Fanfics Brasil - Capítulo 3 Lendo: The Hunger Games

Fanfic: Lendo: The Hunger Games | Tema: The Hunger Games


Capítulo: Capítulo 3

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Capítulo 3.


 


“Eu aposto que só porque vou ler, Íris voltará a ser a matraca que sempre foi” pensou Jake.


 


No momento em que o hino acaba, somos levados em custódia. Eu não quero dizer que somos algemados ou algo, mas um grupo de Peacekeepers nos escolta até as portas dianteiras do Prédio da Justiça. Talvez tributos tenham tentado escapar no passado. Eu nunca vi isso acontecer, contudo.


 


- Não duvido nada que já tenha acontecido - disse Íris.


 


Uma vez dentro, sou conduzida para uma sala e deixada sozinha. É o lugar mais rico em que eu já estive, com tapetes grossos e espessos, um sofá de veludo e cadeiras. Eu conheço veludo porque minha mãe tem um vestido com um colarinho feito desse negócio.


Quando sento no sofá, não posso evitar correr meus dedos sobre o tecido repetidamente. Ele ajuda a me acalmar enquanto tento me preparar para a próxima hora. O tempo destinado para os tributos dizerem adeus aos seus amados.


 


- Pelo menos isso - resmungou Íris.


 


Eu não posso me dar ao luxo de ficar chateada, de deixar essa sala com olhos inchados e um nariz vermelho. Chorar não é uma opção. Haverá mais câmeras na estação de trem.


 


- Pensei que haveriam câmeras até lá - disse Jake, interrompendo-se.


 


Minha irmã e minha mãe vêm primeiro. Eu me estico para Prim e ela sobe no meu colo, seus braços ao redor do meu pescoço, a cabeça no meu ombro, bem como ela fazia quando era um bebê. Minha mãe se senta ao meu lado e envolve seus braços ao nosso redor. Por alguns minutos, não dizemos nada. Então eu começo a contar a elas todas as coisas que elas devem lembrar de fazer, agora que eu não estarei lá para fazer por elas.


Prim não deve pegar nenhuma téssera. Elas conseguirão sobreviver, se forem cuidadosas, vendendo o leite e queijo de cabra da Prim e com o pequeno boticário que a minha mãe agora comanda para as pessoas na Costura. Gale lhes dará as ervas que elas mesmas vão plantar, mas ela deve tomar muito cuidado ao descrevê-las, porque ele não está tão familiarizado com elas quanto eu. Ele também lhes trará caça – ele e eu fizemos um pacto sobre isso há mais ou menos um ano – e provavelmente não pedirá por compensação, mas elas deveriam agradecê-lo com algum tipo de troca, como leite ou remédio.


Eu não incomodo em sugerir à Prim que aprenda a caçar. Eu tentei ensiná-la algumas vezes e foi desastroso. A floresta a aterrorizava, e quando eu atirava em alguma coisa, ela ficava a beira de lágrimas e falava em como poderíamos curá-lo se o levássemos para casa cedo o bastante. Mas ela se dá bem com sua cabra, então eu me concentro nisso.


 


Íris revirou os olhos e Jake levantou uma sobrancelha.


“É só esperar pela bomba” pensou.


 


Quando acabo com as instruções sobre combustível, trocas e ficar na escola, me viro para minha mãe e agarro seu braço, duramente.


— Me escute. Você está me escutando?


Ela assente, assustada pela minha intensidade. Ela deve saber o que está por vir.


— Você não pode ir embora novamente — digo.


Os olhos da minha mãe encontram o chão.


— Eu sei. Eu não irei. Eu não pude evitar o que...


— Bem, você tem que evitar dessa vez. Você não pode pular fora e deixar Prim por conta própria. Não há mais eu para manter vocês duas vivas. Não importa o que aconteça. O que quer que veja na tela. Você tem que me prometer que vai lutar contra isso!


Minha voz se levantou para um grito. Nela está toda a raiva, todo o medo que eu senti com seu abandono. Ela puxa seu braço do meu aperto, ela própria movida por raiva agora.


— Eu estava doente. Eu podia ter me tratado se tivesse os remédios que tenho agora.


 


- Nunca vi elas brigando dessa maneira - disse Íris.


- Aconteceu alguma coisa para elas terem mudado tanto - disse Jake.


