Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

--Any, na vez que nos encontramos naquele restaurante Japonês, eu, como bom observador que sou, percebi claramente as faíscas que saiam dos vossos olhares, percebi como estavam incomodadas, vi a tensão toda que emanava das duas...só que não pensei que tivesses coragem, afinal nem sempre as pessoas têm coragem para o novo, e ela era a tua patroa, e também não te conhecia tão bem assim, mas percebi no ato que ali existia algo prestes a explodir...

--Acha que qualquer um percebe?

--Não Any. As pessoas são muito egocêntricas, estão preocupadas de mais com o próprio umbigo para ver o que se passa ao lado...eu vi porque sabes que sou assim, presto atenção aos mínimos detalhes...se bem que pensando bem, se naquela época já dava para perceber, hoje deve estar escancarado.

Anahi se assustou e Christian rindo muito disse:

--Brincadeira amiga, agora dei uma de irmão gêmeo da Angelique...exagerado, mas conta mais.

--Cris, depois do primeiro beijo, eu enlouqueci...literalmente, não pensava em mais nada a não ser nela...nunca na minha vida eu gostei tanto de um beijo...ela beija como gosto, parece que adivinha...--Fechou os olhos em delírio.

--Entendo amiga, oh se entendo...mas já foram além dos beijos? Sexo é importante para entender um monte de coisas...

--Foi difícil, sabe, tem a Sara e nem eu e muito menos ela, faríamos qualquer coisa na frente da criança...oh tortura deliciosa...até que a mãe dela veio, e com a ajuda dos anjos, levou a pequena para um dia inteiro em São Paulo e...

--E... – Christian sorria, olhar para a Anahi naquele momento faria qualquer um sorrir...ela transpirava felicidade.

--E foi tão maravilhoso, tão pleno, intenso e arrebatador que ao final eu não agüentei e chorei...Cris, eu chorei como uma criança...chorei de emoção, não consegui me controlar.

Christian ficou feliz, mais um ser humano era agraciado com o sentimento mais nobre de todos, o amor! Mas a felicidade foi seguida de apreensão...e Dulce?

--Lindo Any! -- Beijou-lhe as mãos.

--Cris, se lembras bem, sexo tinha virado uma tortura para mim...--Ela chorou e soluçou alto. -- Eu sei que não te contei tudo, mas...

--Eu sei Any, e te admiro muito mais por se permitir a uma nova experiência...eu, talvez não tivesse a mesma coragem, mas tu és impar menina, só mereces o melhor nessa vida Any, o melhor. -- Não queria ser chato, mas não acreditava muito que Dulce fosse esse melhor, ele não a conhecia, mas pelo que tinha visto, pelas coisas que Anahi contava, pelo que via nas revistas, o tipo de mulher com quem se envolvia, e pelo que Angelique falava, não lhe parecia preparada para amar uma menina como Anahi, que era linda, mas que precisava de muito carinho, afeto, paciência, que não lhe parecia ser o forte de Dulce...mas como bom romântico, iria torcer para estar redondamente enganado.

--Cris, eu acho que não tenho condição de seguir com isso...eu tenho medo de sofrer mais do que já sofri, e parece que a história se repete...eu não agüento mais decepções na minha vida sentimental...fatalmente a Dulce vai se cansar de mim...devo ser uma espécie de fetiche. -- Disse aquela última frase com muita dor no coração.

--Calma Any, Vá com calma sim, mas não desista...tenta saber o que ela sente, o que quer...mas tenha sempre muito cuidado meu amor, não permita que ninguém te faça sofrer mais nessa vida. E se essa Dulce aprontar contigo eu mesmo vou lá dizer umas verdades...

Riram, e conversaram por mais um bom tempo, ora sobre a paixão de Anahi pela patroa, ora sobre o romance do amigo com Manfred que estava viajando assim como Angelique.

Foram dormir porque Anahi se lembrou que trabalharia logo cedo e que a sua pequena, provavelmente estaria cheia de disposição.

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Mais uma semana de correria para Dulce, aliás era quase sempre assim, ela mal tinha tempo para respirar. Chegava sempre tarde em casa, mas diferente de outrora, ligava sempre para saber como estava a filha, lia o livro de recados da escola todas as noites, por mais tarde que chegasse em casa.

Não via Anahi, apenas num dos dias da semana, em que tomaram café juntas, mas na companhia de Sara e Júlia, ou seja não puderam conversar sobre nada mais íntimo. Mas ela também não estava com tempo para pensar em nada que não fosse trabalho.

Quinta-feira, ela e Liana foram a uma viagem relâmpago ao Rio de Janeiro, definir os últimos detalhes com o cliente de um contrato maravilhoso que a nova colega tinha conseguido.

De tanto Maite insistir, Dulce começou a observar as atitudes de Liana e finalmente percebeu que ela estava sim interessada em conhecê-la melhor...ela não chegava a ser explícita e nem inconveniente mas da sua maneira subtil e charmosa, deixava claro que queria algo mais. Dulce gostou, afinal Liana era linda e desimpedida.

