Fanfics Brasil - 39 Uma Escola de Charme - Adaptada Vondy

Fanfic: Uma Escola de Charme - Adaptada Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: 39

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Capítulo XVI – Festividade


Ignorar a própria ignorância é o mal do ignorante.

Amos Bronson Alcott
“Conversa de Mesa”


Enquanto saía ao pátio, Christopher ouviu um coro de gritos femininos. Talvez Dino estivesse com a razão, pensou. Talvez estivesse um tanto espalhafatoso demais em sua fantasia. 

A música cessou, e a multidão recuou do centro do pátio. Imediatamente, ele se deu conta de que a comoção não era por sua causa. Um cavaleiro mascarado adiantou-se até o meio de todos sobre um cavalo andaluz. Rindo perigosamente, fez descer de sua montaria uma mulher num vestido de cetim dourado. Ela gritou e tentou correr dele, mas não foi rápida o bastante.

Ale aproximou-se depressa de Christopher e segurou-lhe o braço com força.

- Aquela é Fayette.

- Eu sei, mãe.

- Acho que você deveria fazer alguma coisa.

- Por quê? Aquele é Edison Carneiro.

- Quem? Oh, o sujeito de ar conquistador do cais.

- Ele é um bom homem, mãe. - Christopher abriu-lhe um sorriso. Ela usava um traje que caracterizava uma aristocrata espanhola e, como de costume, estava bastante bonita.

- Então, por que está perseguindo minha criada daquela maneira, como se fosse uma raposa a ser caçada?

- Deve ser amor. - Ele não pôde conter um sorriso divertido. Mais de uma vez, vira Fayette e Edison encontrando-se no cais, desaparecendo no interior do escritório dele e saindo de lá bem depois com os olhos brilhando e as roupas amarrotadas.

Fayette olhou para Ale por sobre o ombro e hesitou. Carneiro inclinou-se na montaria e segurou-a pelo braço. Ela tornou a gritar, embora um riso musical se evidenciasse em seu tom. Alguém da multidão deu-lhe um impulso no pé, e ela foi erguida até a sela do cavalo por Edison.

- Céus, ele a está levando embora! - exclamou Ale.

- É o que parece.

Enquanto o casal romântico deixava o pátio, galopando para longe sob a noite estrelada, Christopher ficou observando.

Algumas das damas da multidão acenaram com lenços de renda, e a banda começou a tocar outra vez.

- É uma brincadeira, não é? - perguntou Ale. - Quero dizer, Rose me disse que essas coisas acontecem, tudo no espírito da festa.

- Imagino que os dois festejarão bastante, mãe.

Ela mergulhou num longo silêncio. A música alegre da banda reinou. Ale, então, tornou a virar-se para fitá-lo, os olhos brilhando demais com uma compreensão que evidentemente ainda não estava pronta para colocar em palavras.

- É você quem deveria estar festejando. Já lhe disse, meu filho, que você é o homem mais bonito na face da terra?

Christopher riu.

- Acho que eu preferiria ser o mais inteligente. Talvez o mais rico.

- Inteligência e riqueza. O seu pai tinha ambas as coisas. Ainda assim, morreu infeliz.

Christopher piscou algumas vezes. Aquela era a primeira vez que sua mãe falava tão abertamente de seu casamento.

- Por que diz isso?

- Porque, mesmo no final, ele não quis ceder à única coisa que poderia tê-lo salvo. - Ale suspirou, observando céu repleto de estrelas brilhantes, o olhar obviamente perdido no passado. - Ele deveria ter aceitado o amor que lhe ofereci, mas nunca o fez. Nunca. - Sacudiu a mão no ar com impaciência. - Céus, como eu me estendo num assunto. É véspera de Ano-Novo!

