Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Anahi e Manfred se deram tão bem que Christian fingiu um ataque de ciúme para chamar a atenção do namorado que só tinha olhos para a conterrânea. A pseudo birra dele terminou numa gargalhada conjunta. Anahi estava feliz, aquelas pessoas eram agradáveis e a acolhiam com um afeto que poucas vezes sentira na vida, ou melhor, que há muito não sentia, ainda mais vindo de pessoas que tinha conhecido há tão pouco tempo. O que a surpreendia mais e pela positiva, é que ninguém jamais tentou se imiscuir na sua vida, saber o porquê de ter vindo para Santos, ninguém perguntava como uma bailarina com o talento que era claro que tinha, trabalhava como babá...eles apenas a aceitaram no seu ciclo como uma amiga, se ela quisesse falar da sua vida, tudo bem, se não quisesse também não haveria problema algum. Ela decidira se abrir ainda que em termos com Christian que afinal tinha sido seu primeiro amigo em Santos. Ele limitara-se a ouvir a história dela e no final a abraçou e disse que ela era uma mulher e tanto e que tinha orgulho em ser seu amigo.

Ela estava encantada com aquele lugar, desde que chegara a Santos ainda não tinha tido tempo para relaxar e curtir coisas sozinha, ou com amigos. Saía de vez em quando com Christian, Angelique e mais alguns amigos deles, mas sempre para restaurantes, espaços fechados e ela adorava a natureza. Nesse ponto sentia saudades da Alemanha, dos lagos, de pescar, de esquiar, dos castelos, ela adorava castelos...lembrava do pai que sempre a contava histórias de castelos e suas princesas...lembrou dos pais e uma saudade avassaladora tomou conta do seu peito. Mas dessa vez foi diferente, ela não veio acompanhada de dor e sim apenas como uma lembrança boa. Tinha saudades da avó, mãe de seu pai, uma senhora no auge dos seus 70 anos, mas lúcida e cheia de vida e força. Ela tinha enviado um email dizendo que regressaria a Munique, depois de anos vivendo em Hamburgo. Não sabia das vicissitudes que a neta enfrentara, Anahi não quisera preocupá-la e alem do mais ela sempre acreditava e teimava em resolver tudo sozinha...a vida lhe ensinara que pedir a ajuda de amigos é um ato de enorme coragem. A avó achava que ela tinha deixado a Alemanha para curar o coração...não deixava de ser verdade, mas a cura ia além do coração, ela sentira-se completamente partida.

Agora, meses depois, tudo começava a ficar meio embaçado, longe, as dores já não a feriam tanto, as lembranças de episódios menos bons ficavam cada vez menos recorrentes...Beth, seu anjo numero 1, saudades dela. Teria de visitá-la em São Paulo. Nunca achava tempo porque o seu anjo número 2 a absorvia completamente. Sorriu e sentiu um calor no coração ao lembrar da sua schatzie. Aquela menina era especial, definitivamente. Muitas vezes Anahi se perdia nas suas dores e era necessário apenas um sorriso daquela pequena para tudo lhe parecer insignificante. Queria que estivesse alí com ela, com certeza não pararia um minuto e ao final do dia estaria cansada, mas feliz...pensou na mãe do seu anjo...esse era um pensamento que lhe causava emoções que não entendia...já a odiara, já sentira muita raiva, mas ultimamente não sabia exatamente o que sentia. Talvez estivesse a aprender a gostar dela, um sentimento era claro, admiração. Dulce era admirável, ela errava, mas reconhecia o erro e tentava consertar, qualidade louvável. Anahi sorriu ao lembrar de como ela ficava aflita com medo de errar em relação a Sara e como pedia a sua ajuda de forma às vezes quase infantil...aquela mulher que parecia dominar tudo, entender de tudo, aquela mulher impactante, sendo quase infantil era algo que a deixava feliz...ela na realidade não sabia bem o que sentia em relação à sua patroa...lembrou do arrepio na espinha que tivera no dia em que ela aparecera no quarto de Sara a meio da madrugada e com um brilho nos olhos que jamais vira tocara seus braços...o arrepio voltou apenas com aquela lembrança...não sabia o que era, apenas que era bom...Dulce fazia questão de a tratar com cordialidade mas sem muitas aproximações e ela agradecia por isso...não queria ficar ansiosa à espera daquela sensação de arrepio bom na espinha...

--E minha bailarina favorita está a pensar em quê? No gato dos sonhos? -- Angelique a arrancou dos seus pensamentos.

--Gato dos sonhos? Pode ser... -- Riu de si mesma por ter estado a pensar não no gato dos sonhos, mas na mãe de Sara e que não era nada mais, nada menos do que a sua patroa e uma mulher...engraçado é que aquele fato, ser mulher, não a causou qualquer estranheza...

