Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

A semana não passava, se arrastava a passos de caracol. Os dias eram longos, Anahi cumpria sua rotina maravilhosa com Sara, ia para a academia ensaiar com Angelique que voltara mais elétrica do que nunca, dava mais atenção à pequena que sem a mãe por perto demandava mais afeto, coisa que ela fazia com o maior prazer, mas eram as noites que pareciam intermináveis.

Colocava Sara na cama à hora habitual, lia uma ou duas histórias conforme a vontade da pequena, ou a falta de sono, e depois ficava horas no lounge. Ouvia música, às vezes dançava até cair cansada, lembrava das carícias de Dulce e suspirava. Agora, em que estava sozinha, supostamente aproveitaria o tempo para colocar a cabeça no lugar, decidir o que fazer com aquele sentimento todo, mas era uma tarefa inglória. Ficava excitada cada vez que o telefone tocava, enlouquecia sempre que Sara aparecia à sua frente com o Ipad nas mãos dizendo que a mãe estava on line...e para piorar, Dulce telefonava para o seu celular quase toda a noite para contar do dia, das negociações, dizer onde estava, onde iria a seguir, e ao final sempre dizia que contava as horas para voltar...não havia racionalidade capaz de combater aquela explosão de sentimentos dentro dela.

Sempre que dizia a si mesma que Dulce queria apenas uma diversão com a babá sexy como ela mesma já se referira à sua pessoa, e que portanto não havia lugar para rompantes amorosos, acontecia alguma coisa que a deixava entorpecida...mas lá no fundo sabia que aquela história toda não tinha pernas para andar, mas iria até onde desse, queria saber o que era fazer amor com a sua patroa, nem que fosse uma única vez, mas queria explodir de felicidade...tinha essa sensação que explodiria em partículas de felicidade e plenitude nos braços de Dulce.

Divagava parte da noite e madrugada adentro, todos os dias era a mesma coisa, o importante é que no dia seguinte não se sentia cansada...a sensação era boa.

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Anahi acabara de regressar da rua. Deixara Sara na escola, resolvera algumas coisas pessoais, contas e etç, e agora estava ajudando Júlia com a preparação do almoço. Sara já comia quase tudo sem reclamar, mas ainda era preciso uns truques com a apresentação dos legumes e verduras.

Ela e Júlia sempre conversavam muito, a colega confiava-lhe suas preocupações, as dúvidas em como educar os filhos sozinha, já que o marido estava mais fora nas viagens do que com eles, seus medos...se davam muito bem.

Júlia era bem diferente de Anahi, embora soubesse bem o seu lugar, por exemplo, não se metia na vida da patroa, mas com a colega tinha à vontade suficiente para perguntar qualquer coisa, ainda que já tivesse notado que ela era um poço de discrição.

--Anahi, eu sei que quase não sais, mas nem nessa academia que freqüentas quase todos os dias ainda não apareceu um bonitão para te conquistar minha amiga? Gente, eu acho um desperdício de tempo, uma mulher linda como tu, e completamente sozinha.

Anahi sorriu e não disse nada.

--Ás vezes eu acho que você e a dona Dulce estão a fazer um concurso...

--Como assim? -- Aquele nome a deixava alterada.

--Ela também não namora ninguém há um bom tempo...parece que vocês estão a fazer um teste de resistência, quem agüenta mais tempo sem namorar...desperdício a meu ver, lindas desse jeito e sozinhas...

--Dona Dulce não namora há muito tempo? -- Aquele tema a interessava e muito, mas precisava manter um ar neutro, quase desinteressado.

--Há muito tempo Any, bom acho que não tem problema eu comentar isso contigo, mas não sei se já percebeste, mas a dona Dulce, ela...como direi...bom, ela não namora homens, como eu e você, ela gosta de meninas como ela...acho que o pai da Sarita foi o único homem com quem ela dormiu...acho, não tenho certeza...essas coisas modernas de hoje em dia, se bem que existem há muito tempo...então...já sabia?

--Unrrum...-- O interesse só aumentava.
--Para ti isso é normal? Claro, é uma moça moderna e ainda por cima da Alemanha...

--Por isso não meu bem, lá também tem preconceito...mas sim, acho natural que ela goste de mulheres.

--Então, ela é lindíssima, bem sucedida, mas não namora...acho que trabalha demais...a ultima que vi por aqui foi a doida da dona Bárbara, mas aquela não é mulher boa para a dona Dulce...--Ela parecia convicta do que dizia.

--Não? Porque?

--Eu não entendo muito dessas coisas, mas eu não via muito amor nos olhos delas, a dona Bárbara é muito de festas, aparece toda a hora na televisão, gosta de chamar a atenção...

--Totalmente diferente da dona Dulce. --Conclui Anahi.

--Completamente...Dona Dulce precisa de uma mulher que gosta das mesmas coisas que ela, que goste da Sara, dona Bárbara não tinha a menor paciência com a pequena e ela a detestava. Que goste dessas coisas de arquitetura que ela faz, ela adora falar sobre esse assunto que eu não entendo nada, uma mulher com paciência para aturar essa mania de trabalhar demais que ela tem, uma mulher que lhe chame à razão quando é necessário...uma mulher que desperte amor nela, muito amor...bonita também, claro, minha patroa é linda e merece uma mulher à altura...