O sorriso que a mãe lhe abriu fez com que Christopher se lembrasse da suavidade das noites de sua infância, quando ela costumara sentar-se ao lado de sua cama e cantar para ele e Dino, até que ambos fossem acalentados por sua voz melodiosa e adormecessem. Nunca ocorrera a sua mãe que houvesse algum problema no fato de ambos os meninos terem dividido a mesma cama, mas apenas um ter crescido com o direito de ser livre. Christopher não soubera da verdade na época, mas a compreendia agora. Ela considerava os escravos sua família. Simplesmente não soubera que eles talvez quisessem a liberdade de poder escolher.

Pegando-lhe o braço, tirou-a para dançar.

- Oh, não dance com sua velha mãe. - Ale afastou-o com um tapinha no ombro, altiva enquanto recobrava o controle sobre as próprias emoções. - Há uma porção de garotas maravilhosas à sua espera.


Dulce não conseguia entender exatamente como fora parar ali, naquele pátio amplo e arejado, em meio à música suave, marcada pelo ritmo de trompetes, e aos aromas exóticos de comida, vestindo algo que lhe dava a impressão de ser tão diáfano quanto uma camisola.

De fato, o momento parecia pertencer a uma outra pessoa. Era como se o espírito do Rio de Janeiro tivesse penetrado por suas veias, apoderando-se dela, transformado Dulce Maria Savinon em alguém completamente diferente. Uma ideia romântica, mas estranhamente precisa.

Embora, na verdade, tivessem sido duas irmãs adoráveis as responsáveis por ao menos parte de sua transformação.

Que os céus me ajudem, rezou silenciosamente, baixando o olhar para a escandalosa fantasia de cigana. Isto é, sem dúvida, um pecado.

Ainda assim, houve um lado seu que permaneceu a parte e observou que outras damas, esposas perfeitamente respeitáveis de capitães de navios estrangeiros, plantadores de café e até de alguns parlamentares do império, estavam vestidas de maneira mais vistosa. E não apenas estavam dançando e batendo palmas ao ritmo da música, mas pareciam se divertir a valer.

Ocorreu a Dulce que, apesar da fantasia de cigana que estava usando, ocupava praticamente a mesma posição naquela noite que a dos bailes oferecidos por seus pais em Boston. Permanecia a um canto, afastada dos demais, invisível, observando outras pessoas se divertindo.

Do outro lado do grande pátio, viu um homem de ombros largos emergindo das sombras, passando por um facho de luz produzido por uma das várias tochas.

Sua respiração ficou em suspenso. 

Christopher.

Mas era Christopher como nunca o vira antes. Desde o inicio ficara impressionada com sua impecável beleza masculina, embora a irreverência e a impetuosidade o tivessem mantido num nível humano. Conforme passara a conhecê-lo, não ficara mais se atendo aos atributos físicos dele, mas passara a apreciá-lo como pessoa.

Agora, a descontração dera lugar à perfeição. Ele se vestira para o baile à fantasia com bombachas pretas usadas com botas de couro de cano alto e uma camisa de cetim vermelho. Uma máscara de seda preta, um chapéu com uma pluma e uma pequena espada numa bainha à cintura completavam o traje.

Ele personificava o valente herói de grandes façanhas e atitudes nobres dos romances que ela havia lido para afastar a solidão. Era cada fantasia perfeita com a qual tentara não sonhar, mas acabara sonhando assim mesmo.

Céus, aquele era Christopher, disse a si mesma, esforçando-se para conter o ritmo descompassado de seu coração. Christopher, que provocava, dava ordens e ria para ocultar a estranha inquietação dentro de si. Christopher, que caminhava pelo pátio, alheio aos suspiros das lindas garotas que o acompanhavam com o olhar.

Ele se encaminhou diretamente até a filha de um vizinho da tia e se curvou com ar galante para pegar-lhe a pequena mão.

Dulce soltou um profundo suspiro enquanto o observava conduzindo a jovem sorridente até o centro do pátio de piso cerâmico, deixando para trás uma porção de damas desapontadas. Sentiu um estranho aperto no peito.