 


Aquela parte sobre ela estar doente podia ser verdade. Eu tinha visto ela curar pessoas que sofriam de tristeza imobilizante desde então. Talvez seja uma doença, mas é uma que não podemos nos dar ao luxo.


— Então tome-os. E tome conta dela!


— Eu ficarei bem, Katniss — diz Prim, apertando meu rosto em suas mãos. — Mas você tem que tomar cuidado também. Você é tão rápida e corajosa. Talvez possa vencer.


Eu não posso vencer. Prim deve saber isso, em seu coração. A competição estará muito além das minhas habilidades. Garotos de distritos mais ricos, onde ganhar é uma grande honra, que treinaram suas vidas todas para isso. Garotos que são duas a três vezes o meu tamanho. Garotas que conhecem vinte maneiras diferentes de te matar com uma faca. Ah, haverá pessoas como eu também. Pessoas a serem extirpadas antes que a verdadeira diversão comece.


 


- De algum modo você ganhou - murmurou Íris.


- Como se ela pudesse prever o futuro - ironizou Jake, mas também estava curioso.
Se ambos seus pais estavam nos Hunger Games como estavam vivos ainda se só poderia haver um vencedor?


 


— Talvez — respondo, porque eu não posso dizer a minha mãe para continuar se eu mesma já desisti.


Além do mais, não é da minha natureza desistir sem lutar, mesmo quando as coisas parecem insuperáveis.


— Então seremos ricas como Haymitch.


 


- Para gastar com bebidas - ironizou Jake.


- Ele não bebe mais tanto assim! - disse Íris.


- Mas quando bebe...


- Quando foi que o vimos bêbado?


- No fim de ano.


- Há quantos séculos foi isso?


- Ano passado.


 


— Eu não ligo realmente se somos ricos. Eu só quero que você volte para casa. Você tentará, não tentará? Realmente, realmente tentará? — pergunta Prim.


— Realmente, realmente tentarei. Eu juro.


E eu sei, por causa de Prim, que terei que tentar.


E então o Peacekeeper está na porta, sinalizando que nosso tempo acabou, e estamos todas nos abraçando tão forte que dói e tudo o que eu digo é:


— Eu amo vocês. Eu amo vocês duas.


E elas dizem isso de volta e então o Peacekeeper ordena que elas saiam e a porta fecha. Eu enterro minha cabeça em uma das almofadas de veludo como se isso pudesse bloquear todo esse negócio.


Outra pessoa entra na sala, e quando eu olho para cima, fico surpresa em ver que é o padeiro, o pai de Peeta Mellark. Eu não acredito que ele veio me visitar. Afinal de contas, tentarei matar seu filho em breve. Mas nós nos conhecemos um pouco, e ele conhece Prim ainda melhor. Quando ela vende seu queijo de cabra no Prego, ela deixa dois separados para ele e ele lhe dá uma generosa quantidade de pão em troca. Nós sempre esperamos para trocar com ele quando a bruxa da mulher dele não está por perto, porque ele fica bem mais bonzinho. Tenho certeza de que ele nunca bateria no filho dele do jeito que ela bateu por causa do pão queimado. Mas por que ele veio me ver?


 


Íris e Jake se ajeitaram ligeiramente nas cadeiras, leriam um pouco sobre seu avô paterno.


 


O padeiro se senta desconfortavelmente na ponta de uma das cadeiras felpudas. Ele é um homem grande de ombros largos com cicatrizes de queimaduras por causa dos anos passados nos fornos. Ele deve ter acabado de dizer adeus ao seu filho.


Ele puxa um pacote de papel branco do bolso de sua jaqueta e o segura para mim. Eu o abri e achei biscoitos. Eles são um luxo que nunca podemos bancar.


— Obrigada — eu digo.


O padeiro não é um homem muito falante, na melhor das ocasiões, e hoje ele não solta nenhuma palavra.


— Eu comi um pouco do seu pão essa manhã. Meu amigo Gale lhe deu um esquilo por ele.


Ele assente, como se lembrando do esquilo.


— Não foi a sua melhor troca — eu digo.


Ele dá de ombros, como se isso não tivesse importância.


Eu não consigo pensar em mais nada, então ficamos sentados em silêncio até que o Peacekeeper o convoque. Ele se levanta e tosse para limpar sua garganta.


— Eu ficarei de olho na menininha. Para me certificar que ela está comendo.


