Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce era o centro de todas as atenções, dava entrevista a revistas especializadas, jornais e até para uma cadeia de televisão que fazia um documentário sobre arquitetura sustentável.

Ela mal tivera tempo de dar atenção à família, mas a festa era dela e a família estava feliz pelo seu feito.

Sara, admirava a mãe e não parava de dizer que ela era a mais linda do evento, opinião que Ana e Anahi também compartilhavam.

A presença de Liana ao lado de Dulce era tão notória que Sara percebeu e quis saber quem era a moça:

--Any, quem é aquela moça que está sempre ao lado da minha mãe? Eu conheço todas que trabalham com ela e aquela lá nunca vi.

--Não sei schatzie...deve ser nova na empresa...--Disse intrigada, já que a mulher belíssima não desgrudava de Dulce.

--Ela é bonita não acha Any? Gostei do sapato. -- Riu a menininha vaidosa e que adorava sapatos.

--Sim Sara, ela é muito bonita. -- Disse Anahi completamente incomodada e algo triste sem saber ao certo porquê.

Dulce, Maite e Liana estavam numa conversa interessante já que não paravam de rir e Liana aproveitava o momento de descontração para ficar mais próxima da nova colega, tocar nela, elogiar. Aliás elogio era o que mais tecia em relação à Dulce e ela gostava cada vez mais de ser admirada por uma mulher tão talentosa quanto Liana...só que havia um interesse maior, que ela ainda não tinha percebido.

Anahi, ainda não tinha conseguido chegar perto de Dulce. Reduzindo-se ao seu papel de babá, não se aproximou quando Ana e Sara foram cumprimentar a patroa achou que o mais certo era aguardar um momento em que ela não estivesse sob os holofotes. Mas esse momento nunca chegava, já que todos queriam um minuto da atenção dela, até que percebeu que ela e Maite dirigiam-se ao toalete e decidiu ir naquela direção e aproveitar que o local era mais discreto e dar-lhe os parabéns.

Estava a se aproximar da porta do lavabo cuja porta estava entreaberta quando ouviu um nome que fez com que parasse e ouvisse melhor.

--Dulce e a Liana hein?

--O que tem? Ela é muito profissional, acho que vamos nos dar muito bem com essa mulher na equipe. -- Dulce estava alheia ao que Maite realmente queria dizer.

--Acorda Dulce, a mulher está de quatro por ti. Tu já percebeste que ela é gay, ou não?

--Claro que sim Maite, ela me disse com todas as letras, parece lidar muito bem com isso...fiquei com impressão que é das minhas, lida bem com a questão mas não faz propaganda e nem alarde como a Bárbara por exemplo.

--Unrrum, e mais? – Maite estava empolgada.

--Mais o quê Maite?

--Dul, ela está a fim de ti. Já me disse que te acha linda, inteligente, sexy e etç etç, perguntou se tem alguém e quando eu disse que não ela quase pulou de alegria, acho que ela vai com tudo amiga...e tu?

Dulce pensou rapidamente na Anahi, no que tinha com ela, no que sentia quando estavam juntas, na saudade que tinha quando não se viam...mas elas tinham o quê mesmo? Eram amantes? Transavam esporadicamente? O que Anahi queria dela? Estava confusa...

--Oii, e aí? Vai se fazer de difícil ou vai dar uma chance à gata?

--Sei lá Maite, eu mal estou tendo tempo para respirar...

--Por isso não, vocês trabalham juntas, nós três, mas eu posso deixar de existir...ah Dulce, eu acho que está mais do que na hora de namorar alguém amiga, uma mulher assim como a Liana, que sabe o que quer, que é do teu meio, que parece ser discreta, gata, até eu que não tenho essa adoração toda por mulher, achei a mulher maravilhosa...ela te quer amiga, e isso é tudo na vida, alguém que nos queira.

--Maite tu tens cada uma...e não conta o fato de eu puder estar interessada por outra pessoa? -- Ela não tivera tempo de contar à amiga o desenrolar da sua historia com a babá.

--Quem Dulce? Que eu saiba a ultima paixonite que tiveste ou que estavas prestes a ter era pela babá, mas sejamos práticas Dulce, sei que normalmente você é a pratica e eu a doida, mas sejamos práticas, tu e a babá? Tu nem sequer sabes direito quem é essa mulher? Tudo bem que ela cuida muito bem da Sara, isso não se discute, mas é o trabalho dela...Dulce olha para ti, pensa nas coisas que gostas, nas inúmeras coisas que conhece, nas montanhas de livros que já leste, na tua paixão pela cultura, arte...vais conversar o quê com a Anahi?

Dulce já pensara naquilo tudo que a amiga acabara de falar, ainda que de leve, mas pensara...não se achava melhor que a Anahi, apenas sabia que provavelmente tinham histórias diferentes, sim, provavelmente porque ela não a conhecia, a realidade era simples, não a conhecia...mas ouvir aquelas coisas todas da voz de Maite surtiram um efeito diferente...

