Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Anahi se trancou no quarto e andava de um lado para o outro completamente desorientada. Seu corpo queimava pelo de Dulce, seu coração oscilava entre a vontade de se entregar e o medo de mais uma vez permitir que o sofrimento se instalasse na sua vida. O choro veio, as lágrimas queimavam a sua face e deixavam a garganta seca, presa, respirar era uma luta quase de sobrevivência.

A aflição ganhou contornos de desespero quando ouviu Dulce batendo com força na porta. Ela quase gritava seu nome e pelo tom de voz Anahi percebeu que ela também chorava. Não se moveu, não conseguiria encará-la...sucumbiria e precisava usar as suas últimas forças para evitar o desfecho que ela já conhecia e bem...

Um tempo depois Dulce deu-se por vencida e foi embora. Anahi, sentada no chão, olhava o vazio, não conseguia pensar em nada, sua mente estava oca e o coração aos poucos voltando ao batimento normal.

Anahi, perdeu a noção de tudo, não sabia se já passara pouco ou muito tempo desde que se trancara no quarto, mas a garganta estava seca demais, ela não conseguiria dormir, ou pelo menos tentar sem beber muita água. Munindo-se de uma força quase sobre-humana ergueu-se e respirando fundo destrancou a porta.

Abriu a geladeira, serviu-se de dois copos de água sem acender a luz, mas resolveu repor o líquido que já estava a acabar na jarra e para isso teve que abrir as luzes.

Quase deixou a jarra de vidro ir ao chão quando foi surpreendida pelo olhar frio de Dulce, que estava sentada à mesa.

Completamente atordoada, Anahi encheu a jarra, colocou na geladeira e preparava-se para deixar a cozinha sem dizer uma única palavra quando Dulce num rompante a segurou pelos braços impedindo que saísse.

--Que espécie de gente é você Anahi? -- Tinha uma raiva contida, o que era muito perigoso.

--Me solta dona Dulce! -- Anahi estava com medo, nunca vira tanta fúria nos olhos de alguém...

--Me solta dona Dulce...patética! Há pouco tempo estava nos meus braços, ardendo de desejo tanto quanto eu e agora vem com me solta dona Dulce...idiota.

Ela gritava e Anahi pensou em Sara.

--Fale mais baixo, a Sara pode ouvir. -- Dissera quase num sussurro.

Ela não escutou nada e prosseguiu:

--Isso é um jogo Anahi? Quer me enlouquecer? -- Sarcasmo ironia e ressentimento, mistura explosiva.

--Não...Pára com isso. -- Anahi, estava acuada e não queria chorar na frente de Dulce, mas as lágrimas já vinham de enxurrada.

Dulce gritou na sua cara que era louca.

--A Sara dona Dulce...ela pode ouvir... -- Desespero definia o estado de Anahi.

--Jura que você se preocupa com a minha filha...isso não é mais um jogo doentio dessa tua mente perversa? – Dulce destilava fel.

--Você queria se divertir com a patroa idiota e carente, é isso?

--Não, claro que não...para com isso...a senhora não é idiota... -- Anahi não conseguia articular uma frase completa, estava engasgada, sem forças...

--Ah não? Então queria levar mais uma mulher carente para a cama, seduzi-la e depois jogá-la às traças?

Anahi a olhava em desespero e as lágrimas rolavam por sua face como cascatas...falar era impossível.

--Sabe Anahi, eu cheguei a duvidar que fosse realmente inexperiente em matéria de relacionamentos sexuais com outras mulheres, depois disso então...como sou burra meu Deus, que idiota... -- Ela parecia querer se punir...

--Por favor para com isso...--Anahi estava bloqueada emocionalmente, nem chorar conseguia mais.

--Parabéns Anahi, conseguiu iludir mais uma otária, mas juro que em pouquíssimo tempo eu elimino qualquer resquício teu da minha vida. Tu não conhece o meu lado ruim...sabe o que é pior ainda, é que não te esforças ao menos para me dizer o que quer que seja...sinto-me tão...deixa para lá, não vale a pena.

E deu as costas e foi embora.

Anahi ficou zonza, olhava de um lado para o outro, se abraçou, tremia violentamente. Chorou muito, sentia frio e medo, muito medo...sensação recorrente. Cambaleando chegou ao quarto e se jogou na cama chorando grande parte da madrugada, até secarem-lhe as lágrimas e se sentir num abismo.

Abriu os olhos com os primeiros raios de sol a entrarem pela janela. A cabeça estava pesada, os olhos também, mas precisava esquecer a sua dor e sair da cama para preparar a Sara para mais um dia na escola. Pediu forças à alma do seu pai, já que sentia-se desprovida de qualquer motivação.

