Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Maite entendia que a amiga tivera de assumir responsabilidades muito sérias para a cabecinha avoada que tinha ate tudo mudar, mas não concordava com a forma como ela agia nos últimos tempos. Dulce só trabalhava, não via mais nada à sua frente, nem a filha maravilhosa que havia gerado. Ela sempre que questionada sobre as atitudes, respondia que era a única provedora da sua família e que não queria que nada jamais faltasse à sua pequena. Exagero e tanto, mas quem iria convencê-la disso? O pai de Sara, embora não estivesse presente na vida da filha, lhe mandava uma mesada mais do que suficiente todos os meses, mas nesse dinheiro Dulce não mexia, queria que fosse Sara a dar um destino a ele, quando crescesse e tivesse maturidade.

Há pouco tempo atrás descobriram que o pai tinha um seguro milionário em nome dela e da mãe, com ele deu para comprar a linda casa onde moravam, deu para a mãe ter uma tranqüilidade ate o dia da sua morte e para a Sara ter os seus estudos garantidos nas melhores escolas até se formar. Dulce dera uma pausa na correria que era a vida dela? Não, claro que não, corria até mais...Maite tinha medo que um dia ela se arrependesse de ter deixado de viver, mas não conseguia manter uma conversa amena com a amiga e mostrá-la que coisas talvez pequenas aos olhos dela, mas muito importantes como dar atenção à filha, amá-la e demonstrá-lo, deixar-se apaixonar por alguém que valesse a pena estavam cada vez mais distantes da vida dela.

Num dos raros momentos daquele dia atribulado em que puderam sentar relaxadas para degustar um café, Maite iniciou um diálogo extra laboral com a amiga:

--Dul, tem visto a Bárbara?

--Não, por quê? -- Dulce não demonstrara o menor interesse ao ouvir o nome da ex namorada.

--Outro dia ela ligou para cá aflita atrás de ti...acho que era algo relacionado a um desfile no rio, sei lá, não entendi bem...

--Sei, ela conseguiu falar comigo ao celular...queria que eu me abalasse daqui para o Rio para o Fashion Week, segundo ela haveria muitos contatos bons...só que agora se eu conseguir mais um projeto eu enlouqueço e te levo junto...estou cansada Mai.

--Eu sei Dul, dá para ver pela tua cara, mas vai melhorar, assim que entregarmos o projeto do hotel vamos ficar mais relaxadas. -- Maite sabia que a amiga nunca relaxava, era viciada em trabalho.

--E a Sara, como está? Linda como sempre?

--Linda a minha filha, ando tão sem tempo para ela...eu sei que ela vai ter um espetáculo de dança um dia desses, só espero que não seja ainda essa semana porque será impossível assistir. Estamos quase a enlouquecer aqui...

Maite ainda ficava pasma com a negligência de Dulce em relação à filha. A menina simplesmente era educada por uma babá que segundo Dulce era ótima, mas será que era mesmo? Será que ela não se convencia disso para aliviar a culpa por não dar a mínima atenção à única filha. Maite ficava cada vez mais preocupada...em pouco tempo Sara seria uma adolescente com a rebeldia característica da fase e ai nada mais poderia ser feito. Certa vez tentara questionar a amiga sobre a forma como educava a filha, ela numa resposta lacônica dissera que a filha não seria idiota como ela tinha sido e que cresceria independente. Como ela estava equivocada...um milagre precisava acontecer na vida de Dulce antes que fosse tarde demais.

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Anahi saíra voando da academia, estava atrasada para pegar Sara do último ensaio antes do show que seria no dia seguinte às 5 da tarde no teatro Municipal. Aproveitava a parte do inicio da tarde em que a menina sempre tinha uma atividade, fosse dança ou aula de inglês e fazia musculação e yoga na academia de Christian que era sem duvida bem equipada e com profissionais de primeira. Christian era personal trainer e sempre dava dicas de postura para Anahi. A amizade entre eles fluía naturalmente e naquele sábado jantariam juntos mais uma vez e Christian já avisara que teria uma surpresa.

Anahi nem tivera tempo de pensar no que poderia ser tamanha era a sua ansiedade para chegar a tempo e não deixar Sara sozinha. A academia era no canal 6 e a escola dela no 3,indo pela ciclovia da praia não demoraria muito a chegar, mas havia uma manifestação qualquer pela avenida da Praia e estava tudo interditado. Teve que ir por dentro mesmo e conseqüentemente levou mais tempo. Chegou quando a maioria das crianças já tinha ido embora, mas Sara brincava tranquilamente com mais duas meninas cujas mães tinham sido retardatárias como ela.

--Oi meu amor, desculpa o atraso, não volta a acontecer.

--Relaxa Any, o importante é que está aqui, e sempre está. Estava brincando com a Giovanna e a Cecília, elas vão estar no meu ato na dança, sabia?

Anahi amava aquela menina que de tanto estar sozinha, sem a mãe, estava a ficar adulta antes da hora.

A coordenadora do grupo de dança de Sara pediu para falar com Anahi e elas foram para uma sala no primeiro andar enquanto as pequenas continuaram a brincar no térreo.

