Fanfic: Uma Escola de Charme - Adaptada Vondy | Tema: Vondy
Capítulo XVIII – Extremo da Felicidade
E existe até uma felicidade que deixa o coração com medo.
Thomas Hood
(1827)
Tremendo por causa do medo e do esforço, Dulce olhou para o pedaço de galho que segurava e, então, para a pessoa caída no chão.
- Céus! - exclamou, agachando-se depressa. - Christopher.
Ele gemeu, massageando a cabeça.
- Vim até aqui pensando que você poderia estar em perigo. Mas, ao que parece, é bastante capaz de se defender sozinha.
Ela largou o galho seco, franzindo o cenho.
- Machuquei você?
- Estou sangrando?
Dulce afastou-lhe os cabelos depressa para o lado.
- Não vejo sangue algum.
Apoiando as mãos atrás de si, Christopher sentou-se e ajeitou a tira de uma sacola de lona em seu ombro.
- Você me atingiu na parte mais dura do meu crânio. Acho que nenhum mal foi feito.
- Eu sinto tanto. - Enquanto o observava levantar-se, porém, e sacudir a cabeça como se quisesse desanuviá-la, o arrependimento de Dulce foi acompanhado de admiração. Golpear um homem a quem tomara por um agressor era algo tão atípico de sua natureza.
- Gosto de pensar que você sabe se defender. Mas, da próxima vez, faça-me um favor e pratique numa árvore, ou algo assim.
Ela conteve um sorriso, sentindo-se tola e encabulada.
- Por que achou que eu poderia estar em perigo?
Um ar preocupado passou por aqueles olhos verdes, dissipando-lhe por um momento o costumeiro brilho jovial e, como acontecia com frequência, Dulce sentiu algo profundo nele que relutava em demonstrar.
- Você poderia ter se perdido aqui.
- Eu me mantive na trilha principal.
Christopher pegou-lhe a mão.
- É o que parece. Bem, desde que vim até tão longe, acho que quero conhecer essa famosa fonte, lagoa, ou o quer que seja.
Ela sentiu súbito entusiasmo diante da perspectiva de apreciarem a beleza daquele lugar juntos.
- Talvez seja a fonte da juventude.
- É exatamente do que preciso. Voltar a ser garoto.
- Você ainda é - murmurou Dulce, sentindo uma inesperada ternura por ele. Observou-o de relance quando começaram a subir pelo restante da trilha, apreciando o fato de estarem de mãos dadas. - E como foi? A sua infância?
- Como a infância de qualquer garoto rico da Virgínia, acho eu. Morava numa grande casa, tinha um pai ausente e um exército de tutores.
- E uma criadagem formada por escravos - completou ela. - Isso sempre lhe pareceu injusto? - Não resistiu a perguntar. - Quando você era pequeno?
- Não. Meu pai era um homem frio, mas não um senhor de escravos cruel. Nunca contratou um feitor que o fosse tampouco. Portanto, não vi a parte pior da escravidão enquanto fui crescendo. Nunca vi as privações, as torturas, os estupros.
Dulce contraiu o semblante.
- Os muito jovens não costumam entender crueldades sutis, e acho que eu não fui diferente. - Christopher respirou fundo, estudou uma vistosa trepadeira pendendo no caminho e, então, afastou-a para o lado a fim de que ambos passassem. - Acho que a primeira vez que compreendi o que a escravidão realmente significava foi quando Dino se casou com Delilah. Depois da cerimônia, foi-lhes concedida uma hora de privacidade. Em seguida, levaram Delilah, que pertence a um plantador vizinho, e eu observei os dois se despedindo. Eu vi Dino, que já tinha um metro e oitenta na época, chorar feito criança. Não houve maneira de eu observar aquilo e não sentir a revolta em meu coração. Foi, então, quando eu tomei minha decisão.
Dulce sentiu um nó na garganta.
- A de dar a liberdade a Dino.
- Sim, tão logo eu tivesse a primeira chance, o que acabou demorando um pouco. - Ele continuou caminhando, ainda segurando-lhe a mão. - Quanto falta para chegarmos lá?
