Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

--Estão indo bem, a dona Dulce não sabe...vou nas minhas horas vagas...-- Disse meio reticente.

--Any, não estou a criticar, pelo contrário, acho que tens mais é que fazer coisas que gostas e que te dão prazer e que provavelmente te levarão para outras esferas...eu não sei porquê mocinha, mas sinto que por trás desse teu ar de...nem sei a palavra certa, mas esse teu ar de resignação, existe uma mulher forte prestes a explodir numa fúria de vida.

Anahi sorriu com carinho, gostava de Ana.

--Se eu vivesse nesta casa, muitas coisas seriam diferentes...já houve tempo em que eu tinha medo da minha filha, achava até que fazia tudo errado por ela ter esse porte de mandona, de quem faz sempre tudo certo, e ela não ajudava muito, vivia me chamando de criança...mas eu era assim porque se não fosse esse jeito dela, nós estaríamos na lama, eu não tinha forças para me mexer quando o pai dela faleceu, e foi essa minha brava filha que nos ergueu, e ela estava grávida e sem ao menos ter contato com o pai da Sara, não por ele ser um cretino, mas por ter sido um amor de verão sem conseqüências...na realidade mais tarde ela me confessou que só dormiu com o rapaz uma única vez...coisas da vida...minha filha é guerreira, determinada, mas tem muitos defeitos também, ela gosta que tudo seja feito do seu jeito, não escuta muito a opinião dos outros, às vezes é agressiva, mas isso tudo é meio reflexo das coisas que a vida a fez enfrentar...mas Any, o que percebi é que a tua presença nessa casa, aos poucos está surtindo efeitos até na cabeça dura da minha filha...quantas vezes eu a vi escutando a tua opinião em relação a alguma coisa a ver com a Sara, e não só, escutando e a acatando a tua opinião, comigo isso nunca acontecia, ela chegava ao ponto de dizer que eu era mais criança do que a Sara...obrigada Any, de coração, muito obrigada.

Anahi sorriu mais uma vez e beijou-lhe a testa.

--Não te conheço bem Any, mas meu coração não me engana, é uma excelente pessoa e queira a Deus que permaneças nas nossas vidas por muito tempo...

--Obrigada Ana...estava mesmo a precisar de umas palavras assim...minha auto estima hoje não está das melhores, mas vou ficar bem. Olha, amanhã vou precisar sair cedo, era minha folga hoje, mas não aproveitei e amanha preciso...

--Sem problema meu bem, meu vôo para Curitiba é só no inicio da tarde. Eu fico com a Sara, até a mãe acordar. Ela nem sequer voltou ainda de São Paulo, provavelmente vai dormir até tarde, mas sem problemas. Aproveite sim a tua folga, ou parte dela...ah, não deixe minha filha abusar da tua boa vontade, aproveite sempre as tuas folgas, e se ela tiver que se ausentar, que arrume uma substituta.

--Eu fico de bom grado Ana, ficar com a Sara é um dos maiores prazeres da minha vida. -- Disse sincera.

--Eu sei minha filha, mas és jovem, como é que vai arrumar um namorado trancada dentro de casa? -- Ana piscou e Anahi sorriu.

--Vou dormir Ana, estou cansada. Boa noite e amanha me despeço de ti antes de sair.

--Se eu estiver no quarto ainda, pode entrar e me dar um beijo. Agora só volto perto do aniversário da minha neta, para ajudar nos preparativos da festa.

--Ok! E obrigada por tudo Ana...um dia, quando meu coração estiver mais calmo eu te conto minha história...quem sabe não consigas me ajudar. -- Ela estava emocionada.

Ana a abraçou forte, e Anahi quase desabou num choro convulsivo, mas se controlou...estava sensível demais, muita coisa vinha à sua mente...uma confusão emocional sem precedentes.

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Mal o dia clareou, Anahi se levantou disposta a conversar com o amigo Christian, Precisava se abrir com alguém, mas não com Angelique, adorava a sua amiga, mas ela às vezes era ainda um bocado infantil, talvez não infantil, mas era explosiva, temperamental e não era de alguém assim que ela precisava naquele momento. Christian era sereno, ouvia mais do que falava e tinha inseguranças como ela, e melhor, tinha consciência delas.

Na melhor das hipóteses, iria a São Paulo para o colo de Beth, seu anjo da guarda, mas não podia...então Christian, ajudaria com certeza.

Já pronta para sair, encontrou Ana na cozinha bebericando uma chávena de café enquanto olhava pensativa para a enorme janela cuja vista para o jardim era de tirar o fôlego.