Aquilo era diferente da dor em ter sido ignorada por Poncho. Aquela dor fora inútil, por causa de algo inatingível, mas a de querer Christopher era a dor de uma possibilidade que lhe tivesse sido tirada.

Abanando-se com o leque colorido que completava sua fantasia, recostou-se na parede para observar. Refletindo a respeito, empenhou-se para descobrir a verdadeira natureza de seu aborrecimento. Ver Christopher daquela maneira, tão bonito, tão romântico... incomodava-a. Por quê?

Porque sentia saudade de Poncho, talvez. Christopher revivera todo o seu anseio pelo homem que quisera durante anos.

Colocava-a no caminho da dor novamente. Céus, será que não havia aprendido nada quanto a se deixar encantar por um homem bonito?

Decidiu esforçar-se para não pensar naquilo e desfrutar a noite. A dor em seu coração foi amortecida e tornou-se quase suportável quando combinada ao ritmo insinuante da música. Fez o que sabia fazer melhor, tornou-se invisível, recolheu-se ao mundo particular de sua mente, que a separava da realidade, um lugar seguro onde podia observar sem ser observada.

Christopher dançou com garota após garota, cada uma mais bonita do que a anterior, ainda mais bonitas, aliás, do que as irmãs de Dulce, do que Anglique Boyer. Ela permaneceu recostada à parede, perguntando-se o que Poncho estaria fazendo naquele momento, como ele teria ficado naquela atraente fantasia de gaúcho.

E, então, o impensável aconteceu. A música cessou e Christopher adiantou-se em sua direção.

Oh, não, pensou ela de imediato. Não cairei nessa armadilha outra vez. Lembrou-se do terrível momento com Poncho em Boston quando tivera absoluta certeza de que ele a tiraria para dançar, mas quisera apenas dar-lhe uma incumbência tola.

Christopher fez-lhe uma mesura, retirando o chapéu de pluma vermelha galantemente.

- Pode me conceder esta dança, senhorita?

- Não. - respondeu ela, depressa demais.

Christopher levou o chapéu ao peito.

- Você parte meu coração. Por que não quer dançar comigo?

- E o que isso lhe importa?

- Importa - respondeu ele pacientemente - porque é o que as pessoas fazem nos bailes.

- Não é o que eu faço. - Dulce ergueu a cabeça com exagerada dignidade. Preferiria tomar chá de cadeira num baile do que ser motivo de chacota. Mas queria aceitar, realmente queria.

Permaneceu em silêncio por um momento. Christopher percorreu-a desde o rosto até os pés calçados em sandálias.

- Ora, se esta não é mesmo Dulce Savinon.

- Isto deveria ser um baile de máscaras, e eu, uma dama misteriosa.

- Oh, Dulce, você é - declarou ele galantemente. - A Dulce Savinon que conheço jamais deixaria os tornozelos à mostra feito um marujo na praia.

- Não os estou deixando à mostra. Isto é, Dulce não está.

- Mas a dama misteriosa, sim.

Ela não pôde se conter. Sorriu abertamente. Tinha certeza de que nunca havia rido daquela maneira antes.

- Talvez - admitiu.

- E, talvez, sendo tão misteriosa, ela quisesse caminhar comigo pelo jardim.

Lembrando-se do que acontecera na última vez que haviam passeado pelo jardim, Dulce hesitou. Christopher estendeu a mão.

- Venha comigo, minha dama misteriosa.

Ela superou a hesitação. O fato de estar naquela fantasia protegia-a dos rigores da decência do dia-a-dia. Poderia ser quem quisesse naquela noite. Uma cigana. Uma dançarina de flamenco. A dama de um pirata.

Uma euforia proibida percorreu-a enquanto lhe aceitou a mão estendida.

- Fico me perguntando - comentou Christopher, conduzindo-a por entre as colunas brancas em direção ao jardim. - Por que Dulce evitou as festividades de hoje.

