Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Pouco depois das oito da manhã Sara já estava pronta à espera apenas que a mãe acordasse para lhe levar à casa da amiguinha. Não falava em outra coisa e Anahi já não sabia mais o que fazer para acalmar aquela ansiedade. Sabia que Dulce tinha ido dormir bem tarde, já que ela a tinha deixado no lounge passava das três da manha...se levasse em consideração que estava ligeiramente cansada poderia imaginar que a patroa só sairia do quarto perto do meio-dia. Precisava inventar alguma coisa para acalmar Sara e dissuadi-la da idéia de acordar a mãe, afinal essa era uma das suas tarefas. Piscina, claro. A menina adorava a piscina do condomínio e àquela hora provavelmente encontrariam outras crianças, assim ela se distrairia. Realmente Sara se divertiu e muito na companhia de outras crianças, Anahi mais uma vez ficou toda molhada já que as crianças nem tomaram conhecimento que ela estava a trabalhar e não poderia entrar na piscina. Por volta das 11, o sol já ia alto e ela levou a pequena para casa. Estavam na sala de tv assistindo a um desenho animado quando o telefone de Anahi tocou, era Beth.

--Será que vou ter de ir a Santos te seqüestrar Any? Estamos com saudades moça, e não agüento mais promessas, quero-te aqui hoje! -- Beth se fingia de brava, mas estava sim com saudades da amiga que nunca mais aparecera em São Paulo. Ficava feliz que as coisas tivessem entrado nos eixos com a patroa, mas queria usufruir da presença da amiga também, afinal considerava Anahi uma irmã e Bernard, seu marido, também adorava-a.

--Eu vou Beth, tens razão amiga...eu me meti aqui nessa cidade e esqueci do mundo. Só vou esperar a dona Dulce acordar, levar a Sara para a casa de uma amiguinha e pego um ônibus para São Paulo. -- Ela estava com muitas saudades da amiga, de conversar com ela...adorava os amigos que fizera em Santos, mas havia particularidades da sua história que só Beth conhecia...já se sentia melhor, aliás já pouco pensava nas coisas que vivera, mas queria conversar com a amiga...

--Não dá para vires para o almoço?

--Hummm, acho que não Beth...minha folga começa a partir do meio dia, mas a dona Dulce ainda nem acordou...mas eu vou, antes das 3 eu chego, prometo.

--Já te comprei uma roupa linda, presente -- Risos -- Vamos a um jantar de uns amigos do Bernard, e depois para a inauguração de uma balada, coisa de primeira e estou louca para dançar contigo Any, como nos velhos tempos... -- Mais risos.

--Doida! Vamos sim, dançar muito...eu não danço há tanto tempo...ah tenho uma novidade para te contar, em relação à dança, mas falo pessoalmente...

--Conta logo Any, sabes que sou ansiosa...

--Daqui a pouco chego em São Paulo mulher, segure essa ansiedade...-- Mais risos.

--Ah, eu vou te apresentar a uns amigos do Bernard ok, um em especial...lindo, solteiro, sensível...

Anahi riu muito, Beth não desistia de tentar arranjar-lhe um namorado...algumas lembranças algo dolorosas tentaram ganhar força na sua mente mas ela não permitiu.

--Sei, e se eu te disser que não estou interessada...

--Ah, conheceu alguém em Santos? -- Beth era pura empolgação.

--Não...eu quase não saio, como vou conhecer alguém?

--Por isso precisa vir para a capital de vez em quando...tu és linda minha amiga, precisas de companhia, vamos nos divertir muito.

--Ok, eu vou! Agora deixa eu ver o que minha pequena está a aprontar. Beijo Beth e até mais tarde.

Sara estava no quarto colocando mais brinquedos na mochila, Anahi sorriu e aproveitou que ela estava ocupada e foi arrumar as suas coisas já que queria partir logo para São Paulo.

Não se contendo mais, Sara foi acordar a mãe e Anahi não teve mais como evitar, afinal já era mais de meio-dia e a mãe de Cecília já havia ligado confirmando que partiriam às 14 horas.

Dulce se assustou com as horas, fora para o quarto às 6 da manhã e simplesmente apagara. Acordara bem-disposta e ficara melhor ainda ao ser paparicada pela filha com muitos beijinhos. Tomou um banho rápido e desceu para acudir uma mais que ansiosa criança.

Anahi e Sara já estavam do lado de fora à espera dela. Nem a babá de sua pequena que era um ás com crianças conseguira mantê-la dentro de casa. Sorriu ao ver Anahi tentando tirar alguma coisa de dentro da mochila de Sara que estava repleta e aparentemente pesada.

--Obedeça a Any mocinha. -- Dulce a olhou com cara de brava e resmungando ela tirou uma boneca de dentro da mochila.

--Agora sim! -- Anahi a olhou com ar de vitoria e a menininha a beijou.

--Any, quando vê que estou a dormir além da conta, pode pegar o carro e levar a Sara, não tem problema algum.

--Eu disse mãe, mas a Any não gosta de fazer nada que a senhora não goste...

--Dona Dulce, eu morro de medo de dirigir esse teu carro... -- Anahi sorriu e Dulce retribuiu.