Despediram-se com muito carinho e Anahi deixou mil beijinhos à sua schatzie.

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A meio da manhã. Dulce foi acordada pela filha que já não agüentava a ansiedade. Ainda tinham algum tempo até à hora de deixar Ana no Heliporto, mas a pequena queria logo acordar a mãe e sem Anahi para colocar algum freio, ficava impossível.

Dulce não gostou de saber que Anahi tinha saído, e ainda por cima com o consentimento da mãe...claro que era um direito dela, mas precisavam conversar...ou não? Nem sabia mais o que pensar. Entretanto, precisava manter um ar de tranqüilidade...a mãe era perspicaz, e tinha que manter a energia em alta para dar conta da sua princesa.

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Era sempre tão bom passar horas com Christian, ele era divertido, sensível, amigo mesmo. Tinham almoçado juntos, passeado por parques, tomado sorvete e Christian acabara de sugerir que fossem assistir a um filme.

Anahi pensou bem e concluiu que não teria nada demais se regressasse ao trabalho na segunda logo nas primeiras horas do dia. Dulce tinha dito há tempos atrás que desde que estivesse a postos à hora de levar Sara para a escola, não interessava a hora que voltava da sua folga.

Ela precisava ficar mais tempo longe de casa, pensar com frieza e ainda queria contar ao amigo o que estava a acontecer.

Ligou para casa e foi atendida por Sara que foi logo perguntando se ela demorava. Pediu para falar com a mãe, que não gostou nem um pouco de saber que ela não dormiria em casa, mas manteve a pose blasé, ela era excelente naquele disfarce.

A partir daquele momento, o humor de Dulce sofreu uma alteração brusca, ficou impaciente e com a cabeça a ferver. O seu grau de impaciência era tão grande que não agüentou as lamúrias da filha motivadas pela ausência da babá e acabou sendo rude com a pequena, para depois se arrepender amargamente.

Conseguiu reverter a situação, cobrindo-a de carinho na hora de dormir, contando duas histórias e prometendo que Anahi voltaria logo cedo para levá-la à escola.

A pequena Sara adormeceu feliz, já ela perambulou pela casa a noite toda...pensamentos vagos, desconexos, todos eles irremediavelmente caíam em Anahi, mas quanto mais pensava, mais confusa ficava e menos certezas tinha...

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Anahi e Christian tomavam uma taça de vinho na varanda do amigo, quando ela finalmente ganhou coragem para falar das suas aflições:

--Christian, preciso falar contigo...é uma assunto um pouco delicado, mas só posso falar contigo...

--Sou todo ouvidos minha bailarina favorita, que a minha irmã não me ouça. -- Fez uma careta causando um riso gostoso em Anahi.

--Christian...eu me envolvi com alguém...mesmo depois de tudo o que te contei, dos meus medos e certezas que não queria me envolver com ninguém por um bom tempo...aconteceu. -- Ela olhava para longe e suspirou.

--Nós não temos o controle dessas coisas Any, ainda mais quando se é sensível como tu és minha amiga.

--Ah Cris, mas a tua amiga aqui é sem noção de tudo...

--Não se martirize Any...não és sem noção, apenas humana...

Sem rodeios disse:

--Eu me envolvi com a Dulce...a mãe da Sara. -- Mais um suspiro.

Christian não disse nada, apenas apertou as suas mãos entre as dela...já imaginava aquela possibilidade.

--Cris, eu nunca antes tinha cogitado a possibilidade de me envolver com outra mulher...jamais passou pela minha cabeça. Mas desde que entrei naquela casa que me sentia estranha na presença dela...eu gostava e ao mesmo tempo tinha raiva, do temperamento dela, da displicência com a filha e mais ainda do que sentia cada vez que meus olhos cruzavam com os dela...uma coisa inexplicável e completamente nova...

Respirou fundo e continuou:

--Depois daquela briga homérica que tivemos por causa de Sara, ela foi se transformando aos poucos e meu coração foi ficando cada vez mais desorientado. Eu contava os minutos para ela chegar em casa, ouvir a sua voz ao telefone era uma espécie de música e das melhores melodias, eu adorava falar qualquer coisa com ela, a mínima atenção que ela me dispensava era motivo de felicidade...ela se despiu daquela arrogância inicial e foi se mostrando humana, linda, cada vez mais linda e parecia que também gostava da minha presença...eu tentei Christian, tentei arduamente, mas fui vencida...

Olhou para o amigo com um certo desespero no olhar e ele soube que era a hora certa de falar:

--E se eu te disser que sempre soube que isso ia acontecer...

--Como assim?