- Porque nunca foi muito boa nessas coisas. Nunca gostou de ficar a um canto do salão de baile, vendo-se obrigada a manter-se ali quando preferiria estar em seu quarto lendo um bom livro.

- E por que ela sempre fica a um canto?

- Porque ninguém nunca a levou para a roda.

- A roda?

- A roda encantada. É um lugar imaginário, mas é bastante real, eu lhe asseguro.

Com surpreendente naturalidade, ele tocou-lhe o pescoço, abaixo das ondas sedosas dos cabelos, fazendo-a sentir uma peculiar languidez.

- Descreva esse lugar para mim.

- Bem, é cheio de luz, beleza e riso. - Ela pendeu a cabeça de leve para trás, apreciando a massagem suave em seu pescoço.

- E Dulce nunca foi convidada para esse lugar místico.

- É claro que não. - Ambos chegaram até um terraço de pedra com vista para a baía de Guanabara. As luzes distantes contornavam a baía feito um colar de reluzentes diamantes.

- Por que não? - perguntou Christopher, deslizando a mão para tocar-lhe as costas.

- Porque ela não pertence a esse lugar.

- Na opinião de quem?

- De todos. - Dulce olhou para as estrelas refletidas na superfície serena da água. - É um fato, a maneira como o mundo é, e não pode ser mudado. - Estar por detrás da máscara dava-lhe a coragem do anonimato, embora fosse falsa. - Ela é desajeitada e um fracasso no convívio social. Por que alguém na roda encantada me acharia, quero dizer, acharia Dulce bonita ou interessante?

Ouvindo-o respirar fundo, tomou coragem para fitá-lo nos olhos. Emoldurados pela máscara e brilhando com a luz das estrelas, aqueles olhos verdes pareceram incrivelmente intensos. Christopher segurou-lhe o braço, surpreendendo-a.

- Porque você é assim.

A convicção na voz dele tocou-a a fundo, mas ela se obrigou a soltar um riso de cigana.

- Você é galante demais, meu caro. Dulce sabe exatamente quem é e o que é. Depois de suas aventuras no mar, toda a sua respeitabilidade terá se desvanecido. Ela tem pele queimada pelo sol e cabelos mal cortados. Suas roupas não são mais adequadas. A pobrezinha parece estar cada vez pior.

Ele também riu, embora ainda houvesse um brilho zangado em seu olhar. Deliberadamente, cobriu-lhe os ombros com as mãos e a virou para que o fitasse. Aquele toque parecia diferente... intimo e um tanto perigoso.

- Dulce está em grandes apuros, então.

Em desafio à balsâmica noite tropical, um arrepio percorreu-lhe a espinha.

- Por que diz isso?

- Porque ela tem muito que aprender. - Christopher aproximou-se mais, continuando a segurá-la.

Dulce colocou suas mãos entre ambos e abanou-se com o leque, começando a se sentir notavelmente à vontade no papel de coquete.

- E quem irá ensiná-la?

- Um famoso mascarado. - Antes de deixá-la perceber o que estava acontecendo, Christopher envolveu-a em seu abraço. - Primeiro, a dança!

- Eu não danço.

- Mas eu, sim. - Com um riso deliciado, ele a conduziu pelo amplo terraço ao ritmo da música sensual que ecoava do pátio. Abraçava-a pela cintura, estreitando-a de tal maneira em seus braços que ela podia sentir-lhe as pernas junto às suas. Pelo modo como a segurava, não lhe dava escolha senão acompanhar-lhe os movimentos. Aqueles eram passos de dança que teriam horrorizado a sociedade de Beacon Hill. Passos que deveriam tê-la feito tropeçar desajeitadamente, mas não foi o caso. Ela dançou com abandono, uma dama conduzida por um orgulhoso parceiro que a fazia sentir-se fascinante, graciosa e elegante, tudo o que Dulce Maria Savinon não era.