Eu sinto um pouco da pressão no meu peito se aliviar com as palavras dele. As pessoas lidam comigo, mas eles genuinamente adoram Prim. Talvez haja adoração o bastante para mantê-la viva.


 


Íris balançou a cabeça um pouco triste. Tantas perguntas sem respostas... O único jeito seria eles lerem todos os livros, afinal não podiam tirar essas dúvidas com seus pais. Se não, eles descobririam que eles estavam lendo livros que não tinham permissão para ler. Provavelmente, seriam proibidos de continuar a leitura.


 


Meu próximo convidado também é inesperado. Madge anda diretamente até mim. Ela não está chorosa ou evasiva, ao invés, há uma urgência no seu tom que me surpreende.


 


- Todos gostam da mamãe - disse Íris - Mesmo ela sendo meio grossa de vez em quando... Só ela não percebe isso.


- Que ela não é grossa ou que todos gostam dela? - perguntou Jake, apenas para irritar a irmã.


- O que você acha?


 


— Eles te deixam usar uma coisa do seu distrito na arena. Uma coisa para lembrá-la de casa. Você usaria isso?


Ela segura um alfinete circular de ouro que estava em seu vestido mais cedo. Eu não tinha prestado muita atenção nele antes, mas agora vejo que é um pássaro pequeno voando.


— Seu broche? — digo.


Usar uma lembrança do meu distrito é a última coisa na minha mente.


— Aqui, vou coloca-lo no seu vestido, está bem? — Madge não espera por uma resposta, ela simplesmente se inclina e fixa o pássaro no meu vestido. — Promete que o usará na arena, Katniss? — ela pergunta. — Promete?


— Sim.


Biscoitos. Um broche. Estou recebendo toda a sorte de presentes hoje. Madge me dá mais um. Um beijo na bochecha. Então ela se vai e eu fico pensando que talvez Madge realmente tenha sido minha amiga todo esse tempo.


 


Íris ri.


 


Finalmente, Gale está aqui e talvez não haja nada de romântico entre nós, mas quando ele abre seus braços, eu não hesito em ir neles. Seu corpo é familiar para mim – o jeito como ele se move, o cheiro de fumaça de madeira, até mesmo o som de seu coração batendo, que eu conheço de momentos silenciosos caçando – mas essa é a primeira vez que eu realmente sinto-o, os músculos magros e fortes contra os meu.


 


Íris iria falar alguma coisa, mas Jake volta a ler rapidamente para impedir algum comentário, o que faz Íris o olhar indignada.


 


— Escuta — ele diz. — Pegar uma faca deve ser bem fácil, mas você tem que colocar suas mãos num arco e flecha. É a sua melhor chance.


— Eles nem sempre tem arcos — respondo, pensando no ano onde só havia horríveis cetros cheios de esporões com que os tributos tinham que acertar uns aos outros até a morte.


— Então faça um — diz Gale. — Mesmo um arco fraco é melhor que nenhum arco.


Eu tentara copiar os arcos e flechas do meu pai com resultados fracos. Não é tão fácil. Até ele tinha que jogar fora seu próprio trabalho de vez em quando.


— Eu nem sei se haverá madeira.


Em outro ano, eles jogaram todos em um cenário com nada além de pedras e areia e arbustos imundos. Eu particularmente odiei aquele ano. Muitos competidores foram mordidos por cobras venenosas ou ficaram loucos por causa da sede.


— Há quase sempre um pouco de madeira — Gale diz. — Já que naquele ano metade deles morreram de frio. Não há muito entretenimento nisso.


 


- Um ponto a favor da mamãe - disse Íris.


 


É verdade. Nós passamos um ano assistindo os jogadores congelarem até a morte de noite. Você mal podia vê-los porque eles estavam contraídos em bolas e não tinham madeira para fogueiras, tochas ou qualquer coisa. Foi considerado muito anti-climático na Capitol, todas aquelas mortes silenciosas e sem derramamento de sangue. Desde então, geralmente há madeira pra fazer fogueiras.


 


- Pensei que “morrer de frio” fosse apenas uma expressão - disse Íris.


- Não. Se você for exposto a muito frio, pode pegar uma hipotermia. Essa é uma doença que se não tratada, mata - disse Jake.


 


— Sim, geralmente tem um pouco.