- Não tenho certeza. - Dulce sentia uma crescente apreensão dominando-a. Desde a manhã após o baile de máscaras, ambos não tinham se visto. Talvez Christopher tivesse se esquecido por completo do beijo. Esperava que sim, pois era embaraçoso pensar naquilo agora, sob a claridade do dia. Era provável que ele beijasse mulheres o tempo todo. Chegara a vê-lo fazendo aquilo, na exata noite em que o conhecera em Boston.
As árvores elevavam-se como sentinelas, os galhos retorcidos e os troncos grossos dando-lhes a estranha aparência de gigantes atentos. Cipós se entrelaçavam por entre as abundantes ramagens. Borboletas coloridas voavam de flor em flor. Aqui e ali, pendia uma outra orquídea ou bromeliácea, as flores desabrochando com incrível beleza.
Enquanto se aproximavam do alto da colina, uma revoada de pássaros passou acima, seu voo tão rasante que agitou as folhagens ao redor. Tucanos e papagaios avistavam-se nos galhos mais altos.
Mais esplêndido, porém, do que qualquer coisa que Dulce já tivesse visto até então foi a cachoeira. Do alto de uma grande formação rochosa, as águas cascateavam continuamente até uma lagoa profunda e cristalina. Emitindo um som como o do trovão, a água vertia violentamente mais acima. No ponto em que caia na lagoa, contudo, a profusão de espuma produzia delicados arcos de luz. Com a queda d’água formava-se uma névoa etérea por entre as árvores e rochas ao redor.
Dulce conteve o fôlego, sentindo-se invadida por um incrível prazer enquanto contemplava o maravilhoso cenário à sua frente.
- E então? - indagou Christopher. - O que está achando?
- A beleza deste lugar está além das palavras - respondeu ela, impressionada. - Eu gostaria de poder captá-la numa carta ou desenho para mostrar às pessoas, mas é poderosa demais para isso.
- Nada de cartas, então? - perguntou ele, arqueando uma sobrancelha.
- Nenhuma. Tenho sido bastante negligente recentemente. - Ela mordeu o lábio inferior, esperando ouvi-lo dizer algo desagradável em relação a seus relatórios a Arthur.
- Vamos até mais perto da água. - Christopher tornou a segurar-lhe a mão. - Cuidado, as pedras são escorregadias.
Encontrou um grande trecho de relva entre as rochas, onde o sol penetrara pelas copas das árvores. Tirando a sacola do ombro, indicou a ela que se sentasse.
Dulce sentiu-se desajeitada enquanto esparramava as saias à sua volta e se sentava. Que inconveniência uma porção de anáguas representava para uma mulher que se aventurava a mais do que se sentar numa sala de visitas, ou num banco de jardim.
- Eu trouxe o almoço.
Ela estreitou o olhar.
- Você planejou isto.
- Não exatamente. Na verdade, há dezenas de outras coisas que eu deveria estar fazendo. Mas minhas caras mãe e tia tinham outros planos para mim.
Dulce agradeceu silenciosamente a Ale e Rose. Christopher retirou a cesta de comida da sacola de lona, e ambos estenderam a toalha sobre a relva. Comeram sanduíches de carne fatiada, frutas saborosas e apanharam água da lagoa com as mãos em concha para beber.
- É realmente a mais pura! - exclamou Dulce, enquanto as gotas escorriam pela frente de seu vestido. Não se importou em se molhar, não com uma água balsâmica daquelas.
Quando terminaram de comer, Christopher tirou do bolso um pequeno rolo esverdeado que a fez lembrar de um charuto.
- Agora, isto - disse ele - não foi enviado por minha mãe.
Riscou um fósforo numa pedra, acendeu o charuto e fumou por alguns momentos. Estendeu-o, então, a ela.
- Fuma-se como um charuto - explicou.
- Eu não fumo.
- Isto não é tabaco. É uma espécie de pequeno charuto feito com uma erva cultivada pelos índios.
Ela cheirou a fumaça que se desprendia do charuto.
- Céus, parece forte.
- Na verdade, não é. É uma erva inofensiva. Aqui. Inale a fumaça e prenda-a por um momento. Deste jeito. - Ele fez uma demonstração, fechando os olhos e prendendo a fumaça por alguns momentos e, então, soltando-a numa baforada.