A melodia terminou e seu galante herói a conduziu até um banco de pedra no terraço para contemplarem a baia de Guanabara.

- É como um sonho - disse ela, olhando para a majestosa paisagem cujo mistério se acentuava sob o manto aveludado da noite.

- Sim, sem dúvida - concordou Harry, mas estava olhando para ela, não para a paisagem.

Por alguma razão, Dulce achou aquilo divertido e soltou um riso cristalino, alegre, como se risse com frequência.

E de fato ria, quando estava na companhia de Christopher. Não, não Ha Christopher rry. Não podia se permitir pensar nele pelo nome.

- Dulce - começou ele, obviamente alheio ao seu jogo.

Ela o silenciou de imediato, ainda rindo, cobrindo-lhe os lábios com a ponta dos dedos sem acanhamento. Quase parou de rir quando lhe tocou os lábios, pois eram firmes e estavam um tanto úmidos, o contato produzindo-lhe uma onda de calor.

- Dulce não está aqui.

Christopher segurou-lhe a mão na sua.

- Não está?

- Não. E você não deve usar o meu nome.

- Por que não?

- Porque... - Como ela poderia explicar? - Porque isso tornaria esta noite real.

- E você não quer que seja real?

Dulce pensou nas coisas em sua vida que eram reais, sua família, as pessoas com quem convivia em Boston, pessoas que mal se davam conta de sua existência.

- Não - respondeu, com franqueza. - Não nesta noite. Ao final desta viagem, eu terei que enfrentar o que é real outra vez.

- Você quer dizer que Dulce terá que enfrentar.

- Exato.

- E o que é real para ela?

Dulce fez uma pausa, refletindo.

- A ideia de que ainda estará morando com os pais quando forem idosos. E a perspectiva até que agradável de ajudar a criar os sobrinhos: Ela lerá ótimos livros e escreverá cartas assiduamente, embora vá escrever muito mais cartas do que irá receber. Mas estará tudo certo, porque os livros e as cartas preencherão seus dias. Dulce aceitou a ideia de que nunca conhecerá a paixão, porque ninguém se sente dessa maneira a seu respeito.

O quê?

- A paixão. Ela nunca a conhecerá. - Dulce sorriu, feliz em vê-lo atento. Esperara provocações cínicas, mas aquele homem continuava surpreendendo-a. - Portanto, é por isso que devemos manter a realidade longe. Devemos deixar a noite ser mágica.

Christopher soltou um leve riso e apertou-lhe a mão na sua.

- Dulce, você não sabe?

- Não sei o quê?

- Todas as noites são mágicas.

Dulce riu suavemente, adorando aquela sensação de contentamento, adorando a brisa que lhe soprava os cabelos. O carinho do momento envolveu-a, soltando-a, aquecendo-a.

- Você nunca fala sério.

- Apenas quando se trata de assuntos sérios.

- Que tipo de assuntos sérios?

- Assuntos do coração - respondeu Christopher, erguendo-lhe a mão e pousando-a junto a seu coração. - Assuntos da paixão. - Com uma completa franqueza nunca demonstrada antes, acrescentou - Suponha que eu lhe diga que quero certa jovem dama de Boston? 

Dulce afastou a mão depressa. Christopher se referia a ela?

Não, impossível. Obrigou-se a considerar possibilidades mais razoáveis. Talvez Angelique Boyer, a beldade de Beacon Hil. Sua irmã Anahí, que ainda era desejada, embora estivesse noiva. Alguma outra dama da sociedade, ou talvez, uma das mulheres das docas.

- Então, por que você não a cortejou? - perguntou, tentando manter o tom bem-humorado.

- Ela parecia fria, reservada e inteligente demais para levar um sujeito como eu a sério. E, é claro, a jovem gosta de outro alguém.
Dulce estreitou o olhar.

- Talvez a frieza de sua dama de Boston seja um escudo para não se deixar magoar.