— Katniss, é apenas caçada. Você é a melhor caçadora que conheço — diz Gale.


— Não é só caçada. Eles estão armados. Eles pensam.


— Assim como você. E você praticou mais. Prática real — ele continua. — Você sabe como matar.


— Não pessoas — rebato.


 


- Ainda bem - disseram Íris e Jake.


 


— O quão diferente pode ser, sério? — diz Gale carrancudamente.


O horrível é que se eu conseguir esquecer que eles são pessoas, não será nem um pouco diferente.


 


- Isso é o que a faz diferente dos outros - disse Jake.


 


Os Peacekeepers voltam cedo demais e Gale pede por mais tempo, mas eles o estão levando e eu começo a entrar em pânico.


 


- Se fosse pessoal do Distrito 1, 2 ou 4 eles deixariam numa boa - reclamou Íris.


 


— Não as deixe morrer de fome! — gritei, segurando a sua mão.


— Eu não deixarei! Você sabe que eu não deixarei! Katniss, lembre-se que eu...


Eles nos separam e batem a porta e eu nunca saberei o que é que ele queria que eu me lembrasse.


É um caminho curto do Prédio da Justiça até a estação de trem. Eu nunca estive num carro antes. Raramente andei em vagões. Na Costura, nós viajamos a pé.


Eu estive certa em não chorar. A estação está fervendo de repórteres com suas câmeras feito insetos instruídos diretamente no meu rosto. Mas eu pratiquei muito em apagar meu rosto de emoções e eu faço isso agora. Capturo um relampejo de mim mesma na tela de televisão na parede que está transmitindo a minha chegada ao vivo e me sinto grata por parecer quase entediada.


Peeta Mellark, por outro lado, obviamente esteve chorando e, mais interessante, não parecia tentar cobrir isso. Eu imediatamente me pergunto se essa será sua estratégia nos Jogos. Parecer fraco e assustado, reassegurar aos outros tributos que ele não é competição algum, e então sair lutando.


 


- Não, papai apenas não sabe esconder os sentimentos tão bem - disse Jake.


 


Isso funcionou muito bem para uma garota, Johanna Mason, do Distrito 7, há alguns anos. 


 


Íris e Jake se entreolharam. Conheceram Johanna no fim do ano retrasado, quando ela veio do distrito 7 fazer uma visita. Outra que aparecera foi Annie Cresta Odair e seu filho, Magnus.


 


Ela parecia uma tola tão choramingona e covarde que ninguém se incomodou com ela até que sobrou apenas um punhado de participantes. Acontece que ela podia matar facilmente. Bem esperto, o jeito como ela jogou. Mas parecia uma estratégia estranha para Peeta Mellark, porque ele é filho do padeiro. Todos esses anos tendo o bastante para comer e transportando bandejas de pão por aí o fizeram ter ombros largos e fortes. Será preciso muita choradeira para convencer qualquer um a negligenciá-lo.


Nós temos que ficar de pé por alguns minutos na entrada do trem enquanto as câmeras engolem as nossas imagens, então nos permitem entrar e as portas fecham compassivamente atrás de nós. O trem começa a se mover de imediato.


A velocidade inicialmente tira meu fôlego. É claro, eu nunca estive em um trem, já que viagens entre distritos são proibidas, exceto para deveres oficialmente sancionados. Para nós, quase sempre é transportar carvão. Mas esse não é um trem normal de carvão. É um dos modelos de alta velocidade da Capitol que chega a uma média de 402 quilômetros por hora. Nossa jornada para a Capitol levará menos que um dia.


Na escola, eles nos dizem que a Capitol foi construída num lugar que uma vez chamara-se Montanhas Rochosas. O Distrito 12 estava numa região conhecida como Apalaches. Mesmo há centenas de anos, eles exploravam carvão aqui. E é por isso que nossos mineradores tem que escavar tão fundo.


 


- Nos poupando um pouco da aula de história - brincou Jake.


- Ainda mais com aquela professora - concordou Íris.


 


De alguma maneira, tudo se volta ao carvão na escola. Além de leitura e matemática básica, a maioria das nossas instruções são relacionadas a carvão. Exceto pelas aulas semanais de história de Panem. Na maior parte, é um monte de tolices sobre o que devemos a Capitol. Eu sei que deve ter mais do que eles nos dizem, uma explicação real sobre o que aconteceu durante a rebelião. Mas não passo muito tempo pensando nisso. Qualquer que seja a verdade, eu não vejo como ela pode me ajudar a colocar comida na mesa.