Contudo o sorriso daquela pequena tinha um enorme poder reparador.

Na cozinha, durante o café, Sara era a animação em pessoa:

--Any, amanhã é o meu retiro na escola, esta a lembrar?

--Claro meu amor, e por acaso me deixa esquecer?

Anahi e Júlia riram da careta da menina.

--Júlia, vou ficar quatro dias fora. Vamos para um camping, estou tão contente. Lá tem arvores, lagos, muitas plantas, bichinhos, montanhas, vou dormir no chão...a Cecília disse que tem medo de bicho, mas é porque ela nunca participou, não tem nada de barata e essas coisas...ah o Peter também vai, é a primeira vez dele, ele é novo na escola, mas vocês já sabem.

Mais risos das adultas, a menininha estava sim muito excitada com o acampamento.

Entretanto...

--Ei Any, já vi que está triste hoje, não dormiu bem? -- Ela colocou os bracinhos á volta do pescoço da babá.

--Estou bem sim meu amor, apenas dormi mal...coisa de adultos.

--Ser adulto é chato não é? É bom só porque podem andar de salto alto...

Júlia e Anahí riram com vontade, Sara era uma maravilha de criança.

Entre muitos beijos à sua babá, ela disse:

--Se alguém te fizer mal, eu faço uma mágica e a pessoa fica verde. -- Disse em tom sério.

Anahí a apertou num abraço e alguma esperança tomou conta do seu coração.

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Dulce saiu do quarto quando assegurou-se que a babá não estava mais em casa, não queria olhar para aquela mulher. Mal tocou no café, estava pálida e de óculos escuros. Trocou duas palavras com Júlia e foi embora.

--Minha nossa Senhora, há muito tempo que não via a dona Dulce assim, parece que a bruxa está solta por aqui...bom, deixa eu cuidar do meu para não sobrar para mim. -- Pensou alto Júlia.

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Dulce já tinha discutido com metade do pessoal da criação, o pavio já por si curto, estava por um fio. Gritava com os novatos, achava tudo uma porcaria, até que Maite, no intuito de evitar uma tragédia maior a levou para uma área de recreação da empresa apara que pudessem conversar. Alguma coisa muito séria estava acontecendo com a amiga.

--O que aconteceu Dul? Amiga esta transtornada...

--Descobri que sou uma idiota!

--Como assim Dulce, que conversa é essa?

--Fui iludida dentro da minha própria casa por uma babá com cara de anjo e alma de vampira. -- O sofrimento estava estampado nos olhos.

Num relato rápido contou tudo a Maite, do encantamento ao envolvimento, terminando na frustração.

--Diz alguma coisa Mai, para de me olhar como seu eu fosse um ET.

--Desculpa Dul...mas estou pasma. Eu sabia que existia uma leve atração tua em relação à Anahi, mas juro que jamais pensei que fosse passar disso...eu brincava e tudo, dava corda, sei, mas sinceramente não pensei que chegasse a esse ponto.

--Sei que é ridículo o que vou dizer agora Maite, mas aquela mulher me seduziu de uma forma baixa...tu sabe que eu não me relacionava há um bom tempo com outra mulher, ela fez um jogo tão perfeito que eu caí, simplesmente caí como uma adolescente, eu, uma mulher da minha idade, com as minhas responsabilidades...

--Amiga, mas ela pode sim ter se apaixonado por ti, não acho difícil...—Maite lembrou-se da troca de olhares há dias atrás em Santos...não era fingido, impossível...

--Ah Maite, cresça pelo amor de Deus...ela quis brincar com a minha cara...ela não conseguiu dizer uma palavra diante do meu desespero...chorava com um ar patético, com certeza mais um número do show...

--E agora Dul? -- Maite não acreditava naquela Anahi ardilosa que a amiga estava a descrever, não a conhecia, fato, mas das poucas vezes que a vira, a impressão tinha sido a melhor possível, e outra, ninguém maquiavélico nutre o amor que aquela moça tinha pela Sara...tinha muito mal entendido ali...

--Vou mandá-la embora. -- Disse peremptória.

--Calma Dulce!

--Como calma? Eu não agüento mais olhar na cara dela, é impossível.

--Tu é que sabes Dul, mas e a Sara? Ela gosta muito da Anahí...

--Ela esquece, criança esquece depressa...--Fingiu estar muito certa, mas aquela parte a fazia sofrer, sabia que o amor que a sua pequena sentia por Anahí era grande de mais para ser esquecido em dois tempos, mas tinha que pensar em si, e Anahí sob o mesmo teto, nem pensar.