- Então, eu gostaria muito que ela baixasse suas defesas, porque jamais a magoaria.

- Não mesmo? - A pergunta de Dulce foi feita na forma de um sussurrou, de repente, sabia. Parecia impossível, mas a tal dama de Boston era...

- Nunca.

- Então, não sei do que ela ainda tem medo.

Christopher aproximou-se mais pelo banco de pedra.

- Tire sua máscara - pediu-lhe.

- Prefiro não fazê-lo.

- Mas eu prefiro que você a tire. - Ele retirou-lhe a máscara e deixou-a de lado.

- Por que está fazendo isso?

- Porque quero saber exatamente quem você é quando a estiver beijando.

Perplexa, Dulce só pôde observar enquanto ele retirava a própria máscara de seda preta. Então, beijou-a.

Não era o tipo de beijo que lhe dera antes, aquele doce e espontâneo no jardim. Nem era o tipo de beijo que ela sempre imaginara, sôfrego e repleto de paixão. Christopher foi cuidadoso, deliberado, gentil. Apanhando-lhe uma mecha de cabelo que esvoaçara de encontro a seu rosto, colocou-a atrás da orelha dela. Tomou-lhe, em seguida, a face entre as mãos, contornando-lhe o lábio inferior com o polegar, como se o estivesse preparando para o contato de seus lábios. Uma das mãos fortes deslizou-lhe pelo pescoço delicado e parte do colo, tão indecentemente expostos pela blusa ousada. Pousou-lhe a mão nas costas, então, amparando-a, segurando-a junto a si, os corpos de ambos se encostando, os lábios ficando mais e mais próximos.

Dulce fez uma débil tentativa de impedi-lo, de deter aquela intimidade e o turbilhão de emoções que a dominava. Mas, no fundo, não queria impedi-lo. Aquele era o homem mais bonito do mundo, ela era a simples Dulce e talvez nunca mais tivesse a chance de ser beijada por alguém assim.

Angustiada com tal pensamento, que se mesclou dolorosamente a seu anseio, fechou os olhos.

E Christopher os beijou. Beijou suas pálpebras com ternura, surpreendendo-a.

Beijou-lhe, então, a face, a têmpora, deslizou os lábios até seu pescoço, onde o ritmo frenético de sua pulsação se evidenciava.

- Você parece... – sussurrou Christopher, ainda percorrendo-lhe o pescoço com lábios ternos.

- Sim? - indagou ela, numa voz rouca, que não lhe soou como a sua. Céus, talvez um milagre tivesse acontecido. Talvez ele fosse lhe dizer que parecia bonita 

- Você parece como se estivesse prestes a enfrentar um pelotão de fuzilamento.

- Eu... - murmurou Dulce, um tanto ofegante, entreabrindo os olhos. - Sinto muito. Eu não quis...

- Não se desculpe. Apenas, se conseguir, tente parecer como se estivesse gostando disto.

- Mas estou - respondeu ela depressa. - De verdade. Eu apenas... Isto é uma novidade para mim, e eu não sei ao certo como me comportar.

- O que eu quero é que você não se comporte - disse Christopher, com um sorriso malicioso.

- Tenho certeza de que é o que eu tenho feito desde que subi a bordo de seu navio.

- Então, esse já é um começo. 

Christopher tornou a inclinar a cabeça e beijou-a outra vez, sua exploração suave e demorada tão enlouquecedora e frustrante que quase a fez gritar, ele parecia estar beijando todos os lugares exceto os lábios que ansiavam por seu toque. Ela esforçou-se para não dizer-lhe aquilo. Teria sido algo atrevido e humilhante demais. Patético.

Mas, finalmente, os lábios cálidos deixaram-lhe a face e encontraram os seus. E a noite pareceu mudar de cor diante dos olhos fechados dela.

