Fanfic: Jogos Vorazes - Reerguendo das Cinzas | Tema: Jogos Vorazes

   Você já se sentiu a pior pessoa da face da terra. A pessoa mais horrenda de todo o planeta. Literalmente um lixo. A noticia da pequena garota me deixou sem ar, fazendo com que meu corpo caísse para trás sem medo de onde iria cair. Meus músculos estavam congelados e trêmulos e eu me sentia a pior pessoa do mundo.

- Ele... Não tem como ele estar morto! – Grito para todos na escola escutarem.

- Veja você mesmo, ele esta enterrado nesse momento! – Diz ela girando a porta sobre minha cara.

   Minhas pernas estão travadas por causa da noticia que agora eu tinha que enjerir. Umas de minhas mãos estavam me ajudando a se reerguer novamente. Mas minhas forças foram embora pela janela quando a pequena Margo disse aquilo sobre seu irmão.

   Ele não poderia estar morto. Não o James. A noticia me deixava com algo pesado na consciência. Ele estava morto por minha causa. Por causa do meu plano. Por um lado eu não tinha culpa alguma, ele se ofereceu em me ajudar na fuga. Mas minha alma estava entrando em ebulição. Não poderia pensar em nada mais naquele momento.

   A diretora entra na sala novamente e depara com minha imagem caída no chão. Inconsiente. Ela me ajuda a levantar e me trás um copo de agua. Enquanto molho minha garganta pnso no ultimo momento em que vi James. Ele estava sendo torturado por minha causa. Por causa dos meus atos. E agora ele esta morto, eu não posso nem agradece-lo por ter me ajudado tanto. Não posso nem dizer como fui grata de sua ajuda.

   No exato momento cuspo a agua entre a janela e entro em pânico. A mulher me ajuda a se reanimar, mas acho que ela esta mais agitada do que eu. Penso nos cabelos avermelhados que jamais verei novamente. Eles devem já ter caído a dias de sua cabeça. Os vermes já devem estar corroendo seu crânio debaixo da terra.

- Tenho que ver com meus próprios olhos! – Digo entregando o copo com agua nas mãos da diretora. – Obrigado por tudo!

- Cuidado menina! – Diz ela.

   Entre os corredores da escola as garotas me encaravam entre as portas. Enxugava as poucas lagrimas na manga da minha camisa e caminhei ate a porta da frente. Eu tinha que ver. James não poderia de jeito nenhum estar morto. Snow havia quebrado nosso trato e eu poderia começar a vingança quando quisesse. Mas agora eu iria vingar mais um. Mas uma morte fútil. A morte de James.

   Andei ate o Dromo com o pensamento de James dentro de um caixão. Meus olhos estavam negros e obscuros por causa das lagrimas que desciam entre minha bochecha sem pedir licença. E só um pensamento latejava minha mente. Aquele desgraçado havia quebrado nosso trato. Ele iria sofrer. E agora é que eu vou começar o levante mesmo. Só por causa de James.

   Cheguei ao cemitério de nosso Distrito. Desolado. Aterrorizante. Como eu sou louca, só os ricos são enterrados aqui. Mas não custa tentar. Encontrei com o coveiro. O mesmo que se ofereceu para enterrar meu pai. Antigamente eu estava tão abalada que nem quis enterrar o corpo sem cabeça do meu pai. Cremamos seu corpo e jogamos suas cinzas sobre um lago que ele adorava.

   O coveiro me mostrou a tumba do meu velho James. Ele estava ali no meio sim. Uma pequena lapide estava escrito seu nome ‘’ James Histon’’ e sua idade. Os exatamente 18 anos.

   Minhas lagrimas saíram como sangue de meus olhos. Quentes e sofridas. Deitei sobre o tumulo de James e chorei ate meus olhos doerem.

- Por que... Por que aquele inútil fez isso com você! – Digo sozinha. – Logo com você, que só queria voltar para o distrito 8...

   Parava um pouco para secar o rosto, mas novamente as lagrimas caiam. Nem o coveiro estava no recinto para escutar meus murmúrios. Ai veio à sessão raiva. Soquei seu tumulo ate minhas mãos ficarem dormentes. Gritei obscenidades para quem quisesse ouvir. Dizia abertamente o nome do desgraçado que havia feito aquilo com James. Snow, ele iria me pagar de algum jeito. Começando pelo levante e acabando com sua morte. Depois daquela morte eu queria ver seu sangue derramado. Não por que ele controlava Panem como controlava seus cães, mas sim porque ele quebrou nosso grande trato de deixar meus amigos em paz.

   Quando a chuva começou a cair sobre meus cabelos, percebi que já estava no final da tarde. Eu tinha desmaiado sobre o tumulo de James, como se nada houvesse acontecido. Tentei me recompor e seguir minha vingança adiante. Irei de algum jeito vingar aquela morte tola.