--Oh, essa é a minha gata que acabou de chegar. O nome dela é Liv e pode babar, eu deixo. -- Risos. -- Mas Angelique tinha razão, a mulher de presença forte que estava ao seu lado era lindíssima.

--Muito prazer. -- Disse Anahi enquanto a beijava na face.

--Pronto, agora minha diversão está garantida, duas mulheres lindas e que falam um português com sotaque sexy e que carregam no R, tirei a sorte grande. Ah, a Liv é Sueca e bailarina.

--Gata mesmo amiga, mas também desde que te conheço já te vi com umas três mulheres e todas muito lindas. -- Anahi riu com a cara de desespero que Angelique fez.

--Não queime o meu filme amiga, essa é ciumenta e estou muito a fim, se ela sabe que tenho um passado tão condenável já era...e olha sei que não presto, mas essa me deixou de quatro. –Angelique dissera quase em segredo no ouvido de Anahi enquanto Manfred e Christian faziam um sanduíche da Sueca.

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Anahi era a única solteira do grupo de amigos, mas em momento algum sentiu-se só. Christian e Manfred estavam sempre por perto e era bom demais conversar com eles. Angelique, quando não estava com a Sueca maravilhosa aos beijos e amassos, também era só carinhos com ela. Anahi, ainda que discretamente, observava as demonstrações de carinho entre a amiga e a namorada. Muitas vezes as coisas chegavam a um ponto de erotismo que ela desviava o olhar envergonhada, mas não incomodada, na realidade estava curiosa com aquelas cenas. Parecia que elas sentiam um prazer absurdo...sentiu tanto calor que resolveu se refrescar na piscina.

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Dulce e Maite tomavam uma taça de vinho na varanda do hotel onde estavam hospedadas na praia de Pernambuco no Guarujá.

--Mai, para quem veio disposta a caçar um exemplar masculino no Guarujá a senhorita está muito pacata. –Dulce riu da cara de derrota da amiga.

--Esse lugar está meio caído Dul, não vi nada de interessante...

--Não viu ou não procurou? Quer saber? Eu acho que não quer outra pessoa...insiste na idéia do almofadinha metido a galã. -- Dulce riu e a amiga murchou.

--Hummm, pode ser, mas deixa esse teu lado psicóloga para lá e vamos beber. E outra, quem é você para me apontar o dedo do encalhamento? -- Sonoras gargalhadas.

--Eu não estou à procura meu bem, e nem vivo bradando aos quatro ventos que vou pegar todas.

--Para você é fácil Dulce, as mulheres fazem fila na tua porta...

--Nem tanto, não exageres...

--Exagero? Olha se não estivesses nesse teu momento celibato, com certeza já terias ficado com várias...se bem que a senhorita é metida e escolhe demais...ah umas com tudo e outras só na migalha. -- Risos.

--Eu te adoro Mai! -- Disse Dulce sorrindo com sinceridade.

--Agora mudando de assunto radicalmente ou nem tanto...Dulce, pela primeira vez eu tenho que concordar contigo, Dona Ana é totalmente sem noção.

--Por quê? Não entendi...

--Como é que ela tem a idéia de colocar uma mulher como a Anahi de babá da Sara?

Aquele nome a fez remexer-se na cadeira.

--Como assim?

--Dulce minha amiga, ainda bem que tu és esse poço de seriedade e sei que não deve passar pela tua cabeça dar em cima da babá, mas amiga, confessa, é difícil. -- Maite a provocava mais por brincadeira, sabia que Dulce não misturava as coisas. -- Eu fiquei pasma com as pernas da mulher, celulite zero, lisinhas, morenas, duríssimas e femininas...aqueles olhos que parecem que pedem carinho, aquela boca provocante, aqueles cabelos selvagens...imagino a barriga que deve ser lisissíma, haja controle...

--Maite quando é que começou a gostar de mulher e eu não percebi?

Maite não controlou o riso. A cara da amiga era impagável.

--Não gosto Dul, quer dizer nunca experimentei e nem tenho coragem, mas vai me dizer que a babá não é gostosa?

--Não sei...

--Ela desfila de madrugada pela tua casa de calcinha e top?

--Para Maite! -- Aquela imagem deixou Dulce levemente excitada. -- Ela é a babá da minha filha e exijo respeito.

--Mas eu não desrespeitei ninguém...apenas disse a verdade...Anahi é lindíssima...pena que é babá da Sara.

--Pena nada, graças a Deus!

--Confessa aí Dul, ela é gostosa...vai, admita.

--Ok, Mai, ela é sim gostosa, linda e maravilhosa, mas é a babá da minha filha e é nisso que tenho que me focar...

--Hum então a senhorita admite que já pensou na babá em situações menos inocentes...