Céus, aquele beijo era maravilhoso. Christopher tinha o gosto de rum e de alguma fruta doce e exótica nos lábios. Aqueles lábios tão másculos e sensuais roçaram os seus em princípio e, em seguida, aumentaram a pressão. Dulce estava tão atônita pelas sensações que a percorriam que entreabriu os lábios e, então, algo ainda mais surpreendente aconteceu. Sentiu-lhe a língua invadindo-lhe a boca.

Teve certeza de que fora um acidente, com certeza era um pecado fazer aquilo, mas acabou gostando.

Sim, adorou. A exploração de sua boca por aquela língua ávida e sensual despertou-lhe anseios como nunca ousara ter antes. As partes mais sensíveis de seu corpo despertaram para a vida como se tivessem tido contato com a ponta de uma tocha. Seu corpo inteiro parecia tomado por um fogo que jamais se aplacaria.

E, de repente, depressa demais, o beijo cessou. Christopher tocou-lhe os ombros e recuou um pouco no banco para fitá-la.

- Pronto - murmurou. - Não foi pior do que um pelotão de fuzilamento foi?

Dulce sentia-se zonza, desorientada, como se tivesse acordado num lugar estranho. Piscou alguma vezes.

- Eu não saberia dizer. Nunca enfrentei um pelotão de fuzilamento.

- Terá que confiar em mim - disse Christopher, com um riso gentil na voz. - Pobre de você.

- Sim - sussurrou ela, tomada pelo torpor e o anseio de um sonhador despertando. - Pobre de mim.



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Autor(a): chrisdul

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 49



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  • carolinevondyzinha Postado em 15/04/2015 - 20:09:41

    Meu deuses cadê vc posta +

  • lalita_vondy Postado em 15/07/2014 - 16:40:06

    Oieeeee LEITORA nova!! Posta mais por favor to curiosa!! Nao abandona nao por favor!!! Posta vai!! Bjoes!!

  • mariaeduardavondy Postado em 30/05/2014 - 15:20:42

    Oii! Sou leitora nova!por favor não abandona a web!Por favor!è uma das webs mais perfeitas q eu já li aq no site!por favor volta a postar!

  • samandra Postado em 08/03/2014 - 09:43:26

    Oi, posta mais :)

  • lolawho Postado em 24/02/2014 - 15:15:42

    POSTA MAIS!!! PLEASE...

  • taisa Postado em 03/02/2014 - 16:05:57

    Um MÊS SEM CAPÍTULO NOVO :/

  • taisa Postado em 22/01/2014 - 23:23:52

    QUERO POSTS...

  • lolawho Postado em 18/01/2014 - 19:18:39

    Por favor continua a web!!!! *---*

  • a_letiicia Postado em 03/01/2014 - 20:49:47

    Ahhh espero que você dê-nos esses capítulos enormes todos os dias, todos os dias! hahaha Porque é tão gostoso ir descendo, descendo e descendo o capítulo e ainda ter mais coisa pra ler hahahahahh na verdade é bom porque dá continuidade, não fica aquela história toda picada com meia dúzia de palavras por capítulos, interrompendo as coisas que tem que acontecer sabe? não sei explicar, mas é ótimo!!! hahaha Enfim, eu sabia!!!! Sabia que a timidez, a tristeza, e a inibição da Dulce eram culpa daquele bando de imbecis que ela tinha que conviver. Olha como ela está feliz nesse navio? Ela como ela está se divertindo, se soltando... Ela encontrou o seu lugar ali, perto das pessoas que a 'alta sociedade' provavelmente despreza. Claro que a Dulce tá se livrando pouco a pouco das 'máscaras', o cabelo grande com esses penteados horríveis, os óculos, as roupas enormes e pesadas, os sapatos antiquados... E isso é culpa do Christopher também, que a propósito já está louco por ela.

  • vemkgaabi Postado em 03/01/2014 - 11:37:36

    Por favor posta maaais estou amando a web *---*


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