    Meu corpo seguia rastejando ate a minha casa. Em meio à chuva, não estava com medo de me molhar. Acho que a pior morte foi a de James. Mesmo ele não sendo da minha família. Mas lá no fundo, eu tive algo haver com essa morte. Eu também tive culpa. Eu deveria ter dado um fora nele, naquela noite na Capital. Deixando-o morrer como qualquer outro tributo naquela arena. Mas não, se eu  o deixasse lá, eu nunca estaria aqui. Foi ele que me salvou quando saímos do campo de força. Ele que me deu esperança. Minha vingança só foi ‘’bem sucedida’’ por causa de James. E agora eu não poderia deixar isso tudo passar como o vento. Eu teria que incluir ele na vingança. Como mais um grão de areia para carregar em meu fardo de gloria.

   Em minha mente eu recitava milhares de vezes. ‘’ Obrigado James! Seus esforços não foram em vão!’’. Ele não poderia estar morto. Não meu Deus Dourado. Isso não conseguia descer na minha garganta, a chance de James estar morto.

   Cheguei à minha casa encharcada por causa da chuva. Ninguém no recinto ainda bem. Não queria que os outros me vissem assim. Mas eu ainda tinha o encontro com Phil e não poderia deixa-lo sozinho.

   Deitei em minha cama ainda molhada. Tentando estancar as lagrimas que insistiam sair de meus olhos. Era como se a depressão tivesse voltado. Mas de jeito algum eu poderia enlouquecer desta vez. Eu iria participar do Massacre. E para sair viva teria que me controlar de algum jeito.

    Joguei algumas coisas sobre a parede para dispensar a raiva. Um vaso aqui, um prato ali. Mas nada me fazia estancar a dor em meu coração.

   Calma Lisa digo a mim mesma. Tomo um banho gelado e tento me controlar de alguma forma. Agora você deve se controlar e seguir com a vingança a voz me guia em meu pensamento. Não adianta chorar pelo leite derramado. Oque tinha que fazer agora era vingar a morte do garoto ruivo. Só isso.

   A noite se estendeu e decidir seguir ao tão esperado encontro com Phil. Eu certamente não estava tão ansiosa como esperava. Estava abalada por causa da noticia de James. Mas não poderia jogar o fardo nas costas de Phil.

   Sair de casa com a carta em uma de minhas mãos. A noite estava como sempre. Tudo obscuro e ventoso no meio das ruas. Nicolas não chegou ainda por causa de seu turno na fabrica e Anna ainda estava em estado de “choque”, por causa de mim. Decidi deixar uma carta para ele e seguir ao teleférico.

   Vestir um dos vestidos da minha mãe. Phil sempre gostava de me ver com eles. Era como se a imagem de garota vingativa se transformasse na imagem da garota sorridente e ingênua. Um vestido de tom lilás, que era o meu favorito.

   Cheguei exatamente às 8 horas ate o teleférico. Ele estava impecável Ninguém havia entrado ali desde o ultimo dia em que saímos. Sentei sobre o chão ainda quente do dia e esperei. Por alguns instantes eu decidi voltar para casa. Phil poderia não poder vim. Por algum motivo afinal. Algum problema no trabalho da fabrica ou ate mesmo com a família. Quando estava levantando-me do cão para ir embora ele pousou uma de suas mãos em meu ombro.

- Você estar tão linda... – Seus cabelos estavam escondendo seus olhos, mas seus lábios estavam franzidos e transformados em um sorriso.

- Só vestir isso por causa de você... – Digo mostrando o velho vestido de minha mãe. – Oque você trouxe, para lembrar-se dos velhos tempos?

- Hum... Algumas frutas, pães de grãos da terssera e uma garrafa de chocolate bem quente! – Diz ele me mostrando uma cesta com a comida.

- Como nos velhos tempos...

- É Lisa, como nos bons e velhos tempos... E ai, começou a ver as estrelas antes de mim?

- Não... Só estava te esperando mesmo! Oque você queria falar particularmente comigo?

- Nada... Eu só queria voltar aqui, ter uma noite como as de antigamente. Conversar sobre besteiras dos dia a dia, você sabe! – Diz ele sentando.

- Phil, desde que eu voltei da arena você estar um pouco... Diferente! – Digo sentando ao seu lado. Ultimamente ele estava estranho mesmo. Passamo-nos tanto tempo juntos que quando Phil tinha um problema eu já captava sua anomalia. E ele era a mesma coisa comigo.

- Claro que estou diferente, Lisa... Você saiu do Distrito 8 com um beijo meu entre os lábios! – Ciúmes. Era tudo oque eu temia. Phil não tinha absolutamente nada com minha vida amorosa. Mas depois daquele beijo no edifício da Justiça, ele quis aprofundar nosso relacionamento.

- Phil, eu não acredito que você estar...

- Com ciúmes? É estou! Eu estou com ciúmes sim! – Diz ele rindo. – Você é só minha! Minha baixinha!