Júlia desatou a rir, gargalhada mesmo e olhava para Anahi com um olhar indecifrável.

--Que foi Júlia? Qual o motivo dessa gargalhada toda?

--Não me leve a mal colega, mas sabe o que eu acho? Que se você gostasse de mulher, seria a mulher perfeita para a dona Dulce. -- Júlia soltou mais uma gargalhada diante da reação de Anahi, ela simplesmente se engasgou num copo de água.

--Júlia, não delira...que dia que dona Dulce ia prestar atenção numa pessoa como eu...e ainda por cima babá...-- Na realidade ela queria saber a opinião da colega sobre aquele assunto.

-- Ela normalmente namora essas mulheres de revista, meio artificiais...cheias de talentos, famosas...mas sei lá, não convence...não vejo a cumplicidade que tenho com o meu marido, não vejo amor, não vejo comprometimento, entrega...nada...olha vou te dizer uma coisa, eu jamais vi essa sintonia que existe entre vocês duas com essas mulheres que ela namora...ela te respeita Any, tu a admira que eu sei, eu vejo, ela te trata bem, confia em ti...isso não é base para muita coisa?

--Amizade, claro! – Anahi estava pensativa, Dulce namorava mulheres famosas...e ela quem era? Ninguém...

--Sim, também...mas todo o amor que se preze, começa com uma boa e forte amizade...imagina se ela se apaixona por ti Any? Acho que se continuar sem namorado e com essa falta de interesse, se dona Dulce se apaixonar por ti, em dois tempos esquece os homens e mudas de foco. -- Muitas gargalhadas, mais de Júlia ante aquele ar incrédulo de Anahi.

Na realidade ela ficara mais pensativa ainda..." O que será que ela quer de mim? Sexo, claro...

Conversaram mais um bocado, Júlia sempre fazendo conjecturas improváveis, e Anahi apenas ouvindo e se entristecendo à medida que percebia que jamais poderia fazer com que Dulce se apaixonasse por ela, paixão para valer, amor...nunca.

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Sexta-feira, finalmente chegara o final daquela semana em que o tempo parecia ter parado. Anahi estava mais cabisbaixa ainda, já que, com autorização prévia de Dulce, Sara dormiria em casa da amiguinha Cecília, ou seja, ela ficaria sozinha naquela casa enorme, ela e seus pensamentos nada coerentes.

Segundo informações da patroa, ela chegaria no sábado a meio da tarde, mas poderia haver atrasos...

Apesar de adorar dançar e de estar apaixonada por aquele entrosamento todo com Angelique e de acreditar piamente que aquela peça seria sim um sucesso, seus pensamentos estavam tão longe daquela sala de ensaios que sua parceira percebeu de imediato.

--Ei gostosa, onde estás? Já erraste cinco vezes esse número que fazíamos de olhos fechados? -- Perguntou Angelique meio preocupada, já que Anhai era focada e muito disciplinada...ela estava com algum problema.

--Desculpa Angelique, vamos fazer de novo e prometo me concentrar mais. -- Ela estava desolada, mas a cabeça não obedecia ao corpo.

--Não, tenho uma idéia melhor. Já que temos algum tempo até a estréia do espetáculo, vamos parar por hoje e tomar um suco e conversar um pouco, o que achas?

Anahi  sorriu e anuiu, precisava mesmo conversar com alguém ou enlouqueceria...só não decidira se contaria tudo o que estava perturbando a sua vida, mas precisava sim falar com alguém e  Angelique era a pessoa certa.

Meia hora depois, duas mulheres sorridentes se sentavam no deck para conversar.

--Não me diga que é aquela deusa chata que está a perturbar a tua vida?

--Hã?

--A maravilhosa lá da tua patroa...ela está a importunar-te?

Ai se Angelique soubesse...

--Não, meus problemas não tem nada a ver com a dona Dulce...

--Sim, até porque ela está viajando o que deve ser um bálsamo para ti não é Any? Ficar livre, tomando conta da pequena que é um amor e sem a pressão da outra...vamos combinar que o que aquela mulher tem de deliciosa, tem de chata...mas e então amiga, o que te perturba? -- Angelique com aquele ar de "nada me perturba, a vida é bela" deixava Anahi mais tranqüila para falar...

--Nem sei como te contar...acho que nem vais acreditar... -- Ela estava nervosa.

--Ohhh wow, a séria Anahi aprontou? Já estou amando, vai conta tudo e não omita um átomo do assunto. -- Pura empolgação.

--Ok...hummm, acho que estou interessada por uma...

--Uiiiiiiiiiiii, algum gato te fisgou linda? -- A frenética interrompeu Anahi.

--Mulher!

--Como? Não entendi...

--Estou interessada por uma mulher! --Morta de vergonha.

Gargalhada sem se importar com o resto do povo que freqüentava o Deck.

--Ah meu Deus quando digo que esse mundo é totalmente gay...conta tudo Any, tudinho.

--Ah, não sei...estou encantada...curiosa...com medo...

--E quem é essa mais competente do que eu que conseguiu te convencer a ultrapassar a fronteira? -- Mais risos. -- Só aceito se for muito gostosa, tipo irresistível...