--Não é nada disso Maite...apenas tenho olhos para ver e quer saber, acho que ela tem medo de mim...receio talvez...deve ter ouvido por aí que sou lésbica e às vezes, poucas vezes em que a toco ela fica incomodada, tanto que evito qualquer toque...é uma situação bizarra...tenho que me controlar para não ferir a susceptibilidade da minha empregada.

--Tudo em nome da felicidade de Sara...bonito esse gesto amiga.

--Sim, tudo pela Sara. -- "E também porque não quero magoar a Anahi em circunstância alguma". -- Mas isso ficou apenas no pensamento dela.

Seguiram tomando vinho e conversando pela noite dentro e as duas puderam relaxar do stress que era a semana em São Paulo.

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Christian deixou Anahi em casa perto das 11 da noite. Angelique queria que ela ficasse mais no jantar que tinha improvisado no apartamento do irmão, mas ela preferiu voltar para casa e descansar o corpo daqueles dias memoráveis, afinal além da semana habitualmente intensa com Sara, ainda teria de esquematizar uma forma de começar os ensaios da peça. Ainda não sabia como faria, mas encontraria a melhor solução...talvez tivesse que levar a schatzie para os ensaios...

Deixou a sua mochila no quarto, lavou o rosto que estava levemente ardido por causa do sol e subiu ao quarto de Sara para lhe dar um beijinho.

A menininha dormia tranquilamente abraçada ao seu boneco de estimação. Ao lado da cama tinha um livro de contos, provavelmente a mãe lera uma história para niná-la. Aquela possibilidade deixou Anahi feliz, há pouco tempo atrás tal fato seria impossível. Deu um beijo na bochecha de Sara e rumou ao seu quarto.

Meia hora depois de rolar na cama e não conseguir conciliar o sono, decidiu ir ao lounge ver o movimento no cais, aquilo sempre a acalmava. Antes de entrar no lounge certificou-se que estava tudo às escuras, não queria atrapalhar a sua patroa e nem ser impertinente. Entretanto para seu espanto, Dulce estava deitada num puff enorme que ficara fora do alcance do seu olhar, ela olhava as estrelas na noite de céu claro.

Elas se olharam e sorriram. Obviamente que não conseguiriam ouvir o bater do coração uma da outra, mas com certeza o batimento estava na mesma cadência.

--Ah, não quero atrapalhar...quer ficar sozinha?

--Não, senta aí...adoro a tua companhia. – Dulce estava ligada na emoção e aparentemente Anahi também, já que sentou no parapeito da sacada ficando de frente para a dona da casa.

Começaram por conversar amenidades, para quebrar o leve constrangimento inicial...da Anahi.

Dulce perguntou como tinha sido o final de semana dela na ilha Bela e Anahi feliz da vida começou a falar sem parar. Falou que amara o lugar, contou que tinha conhecido Manfred e que tinha adorado o namorado de Christian, seu melhor amigo em Santos. Falou de Angelique e das loucuras da amiga, contou o que tinha comido, os lugares que tinha conhecido. Passou no mínimo uma meia hora falando sem parar, e enquanto isso, Dulce apenas sorria e se encantava cada vez mais pela mulher à sua frente. Até que Anahi se deu conta:

--Ai Dona Dulce, eu aqui enchendo a cabeça da senhora...falo demais, me empolgo com as coisas que gosto... -- Anahi com aquela cara de envergonhada ainda faria Dulce cometer um ato de loucura...

--Posso ouvir-te falar a noite toda... -- Dulce estava completamente encantada.

--A senhora dormiria em dois tempos... -- Anahi não entendia o porquê daquele olhar brilhante de Dulce.

--Impossível Any...teu sotaque é cativante, a forma como mexe com as mãos para explicar alguma coisa...é simplesmente encantador. -- Dulce estava perdendo o controle ou o receio...

Olharam-se com intensidade, uma vontade quase incontrolável de tocar a babá sacudiu Dulce e parecia que ela também queria a mesma coisa, os olhos cor de mel  tinham ficado escuros de repente, brilhantes, sedutores...um apito de um navio que deixava o porto arrancou Dulce do seu momento de delírio a tempo de evitar um ato inusitado...beijar a babá seria com certeza um ato inusitado...

--Vou dormir Any...daqui a poucas horas começa mais uma semana de muita luta e preciso estar preparada para enfrentá-la. -- Disse isso já de pé. Despediu-se dela apenas desejando boa noite, não ousava se aproximar ou esqueceria a sua seriedade, a idoneidade e daria ouvidos apenas ao desejo ardente por aquela mulher...

Anahi ficou sentada na sacada vendo o movimento, feliz. O sono? Se estivesse difícil antes, agora seria impossível. Ela sentiu um movimento estranho na altura do seu estômago e colocou as duas mãos em cima daquela parte do corpo...a sensação era de mil borboletas batendo asas ao mesmo tempo...