Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Christian não conseguia acreditar que após mais de mês aquela moça linda de sotaque engraçado resolvera finalmente dar o ar da sua graça. Estava feliz que ela assim tivesse feito e mais feliz ainda porque iriam tomar um sorvete mais tarde. Ele levaria Thor e ela a menina de quem era babá, fizera questão de frisar que sem a menina seria difícil porque embora fosse sábado e ela tivesse direito a meio período de folga, a mãe estava ocupada. Christian não se importara, aliás adorara a idéia, já que era apaixonado por crianças. Queria fazer mil coisas para que o tempo voasse e chegasse logo o dia do regresso de Manfred e Angelique. Manfred era o seu companheiro, o relacionamento mais longo que tivera ate então, gostavam das mesmas coisas embora o namorado fosse muito mais requintado e culto que ele, alias sempre brincava que se o mundo fosse perfeito ele namoraria com a irmã Angelique, que compartilhava do mesmo requinte, gosto pela arte e etç, mas quis a vida que Angelique e Manfred andassem fora do compasso no quesito amor, a irmã também era gay. Lembrou-se com um sorriso nostálgico de como aquela constatação tinha sido um choque para o pai deles, um homem do Sul do Brasil e com ascendência Italiana, para ele era inconcebível que os dois únicos filhos jamais lhe dessem netos, a única problemática dele em relação à homossexualidade de ambos era a questão da procriação, já a mãe, uma baiana típica, tinha lidado sempre muito bem com toda aquela história, dizia que amava os filhos do jeito que Deus lhes tinha feito. Hoje em dia, o pai já não implicava tanto, e a mãe vivia dizendo que eles podiam ter filhos, Angelique, filhos biológicos e Christian poderia adotar, ou quem sabe uma barriga de aluguel...o pai achava tudo moderno demais mas a mãe sempre o convencia com aquele seu jeito manso de ser. Morria de saudades deles, que não abriam mão de morar na sua acolhedora cidadezinha do interior gaúcho.

Manfred e Angelique estavam em turnê pela América do Sul, ele coreografo e ela bailarina de um projeto novo e de muito sucesso. A irmã tinha um talento nato para a dança, e o fato do namorado ser um coreografo de sucesso, fez com que ele passasse mais tempo à espera deles do que com eles. Manfred nem sempre viajava, muitas vezes a companhia ia sem o coreografo principal, mas ultimamente estavam sempre na estrada, o que era muito bom, mas deixava-o com muitas saudades. Mas havia os longos períodos de ensaio entre um espetáculo e outro, os períodos de criação em que ele desfrutava ao máximo dos seus amores.

Anahi e Sara estavam atrasadas para o encontro com Christian. Ela tinha corrido para buscá-la no ensaio para o espetáculo que seria dentro de dias, mas as coisas estavam um pouco atrasadas e as professoras fizeram com que as meninas permanecessem mais tempo na sala. Anahi estava orgulhosa da sua pequena, ela estava a dançar muito bem, as horas de ensaio em casa surtiam o efeito desejado. A menina correu em sua direção e  Anahi quase morreu de felicidade, sabia que jamais faria qualquer coisa que magoasse aquela criança...pena que a mãe dela não pensasse da mesma forma. Entretanto decidiu que naquele dia lindo em que o sol brilhava além da conta não iria perder o seu tempo com bobagem, e no fim quem estava a perder muita coisa era Dulce...

A professora de Sara veio conversar com ela, estava visivelmente entusiasmada com os progressos da menina e sabia que tinha o dedo de Anahi, já que a técnica dela estava acima da média das demais e a pequena já lhe tinha dito que a sua babá a ajudava em casa.

--Já está quase tudo pronto Anahi, e sinto que será um sucesso. As mães estão em polvorosa com o sucesso das meninas. Acredito que na próxima sexta a mãe dela estará presente não é mesmo? É muito importante para Sara que a mãe esteja na platéia...

--Ela estará Helena, pode ter a certeza. Ela só não tem aparecido mais vezes (ela nunca aparecera na realidade) porque esta a finalizar um projeto muito importante. – Anahi não sabia porque teimava em defender as atitudes insensatas de Dulce, mas não era a primeira vez que o fazia, com a Sara era a mesma coisa...

--Vai ser um sucesso, e nossas meninas merecem.

Helena dera um beijo na face de Anahi e correra para acudir umas tantas menininhas cheias de energia como a própria Sara que saltara-lhe para o colo e a enchera de beijos.

--Any estou cheia de fome, não vamos encontrar com o teu amigo?

--Vamos sim meu amor, e já estamos atrasadas. Vamos correr pegar a bike e num instante lá chegamos e prometo que vai comer tudo o que quiser.

--Tudo mesmo Any? Posso comer um cheese burguer do Burguer King e um sundae do Mc Donalds? -- A menininha estava na ponta dos pés e mais linda do que nunca.

--Hoje pode tudo minha bailarina favorita, mas sabe que quem quer ser famosa dançando não pode comer essas coisas, não sabe?

--Unrrum, sei sim, mas eu nunca como essas coisas, sou saudável...mas hoje é sábado e se me deixar comer eu quero...

--Pode tudo meu amor, hoje ate eu vou comer um double cheese burguer.

Às gargalhadas desceram a alameda rumo ao Shopping onde tinham marcado com Christian.