Dulce abraçou os próprios joelhos enquanto o observava.
- E por que eu deveria fazer isso?
- Porque é algo novo. Diferente. Como eu disse, a erva é inofensiva, mas causa alguns efeitos interessantes. - Ele abriu um largo sorriso. - Temporários, eu lhe asseguro. Eu jamais lhe causaria algo permanente. - Tornou a lhe oferecer o charuto.
Dulce hesitou. Logo estaria de volta a Boston, aquele mundo de convenções e regras rígidas. Nunca mais teria aquela chance. Apanhou o charuto fragrante e levou-o aos lábios, aspirando, conforme o vira fazendo. Soltou a fumaça depressa, torcendo o nariz por causa do gosto adocicado.
- É horrível. Quando vou começar a sentir os tais efeitos?
- Você tem que tragar a fumaça. Lembre-se de segurá-la.
Dulce tornou a levar o charuto aos lábios, fazendo nova tentativa. Inalou a fumaça mais profundamente, e seus pulmões lutaram para expelir a substância ofensiva, vencendo a batalha quando ela a soltou com uma terrível tosse. A visão anuviada pelas lágrimas, tentou ainda mais uma vez. Finalmente, conseguiu segurar a fumaça por tempo o bastante para sentir um gradativo relaxamento.
Tentou outras vezes, desfrutando a serenidade que pareceu se apossar de seu corpo, fazendo-a sentir-se parte integrante da floresta, das águas que cascateavam adiante. Um agradável torpor começou a tomar conta de sua mente, fazendo com que as cores da floresta se mesclassem diante de seus olhos, e o canto dos pássaros soasse mais alto aos seus ouvidos.
Christopher observava-a com crescente fascínio.
- Você aprende depressa.
Ela soltou um risinho. Christopher era a única pessoa no mundo que conseguia fazê-la rir daquela maneira.
- Parece que sim. - Tornou a inalar a fumaça para demonstrar. - Não é de admirar que tantos homens fumem charutos.
- Este é um pouco diferente.
De repente, a água da lagoa pareceu irresistível. Dulce tirou os sapatos e as meias sem parar para pensar se deveria.
- Oh, puxa - murmurou, mergulhando a ponta dos pés na água fria.
- Está gostando?
- Acho que sim.
Como tantos outros momentos com Christopher, aquele permaneceria à parte do restante de sua vida. Aquele era um lugar mágico, concluiu ela, contagiada pelo mistério e a beleza à volta. Embora uma parte de si desejasse ficar ali para sempre, sabia que teria que voltar para sua existência anterior muito em breve. Então, olhou para Christopher e perguntou-se se seria possível voltar, sem mudança alguma, e se encaixar na sua antiga vida outra vez.
Ele cruzou os braços detrás da cabeça, recostando-se no tronco de uma árvore e cruzando os pés.
- Você se divertiu no Rio de Janeiro?
- Pergunta isso a todos os seus intérpretes?
- Claro.
Ela fumou mais uma vez e devolveu-lhe o charuto.
- É melhor eu parar agora.
- Por que parar agora? - perguntou ele, enquanto levava o charuto aos lábios. - Está com medo de que eu possa beijá-la outra vez?
Dulce corou violentamente, mas a erva havia-lhe soltado a língua e não conseguiu conter suas palavras seguintes.
- Talvez eu tenha medo de que não me beije.
Com gostos deliberados, Christopher deixou o charuto de lado. Com seu olhar intenso, levantou-se e aproximou-se, tomando-lhe o rosto entre as mãos e beijando-a com firmeza nos lábios.
- Se eu soubesse que você estava preocupada, teria feito algo a respeito há muito tempo. - Descalçou os próprios sapatos e meias e sentou-se ao lado dela na pedra, mergulhando os pés na água. - Quanto tempo acha que levarei para convencê-la a nadar comigo?
- Aqui? - perguntou Dulce, fazendo um gesto na direção da lagoa. Sua mão pareceu flutuar a distância, como se não fosse parte de si. - Agora?
- Sim.
- Terei que refletir a respeito. – Passado um segundo – Pronto. Já refleti. Sim, para ser sincera, eu gostaria muito de nadar nestas águas convidativas, agora. Há apenas dois problemas.