Embora estivesse confusa em relação a Anahi, Liana lhe parecia uma possibilidade bem mais real...Maite  estava certa. Entretanto nada faria, se a outra a quisesse que mostrasse, e enquanto isso ia tentando entender o que Anahi significava.

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Em Santos, Anahi aproveitou a ausência quase geral da patroa para se entregar de corpo e alma à dança. O entrosamento entre ela e Angelique era o melhor possível para gáudio de Manfred que já antevia um estrondoso sucesso, ainda que as bailarinas fossem mais modestas.

Elas se doavam à arte e era lindo de se ver...Anahi era incansável na busca da perfeição e Angelique a parceira ideal, já que não se cansava nunca.

Num desses ensaios, a beleza foi tanta que ao final, a academia inteira parou para aplaudi-las. Sara, quase chorou de emoção e disse a Any que ela era perfeita e que queria ser como ela quando crescesse. Angelique não parava de elogiá-la e Anahi aos poucos foi ganhando confiança.

Ela e a sua pequena estavam cada vez mais ligadas, claro que a ausência da mãe ajudava e muito naquela ligação, mas além disso, existia um amor crescente...Anahi chegava a se ver naquela pequena, às vezes Sara fazia gestos que a remetiam a um lugar obscuro da sua mente, seus olhinhos brilhantes também lhe traziam alguma coisa à memória, mas de uma forma turva, desfocada...mas era bom ter o amor daquela menina, era muito bom.

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Chegou o final de semana, Sábado mais concretamente. Anahi estava entusiasmada, já que era o aniversário de Angelique e iriam comemorar em grande estilo. Aliás, começaram a comemoração na sexta, mas ela não teve como participar porque Dulce estava em viagem e regressaria muito tarde da noite e não poderia deixar Sara sozinha e muito menos levá-la para uma casa noturna. Mas não se importou com aquela situação, era bom ficar com a schatzie, ver filmes, brincar, e até conversar, a menina às vezes, na sua inocência de criança dizia coisas muito lúcidas.

Tinha saudades de Dulce, chegava a doer muitas vezes, mas teria de se distanciar...o fato de ela estar muito ausente ajudava muito... sofria sim, mas ajudava a esquecer...ou tentar...

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Dulce estava disposta a passar um final de semana em algum lugar bucólico com a filha e a Anahi. Estava com saudades da sua pequena...e da babá também precisava ser franca, e precisava definir o que queria com aquela confusão toda que se instalara na sua vida.

Gostava de Anahí, apesar da loucura do trabalho e do assédio ainda que velado de Liana, pensava nela, às vezes no meio de uma reunião lembrava do gosto da boca dela, do seu olhar, daquela timidez que dava lugar a uma mulher ousada na cama e suspirava, mas aquilo tudo significava o quê concretamente? Anahí parecia um peixe na água, deslizava...ela não sabia o que lhe ia na cabeça, que dirá no coração...

Entretanto o entusiasmo de Dulce deu lugar a uma apreensão logo que desceu as escadas e viu uma mochila no chão à porta do quarto de Anahí. Ouviu risadas vindas da cozinha e se dirigiu para lá.

Anahí e Sara se divertiam a valer, preparavam bolinhos para ir ao forno. Sara, estava cheia de farinha por todos os lados e queria fazer o mesmo com a Anahí que corria. Dulce sentiu aquele calor no coração, aquela sensação poucas vezes experimentada, mas não deu a devida atenção.

Rindo alto, fez-se notar, e a filha correu para besuntá-la de farinha também. Por momentos experimentou uma rara felicidade, mas ainda não estava preparada para discernir aquilo de um momento corriqueiro.

Anahi, ficou parada olhando para a sua patroa. Sentiu aquele calafrio na espinha, as mãos suadas, a boca seca e o coração...ah o coração, esse se tivesse poder, sairia do peito a galope.

Ela teve a certeza que precisava sim se ausentar, conviver com os amigos, dançar, viver longe daquela sensação...ela não pertencia àquele cenário...quando muito estava emprestada...quanto menor fosse o envolvimento, menor seria o sofrimento...mas da sua Sara não se separaria nunca...amava de mais aquela criança que não tinha culpa nenhuma se seu coração era doido e a metia em confusão...

Dulce fez o convite para irem a um chalé. Sara a olhou esperançosa, sabia que Anahí iria passar o final de semana fora com os amigos, mas acreditava que o pedido da mãe, talvez a fizesse mudar de idéia.

Anahí balançou, deu um sorriso trêmulo...nervoso, confusão, vontade de ficar com elas e necessidade de partir...venceu o ultimo sopro de uma racionalidade em parte questionável...

--É uma pena dona Dulce, mas é aniversário de uma amiga e já me comprometi com ela, aliás estão à minha espera para a festa. -- Anahí, não soube precisar o que viu nos olhos de Dulce, mas o olhar levemente caído.

Ficou um leve clima de constrangimento no ar, Dulce não externou suas reais emoções porque a filha estava presente, mas já estava irritada com aquela situação...parecia que tudo era mais importante do que ficar com elas...o que aquela mulher queria afinal? Precisava saber a bem da sua sanidade mental.