Fanfic: Jogos Vorazes - Reerguendo das Cinzas | Tema: Jogos Vorazes

   A única coisa que sinto neste momento é à força dos braços de Gale me segurando. Meus nervos estão enlouquecidos e minha mente frigida por causa da imagem que vi na tela. Ao olhar de novo vejo que Phil não estava mais ali, certamente alguma pessoa consciente o levou para ser enterrado numa das covas comunitárias de nosso Distrito.

   A voz de Coin vai ficando mais fina e incessante a cada minuto. Ela grita num microfone que está em seu pulso. Gale ainda tenta me segurar, mas meu corpo está adormecido e minhas emoções estão tomando conta de tudo. Palavras obscenas e gritos escorrem da minha boca sem medo. Uma tentativa de corrigir meu erro, de corrigir algo que fiz a um garoto que basicamente não tem nada a ver comigo. Caio no chão desmaiada.

   Acordo. Estou grudada a uma cadeira branca por causa de uma algema. Um quarto esbranquiçado esta a minha volta. Aonde estou? As duas pessoas que me viram enlouquecer entram na sala. Gale com os braços avermelhados e arranhados por causa das minhas unhas. Coin com a cara ligeiramente estressada.

- Se soubesse que não iria cooperar, eu poderia ter deixado você naquela arena! – Ela fala sem papas na língua.

- Eles mataram quem eu amo e você nem liga para meu luto. Que espécie de animal sem sentimentos é você!? – Berro no seu rosto. A expressão se Gale não muda e Coin tenta me acalmar.

- Ele não morreu! – Ela diz rapidamente. – Só foi atingido por uma bala, mas Paylor já estar dando conta disso... E você? Iremos começar com nosso trabalho de mudar essa sujeira toda ou não?

- Para onde você quer que eu vá? – Pergunto.

- Distrito 6... eles precisão se incentivo lá, pode levar o soldado hawthorne e seu irmão com você! Não quero ninguém morto! – Ela fala.

   Um mini aerodeslizador que leva suprimentos nos leva rapidamente para o Distrito 6. De meu lado o soldado hawthorne, que conheci há poucos dias. Do outro o soldado White, que sempre quis meu bem. No meio, eu. A Tenente mais desastrada de todo plano de revolução.

   O cheiro de galinha enfestava o aerodeslizador, que levava aves para abatimento. Marcus insistia em zoar com nossa situação aparente. Lembro-me que Coin nos enviou sem treinamento, bom, Gale pode ate ter treinado, mas eu e Marcus fomos postos em combate assim que saímos do hospital.

    Descemos rapidamente e o aerodeslizador sumiu no ar.

   O cheiro de desesperança pairava pelo ar. Em minha mente, palavras estavam se digladiando para que eu fizesse um discurso descente. Gale estava com uma arma atrás de mim e Marcus a minha frente, de modo que estava totalmente protegida.

   O Distrito 6 é um pouco diferente do 8. As únicas coisas que se diferenciavam era que o 8 era sujo e horrendo e no 6 você ainda tinha a dignidade de respirar.

   O chão é petrificado como o do 8, sem grama ou terra. Mas o ar é mais suave, acho que existe algum tipo de selva aqui perto. As pessoas estão correndo de um lado para outro sem saberem oque fazer. Pacificadores estão no final da rua, de modo que Marcus me arrasta para um beco obscuro entre algumas casas.

   Coin me explicou que as pessoas do 6 estão desorientadas. Não sabem oque fazer, pois o verdadeiro tordo esta na arena este momento. Eles precisam de uma voz, alguém que quer mudar, mas não quer se tornar um símbolo. Então Plutarch escolheu a mim. Sim, logo a mim. Como irei colocar na cabeça dessas pessoas que a revolução começou? Não sei...

   Marcus nos explica que existe uma espécie de palco aonde terei contado com as pessoas. Minha alma gela ao ver todos precisando de mim. A princípio a única coisa a que eu me importada era vingança, mas agora eu preciso pensar na compaixão também!

