Fanfic: Uma Escola de Charme - Adaptada Vondy | Tema: Vondy

Uma batida suave soou à porta, e Ale entrou na cabine, seguida de Fayette. Christopher saudou-as com o cavalheirismo sulista que lhe fora incutido até os ossos: uma mesura galante, um sorriso charmoso, um aceno floreado na direção da mesa.

Então, avistou Dulce parada com uma expressão incerta no corredor. Uma onda de perturbação dominou-o. Se ela se sentia pouco à vontade, era por culpa própria. Afinal, usara sua influência com Arthur para assegurar um lugar para si mesma a bordo daquele navio. Ele estava determinado a usar sua posição como capitão para fazê-la arrepender-se do fato.

- Você é um membro da tripulação - disse-lhe. - É melhor comer no refeitório com os homens. - Começou a fechar a porta.

- Oh, Christopher, por Deus! - exclamou a mãe, segurando a porta antes que batesse. - A srta. Savinon é minha convidada. Não vou deixá-la fazer sua refeição no meio dos marujos.

- Não importa - murmurou Dulce. - Se o capitão está ordenando que eu vá fazer minha refeição em outro lugar, eu devo obedecer.

- Mas eu sou a mãe do capitão - declarou Ale, afastando Christopher para o lado. - Entre, querida, e nós todos celebraremos nossa última noite antes da partida.

Dulce não olhou para Christopher enquanto se adiantou pela espaçosa cabine.

Ele, por sua vez, não teve coragem de expulsá-la. O cabelo penosamente arrumado, o estilo ultrapassado do vestido preto, a maneira como ela apertava os olhos por trás das lentes grossas dos óculos, tudo aquilo o fez sentir uma espécie de. De quê? Aborrecimento, sim, e algo talvez próximo à compaixão.

Tentava descobrir por que seus pensamentos insistiam em girar em torno dela. Sempre fora um homem que atraía mulheres bonitas, e a srta. Savinon não era bonita. Apreciava o charme feminino, e ela não era nem um pouco charmosa. Gostava de uma conversa leve e descontraída, e aquela mulher não era uma coisa nem outra.

Então, por que não lhe saía da cabeça?

Talvez fosse por causa dos segredos que ela guardava nas profundezas daqueles olhos castanhos. Sem poder evitar, ele queria saber que pensamentos eram guardados ali, que ideais. Que esperanças e sonhos.

Obviamente, não queria ouvir a respeito da paixão recolhida e equivocada por Alfonso Herrera, mas outras coisas a respeito de Dulce, quem era e o que queria o que amava e odiava o que era capaz de surpreendê-la, o que a deliciava, o que a enfurecia. 

Imediatamente, afastou tais pensamentos. A única razão para querer desvendar o íntimo daquela mulher era para poder passar a controlá-la, mantê-la na linha e longe de seus assuntos.

Tratou-a com zombeteira cortesia.

- Nossa primeira noite a bordo do Cisne - declarou. - Devemos fazer um brinde.

- Não tomo bebidas fortes - a voz dela soou rápida e nervosa.

- Então, eu lhe asseguro, serviremos apenas bebidas fracas - respondeu ele. Um olhar de aviso da mãe o impediu de prosseguir.

- Tem algum suco de frutas? - indagou Dulce.

- Não, não tenho nenhum suco de frutas - respondeu Christopher, ainda sem poder conter o tom zombeteiro. - Lembre-se, isto é uma viagem marítima comercial, não um cruzeiro de lazer.

Ele e Dino conduziram as damas a seus lugares em torno da mesa comprida. Uma vez que a jornada tivesse se iniciado, refeições formais como o jantar daquela noite seriam raras e, portanto, Christopher pretendia desfrutá-lo, mesmo com a presença da perturbante Srta. Savinon.

Enquanto Dino servia mais vinho da garrafa de cristal, Fayette encontrou-lhe o olhar.

- Acho melhor eu ir para o refeitório dos marujos - declarou ela, fitando-o com um ar de censura. - Não combino com nenhum apreciador de vinhos finos de nariz empinado.

Dino pousou as mãos nos quadris.

- Mulher, você me conhece desde pequeno. Não fique olhando para mim como se eu tivesse alguma doença.

- Talvez você tenha, garoto - disse Fayette num tom que Christopher reconhecia de sua infância. - Está todo arrogante agora.

O momento poderia ter ficado impregnado de tensão, mas Dino soltou um riso divertido.

- Não, senhora, eu sou como qualquer outro homem.

A criada torceu os lábios.

- Arrogante.

- Todos os homens o são, Fayette - disse Ale. - Até o último deles.

Christopher sabia que, quando as notícias da libertação de Dino tinham chegado a Albion, alguns dos trabalhadores das plantações tinham ameaçado se rebelar. A simples ideia de que um deles estava vivendo como um homem livre os insuflara. Ale, tendo acabado de ficar viúva na ocasião e prestes a partir para uma temporada na Inglaterra, adiara a viagem a fim de acalmar os ânimos e melhorar as condições de vida dos trabalhadores escravos.