Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce estava apreensiva, seis horas da manhã e ela já estava acordada. Era impossível não se preocupar com o fato de até então a sua mãe não ter conseguido encontrar a babá ideal para tomar conta de Sara. Será que o grau de exigências estava além do razoável? Não, claro que não. Ela ficaria muito mais tempo presa no escritório em São Paulo e as viagens para o estrangeiro seriam mais freqüentes, na sua maioria curtas, mas mesmo assim teria de ter alguém de confiança para zelar por sua filha. Sentou na cama e olhou para as malas que já estavam prontas, olhou mais uma vez para o relógio, quase sete, dentro de pouco tempo ligaria para a mãe e pediria que ela fosse mais tolerante com as candidatas a babá que seriam entrevistadas. Nos últimos cinco meses, Sara já tivera 3 babás diferentes, pessoas muito bem recomendadas mas que com a sua pequena filha não tinham dado certo, nada certo na realidade.

Saiu da cama e foi ao banheiro, não adiantava mais ficar deitada se a sua mente estava a mil e conseqüentemente o corpo não relaxava. Dali a três horas tomaria um avião rumo à Alemanha para mais uma reunião com o grupo para o qual a sua empresa estava a criar toda a decoração de interiores de um mega hotel no Rio de Janeiro. Desta vez a viagem seria mais longa, uma semana completa. A diretoria geral decidira fazer uma única viagem e apresentar mais dois projetos para potenciais clientes na Suíça e na Itália. Ela era a responsável máxima pela área de criação e respondia também pelo controle de qualidade de uma das maiores empresas de design do país. O crescimento e a estabilidade da economia trouxeram um aumento significativo da procura pelos serviços da sua empresa. A concorrência era grande, mas a qualidade apresentada pela MD Design vinha superando qualquer obstáculo e o volume de trabalho era bastante significativo e exigia muito dos criadores, mas era exatamente disso que Dulce gostava, desafios, muitos desafios e superá-los era melhor ainda.

Enquanto se vestia olhou mais uma vez para o relógio concluindo que já dava para ligar para a mãe e foi exatamente o que fez.

Ao terceiro toque ela atendeu:
--Oi minha filha, tudo bem?

--Tudo mãe. A Sara já acordou? Ela não pode se atrasar para as aulas...

--Calma Dulce, relaxa um pouco...ela já está de pé, e no banheiro a tomar banho.

--Mãe essa menina só faz bagunça quando está sozinha no banheiro e acaba sempre se atrasando.

--Dulce sua menina já está quase fazendo 9 anos, já é uma mocinha e graças a Deus uma linda mocinha que quase não dá trabalho. -- Ana adorava a neta, só não conseguia fazer mais "coisa de avó" com ela porque a filha simplesmente não deixava. A Dulce era um pouco rígida demais no trato com a Sara, na sua opinião, mas sabia que não podia ter qualquer interferência...a filha era assim mesmo, ou tinha se tornado assim...

--A que horas começas a receber as candidatas de hoje? -- Ela estava bastante apreensiva com essas entrevistas, precisava acertar logo com alguém porque a mãe viajaria em poucos dias e seria prudente que ela passasse algum tempo com a pessoa escolhida. A viagem da mãe (um cruzeiro pela Europa) já estava programada há muito tempo e além do mais ela precisava retomar a sua vida em Curitiba. Nos últimos seis meses tinha ficado mais em Santos ajudando com a Sara do que na própria cidade, e Dulce não gostava disso, afinal a mãe ainda era jovem e tinha mais o que fazer do que ser babá. Sem contar com o fato dessa convivência em excesso não ser muito boa para a filha... Avó por natureza estraga e a dona Ana então...

--Olha, só restam duas, e ambas vêem de São Paulo...

--Ah mãe, de São Paulo? Elas já sabem que é para viver em Santos? Que a escolhida só terá uma folga por semana? – Dulce estava mais do que preocupada.

--Claro minha filha. Ambas vêem de agências e as especificações foram muito claras. Gostei dos dois currículos, agora é ver como se saem na entrevista e mais importante ainda, se a Sara gosta delas.

--Mãe, não fica fazendo todas as vontades dessa garota, ela vai ter que gostar de alguém, não temos mais tempo...eu não quero e nem posso atrapalhar mais a tua viagem... -- ela estava realmente consternada com aquela possibilidade.

--Vai dar tudo certo Dul,não sei porquê, mas sinto que hoje encontraremos a babá perfeita para a nossa Sara.

Lá estava a mãe com a "sensibilidade aflorada”... "gente como posso ser filha dessa mulher?" -- Há muito que Dulce fazia essa mesma pergunta.

--Tomara mãe...sendo eficiente e tratando bem a minha filha para mim já está de bom tamanho. Agora vê se fala antes com a tua neta para ela não inventar de simplesmente odiar as candidatas como ela vem fazendo sempre. Mãe eu não tenho mais como ficar desviando o meu foco para resolver problemas domésticos, a minha carreira está a exigir demais de mim...preciso me concentrar...

"E a sua filha está em segundo lugar...claro. Essa minha filha é um caso sério...tomara que não se arrependa nunca" -- Pensava Ana.

--Vai dar tudo certo, não se preocupe. A primeira chega à uma e a ultima às 4. Pena que nenhuma delas pegará a Sara em casa. Se eu gostar de alguma, eu peço que volte amanhã de manhã enquanto a Sara estiver aqui, para que elas possam se conhecer...

--Se você gostar não mãe vai ter de gostar. A sua viagem é daqui a uma semana, e eu vou fazer de tudo para regressar antes de viajares, mas acho quase impossível, portanto a babá terá de ficar pelo menos um dia a sós com a Sara (aquela idéia não a agradava de todo,mas fazer o quê), essa mulher tem que estar entre essas duas que receberá hoje, pelo amor de Deus.