- Agora eu sou um troféu, é isso? – Digo. – Você esta mesmo insinuando que eu não sinto nada por você, só por causa daquele beijo? Logo daquele beijo? – Pergunto encarando seus olhos.

- Você nem ao menos conhecia aquele cara! E beijou ele publicamente, eu sei que só sou seu amigo, mas me preocupo com você! – Diz ele abrindo a cesta.

- Não Phil, você achou mesmo que eu estava loucamente apaixonada por ele... – Por um lado eu estava. Pelo seu jeito de me dominar. Mas não queria deixar Phil com raiva de mim. Phil era a única pessoa que eu poderia contar agora. Sem James.

- Aquilo foi tudo armação, para agente ganhar mais patrocinadores! Era tudo enganação, nossos mentores nos obrigaram! – Não. Eles não haviam nos abrigados a beijar. Beijamo-nos por nossa conta mesmo. E aquela não foi a única vez afinal.

- É... Vocês conseguiram enganar muito bem, por sinal! – Sua voz estava rígida.

- Phil, eu nunca pensei que uma pessoa como você pudesse ter ciúmes!

- Só me responda uma vez... Aquela foi à única vez que... Que você...

- Que eu o beijei? Sim! Foi à única vez, e para sua informação ela será a ultima...

- Por quê? Decidiu esquecer ele...

- Ele está morto Phil! Esta sendo comido pelos vermes nesse exato momento, tá legal? – Digo. A sua reação foi igual a minha. Uma cara assustada. – Snow o matou...

- É por isso que vejo tristeza em seus olhos... – Diz ele. – É como um sexto sentido... Eu sinto quando você está triste!

- Me desculpe, eu tenho uma espécie de gratidão com James... e com você!

- Eu te entendo... E ele deve estar num lugar melhor agora!

- Conserteza ele esta em um lugar melhor que Panem, agora! – Digo soltando um risonho. Phil abre a cesta com o banquete e serve uma caneca de chocolate quente.

- Não sabia que você fazia chocolate quente? – Digo sentindo o gosto doce e morno em meus lábios.

- O meu chocolate quente é mais parecido com suco de cacau... – Diz ele rindo. Mas lembre-me que tivemos que tomar muito suco de cacau durante a infância.

- E quem foi que fez essa delicia? – Pergunto.

- Dan, como sempre, o irmão mais velho! Ele sempre foi melhor que eu na cozinha! – Diz le rindo.

- Ai Phil... Oque seria de mim sem você...

- Às vezes eu me pergunto como estaria a minha vida, se eu nunca tivesse subido nesse teleférico e te encontrado...

- É... No fundo nos precisamos um do outro! – Digo a ele rindo.

   Passamos o resto da noite como sempre. Vendo as estrelas e juntando as constelações. Conversando sobre o lugar imundo onde vivíamos. Cantando e gritando para o vão escuro a nossa frente. Pela primeira vez, Phil havia me ajudado a superar uma morte. Mas eu não havia superado totalmente.

- Amanhã vamos começar! – Diz ele.

- Começar com oque? – Pergunto.

- Vamos reconstruir nossas vidas como antigamente... Treinar de manhã, almoçar no galpão e a tarde voltamos para nossos trabalhos nas fabricas! – Fala ele, como se tivesse ditando um cronograma.

- Você acha mesmo que podemos voltar aos dias de antigamente? – Pergunto.

- O jeito é tentar... Eles não podem nos modificar totalmente... E aposto que você precisa treinar mais um pouco para o grande massacre quaternário! – Diz ele rindo.

- Nem me fala... Só de ouvir isso, meu estomago dói! – Falo.

- Come um pãozinho que passa... – Diz ele me oferecendo um pão com uma geleia de morango.

   Phil tinha um dom de colocar meu ego para cima. De curar minha alma. Suas palavras me faziam seguir em frente. Eu nunca soube como ele fazia isso. Acabamos tudo que tínhamos para falar um ao outro e seguimos para nossas vidas na sujeira que poderíamos chamar de Distrito.

   A noite o Distrito 8 era tão suja e horrorosa que parecíamos porcos rastejando na lama em meio a escuridão. O cheiro toxico pairava pelo vento seco no ar. Nossos ouvidos nada sensíveis já estavam surdos, por escutar o grito das maquinas todas as horas do dia.

   Ao chegar ao Domo víamos pessoas correndo entre a escuridão. Coisa muito estranha por sinal. As pessoas tinham medo dos pacificadores e não saiam de suas casas por nada depois das 6 horas do dia. Elas corriam como loucas, algumas ate gritavam. Seguimos o rastro de pessoas ate minha rua. Minha humilde rua.

   Meus olhos começam a lacrimejar. Minha casa esta literalmente em chamas. Tudo esta sendo encolhido pelas labaredas de fogo. Phil me abraça forte e me segura, para eu não me descontrolar de vez. Vejo Margareth com míseros baldes d’água, tentando apagar o fogo do monte de carvão que eu poderia chamar de casa.