O trem dos tributos é ainda mais chique do que a sala no Prédio da Justiça. É dado a cada um de nós nossas próprias acomodações, que tem um quarto, um camarim e um banheiro privado com água quente e fria corrente. Nós não temos água quente em casa, a não ser que a fervamos.


 


- Acha possível dois tributos sobreviverem? - Íris perguntou repentinamente.


- Deve ser a única explicação para estarmos vivos - disse Jake - Agora, como é outra questão.


 


Há gavetas cheias de roupas finas, e Effie Trinket me diz para fazer o que eu quiser, usar o que eu quiser, tudo está a minha disposição. É só estar pronta para o jantar em uma hora.


 


Íris riu. Isso era a cara de Effie.


 


Eu retiro o vestido azul da minha mãe e tomo um banho quente. Nunca tomei banho de chuveiro antes. É como estar em uma chuva de Verão, só que mais quente. Visto uma camisa e calça verde - escura.


 


- Tudo bem que eles tomavam banho de balde, mas é praticamente considerado banheira hoje em dia - disse Íris - Tem pessoas que preferem isso ao chuveiro.


- Cada um com seu cada um - disse Jake.


 


No último minuto, me lembro do pequeno broche dourado da Madge. Pela primeira vez, eu dou uma boa olhada nele. É como se alguém tivesse criado um pequeno pássaro dourado e então anexado um anel ao redor. O pássaro está conectado ao anel só pelas pontas da asa. Eu de repente o reconheci. Um mockingjay.


 


- Lá vem história - brincou Íris - Misturado com o “estudo de animais e plantas”.


 


Eles são pássaros estranhos e meio que um tapa na cara da Capitol. Durante a rebelião, a Capitol reproduziu uma série de animais geneticamente alterados como armas. O termo comum para eles era mutações, ou às vezes mutts, como apelido. Um era um pássaro especial chamado jabberjay, que tinha a habilidade de memorizar e repetir conversas humanas inteiras. Eles eram pássaros residentes, exclusivamente masculinos, que eram soltos em regiões onde era sabido que os inimigos de Capitol estavam escondidos. Após os pássaros coletarem palavras, eles voavam de volta aos centros para ser gravados.


 


- Exclusivamente masculinos? - perguntou Íris - Que preconceito!


- Claro! Visando o quanto mulheres são mais fofoqueiras que os homens - disse Jake, levando uma almofada jogada fortemente.


“Não tenho ideia de como Íris faz uma almofada leve ter uma queda tão dolorosa” pensou Jake.


 


Levou um tempo para as pessoas perceberem o que estava acontecendo nos distritos, como conversas privadas estavam sendo transmitidas. Então, é claro, os rebeldes alimentaram Capitol com inúmeras mentiras, e a piada começou. Então os centros foram fechados e os pássaros abandonados para morrer na selva.


Só que eles não morreram. Ao invés, os jabberjays se acasalaram com mockinbirds fêmeas, criando uma nova espécie que conseguia replicar tanto os assobios dos pássaros quando as melodias humanas. Eles perderam a habilidade de enunciar palavras, mas ainda conseguiam imitar uma cadeia de sons vocais humanos, de um gorjeio agudo de uma criança até os tons profundos de um homem. E conseguiam recriar canções. Não só poucas notas, mas canções inteiras com múltiplos versos, se você tivesse paciência para cantar para eles e se eles gostassem da sua voz.


 


- Imagina que legal: os mockingjays te atacando, Jake - implicou Íris.


 


Meu pai era particularmente afeiçoado aos mockingjays. Quando saíamos para caçar, ele assobiava ou cantava canções complicadas para eles e, após uma pausa educada, eles sempre cantavam de volta. Nem todos são tratados com tanto respeito. Mas sempre que meu pai cantava, todos os pássaros na área caíam no silêncio e escutavam. Sua voz era tão bonita, alta e clara e tão cheia de vida que fazia você querer rir e chorar ao mesmo tempo. Eu nunca consegui me forçar a continuar a praticar depois que ele partiu.


Ainda assim, há algo de confortante no passarinho. É como ter um pedaço do meu pai comigo, me protegendo. Eu prendo o broche na minha camisa, e com o tecido verde - escuro de fundo, quase consigo imaginar o mockingjay voando pelas árvores.