   Entramos numa espécie de galpão envelhecido que cotia uma passagem subterrânea secreta. Milhares de pessoas se encontravam perdidas por lá. Como nas ruas, como em toda Panem. Acho que no 8 foi pior, pois aqui as pessoas ainda estão decentemente conscientes. Aposto que em nosso Distrito as pessoas estariam mais alucinadas possível.

   Em meio a um corredor de terra, um garotinho se agarrou a minha perna com tanta força que me virei a ele. – Por favor! Ajude... Minha mamãe... Ela não quer acordar! – Ele chora lagrimas pretas dentre os olhos. – Moça me ajude, minha mamãe morreu! – Sua voz fininha me encaminha a uma dor no coração. Ele precisava de ajuda como eu sempre precisei. Em minha mente penso “Bem vindo ao clube dos órfãos desorientados!”.

- Gale, será que podemos levar ele? – Pergunto.

 - Podemos, mas será muito arriscado! – Ele fala.

- Olha... Sua mãe não vai voltar, como a minha! Elas foram dormir junto às nuvens, se quiser pode vim conosco! – Digo com a voz mais tranquilizadora possível.

- Sua mãe também foi dormir? – As palavras dele ecoam dentre os gritos ao nosso redor. Vejo que Marcus deixou derramar uma lagrima. Acho que ele sabe como é ter essa dor.

- Sim... Como a sua, mas ela toda vez da um jeito de falar comigo! – Digo soltando um sorriso meio murcho. – Marcus carrega ele...

- Mas Lisa, estamos numa missão...

- Carregar ele! Eu sou a Tenente aqui, iremos levar ele! – Digo com a voz mais severa de minha vida. Marcus da um jeito de colocar o garotinho entre a cacunda de sua costa.

- Vamos? - Marcus suplica. Eles me deixam numa sala tenebrosamente escura e somem no corredor de terra.

   A menos de um dia eu estava no 13 sem esperanças. Agora estou no 6 tendo quer dar esperanças. Uma pergunta ainda me questionava. Quem é aquele garotinho? Nem deu para saber seu nome ou sua idade. Mas sei que sou como ele. Perdemo-nos nossas mães quando ainda éramos frágeis e indefesos. Mas não vou deixar ele sozinho no mundo como eu fiquei.

   Meus dedos estão ligeiramente gelados. Meus cabelos finalmente começaram a encostar-se aos meus ombros novamente. No silencio da sala escura escuto o bravo grito da multidão. Eles queriam mudar certamente, mas precisavam de alguém que os guiassem. O tordo era mais apropriado para isso, mas por enquanto eu fui escalada para liderar o povo faminto por mudanças. Marcus entra na sala que estava completamente negra e sussurra em meu ouvido.

– É agora ou nunca! – Foi a mesma frase que James gritou para mim quando estávamos prestes a sair da arena. – Tem certeza que quer fazer isso?

– Sim... É preciso! – Digo. Ele me guia dentre corredores subterrâneos e me posiciona em frente a um palco iluminado por tochas. Um alto falante estava sobre minha boca e os olhos amedrontados das pessoas estavam me olhando. Eles precisavam de um incentivo. Minhas luvas tocam o microfone e sem medo começo a gaguejar.

– Meu nome é Elizabeth White, vivo no lugar mais horrendo da face da terra, Distrito 8 para ser precisa. A dor e opressão faz parte de minha rotina desde que meus familiares começaram a morrer. Todos os dias de minha vida eu penso em como eles conseguiram retirar minha felicidade. De como eles estragaram a minha vida e a de todos vocês. Então eu estou pedindo hoje, que vocês gritem. Falem tudo oque tem para falar. Quero que todos vocês mudem este país com suas próprias mãos. Pelos que morreram e pelos que ainda irão Nascer!

Seus olhos me encaram como as constelações de estrelas que vejo a noite. Em meio à multidão uma mulher de cabelos grisalhos e roupas esfarrapadas, levanta sua mão com os três dedos medianos para cima. Depois disto a multidão começa a estender os três dedos para mim. Eu não sabia oque fazer literalmente. Estava realizando meu sonho de começar meu próprio levante.