--Mãe, a Any dirige muito bem, igual a ti.

As duas, mãe e filha a olharam e com mãos na cintura à espera que ela acatasse uma ordem velada, dirigir o carro se necessário fosse.

--Ok! -- Riu muito e se deu por vencida. -- Schatzie divirta-se muito meu amor e já sabe, respeite tudo o que os mais velhos te disserem ok. --Beijou a menina que disse:

--Vem conosco Any. -- Disse Sara já segurando nas mãos da babá.

-- Não precisa Sara, a tua mãe te leva...

--Vamos Any? -- Perguntou Dulce com uma expressão no olhar que Anahi não conseguiu decifrar...quando deu por si já estava no carro rumo à casa da mãe da Cecília.

Regressavam a casa em silêncio quando o celular de Anahi tocou. Ela atendeu e sorrindo sempre dizia à pessoa do outro lado que estava quase a chegar...ria bastante. Um pouco depois desligou.

Dulce tinha a mente fervilhando. Dormira bem, acordara melhor ainda, mas estar ao lado de Anahi dentro daquele carro a deixava em estado de alerta, apreensiva, incomodada...não sabia bem ao certo, mas ficava nervosa e muitas vezes agia no impulso...justo ela que sempre tentara controlar tudo, principalmente os seus sentimentos...Mas com aquela mulher...

-- Any, tem um restaurante novo de comida árabe que abriu no Gonzaga e estou com vontade de conhecer...queres ir jantar comigo hoje à noite? Eles só abrem à noite... -- Não pensava, ao lado dela simplesmente não pensava, agia no impulso, embalada nas vontades do coração...

Anahi a olhou incrédula...convite para jantar? Será que já imaginara algo assim...não, claro que não...quase disse sim, chegou a abrir a boca para dizê-lo, mas lembrou de Beth, do compromisso que assumira com a amiga...

--Que foi Any? Sou tão péssima companhia assim? -- Dulce tentava brincar, mas ficara incomodada com a cara de espanto da babá... Será que estava a exagerar? Será que Anahi achava que aquele convite tinha segundas intenções? Será que tinha? Nem ela sabia, já que não pensava...

--Não dona Dulce, não é nada disso...eu adoraria jantar com a senhora, mas é que vou passar o final de semana em São Paulo. -- Terminara a frase num fio de voz.

--Ei Any, já te disse que às vezes eu me sinto uma carrasca...

--Não é nada disso dona Dulce...-- Interrompeu-a nervosa.

--Tudo bem Any, é a tua folga e tens todo o direito de ir a São Paulo ou a qualquer outro lugar...foi apenas um convite, não foi uma ordem moça, tudo bem? -- Dulce a olhou com aquela meiguice no olhar que a deixava inquieta.

--Só porque assumi com a Beth antes... -- Ela não continuou a frase, calou-se porque não entendia o porquê daquele desalento.

Dulce sorriu, parecia que ela entendia bem o que se passava na cabeça da babá...será que entendia mesmo?

Resolveu mudar de assunto já que aquele terreno era bastante sinuoso e não sabia como desbravá-lo...ainda...

--Quer que te deixe no ponto de ônibus para São Paulo?

--Adoraria, mas deixei minha bolsa em casa...mas muito obrigada. -- Ela sorriu sem graça.

--Vamos buscar suas coisas então e eu te deixo...não sou carrasca moça...tenho minhas limitações mas sou boa gente. – Dulce sorriu e Anahi corou violentamente.

--Dona Dulce assim eu me sinto mal...não acho a senhora carrasca...apenas sei qual é o meu lugar...

--Que é?-- Ela a olhou com uma expressão diferente...Anahi não entendeu, ficou nervosa...não sabia o que responder...

--Que é de babá da sua filha. -- Respondeu num tom mais alto, deixando Dulce constrangida...mas ela não o fez por estar incomodada, foi mais para tomar consciência do seu papel naquela historia...já se perdera muitas vezes em eloqüências... já se sentira parte daquela família e não passava de uma babá...

Dulce dirigiu em silêncio até a casa, deu um sorriso circunstancial à mulher ao seu lado e prestou atenção ao tráfego. Precisava se controlar, precisava lembrar que a sua relação com Anahi era apenas profissional...desde quando convidara outras babás para jantar? Desde quando partilhara detalhes íntimos da sua vida com babás? Desde quando sentira uma vontade quase incontrolável de ser abraçada por outras babás? Desde quando desejara outras babás? Jamais! Mas aquela menina a encantava, instigava, intrigava...quase enfeitiçava com aqueles olhos azuis, Seguiria o conselho de Maite e partiria para a "caça", termo dela, precisava sim sair com mulheres, muitas, precisava mudar o foco, trabalho sim, sempre, mas prazer também, uma coisa não excluía a outra. Lembrou do convite de Bárbara para uma balada nova em São Paulo, declinara alegando cansaço, mas decidira que iria. Maite também estava empolgada e há muito que a amiga a convidava para uma noitada em Sampa. Precisava ressuscitar a Dulce sedutora cujo charme era irresistível. Sorriu e concluiu que só ficava delirando com a babá por estar sem transar a um tempo considerável...estava disposta a resolver aquela questão o mais breve possível.