 


- Para quem acredita em reencarnação... - Íris murmurou, pensando em voz alta.


 


Effie Trinket vem me buscar para o jantar. Eu a sigo por um corredor estreito e chacoalhante até a sala de jantar com refinadas paredes almofadadas. Há uma mesa onde todos os pratos são altamente quebráveis. Peeta Mellark está sentado esperando por nós, a cadeira próxima a ele vazia.


 


- Por que mamãe fica falando o nome completa da Effie toda hora? - perguntou Íris.


- Elas não tinham intimidade - disse Jake.


- Mas é cansativo!


- Preguiçosa!


 


— Onde está Haymitch? — pergunta Effie Trinket alegremente.


 


Íris segurou o riso.


 


— Da última vez que eu o vi, ele disse que ia tirar uma soneca — diz Peeta.


— Bem, foi um dia exaustivo — Effie Trinket fala.


Eu acho que ela está aliviada pela ausência de Haymitch, e quem pode culpá-la?


 


- Coitado! - disse Íris.


 


O jantar vem em porções. Uma espessa sopa de cenoura, salada verde, costeletas de carneiro e purê de batata, queijo e fruta, um bolo de chocolate. Durante a refeição, Effie Trinket fica nos lembrando para guardar lugar, porque há mais por vir. Mas eu estou me empanturrando porque nunca tive comida como essa antes, tão boa e tão farta, e porque provavelmente a melhor coisa que eu posso fazer entre agora e os Jogos é engordar alguns quilos.


 


- Amo minha mãe - brincou Íris.


- Esfomeada! - implicou Jake.


 


— Pelo menos vocês dois tem boas maneiras — Effie falou enquanto terminamos o prato principal. — O par do ano passado comeu tudo com as mãos como dois selvagens. Perturbou completamente minha digestão.


 


Íris deu um sorriso maroto.


 


O par do ano passado foram duas crianças de Costura que nunca, nem por um dia em suas vidas, tiveram o bastante para comer. E quando eles tinham comida, maneiras a mesa eram certamente a última coisa em suas mentes.


Peeta é filho do padeiro. Minha mãe ensinou Prim e eu a comer propriamente, então sim, eu sei lidar com um garfo e uma faca. Mas odeio tanto o comentário de Effie Trinket que eu tomo nota de comer o resto da minha refeição com as mãos. Então limpo minhas mãos na toalha de mesa. Isso a fez franzir seus lábios apertadamente juntos.


 


Íris e Jake começam a gargalhar.


 


Agora que a refeição acabou, eu estou lutando para manter a comida no lugar. Posso ver que Peeta está um pouquinho verde também. Nenhum dos nossos estômagos está acostumado a um cardápio tão rico. Mas se eu consigo segurar o preparado de carne de rato, entranhas de porco e casca de árvore da Greasy Sae – uma especialidade do Inverno – eu estou determinada a segurar isso.


Nós vamos a outro compartimento para assistir o recapitulamento das colheitas por Panem. Eles tentam balancearem-nas durante o dia para que uma pessoa possa concebivelmente assistir o negócio todo ao vivo, mas só pessoas na Capitol podem realmente fazer isso, já que nenhuma delas tem que atender colheitas pessoalmente.


Uma por uma, vemos as outras colheitas, os nomes chamados, os voluntários se apresentando ou, mais frequentemente, não. Nós examinamos os rostos das crianças que serão nossos adversários. Algumas se destacam na minha mente. Um garoto monstruoso que se lança a frente para se voluntariar pelo Distrito 2. Uma garota de rosto astuto com cabelo vermelho liso do Distrito 5. Um garoto com um pé inválido do Distrito 10.


 


- Pensei que pessoas inválidas não pudessem participar - disse Íris.


 


E, mais assustador, uma garota de doze anos do Distrito 11. Ela tem pele e olhos castanhos - escuros, mas fora isso, é bem parecida com Prim no tamanho e no comportamento. Só que quando ela sobe no palco e eles pedem por voluntários, tudo o que você consegue ouvir é o vento assoprando pelos prédios decrépitos ao redor dela. Ninguém deseja tomar seu lugar.


