Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Passou o resto do dia tentando recuperar o tempo perdido durante a manhã em que a sua cabeça simplesmente não funcionou para nada. Para isso nada melhor do que um mergulho profundo no trabalho.

Liana percebeu o estado de espírito da colega e ao princípio da tarde, sabendo que ela ainda não tinha comido nada, mandou vir um almoço de um dos seus restaurantes favoritos.

Dulce ficou contente com aquela atitude e concluiu que precisava prestar mais atenção àquela mulher que tudo fazia para lhe agradar.

Durante o chá, Liana quis saber o que afligia Dulce:

--Está tudo bem? Vejo uma nuvem grande aí em cima. -- Brincou fazendo um circulo em cima da cabeça de Dulce.

--Nada de grave...

--Se eu puder ajudar...

--Problemas com a minha filha, mas nada de grave. -- Sorriu ainda que sem brilho algum.

Liana colocou as mãos sobre as de Dulce e apertou ligeiramente. Elas se olharam de forma diferente, Liana porque concluiu que a queria e iria até ao fim e Dulce porque se sentiu mais confusa ainda...

***********************************

Em Santos, uma Anahi apática se arrastou ao longo do dia. Não saiu do quarto à hora do almoço, já que Sara almoçaria na escola. Júlia, preocupada bateu à porta para lhe oferecer comida e ela recusou e agradeceu alegando estar sem fome.

Foi ao ensaio à tarde, mas com o corpo fraco e a cabeça pesada não deu o rendimento esperado. Pediu desculpas à Angelique e foi embora. A amiga ainda tentou saber o que ela tinha, mas alegando uma TPM poderosa deixou a academia.

Vagou pela cidade tentando sincronizar cabeça e coração. Vivia uma espécie de dejá-vu, todas as lembranças voltavam a atormentá-la, sentia-se só, terrivelmente só.

Voltou para a casa e vestiu um disfarce de normalidade, Sara não precisava perceber o que estava a acontecer, ainda mais que estava animadíssima com o retiro.

Aproveitando o embalo, Anahi esqueceu um pouco os seus problemas e mergulhou no mundo infantil cheio de cores e alegrias.

Já tinham arrumado a pequena mala de Sara umas três vezes e ela sempre inventava mais uma peça e Anahi tinha que fazer malabarismos para a convencer que não era necessário.

Dormir foi uma aventura, a excitação não deixava ela relaxar e se entregar ao mundo dos sonhos e toda a hora perguntava pela mãe.

Ouvir aquele nome tantas vezes fez com que Anahi deixasse uma lágrima rolar pela sua face...não sabia o que o futuro lhe reservava, ou melhor sabia, mas não queria pensar que não poderia conviver diariamente com a sua princesa...claro que Dulce a mandaria embora... mais uma lágrima e desta vez Sara percebeu e secou-lhe com a costa das mãozinhas.

Com os olhos brilhando a criança que às vezes parecia entender tudo, disse:

--Nunca vou deixar ninguém te magoar Any. Tu és minha amiga, minha segunda mãe.

Anahi segurou a emoção e apertou sua pequena nos braços com todo o carinho. Sara ficou brincando nos cachos dos cabelos dela até adormecer deitada no seu peito.

*************************************

Dulce voltou para a casa no inicio da madrugada. Tinha sim muito trabalho na empresa, mas fizera questão de trabalhar até mais tarde para não ter que cruzar com Anahí dentro da sua casa.

Sua cabeça estava baralhada, mas tinha uma única certeza, Anahi deixaria de ser babá de Sara nas primeiras horas do dia. Arrumaria uma solução para a logística com a sua filha, mas aquela louca não conviveria com elas nem mais um minuto. Como que por milagre, tinha aquele bendito retiro e Sara ficaria alguns dias fora, tempo suficiente para ela encontrar uma substituta à altura e dessa vez, uma mulher beirando os 50, gostasse a filha ou não.

Amanhece!

Sara e Anahi já aguardavam à entrada de casa a chegada da Van que a levaria à escola. A pequena mal controlava a ansiedade. Enfim o carro chegou, e Sara pulou de alegria. A mãe apareceu á porta, enchendo a filha de beijos e recomendando que ela obedecesse todas as monitoras, professoras, que não fizesse artes. A menina disse que sim a tudo, beijou a mãe e correu para dentro do carro levando a babá junto.

Dulce sequer colocou os olhos em cima de Anahi.

Anahi deixou Sara na escola, certificando-se que estava tudo bem. A diretora veio conversar com ela, explicando tudo nos mínimos detalhes, embora ela já soubesse de tudo porque lera no relatório de schatzie. Despediu-se da sua menina que era o centro das atenções entre as crianças e foi embora sem saber o que o futuro lhe reservava.