--Se acalme Dulce, vai dar tudo certo, já disse...

--Ok, mãe...preciso relaxar mesmo porque daqui a pouco vou encarar mais uma viagem longa e de muita responsabilidade.

--Que Deus te acompanhe minha filha, e fique tranqüila.

--Beijo mãe e cuide bem da Sara. Vou tentar ligar mais uma vez antes de partir. -- Desligou.

Ana suspirou enquanto deixava o telefone em cima da cama e dirigia-se ao banheiro ver se a neta já tinha terminado o banho. A filha precisava urgente de umas férias, mas isso estava fora de questão, ela só pensava em trabalhar e trabalhar e esquecia-se do resto, ainda que esse resto incluísse uma linda menina de quase 9 anos, um anjo na sua opinião e que crescia sem o carinho essencial de uma mãe. Em termos entendia as atitudes da filha, mas ultimamente ela exagerava, daqui a pouco Sara entraria na adolescência e ai sim, tudo seria muito mais difícil...sentia-se um pouco culpada...afinal tudo que Dulce queria era ser uma mãe diferente do que ela tinha sido. Admitia que não soubera muito bem lidar com a questão ser mãe e sempre tratara a filha como uma amiguinha e jamais impusera limites, mas ela era apenas uma jovenzinha deslumbrada com o namorado rico quando ficou grávida e foi imediatamente catapultada a condição de esposa de herdeiro importante. Fora muito feliz com o marido, embora ambos não soubessem exatamente o que fazer com um bebe e quando deram por si ela já era uma adolescente com todos os problemas inerentes a essa fase. Suspirou mais uma vez e entrou no banheiro que mais parecia uma sauna.

--Meu amor, onde estás? Estas escondida na nuvem de fumaça? -- Ela tateava tentando agarrar a neta quando sentiu um abraço apertado por trás.

--Estou aqui Nani, bem aqui. -- Sara a apertava enquanto Ana era invadida por um afeto impar.

--Menina mais cheirosa meu Deus, -- apertou-a contra si e encheu-a de beijos. -- Já estamos atrasadas princesa e a sua mãe já ligou para nos apressar para o colégio.

--Ela não quis falar comigo?

Ana sentiu aquela pontinha de tristeza na voz angelical da sua neta e sentiu-se duplamente culpada.

--Claro que quis minha princesa, mas estavas no banho e ela tinha alguma pressa, volta a ligar-te antes de partir.

A menina nem ligou às palavras da avó, já corria para o quarto. A sensação que Ana tinha, era que aquilo já era quase natural... Mas não podia ser assim, de forma alguma.

Olhava para a criança linda à sua frente enquanto tomavam o café, pensando em várias coisas e sentindo-se sempre impotente. A sua neta era tão linda, tão meiga... Não entendia como ela era assim já que a mãe fazia de tudo para manter uma certa distancia e não era muito adepta de demonstrações claras de afeto. Olhou mais uma vez com muita atenção para aquela menina cujas semelhanças com a mãe ainda que pouco evidentes lá estavam, os mesmos cabelos de um ruivo invulgar, a mesma expressão no olhar, a mesma teimosia. Sara tinha uma cor de pele linda e os olhos grandes e expressivos eram de uma doçura capaz de derreter qualquer avó. Sorriu e agradeceu a Deus ainda que em silêncio pela menina maravilhosa que estava à sua frente e rezou para que a filha não colocasse tudo a perder...

--Nani e a minha babá nova? Mais uma chata que com certeza vou detestar. -- Fez uma careta enquanto bebia mais um pouco de leite com chocolate.

--Amor, vou receber duas aqui no período da tarde, mas não vai poder conhecê-las porque hoje tem a tarde toda ocupada...

--Sim, tenho inglês e dança -- Interrompeu a sapeca garotinha.

--Pois, então, vou conversar com duas moças que vêm de São Paulo e depois decido quem é a mais preparada para tomar conta do meu tesouro. -- Ana piscou e Sara sorriu.

--Tomara que não seja chata como a Dona Marta -- Fez cara de desgosto e Ana quase riu, mas conteve-se para não dar crédito à neta.

--Prometo que vou prestar atenção a todos os detalhes e não vou escolher nenhuma chata... e Sara, vai prometer à Nani que vai fazer um esforço para gostar da babá...a sua mãe precisa muito te deixar em segurança e eu vou viajar.

A menininha a olhou com um olhar de adulta, parecendo entender exatamente o que aquilo tudo significava.

--Eu sei vó, a minha mãe só quer o meu bem... Vou gostar da babá desde que ela não seja velha e chata como a Dona Marta.

Ana não conteve o riso enquanto Sara a olhava com olhar desafiador.

--Velha sou eu Sara, a Dona Marta só era rígida... bom, na realidade parecia um general Alemão.

--Velha sim, e chata e preguiçosa. Nunca queria brincar comigo, nunca queria dançar comigo, andar de bicicleta então nem pensar e falava como uma coruja velha.

Ana não parava de rir da descrição da neta da última babá, a mulher realmente parecia ter saído de um filme de terror dos anos 30.

--Prometo que vai ser diferente dessa vez, as candidatas tem menos de 30 anos e vou prestar atenção a todos os detalhes importantes para ti. Agora vamos que senão perde a primeira aula e a tua mãe não vai gostar nada disso.

--Tenho de escovar os dentes e passar o meu perfume.

--Depressa amor, depressa.

Bom aqui começa mais uma Fic que por sinal é muito legal, adorei quando li espero que gostem tambem