 


- Quer saber? O único culpado de todas essas mortes são a família! - disse Íris um pouco revoltada - Eles poderiam se voluntariar, mas não. Preferem deixar a pessoa morrer nos jogos e depois ficam chorando. Ah! Aja falsidade!


 


Por último, eles mostram o Distrito 12. Prim sendo chamada, eu correndo a frente para me voluntariar. Você não consegue deixar passar o desespero em minha voz enquanto eu empurro Prim para trás de mim, como se eu tivesse medo de que ninguém iria ouvir e eles tomassem Prim. Mas, é claro, eles ouvem.


Vejo Gale puxando-a de mim e observo a mim mesma subir no palco. Os comentaristas não tem certeza do que dizer sobre a recusa da multidão em aplaudir. A saudação silenciosa. Um diz que o Distrito 12 sempre foi um tanto atrasado, mas que costumes locais podem ser charmosos. Bem no momento correto, Haymitch cai do palco, e eles berram comicamente.


O nome de Peeta é sorteado, e ele silenciosamente toma seu lugar. Nós apertamos as mãos. Eles cortam para o hino novamente, e o programa acaba.


Effie Trinket está decepcionada sobre o estado que sua peruca se encontrava.


— Seu mentor tem muito o que aprender sobre apresentação. Muito sobre comportamento televisivo.


Peeta ri inesperadamente.


— Ele estava bêbado. Ele fica bêbado todo ano.


— Todo dia — acrescento.


 


Jake tinha uma pequena ideia do porque da depressão do Haymitch daquela época, mas achou melhor não comentar nada. Íris ainda não tinha chegado nem na 1ª Rebelião em História de Panem, já seria um grande choque para ela ler sobre os Hunger Games.


 


Eu não posso evitar forçar um pouco o riso. Effie Trinket faz soar como se Haymitch tivesse simplesmente algumas maneiras brutas que pudessem ser corrigidas com algumas dicas dela.


— Sim — Effie Trinket sibila. — Que estranho vocês dois acharem isso engraçado. Vocês sabem que seu mentor é sua corda de salvação ao mundo nesses Jogos. Aquele que o aconselha, encarreira seus patrocinadores e dita a apresentação de qualquer presente. Haymitch pode muito bem ser a diferença entre a sua vida e a sua morte!


 


- Eita! Mal humorada! - disse Íris.


 


Bem então, Haymitch tropeça para dentro do compartimento.


— Eu perdi o jantar? — indaga numa voz indistinta.


Então ele vomita sobre todo o tapete caro e cai na bagunça.


— Então riam a vontade! — Effie Trinket exclama.


Ela salta ao redor da piscina de vômito em seus sapatos de bico fino e foge da sala.


 


- Que final de capítulo... Interessante - brincou Jake - Sua vez!


- Capítulo 4 - disse Íris segurando o livro de ponta-cabeça.


Jake revirou os olhos e ajeitou o livro nas mãos de Íris.



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Autor(a): clenery

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Capítulo 4.   Íris fez uma careta ao ler as linhas seguintes.   Por alguns momentos, Peeta e eu captamos a cena do nosso mentor tentando se levantar do material vil e escorregadio do seu estômago. A fetidez do vômito e do álcool bruto quase traz minha refeição para fora.   Jake revirou os olhos pela rea&cced ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • geanesb Postado em 22/06/2014 - 19:25:44

    Oi comecei a ler sua fanfic ontem e já terminei....viciei e favoritei rsrsrs amei essa nova forma de escrever sobre os Jogos Vorazes. É como se fosse uma análise de todos os detealhes dos livros através da visão dos filhos de Peeta e Katniss. Super curiosa e ansiosa para ver cada reação deles daqui pra frente... quando postará o próximo cap? bjos.

  • akemith Postado em 13/01/2014 - 23:46:31

    Que bom, fico feliz que esteja curtindo seu pai Mas não se esquece de nós >:x. Poste mais!!!

  • akemith Postado em 08/01/2014 - 03:49:44

    Ata, que pena, seu pai ficar internado no final de ano. Melhoras para ele. Não se preucupa com os caps, poste quando seu pai melhorar ;)

  • akemith Postado em 04/01/2014 - 22:05:19

    Parou a fic?

  • cisne Postado em 04/12/2013 - 13:50:50

    Acabo de começar a ler e já estou amando, li o primeiro cap. e agora vou ler o segundo, acompanharei sempre! Amo THG! :)))))))))


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