Andou um pouco por aquele bairro muito arborizado, respirou ar puro, pegou a avenida da praia e caminhou até o condomínio onde trabalhava.

Entrou em casa e cumprimentou Júlia que respondeu monossilábica. Achou estranho já que ela, quando estavam sós, falava pelos cotovelos.

O que ela não sabia é que a colega já tinha ouvido da boca da patroa que ela já não era a babá de Sara.

Foi ao quarto mudar de roupa e em cima da cama encontrou um bilhete que transformou sua vida, ainda que momentaneamente, num quadro negro. Conteúdo frio e objetivo...despedida. E Sara? E o amor que sentia por aquela menina? E o sentimento sem nome que nutria por Dulce.

Enquanto arrumava as suas coisas na mala e na mochila, as lágrimas caiam sem pudor. Aquele vazio familiar preenchia tudo. Sentou-se na cama apática, sem forças para ir embora.

Júlia a deixou sozinha por um tempo, mas depois entrou no quarto para ajudá-la com as malas e principalmente para tentar entender aquela reviravolta, já que tudo parecia tão bem...

Tocou nos ombros dela e Anahi soluçou buscando o ar.

--O que aconteceu Any? Tudo parecia tão bem...há muito essa casa não tinha tanta alegria.

Sem saber nem o que pensar e muito menos o que dizer, Anahi a olhou derrotada e disse:

--O problema Júlia, é que me apaixonei pela patroa. -- E olhou para o chão novamente.

Júlia ficou espantada. Mas pensando bem, fazia todo o sentido. Aquele ambiente de felicidade que reinava naquela casa só poderia ser o prenúncio da chegada do amor.

Após digerir aquela informação ela disse com alguma impaciência:

--Any, eu não entendo muito bem dessas coisas de mulher gostar de mulher e homem de homem, mas na minha cabeça, o que vale é o amor e o caráter das pessoas. Lembra quando eu disse a brincar que você era a mulher certa para ela?

Anahi anuiu.

--Pois agora eu digo, onde é que a dona Dulce vai achar mulher melhor do que tu? Essas doidas com quem ela convive? Tudo de porcelana e falsas...e eu achando que ela tinha entrado nos eixos. Se não precisasse tanto desse emprego, juro que diria umas verdades na cara dela. Dona Ana é uma mulher e tanto, mas não soube educar essa filha.

Júlia falava e Anahí mantinha-se apática, até ouvir o nome de Sara.

--E a Sara, ela não pensa na menina? Ela vai ficar tão triste...meu Deus, a luz vai se apagar de novo nessa casa.

Anahí chorou tanto que Júlia fez-lhe um chá calmante. Adormeceu em alguns minutos, estava exausta.

Júlia arrumou todas as coisas dela enquanto pensava naquela injustiça. Dona Dulce não era obrigada a gostar de Anahi, o que ela não entendia, já que a menina era bonita, gente boa e gostava da filha dela, mas tudo bem, não era obrigada, agora despedi-la só por isso? Muita crueldade...mas Júlia não sabia de todos os contornos daquela história.

Arrumou a casa toda, não se preocupou em fazer comida já que a patroa não comia em casa mesmo e Sara estava no retiro. Decidiu que convidaria Anahi para ficar na casa dela, sabia que ela tinha alguns amigos na cidade, mas sentia-se na obrigação de fazer aquele convite. A colega e amiga não tinha parentes na cidade, ela nem brasileira era, e além de tudo achava uma injustiça o que Dulce tinha feito.

No inicio da tarde Anahi acordou ainda muito triste mas sentindo-se mais calma. Gostou muito do convite de Júlia e aceitou. Queria sim ficar numa casa com crianças, e gostava muito de Júlia. Tinha os amigos e sabia que podia contar com eles, mas queria um ambiente diferente, um lugar onde não ficasse martelando no mesmo assunto.

Christian estava feliz com a volta de Manfred que passara uns dias fora em espetáculos com outro grupo, ele tinha sido o convidado de honra. Não iria atrapalhar o momento deles e muito menos queria preocupá-los com os seus problemas.

Angelique, alegrou-se um pouco ao pensar nela, sua doidinha favorita era tão doida que era bem capaz de ficar plantada à porta do condomínio de Dulce para pedir satisfações. Ela era maravilhosa, mas Anahi queria calma e Angelique iria sugar todas as informações dela...não estava preparada, preferia a simplicidade de Júlia.

Anahi, acompanhou Júlia à escola dos filhos. A alegria daquela família contagiava qualquer um, tristeza não tinha lugar naquele cenário. As crianças ficaram felizes ao vê-la e perguntaram por Sara. Júlia, percebendo a tristeza querendo voltar para afligir a amiga, mudou logo de assunto.