--E aí Dulce, vai dar uma chance à vida, à paixão? Acho que já está na hora de ousar, pode não ser a mulher da tua vida, mas pelo menos distrais, conversas, com certeza ela deve ser boa de cama, sei que a senhorita adora uma mulher boa de cama -- Risos -- não custa nada Dulce...

--Oh mulher boa de lábia...até parece que a Liana te pagou para me convencer. -- Mais risos.

--Então quer dizer que vais dar uma chance à paixão? Oh, ouvi dizer que vocês vão juntas ao Rio, por causa daquele contrato novo que o chefe quer tanto que dê certo...uiiii já vejo romance na cidade maravilhosa.

--Não pire pelo amor de Deus Maite...eu não quero nada com a Liana -- Ela riu da insistência da amiga.

--Hummm, sei, mas a Liana não parece daquelas que desistem fácil e charme ela tem de sobra...vou assistir a tudo de camarote...depois falamos. -- Mais gargalhadas.

--Vamos é sair desse banheiro, que já devem estar todos à nossa procura...louca!

Antes de deixarem o banheiro, Anahi entrou numa porta ao lado para evitar que a vissem. 
Tinha a garganta presa e os olhos marejados de lágrimas...mas Maite estava certa, Liana era a mulher certa para Dulce.

Passou alguns minutos naquele espaço sozinha, tentando recuperar a calma. Estava triste, sim, muito, mas Maite tinha razão, não por achar que ela e Dulce não teriam o que conversar, mas por achar que Liana era a mulher certa para ela, era sim. Ela não estava disposta a se entregar a ninguém, Dulce não teria paciência para lidar com as suas inseguranças, totalmente fundamentadas por tudo o que já vivera, ou seja, aquele relacionamento não tinha pernas para andar. Ela teria de dar ordens explícitas ao seu coração para não disparar cada vez que Dulce aparecesse, ordens ao seu corpo para não ficar febril cada vez que Dulce se aproximasse...mas conseguiria, já conseguira coisas mais difíceis.

A partir daquele momento, Anahi ficou o mais invisível possível dentro daquele salão. Sentia-se a mais, deslocada e sem graça. Pôde notar que a tal Liana ficava cada vez mais próxima de Dulce, viu até a sua schatzie toda feliz conversando com ela, Ana também...aquele sim era o cenário normal, ela estava fora do lugar...mas assumiria o seu papel de babá, se entregaria à sua paixão maior e a vida ganharia sentido de novo.

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Ao cair da tarde, Ana, Anahi e Sara regressaram a Santos. Dulce não as acompanhou já que teria mais uma festa desta feita organizada pela empresa, um jantar privado só para os colaboradores e o chefe já tinha avisado que queria conversar com ela em particular.

As três chegaram em casa, e Ana foi à cozinha preparar um jantar que seria a sua despedida já que voltaria a Curitiba no domingo.

Divertiram-se muito, Sara imitando as mulheres do cocktail em São Paulo foi simplesmente hilário.

A noite já ia alta quando Anahi conseguiu que a pequena dormisse. Ela estava excitada, sempre que viajava e enfrentava situações novas era assim, demorava a dormir porque queria comentar as coisas vistas do seu ângulo de criança...Anahi gostava daquilo, Sara era perspicaz, viva, atenta, sem ser intrometida, ou adulta de mais, as conjecturas que fazia eram coisa de criança, de criança sagaz, mas de criança.

Parecendo entender que sua babá não estava nos seus melhores dias, disse umas três vezes antes de adormecer que a amava, e que ela era a mais bonita de todas, depois da mãe. Ter aqueles bracinhos envoltos no seu pescoço e aquele par de olhos que eram o reflexo dos seus, a olhando com carinho, era o remédio certo para qualquer dor que pudesse afligir o coração de Anahi.

Sara era criança, mas Ana não, e essa sim percebeu claramente que alguma coisa não estava bem com a babá. Os seus olhos sempre brilhantes, estavam tristes e sua postura altiva e ereta não era a mesma, os ombros estavam levemente descaídos.

Terminavam de arrumar a cozinha quando Ana sem muitos rodeios perguntou:

--Está tudo bem minha filha?

--Sim...-- Sem convencer ninguém, muito menos uma mulher vivida como Ana.

--Eu respeito que não queiras conversar Any, mas saiba que tens em mim uma amiga para qualquer situação. Eu sou muito grata a ti moça, por tudo...

Com os olhos marejados ela respondeu:

--Só faço o meu trabalho Ana...

--Oh Any, claro que não...sabe quantas babás eu já coordenei nessa casa? Perdi as contas, nem todas eram ruins como a Sara diz, mas nem a melhor que por aqui passou, chega aos teus pés moça...tens afeto sincero pela minha neta, eu vejo, percebo a forma como a olhas...às vezes até parece mais mãe dela do que a minha filha, sem contar que acho vocês duas muito parecidas...é impressionante, os mesmos olhos, a mesma postura ereta, os mesmos cabelos cacheados, esse nariz lindo...a Sara adora dançar e sei que tu também gosta...por falar nisso, como andam os teus ensaios? Dulce não tem implicado?