A tarde tinha sido maravilhosa, Sara se lambuzara de sorvete e devorara um lanche do Burguer King. Brincara num parque dentro do Shopping enquanto os adultos conversavam e riam das suas artes. Thor tinha ficado aos cuidados de uma babá de cachorros e algum tempo depois buscaram-no e foram a um parque fora do estabelecimento comercial ao ar livre onde puderam correr e brincar à vontade.

Já passava das oito da noite e Anahi não conseguia convencer Sara a parar de brincar com o cachorro para poderem voltar para casa. Corriam pelo parque, ela subia em árvores, a menina era uma alegria só e não cabia a ela roubar-lhe aquele momento.

--Essa tua pequena é um doce, inteligente e divertida. Os pais dela devem ser especiais também.

--Na realidade ela só vive com a mãe...e sim ela é especial (que mentira, mas jamais falaria mal da patroa com pessoas estranhas, apenas se abria com Beth que era praticamente a irmã que nunca tivera, ou que jamais conhecera).

--Mas acredito que há muito mérito teu ai também, percebe-se pela vossa cumplicidade. Adorei a nossa tarde Any e adoraria repetir, o que acha de um jantar um dia desses? -- Os olhos de Christian brilhavam e Anahi receou que ele estivesse a fantasiar um romance, não estava pronta para romances.

--Claro, agora tem o meu número e podemos jantar sim, mas já sabe, só pode ser aos sábados. – Anahi sorriu e Christian pensou que a sua irmã adoraria conhecer aquela moça bonita, mas avisaria de antemão que a menos que estivesse muito enganado, ela não freqüentaria a cama dela.

Por já ser quase nove da noite, Christian ofereceu carona  e foi aceito imediatamente. Levar Sara para casa de bicicleta estando ela estafada de tanto brincar seria no mínimo perigoso.

A caminho da casa das suas amigas, Christian convidara  Anahi para freqüentar a sua academia que sem modéstia dissera ser uma das melhores da cidade. Anahi prometeu encontrar um tempo nos intervalos em que não estivesse a cuidar de Sara para malhar já que gostava muito e estava a precisar. E foi durante esse assunto que Christian disse que ela tinha um corpo perfeito e como conseguia se não malhava todos os dias. Anahi contou que dançara a vida inteira e que essa era a sua maior paixão. Naquele instante Christian percebeu que eles definitivamente tinham de se encontrar na vida...Manfred e Angelique adorariam Anahi.

Dulce estava às escuras no seu quarto, tinha muita dor de cabeça, mas entretanto assim que ouviu um carro à porta de casa correu para ver quem era. Viu um homem que lhe pareceu bastante atraente descer do carro e ir para a porta traseira tirar a bicicleta de Anahi e logo de seguida ela desceu e abriu a porta de trás e pegou a Sara no colo. Eles beijaram-se de forma cordial e ela ficou à porta de casa até que o carro do amigo sumisse por baixo da colina em direção à entrada do condomínio.

Anahi estava feliz por conhecer uma pessoa diferente e bem-humorada como era o Christian. Adorava passar o seu tempo cuidando de Sara, das coisas dela, ensinando-lhe coisas novas todos os dias, mas também tinha necessidade de fazer coisas para o seu próprio prazer, e se pudesse levar a menina junto como tinha acontecido naquela tarde melhor ainda.

Estava deitada no quarto da pequena que quisera ouvir uma história nova, que com gosto lera até ela dormir. Olhou para o rostinho lindo daquele anjo e questionou-se porque tudo era mais importante para Dulce do que passar uma hora que fosse com a filha, vê-la crescer, descobrir coisas. Suspirou com desânimo e desistiu de entender a cabeça daquela mulher louca, sim ela só podia ser louca, mas até onde fosse possível ia proteger Sara das suas loucuras. Pensou em Ana e na falta que fazia com a sua jovialidade, mas ela estava a divertir-se pela Europa e ainda demoraria um tempo para aparecer, até porque ela morava em Curitiba e só vinha a Santos para socorrer a filha quando ninguém mais o podia fazer. Deu um beijo na bochecha rosada de Sara, subiu um pouco mais o cobertor e deixou o quarto numa meia-luz para que a pequena não se assustasse se acordasse para ir ao banheiro.

Passou perto do quarto de Dulce e escutou a voz dela quase em sussurro ao telefone, ela estava em casa e nem se dignara a dizer olá à filha. "Idiota" -- Pensou Anahi enquanto descia as escadas rumo ao andar de baixo. Tomou um banho rápido e se enfiou debaixo das cobertas. Pensou em Christian, tomara que ele não estivesse a fantasiar a possibilidade de um romance, ela não tinha cabeça para nada assim naquele momento. Ele tinha sido gentil e muitas vezes percebera um brilho mais intenso no seu olhar enquanto descobriam algo em comum, mas não queria alimentar nada. Ela tinha quase certeza que não seria feliz no amor, sempre que amara era carregado de sofrimento. Sentiu um frio na espinha, lembrou do pai, da mãe, do seu melhor amigo que simplesmente fora embora deixando-a sem chão, de Beth que se mudara para o Brasil quando mais precisava dela, da sua avó que vivia longe...de Johan. Tudo acabava sempre de uma forma quase trágica...ela sempre ficava sozinha, diria Beth que era o seu destino, então que assim fosse, e como não queria mais sofrer com a perda não permitiria que ninguém se aproximasse alem da conta.