--Anahi, como sabes, o espetáculo de dança é amanhã e queria saber se a mãe da Sara estará presente. Desculpa-me perguntar isso a ti, sei que é apenas a babá da menina, e logo não tem responsabilidades sobre a mesma, mas é muito mais fácil falar contigo.

Anahi não sabia o que responder, há dias que não via Dulce em momento algum. Ela saia cedo e voltava de madrugada. Já estava a ponto de explodir com aquela situação, mas não poderia demonstrar o seu descontentamento perante aquela criança já tão fragilizada. Sabia que Sara sofria com a ausência constante da mãe, ela criara um escudo protetor para lidar com aquilo, mas Anahi via claramente que ela sofria. As perguntas que fazia, o fato de ser tão apegada a ela, já até a tinha surpreendido a chorar numa noite em que a mãe simplesmente ligou dizendo que não voltaria para casa porque tinha que ir correndo à Argentina mas que regressava em dois dias no máximo. Louca, aquela criatura era completamente louca.

-- Acredito que ela vem, não posso dar certezas, mas acho que vem sim...-- ela estava com vergonha pelas atitudes da outra.

--Anahi, eu sei que não tem nada com isso, e acho que já faz muito mais daquilo que lhe compete, mas essa ausência da dona Dulce na vida acadêmica da Sara já está a causar efeitos negativos. Ela está distante nas aulas, quer as curriculares quer na dança, acredito que ela só não esta pior porque a ajudas, sei disso porque a coordenadora da escola já me disse que ela mesma tinha dito que tu a ajudavas nas lições de casa. Entendo que a mãe tenha que trabalhar muito, mas as nossas crianças são todas filhas de gente que trabalha muito, a maioria é filha desse pessoal que trabalha no petróleo e eles estão sempre a viajar mas salvo raríssimas exceções, nenhum é tão relapso como a dona Dulce...desculpa, sei que isso não é problema teu. -- A senhora via claramente o constrangimento de Anahi.

--Ela virá, acredite em mim.

Anahi não sabia o que teria de fazer, talvez até perdesse o emprego e o contato com aquela criança que mesmo sem saber lhe tinha devolvido algum gosto pela vida, mas Dulce estaria presente no espetáculo da filha.

Mais uma vez e para não variar, passaram o resto do dia sozinhas, ou melhor elas e Júlia que antes de ir embora pediu à Anahi que tivesse mais paciência já que numa conversa percebera que a colega e amiga estava a ponto de chutar o balde em relação à patroa. Até a hora de dormir, Sara ainda contava com a chegada da mãe para que pudesse lhe contar que já estava fera na dança e que arrebentaria no dia seguinte, mas mais uma vez teve que adiar o encontro.

Anahi tentava dormir mas sem sucesso. Estava cansada, mas era mais cansaço mental do que qualquer outra coisa. Já estava com dor de cabeça de tanto pensar no que levava alguém a agir como Dulce em relação à filha, aquilo chegava a ser doentio. Das poucas vezes em que as vira juntas, sentira que ela amava a criança, à sua maneira, mas amava e no entanto agia daquela maneira...um tempo depois conseguiu adormecer. Era uma e meia quando ouviu as chaves de Dulce na porta de entrada da casa...ela tinha saído antes das 9 de casa, foi a última coisa que pensou antes de adormecer novamente.

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Anahi tinha deixado uma Sara animadíssima  na escola, já que chegara o grande dia e agora estava a caminho da confecção onde pegaria as roupas que ela usaria logo mais. Meia hora mais tarde estendia as roupinhas da sua pequena em cima da cama e com orgulho já a imaginava dando um show logo mais.

Desceu para tomar café, certa que estaria sozinha já que Júlia saíra para as habituais compras de sexta-feira. Guardava a louça que acabara de usar quando sentiu o perfume de Dulce e percebeu que ela ainda estava em casa.

--Bom dia Anahi. Não tenho tempo nem para tomar um café, hoje acordei mais tarde e já estou atrasadíssima. O Helicóptero chega em 10 minutos e ainda tenho de dirigir até ao heliporto.

Anahi estava de costas e assim permaneceu apenas dando bom dia por uma questão de educação.

Dulce tomou um copo de água e estava deixando a cozinha quando disse:

--Hoje vou chegar mais tarde porque tenho um cocktail depois do trabalho...

--Mais tarde do que à uma da manha? -- Anahi a interrompeu a um passo de enlouquecer.

Dulce não entendeu a pergunta, mas mesmo assim respondeu:

--Não, o cocktail é às sete, devo chegar umas 10 horas no máximo e amanha terá o dia inteiro de folga e mais o domingo -- Dulce sorriu mas ficou estática tão logo Anahi virou em sua direção.

--A Sra. enlouqueceu de vez Dona Dulce? -- Ela estava a gritar e completamente exaltada.

--Como se atreve a falar assim comigo? -- Dulce tinha ficado surpresa a ponto de deixar a sua pasta de trabalho cair ao chão.

Anahi já estava à frente dela e completamente transtornada gritou mais uma vez:

--Louca, demente e insensível é isso que a senhora é. -- Bateu com as mãos na parede, passou por Dulce e deixou a cozinha.