- E quais são?
- Primeiro, eu não tenho um traje de banho. - Ela apanhou o charuto e fumou-o por alguns instantes. Uma deliciosa calma voltou a dominá-la.
Christopher levantou-se e estendeu-lhe a mão, ajudando-a a se erguer.
- Você não precisa de um traje de banho, Dul. Estamos totalmente a sós aqui.
Dulce suspeitou de alguma falha na lógica dele, mas não conseguiu decidir exatamente qual era. Enquanto pensava a respeito, Christopher abriu a frente do vestido com naturalidade, começando a despi-la.
- E qual era a outra razão? - perguntou-lhe. - Você disse que havia duas.
- Duas o quê?
- Razões para não nadar aqui. E a primeira não foi válida.
- Eu me esqueci da segunda - respondeu ela, numa explosão de risos. Baixou o olhar e viu-o retirando-lhe o vestido. - O que está fazendo?
- Tirando suas roupas.
- Você deveria estar fazendo isso?
- Eu deveria ter feito isto há muito tempo.
Christopher praguejou baixinho por causa do espartilho dela, achando-o tão torturante quanto imaginara e retirou-o com um gesto floreado. Não demorou a despir-lhe também a combinação branca e o restante das peças intimas.
- Céus - murmurou Dulce, fumando um pouco mais o charuto. - Estou nua.
- Tenha paciência - Harry começou a se despir. - Um momento e eu também estarei.
Autor(a): chrisdul
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Capítulo XIX – Lição de Vida Reprovação nos lábios dela, mas um sorriso em seus olhos. Samuel Lover (1836) Fiel à sua palavra, Christopher despiu-se por completo, enquanto Dulce acabava de fumar o pequeno charuto de ervas e o observava, boquiaberta. Sempre soubera que ele era a própria perfeição ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 49
Para comentar, você deve estar logado no site.
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carolinevondyzinha Postado em 15/04/2015 - 20:09:41
Meu deuses cadê vc posta +
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lalita_vondy Postado em 15/07/2014 - 16:40:06
Oieeeee LEITORA nova!! Posta mais por favor to curiosa!! Nao abandona nao por favor!!! Posta vai!! Bjoes!!
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mariaeduardavondy Postado em 30/05/2014 - 15:20:42
Oii! Sou leitora nova!por favor não abandona a web!Por favor!è uma das webs mais perfeitas q eu já li aq no site!por favor volta a postar!
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samandra Postado em 08/03/2014 - 09:43:26
Oi, posta mais :)
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lolawho Postado em 24/02/2014 - 15:15:42
POSTA MAIS!!! PLEASE...
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taisa Postado em 03/02/2014 - 16:05:57
Um MÊS SEM CAPÍTULO NOVO :/
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taisa Postado em 22/01/2014 - 23:23:52
QUERO POSTS...
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lolawho Postado em 18/01/2014 - 19:18:39
Por favor continua a web!!!! *---*
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a_letiicia Postado em 03/01/2014 - 20:49:47
Ahhh espero que você dê-nos esses capítulos enormes todos os dias, todos os dias! hahaha Porque é tão gostoso ir descendo, descendo e descendo o capítulo e ainda ter mais coisa pra ler hahahahahh na verdade é bom porque dá continuidade, não fica aquela história toda picada com meia dúzia de palavras por capítulos, interrompendo as coisas que tem que acontecer sabe? não sei explicar, mas é ótimo!!! hahaha Enfim, eu sabia!!!! Sabia que a timidez, a tristeza, e a inibição da Dulce eram culpa daquele bando de imbecis que ela tinha que conviver. Olha como ela está feliz nesse navio? Ela como ela está se divertindo, se soltando... Ela encontrou o seu lugar ali, perto das pessoas que a 'alta sociedade' provavelmente despreza. Claro que a Dulce tá se livrando pouco a pouco das 'máscaras', o cabelo grande com esses penteados horríveis, os óculos, as roupas enormes e pesadas, os sapatos antiquados... E isso é culpa do Christopher também, que a propósito já está louco por ela.
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vemkgaabi Postado em 03/01/2014 - 11:37:36
Por favor posta maaais estou amando a web *---*