremos
logo.
Peguei minha bolsa e segui para o luxuoso
banheiro. Tomei um banho rápido, lavando os
cabelos com o delicioso xampu com cheiro de
rosas. Quando terminei, enrolei o cabelo com a
toalha grossa e vesti o roupão de caxemira.
Soltei um profundo suspiro e me deixei desfrutar
do tecido macio por um momento enquanto
decidia o que vestir. Escolhi uma blusa vermelha
e calça jeans e escovei o cabelo, prendendo-o em
um rabo de cavalo amarrado com uma fita
vermelha. Voltando apressada até o Sr. Kamal,
afundei na poltrona de couro enquanto Maite me
trazia um prato de ovos, bacon e torradas.
Comi os ovos, belisquei uma torrada e bebi um
pouco de suco de laranja, mas resolvi guardar o
bacon para Poncho. Enquanto Maite desfazia a
cama e a mesa do café da manhã, fui até a jaula
com o petisco. Querendo tentá-lo, estendi um
pedaço pela grade. Ele se aproximou, mordeu a
extremidade da tira de bacon muito
delicadamente, puxou-a da minha mão e então a
engoliu de uma só vez.
- Nossa, Poncho, você precisa mastigar. Espere aí, os
tigres mastigam? Bem, pelo menos coma mais
devagar.
Estendi os outros três pedaços, um por um. Ele
engoliu os três e enfiou a língua pelas grades
para lamber meus dedos.
Ri em silêncio e fui lavar as mãos. Então recolhi
todos os meus pertences e guardei a bolsa no
compartimento acima da cabeça. Eu acabara de
fazer isso quando o Sr. Kamal se aproximou,
apontou para a janela e disse:
- Srta. Anahi, bem-vinda à Índia.
Autor(a): ju10linha
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
annaluz: vc tem a adaptaçao vondy desse livro ? :) continuem comentando, e quem bom q estao gostando Enquanto sobrevoávamos o oceano, olhei pela janela em direção à cidade. Acho que eu não esperava ver uma cidade moderna e fiquei perplexa com as centenas de edifícios altos,brancos e uniformes que ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 98
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franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 15:59:39
OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso
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Elis Herrera ❤ Postado em 23/04/2015 - 16:57:14
Postaaaaaaaa =(
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franmarmentini♥♥ Postado em 02/04/2015 - 17:30:00
AMORESSSSSSSSS IREI VIAJAR E JÁ TO COM VÁRIAS FICS EM ATRASO MINHA VIDA TA UMA LOUCURA MAS NUNCA NUNCA VOU DEIXAR DE LER...VOU IR VISITAR A CIDADE ONDE MINHA MÃE ESTÁ INTERRADA QUE FICA PERTO DE PITANGA PARANÁ E É NO SITIO ENTÃO PROVAVELMENTE EU NÃO TENHA COMO LER PQ TENHO MUITOS TIOS LÁ E QUERO VER SE CONSIGO VISITAR TODOS...VOLTO NA TERÇA FEIRA E PROMETO TENTAR COLOCAR EM DIA TODAS AS FICS O QUANTO ANTES BJUSSSSSSSSSSSSSSSS A TODAS AMO VCS!!!!!!!!! FUI....
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franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:39:07
thatyponny o que vai acontecer??? quero aya juntosssssssssssssss :/ agora vc me deixou apriensiva..;.
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franmarmentini Postado em 29/01/2015 - 08:37:34
quero felipe bem longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeee da any,,,,e não vejo a hora dela encontrar o poncho logo :)
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elis_maria Postado em 23/01/2015 - 12:43:03
Posta mais...
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thatyponny Postado em 08/01/2015 - 14:14:54
VOCÊ NÃO SABE QUANTO EU ESPEREI, ESPEREI TANTO QUE JÁ LI TODOS OS LIVROS, MAS LER EM PONNY É UM AMOR O RUIM É QUE EU SEI O QUE VAI ACONTECER.
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franmarmentini Postado em 04/01/2015 - 16:50:57
Ebaaaaaaaaaaa
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franmarmentini Postado em 08/12/2014 - 11:48:24
cade vc?? :(
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elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 20:39:49
Olá, continua... gostei de sua fic.